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sábado, 31 de outubro de 2015

Isla e o Final Feliz

Gosto muito mesmo da Stephanie Perkins. Para mim, atualmente, é a melhor do gênero. Seus romances adolescentes são refrescantes e delicados. Ela sempre me ganha pela diversidade de características dos seus personagens. E, simplesmente adoro, a maneira como ela constrói as famílias dos personagens adolescentes. Apontando para um conceito amplo de família. Que eu acho importante ser passado para esse público.

Embora, a meu ver, Isla e o Final Feliz seja o romance mais fraco dela que já li, ainda assim, Stephanie se mantém fiel tanto a essa diversidade quanto a sua delicadeza no trato das relações humanas. De longe, prefiro Lola e o Garoto da Casa ao Lado, mas a história de Isla é muito bonitinha também.

Isla, pronuncia-se "Ai-la", mora no mesmo colégio americano na França em que Ana conheceu St. Claire (primeiro volume da série), ela é ruiva e meio sem graça, muito tímida, melhor aluna da sala. É apaixonada desde o primeiro ano por Josh, um garoto da sua sala que é excelente desenhista e um pouco rebelde. Aparentemente, Josh nem liga para ela. Mas um dia, Isla está dopada por conta de ter tirado os dentes do ciso e, num encontro acidental com o rapaz, acaba falando mais do que deveria. O início de livro é bastante vibrante mesmo. Nós, leitores, não conhecemos a personalidade da garota e ela parece não contar pipoca na hora de saber o que quer. Porém, com o passar das páginas percebemos que se trata de uma menina tímida e fujona. Que justifica sua timidez através da sua amizade de infância com um rapaz autista que não é sempre bem aceito pelos outros.

Depois do encontro na cafeteria, é sempre Josh quem toma iniciativa. Isla está sempre com dúvidas, não sabe quem é ou o que quer. Mas o garoto é convincente. Eles logo começam a namorar e o comportamento rebelde de Josh se torna o problema. Por razão de atos inconsequentes, os pais vão levar Josh de volta aos Estados Unidos, então boa parte do romance se dá na luta dos dois para ficarem juntos.

Achei a personalidade de Isla um tanto cansativa, admito. Além disso, o livro traz cenas de sexo que revelam mais detalhes do que eu gostaria num livro do gênero. Fica parecendo que somos meio voyeur. Muito pelo livro estar em primeira pessoa. Enfim, quem contaria detalhes dessa natureza para outra pessoa? Muito pela escolha das palavras na descrição das cenas. eja você mesmo: "Quando ele está dentro de mim é tão bom, tão intenso, que solto um gemido. Josh me olha nos olhos para ter certeza de que está tudo bem, de que está tudo muito bem, e eu respondo movimentando meus quadris". Nada contra cenas de sexo em livros adolescentes, mas delicadeza é a chave. Para mim, essa passagem é desnecessária, ultrapassou a barreira dos tons de cinza.

Entretanto, de forma geral, é um romance legal. Com cenas bonitinhas como a da cafeteria em que eles se conhecem, quando ela conhece os amigos dele (Ana, Lola, St. Claire e Cricket) e o reencontro final. Fofo demais! E gosto também do Kurt, o amigo autista com o nome do vocalista do Nirvana. Gosto da maneira como a personagem vai percebendo que a proteção que ela exerce sobre o garoto é na verdade uma maneira que ela mesma encontrou de se isolar. Quantas vezes usamos o outro para justificar os nossos erros, não é mesmo?

Enfim, para mim, Isla e o Final feliz é um livro mediano. O pior que já li dessa autora, mas, ainda assim, legal. Vale a pena. Porém, só tenho mais uma reclamação, não gostei da capa, as outras duas eram muito melhores e mais instigantes. Veja aí se concorda comigo.

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

O Povo das Sardinhas


Como prometido, estou aqui para comentar um livro infantil. Parte do projeto novo do blog pós-maternidade..

