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quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Quando o sertão parece o mar...

"Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!

Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!"

Quando eu soube, na manhã desta terça-feira, que minha avó tinha partido, por incrível que pareça, foram nesses versos de Casimiro de Abreu que eu pensei. Quando eu era pequena, talvez tivesse os oito anos que o poeta mais ingênuo do Romantismo Brasileiro menciona, minha avó me ensinava incessantemente essas linhas. Eu, menina de apartamento, não poderia associar minha infância tão eletrônica da década de oitenta a bananeiras e laranjais. Tampouco sabia o que significava fagueiras.

Mais tarde, na faculdade, recebi com imenso carinho as lições sobre Casimiro. Achava-o já até meio íntimo. Como se partilhássemos um passado em comum. Uma piada interna. Eu ria, confidente dele, das suas parcas tentativas de explicar sentimentos e sensações que não conhecia. Morreu tão jovem. Aos 23. Queria falar de amor e de sexo, ossos do ofício de poeta. Mas era tão menino que seus poemas mais bonitos eram sobre suas brincadeiras infantis. 

Casimiro me parecia ingênuo e inocente, jamais alcançou a eloquência de um Álvares de Azevedo, mas arrebatou o coração de minha avó. Na medida em que eu crescia, eu entendia, que ela e ele tinham muito mais coisas em comum do que eu compreendia naquelas tardes de repetição. Primeiro, obviamente, que a infância evocada em "Meus oito anos" não era a minha, nunca poderia ser. Era a dela. E aquelas palavras tão lindas, repetidas cadentemente pela voz de uma criança, certamente a faziam retornar para a aurora da sua vida. Fico feliz de ter proporcionado esse retorno de alguma forma.

Além disso, minha avó escrevia versos, com a letra mais primorosa que conhecia, pois fora a perfeição da caligrafia aquilo que ela mais absorveu dos seus poucos anos de escola. Minha avó era tímida. Recusava-se a falar em público. Em casa, entretanto, no meio dos seus, sempre estava disponível para um bom papo. Assim como, na sua intimidade, mantinha um caderno com versos. Ela pouco nos mostrava esse objeto secretíssimo. Tinha vergonha. Quem não teria? Seus versos eram janelas de sua alma, palavras que a boca não dizia, que as obrigações não permitiam, mas que o coração palpitava até jogar no papel.

Herdei dela o gosto pelas palavras, por essa forma aqui de dizer, esse meio de comunicação em que ninguém interrompe  e as ideias fluem. Dizem que é coisa dos Fontenele. Que seja! Nomes são tão irrelevantes quanto a passagem do tempo. Na verdade, a única coisa importante e que faz algum sentido nessa vida é o amor. E, ainda assim, nós somos muito pequenos para entendê-lo em sua plenitude. Meninos que somos, assim como o poeta.

Mas cada experiência é um passo que se dá em direção ao entendimento. E eu vou guardar para sempre a longa caminhada que tive com minha avó. Sempre vou me lembrar, que eu sou uma mulher absoluta. Ela sempre me dizia isso quando eu chegava depois das dez em casa depois do estudo, do esporte ou de namoros. Que eu não dependia de ninguém. Era mais pejorativo do que empoderamento feminino, acreditem. Mas isso ficou em mim. Tive tempo para digerir essa ideia e a aceitei. 

E, lá no fundo, eu sei que a dona Luíza admirava esse meu ímpeto de descobrir o mundo e ser independente, ela só não queria que eu me machucasse ou que metesse os pés pelas mãos. Tanto que, numa de nossas conversas na hora da Malhação, ela me disse uma vez: "Priscila, se eu ligar para você e você estiver em uma situação que não queira me contar, não se incomode, pode mentir. Eu só estou ligando para saber que você está bem". Entendi a mensagem rigorosamente. Entendi também que amar é permitir e aceitar as diferenças. Nunca decepcionei minha avó nesse sentido.

Muito obrigada pelo título, vó. E saiba que seu pouco estudo e suas inúmeras limitações sociais de ontem permitiram que uma mulher como eu pudesse se sentir orgulhosa para abrir a boca e falar. Aqui. em uma sala de aula. No meio da rua. #somostodasabsolutas

Outra coisa que pretendo levar comigo são as longas histórias sobre a infância e a adolescência dela. Minha avó foi pobre de só ter um sapato que ela usava furado na sola para ir à missa. Por conta disso, era difícil, mesmo anos depois das vacas magras terem passado, fazê-la livrar-se de vidros vazios de perfume. Para quem não sabe, perfumes na penteadeira eram sinal de status nos tempos de guerra, o Iphone da época. Mesmo assim, sempre que me falava do passado, não era nunca a pobreza que sobressaía. 