Engraçado isso, com tantos blogs, sites, canais de youtube que falem de maternidade e tantos outros que falem de livros, ainda não encontrei um espaço que tratasse dos livros infantis, mesmo sendo um lugar comum. Então, resolvi fazer eu mesma esse trabalho. Tomara que eu possa contribuir com alguma coisa.

Antes de falar sobre o livro em si, é preciso tratar na minha relação com a Literatura Infantil. Desde a faculdade, tenho profunda admiração por esse tipo de leitura, não somente por conta do fator óbvio da formação de leitores e de cidadãos, mas também porque a literatura infantil me parece ainda muito mais sem limites do que a literatura voltada para adultos. Exemplo, enquanto nos universos fantásticos adultos é necessária uma vasta descrição de como os elfos existem para que o leitor creia na verossimilhança da história, na literatura infantil, eles apenas estão lá e convivem com centenas de outras criaturas sem que haja um momento de hesitação do leitor sobre sua existência. A meu ver, isso é maravilhoso, para muito além de Todorov.

As crianças, ao contrário de nós, não foram ensinadas a duvidar. Estão certas. Se, do ponto de vista delas, milhares de coisas inexplicáveis acontecem todos os dias, como uma gata que tem gatinhos dentro dela ou uma lagarta que vira borboleta, por que duvidar da existência dos elfos?

Nem por isso, entretanto, as crianças deixam de questionar. A pergunta, aliás, é a válvula central da condição infantil. Se conseguirmos preservar essa natureza argumentativa ao longo da vida, certamente teremos um adulto crítico. Por isso, é de fundamental importância que a criança questione, gere hipóteses, explique a leitura sobre o seu ponto de vista. Portanto, adulto, você que é leitor, tem que respeitar o momento, respeitar a história e viajar com a sua criança pelo universo das perguntas que ela vai fazer. Pois a história pode ser maluca, mas as conclusões da criança são sérias. Ou seja, não deboche das histórias infantis, da sua falta de senso, pelo contrário, aproveite-se delas para construir a criticidade. Entendeu?

O Povo das Sardinhas  de  Delphine Perret é uma dessas histórias aparentemente sem noção, com uma mão bem cheia  de alegoria, que vai virar a cabeça da meninada de sete/oito anos. Pode ser contada antes, sem problema, mas talvez não desperte o viés questionador do pequeno leitor.

Começando pela sinopse em si, trata-se da história das sardinhas. Remetendo a um tempo em que elas nasciam em árvores, já dentro das latinhas. As latas eram colhidas antes de estarem maturadas. E o governo tinha o monopólio das sardinheiras (árvore de sardinhas). Mas, um dia, um menino de nome Maurício resolveu ter a sua própria sardinheira e roubou uma muda. Regou. Cuidou. E, na sua viagem de férias, um fenômeno diferente aconteceu. As sardinhas fugiram e libertaram sua companheiras. Ironicamente, os homens não sabiam navegar à época, mas as sardinhas sabiam, elas partiram para o mar e se divertiam com as tentativas dos homens de recapturá-las.

Muito diferente! Encantador! Divertido!

Além do texto, vamos nos deparar com a maravilha que é a edição da Cosac Naify. A-M-O essa editora pelo investimento no inusitado. Nada que consumi dessa editora é lugar comum. Sem falar na qualidade do material gráfico. De certo que é mais cara que a maioria, mas o preço sempre se justifica. No caso de O Povo das Sardinhas, eles fizeram uma pré-capa, então, pegar o livro é como tirá-lo de uma lata de sardinha. Tem várias paródias com a lata de sardinha como os ingredientes: ideia fresca da melhor qualidade. "Enlatado à mão no ateliê da Cosac Naify". E até um "consumir de preferência em uma poltrona".

Para completar a teia de elogios, o trabalho sucinto e marcante de Delphine Perret, artista plástica francesa, tano no texto quanto na ilustração faz valer cada centavo.

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Cinderela Pop

Mais um livro da Paula Pimenta, mas esse nem chegou a figurar na minha estante, foi direto para a caixa de livros a serem vendidos numa feirinha exclusiva para os meus alunos (data a considerar).
É tão ruim assim? Não. Minha estante é que é fodástica mesmo. Não tem espaço para livros mais ou menos, só posso ficar com aqueles que amo de paixão roxa. E não foi o caso.
Ah vai! A história é bonitinha. Uma releitura do renascido das cinzas conto da Cinderela que, aliás, tomou um fôlego no ano passado por conta da adaptação cinematográfica. Verdade seja dita, Paula não foi na onda simplesmente, ela declaradamente adora princesas. Sua inspiração parte muito mais da sua adorada Meg Cabot do que da tradicionalíssima borralheira da Disney.
Nesse livro, que é bem pequeno (156 páginas com um espaçamento enorme) e tem a letra grande, encontramos Cintia (não curti o nome da protagonista, nada contras as Cíntias, mas não me pareceu muito jovem. Paula gosta de nomes incomuns para suas protagonistas. Vide: Estefania de Fazendo Meu Filme) é uma menina descolada, curte ser DJ e mora com uma tia quase da sua idade. Ela ficou com raiva do pai por ter traído a mãe. Foi ela, inclusive, que pegou o pai e aquela que vem a ser sua madrasta ( a dita madrasta má) na cama. Quando o casamento acabou, o pai casou novamente e a mãe aceitou uma proposta de emprego fora do país. A garota fica com a irmã da mãe, mas conversa todos os dias e se dá bem com sua mamãezinha.
A madrasta, então, organiza a festa de quinze anos de suas filhas gêmeas (não podiam faltar, né?) e o pai de Cintia faz questão de que ela vá. Até aí tudo bem, mas acontece que a empresa contratada para animar a festa é a mesma em que a garota trabalha às vezes de DJ. O pai de Cintia não sabe que ela trabalha, pois apesar de não prejudicar seus estudos, jamais concordaria que a filha passasse as noites comandando o som. 
O contrato já está fechado e ninguém mais pode assumir o compromisso além dela. Felizmente, é uma festa à fantasia e Cintia e a tia bolam um plano. A garota passa um tempo fantasiada enquanto trabalha, depois troca de fantasia e vai para a festa que será animada também por uma banda famosa. 
Tudo funciona bem, apesar das maldades gratuitas e sem sentido da madrasta (personagem que precisava ser melhor construída), até que um garoto fantasiado surge do lado da DJ. Eles conversam, tem muita coisa em comum, surge um interesse, mas está na hora de Cintia trocar de roupa. O garoto também some. 
Perplexa, a garota descobre que o rapaz da conversa era o garoto famoso da banda. Fred Prince  (fala sério?) chama por ela no palco, mas Cintia não pode se mostrar por conta do pai. Acaba saindo sem dar mais explicações e na pressa esquece o all star (você não quer originalidade, né?). Aí vai ser aquele negócio de príncipe tentando encontrar, madrasta tentando atrapalhar.
A meu ver, livrinho despretensioso, vai fazer sucesso com as pré-adolescentes. Definitivamente, não é original, nem é para ser. Curtinho. Fofinho. Não vai muito além disso. Não me leve a mal, gostei. Paguei baratinho numa promoção. Li em umas duas horas. Foi vantagem.
Além disso, gosto também do lance das princesas, principalmente essas iniciativas em que elas estão mais proativas, são exemplos positivos para as meninas. Ao contrário do que possa parecer, não acho que as princesas mereçam a culpa de todo o machismo do mundo. Acho, inclusive, que todas merecemos ser princesas sim, do ponto de vista de que todas merecemos um conto de fadas e sermos bem-tratadas. Só não vale esperar sentada pelo príncipe encantado. Tampouco achar que o amor vem sempre do cara rico em cima do cavalo branco. Às vezes, na maioria das vezes para falar a verdade, trata-se mais do garoto da sua sala que ri das suas besteiras enquanto vocês dividem esfirras do Habbibs já que é o que dá para pagar.
O que não gosto desse livro é mais esse pai omisso, que reforça o esteriótipo de homem não-participativo na criação dos filhos, o que vem se tornando uma mentira (Graças a Deus!). A mãe, sofredora, que aparece unicamente como vítima no término de um relacionamento fracassado. Esse vitimismo feminino também precisa diminuir. Quando um relacionamento acaba, nós, mulheres, precisamos assumir nossa parcela de culpa. Isso é igualdade. E essa madrasta sem-noção e sem propósito que é má porque é. Além de ser o arquétipo mais prototípico imagem de mulher que odeia mulher. Por mim, esse tipo de personagem competitivo no meio feminino já pode deixar de existir.
Falei!