Gosto muito de uma imagem mental que ela descrevia, quando o sertão parecia o mar. Infelizmente, embora tenha conhecido as paisagens, nunca vi o fenômeno. Minha avó dizia que quando era moça, ela e as negras preparavam o almoço dos trabalhadores, se não me engana a memória, esses homens lidavam com as carnaúbas. Antes de descer a serra levando a comida, ela gostava de observar lá do alto a ilusão que a neblina da Ibiapaba causava cobrindo o sertão seco lá embaixo, como se fosse um imenso mar. Segundo ela, era mais bonito que o próprio mar.

Meu desejo sincero é que ela tenha passado por lá e tenha visto mais uma vez essa beleza que Deus criou para todos nós antes de encontrar os seus. Tanta gente que (me perdoem o bom-humor) já estava morta de saudades dela. Os seus pais, os irmãos aos quais ela era devota, sua primogênita, amigos queridos de uma existência inteira e até a negra amada que a criou a quem ela chamava Mãe Neném. Tenho certeza que teve festa. Com quindim e acordeom tocando: Quem foi, quem foi que comeu cuscuz, foi, foi, foi, foi, foi o João da Cruz! Ficou faltando somente o parceiro... Que ainda está sob os nossos cuidados por aqui. Vamos aguentar sua rabugice por mais um tempo. Se Deus permitir. 

Enquanto isso, nós continuamos na carne. Mais unidos do que ontem. Cientes do privilégio que foi a convivência. Desses anos bônus da presença dela que serviram para colocar tudo no lugar e garantir que estivéssemos bem para enfrentar essa breve despedida. É certo que um dia a gente se encontra de novo. Hoje a saudade dói um pouquinho, mas a alegria de ver todo o amor plantado florescendo é ainda maior. 

Foi o velório mais lindo em que já estive. Não que eu tenha ido a muitos. Mas a sensação era tão real de dever cumprido que dava para tocar. Ninguém ali dentro tinha outro interesse que não fosse o gostar e o querer bem. E nos permeava a certeza de que a sua hora realmente chegara. Vai com Deus, meu amor. Você não deixou para trás nem sequer um pingo de revolta. Arcou com todos os seus compromissos. E, quando eu me for, que eu tenha o prazer de seguir os passos teus. Porque amar, vó, sua última lição, é estar pronto para deixar a vida seguir seu curso.

Termino meu texto com um escritor que me arrebatou bem mais que Casimiro, Guimarães Rosa. Ele diz assim "O mundo é mágico. As pessoas não morrem, ficam encantadas". E, repito as palavras da prima Carol, agora o seu encanto está em todo o lugar, basta ter os olhos para ver, os ouvidos para ouvir e o coração infantil "que os anos não trazem mais" para compreender essa mágica.

terça-feira, 30 de agosto de 2016

Receita: Empada

Queridos amigos, desculpem-me pelo abandono, mas o retorno às aulas tirou meu chão. Ainda estou me readaptando à rotina. Tanto chego cansada demais, quanto não tenho tido lá muita inspiração para qualquer coisa.

Além disso, ando fascinada demais com o desempenho de Do Seu Lado no wattpad. Não faz nem um mês que cheguei por lá e a obra já tem mais de mil visualizações. Sei que o sonho completo de todo escritor é ganhar dinheiro com o que escreve, mas ser lida já é maravilhoso. Aos poucos, vou conquistando mais leitores e isso me deixa quase tão feliz quanto.

Se você tem wattpad, clica aqui e me encontra por lá. Você tanto vai poder ler Do Seu Lado quanto vai poder trocar umas figurinhas comigo. Que tal? Se você não faz ideia do que é wattpad, dá uma olhadinha nos meus posts anteriores. Eu explico mais ou menos. Tá aqui o link do post sobe o wattpad.

Por conta de tudo, essa semana os posts são curtos e objetivos. Sobre coisas que ando fazendo ou que fiz nessas últimas férias. E uma dessas coisas, foi empada.

Empada é uma comida que é tão facinha de fazer, mas que parece elaborada. Na verdade, parece que dá trabalho. Eu nem acho que dê. Mas talvez seja porque eu tenha as ferramentas certas. Sei lá! Vocês me dizem o que acham a respeito das famigeradas empadinhas.