terça-feira, 27 de outubro de 2015

Trecho do capítulo cinco de RESPOSTA


─ Nem pensar! – Ana Maria balançava a cabeça. – Pode ficar aqui do meu ladinho. Ou então vá dançar de novo com a Milena que ela está precisando.
─ Que é isso, Ana? – Vinícios insistia. – Você já deu uma olhada na garota? É linda demais!
─ Linda sim. Parece que nem pisa no chão de tanta beleza, mas tem o quê? Dezesseis anos? Se é que tem tudo isso...
─ E daí? Você não viu? Ela me deu mole a festa inteira. – A garota em questão, uma morenaça do segundo ano, passava desfilando em frente à mesa a todo momento. Lançava sorrisos avassaladores a cada passagem. Vini já estava perdendo a concentração.
─ Daí que pedofilia é crime. Daí que você tem vinte anos, não é mais um moleque inconsequente. Daí que você é como se fosse professor desta instituição e precisa impor respeito. Daí que a menina vai se apaixonar e não vai largar do seu pé. Daí que ela vai fazer a maior confusão nas suas redes sociais. Daí que você vai se arrepender amargamente. Daí...
─ Acho que já foi o suficiente, voz da razão. – Mesmo empolgado com a paquera rolando solta. Com os bilhetinhos convidando para ir para um lugar mais reservado. Com os olhares de arrancar pedaço que algumas garotas davam quando passavam por ele, Vini tentava se convencer que era melhor ficar mesmo quieto no seu canto.
─ Gatinho, vai por mim. – Ana apoiara a cabeça do amigo no seu ombro. – Não adianta resolver um problema com outro maior ainda. Quer brincar? Já está pronto para descer para o play? Então chame alguém do seu tamanho. Nada de tomar o brinquedo das criancinhas menores, ok?
─ Detesto quando você me psicologiza...
─ Todos nós precisamos de algum psicologismo de vez em quando.
─ É mesmo, fräulein Freud? – Vini a encarou com aquele seu olhar de desafio. – E a senhorita? Sobra um pouco de psicologismo para você?
─ Claro. – Respondeu com firmeza. – Faço análise duas vezes por semana, se quer mesmo saber...
─ E já descobriu o porquê de ninguém parecer digno do seu coração?
─ Não é bem assim. – Meio que fechou a cara. – Você sabe que eu tento. É que ninguém me ama. Ninguém me quer. – Levantou os ombros. Fez beicinho. – Não tenho culpa de não ter nascido com o charme e os olhos verdes dos Leal.
─ Até parece, Ana Maria. Você é que nunca insiste. Nunca tenta duas vezes.
─ Como não?
─ Nunca, Ana. Nem com o Antonio você tentou.
Ele a pegou pela palavra. No verão do terceiro ano, Ana ficara com o filho do padrasto de Maria Lúcia. Não deu certo por vários motivos, muitos dos quais Vini preferiria esquecer. Mas o fato é que no ano seguinte, Antonio passou novamente as férias no Brasil e a amiga, apesar da aparente empolgação inicial, não teceu sequer um comentário sobre a presença dele. Depois da festa de formatura deles, onde Antonio apareceu de braços dados com Malu, ignorou o metro e noventa do rapaz. Falante como costuma ser, ficou incapaz de dizer um oi.
─ Sabe, Nana, até os meus olhos verdes levam um fora de vez em quando... – Ele a encarava bem sério. – Eu nem preciso dizer. Você sabe muito bem disso. – Cruzou os braços. – Isso não significa que eu não vá lá e insista.
─ Sim... – Ela ficou calada um instante, depois retomou a conversa. – E esse palavreado todo é para chegar aonde?
─ Não existe ninguém no mundo que te interesse, Ana? – Vini tinha um olhar de censura. – Queria, ao menos uma vez na vida, ser o cara que te dá conselhos amorosos. Ao invés de recebê-los sempre...
─ E você vem querer ter essa DR numa festa de ensino médio? – Ana fez uma cara de total incredulidade. – Eu não gostava de pivete nem quando eu era piveta, vou gostar agora?
─ E o Pedro?
Pedro. Irmão mais velho de Mariana. A simples menção ao nome dele fez Ana Maria estremecer. Era um gato. Ela sempre achou. Várias vezes durante a festa, seu olhar fugiu para procurá-lo. Mas o cara nem sabia que ela existia. Conversava com outros professores. Era como se nem tivesse feito parte da turma.
Cinco anos mais velho que André, Pedro participava poucas vezes das brincadeiras de infância. Tanto por não se interessar por uma turminha de moleques bagunceira fazendo estardalhaço na piscina, quanto porque nunca foi mesmo dado a travessuras. Gostava de ler. Era calado. Ficava na dele. Só intercedia nas confusões que Mariana aprontava. E sempre eram muitas.
Ana Maria conviveu pouco com ele. Encontravam-se em ocasiões bem específicas, como os aniversários de Milena ou André. Na escola, ele sempre estudava em outro prédio por conta da idade. Enquanto estavam no fundamental, ele já estava no médio. Quase nunca se esbarravam. Mas, ainda assim, Ana Maria o achava o máximo.
Primeiro, porque ele era mais velho. Ela adorava essa coisa dele de ser maduro. Dava uma ideia de profundidade que as disputas de Pokémon dos seus amigos não tinham. Além disso, Pedro sempre foi bonito. Não uma beleza chamativa, mas um tipo de estranheza exótica e convidativa, como a de Mariana, um olho meio rasgado, de cílios grossos, um queixo masculino, um jeito de andar seguro de si, enfim, era difícil perceber o que tinha de especial, mas era óbvio que havia algo de especial. Pedro não era um cara qualquer.
Sem falar que, do ponto de vista psicológico, o rapaz era um poço inesgotável de problemas. Freud demais para uma alma psicanalítica resistir. Estava tudo ali junto e misturado. Complexo de Édipo. Disputa com o pai. Perda prematura da mãe. A necessidade de viver a vida intensamente. Ana precisava se conter para não ser levada de vez por esse turbilhão de clichês de psicologismo.
─ Ah! – Vini sorria. – Parece que acertamos o alvo. Existe um interessezinho pelo Pedro...
─ Nem vem. – Levantou o dedo e colocou na cara dele com autoridade. – No casamento da sua mãe, tentei várias vezes me aproximar. Ele me cortou como se eu fosse um tender de natal.
─ Aí você também nem insistiu...
─ Não. Nem vou. Vou manter a minha dignidade e meu amor-próprio.
─ Isso não leva ninguém a nada. – Vini foi se levantando com um sorriso malicioso nos lábios. Ambos sabiam o que ele tramava.
─ Vinícios Matos Leal, não ouse.
Era tarde. Vini já estava cochichando alguma coisa no pé do ouvido de André. Ele lançava olhares divertidos para ela. Ana Maria nem se deu ao trabalho de ficar com vergonha. A relação dela com Vini vencera esses pormenores havia muito tempo. Apenas foi se sentar ao lado de Milena, sem dar muita trela para o amigo.
Sabia que Vini estava procurando uma forma de se divertir naquela noite. Talvez, relembrar os velhos tempos de traquinagem com André. Ela era o alvo da vez. Entretanto, tinha certeza de que a brincadeira acabaria quando chegasse em Pedro. Ele era sério demais para dar trela para aqueles dois.


***

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Eu tô voltando pra casa

Luz acesa
Me espera no portão
Pra você ver
Que eu tô voltando pra casa
E vê! ê! ê! ê! ê!
Que eu tô voltando pra casa
Outra vez...
(Casa - Lulu Santos)

     Em 2013, eu me fiz o desafio de ler cem livros em um ano e criei um blog, como tantos outros, de resenhas. Minha proposta era, além de escrever sobre literatura, canônica ou não, mostrar meu trabalho autoral e meu processo criativo. Se você é novo aqui, não me conhece pessoalmente, ou sabe-se lá que tipo de caminho tortuoso percorreu até chegar a essas mal traçadas linhas, eu escrevo livros, mas não sou famosa.
   Minhas estorinhas são para adolescentes, romances açucarados com muito beijo e com um probleminha típico da fase aqui e ali. Esses personagens brotam na minha cabeça, frutos talvez da convivência com alunos e com o meu próprio passado, e vão me contando suas vidas. São tantos detalhes que eu simplesmente não consigo calá-los em mim. As histórias passam para o papel com uma vontade própria.
     No tempo maravilhoso que estive aqui, partilhei do processo de escrever, como as ideias surgem, as músicas que me inspiravam, trechos dos textos assim que eram elaborados e contos extra que se somavam às histórias principais. Era um trabalho muito gostoso. Isso, é claro, além das resenhas constantes de quem tem um prazo tão curto para ler tanto. Aí eu engravidei.
   Ser mãe é um processo que começa na concepção. Uma incerteza constante que mexe com estruturas cerebrais primitivas. Você desconfia antes mesmo de ser capaz de sentir. E depois da confirmação, a vida muda em definitivo. É médico, é casa, é família, é corpo, é tempo. Gerar uma criança é pensá-la nos mínimos detalhes, para desconstruir tudo isso a cada choro, a cada novidade, a cada gosto. Afinal, apesar de planejado, é outra pessoa com quereres e personalidade. Para além de tudo que se tem que fazer para aprender a ser mãe (pai também que a meu ver é exatamente a mesma coisa), você ainda tem que aprender a ser mãe do seu filho, criatura única. 
      E foi isso que eu fiz de parte de 2013 para cá, aprendi a ser mãe da Beatriz. Ainda dou meus tropeços, mas como ela é uma menina bacana, tenho encontrado um pouco mais de tempo. Consegui concluir minha quarta historinha, estou voltando ao ritmo de leitura. Então, estava na hora de voltar para casa.
     Porém, depois de tanto tempo e de tantos acontecimentos, muita coisa mudou. Dessa forma, meu espaço também precisa mudar. Quero continuar as resenhas, não no mesmo ritmo (eu fazia até três livros por semana), certamente vou mostrar ainda meu trabalho autoral e processo criativo (inclusive, aí do lado tem os links caso você queira comprar um dos meus livros no Clube de Autores), mas quero mostrar coisas novas. Quero fazer resenhas de livros infantis e mostrar atividades para se fazer com crianças, de incentivo à leitura, ou formação de público, ou qualquer outra coisa que compartilhada possa promover conhecimento e bem-estar. E, talvez, eu traga também alguma coisa que faço em sala de aula. Vai que ajuda a algum professor, não é mesmo? Mas não pensei muito sobre isso ainda, preciso amadurecer a ideia.
     Então é isso. Compromisso renovado. Amigos saudosos. Alunos queridos. Visitantes incautos. Sejam todos muito bem-vindos a esta humilde residência. E que os jogos comecem!