Eu, particularmente, gosto dessas comidas em que se coloca a mão na massa para fazer. Sinto imenso prazer em amassar e moldar. Então, sempre que sinto vontade de fazer algo que leve um pouco mais de preparação para fazer, penso em receitas que envolvam essas tarefas.

A receita, devo confessar, não é minha. Apenas procurei no youtube uma que fosse extremamente simples. Vocês podem assistir ao mesmo vídeo que eu. Vou deixá-lo aqui no post em algum lugar.

Segui as orientações da fofa da Dona Lourdes, mas fiz apenas meia receita, porque não queria passar o restante das minhas férias comendo empada. Meia receita deu oito empadas dessas da foto. Bom demais para o jantar e ainda serve para congelar e levar para o trabalho.

Receita completa:
400 g de farinha de trigo
200 g de margarina
2 gemas
50 ml de água
sal

Mistura tudo isso numa tigela até dar o ponto de massa podre. Desgrudando das mãos. Aí leva para a geladeira por uns 15 minutos para a margarina endurecer um pouco e deixar moldar a massa. coloca nas formas. Recheia. Cobre com massa. E passa (pincela) uma gema com um pouco de leite por cima. Esse detalhe é que ajuda a empada a fechar, além de retirar as imperfeições. Deixa assar no forno (200 graus) por meia hora e está prontíssima!

No meu caso, não uso essas forminhas de metal. Nem tenho delas para falar a verdade. Uso minha inseparável forma de silicone, que uso do cupcake à empada.  Na foto, ela está até suja, de tanto que a requisito.

Com relação ao recheio, use o que lhe der na telha. Eu já fiz de palmito. Ficou ótimo! Mas, a tradicional é de frango, né? Não perco meu tempo preparando um frango só para isso. Geralmente, eu pego a sobra do jantar (quando é frango), passo no mixer mesmo e deixo em um pote no congelador. Quando dá vontade, só descongelo, dou uma reforçada no tempero, acrescento milho ou requeijão. E está pronto o recheio.

Espero que vocês façam em casa.

Se a sua criança for maiorzinha, ela vai adorar ajudar. Afinal, a receita não leva ingredientes perigosos e parece massinha de modelar. Experimente convidá-la para essa brincadeira.



quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Cocô no Trono

Aqui em casa estamos no delicado momento do desfralde. É muita pressão por parte da sociedade para que as crianças sejam iguais e façam tudo do mesmo jeito e ao mesmo tempo. Bem, eu sou do time que acredita que ninguém, em seu pleno estado de saúde, chegará aos vinte e dois anos usando fraldas (para exagerar). Então, podemos sim esperar pelo tempo da criança.

Bia reage medianamente bem ao processo como um todo. Embora ainda apresente dificuldades para abandonar o que está fazendo para ir ao banheiro, o que gera certa resistência. Entretanto, na escola, dizem as professoras que já se sente bem à vontade. Bom... Estamos caminhando. E, quando ela conseguir, trarei um post mais específico sobre isso.

No momento, indico um dos livros que estamos usando por aqui: Cocô no Trono de Benoit Charlat, lançada no Brasil pela Companhia das Letras. Trata-se da história de um pintinho curioso a respeito do trono. Ele tem certo medo da privada e a forma que encontra de superar esse medo é observar o cocô dos animais que já sabem ir ao banheiro sozinhos. O pintinho se diverte com as personalidades dos animais e com os diferentes tipos de cocô.

O livro tem ilustrações coloridas e um texto divertido, próprio para familiarizar a criança com o ambiente e a rotina do banheiro. Ao final, uma surpresa, o pintinho, é claro, aceita o desafio de usar o trono e a criança pode apertar um botão e ouvir o barulhinho da descarga.

Indico demais. A Bia escuta a história com atenção. É um assunto que vem interessando a ela. Acho que qualquer ferramenta que facilite a vida dos pais é válida. Cocô no Trono é uma forma de aproximar a criança da sua nova realidade. Além disso, a meninada percebe que não é o único a enfrentar o medo do trono. E é bom encontrar alguém em quem se inspirar e ter afinidade. 

Então, se você tem uma criança nesse processo de desfralde, é uma bela dica de leitura.

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Capítulo 6

Gente, quarta feira é dia de capítulo de Do Seu Lado no youtube. E também capítulo novo no Wattpad. Então, corre lá.


terça-feira, 9 de agosto de 2016

Atividade: presente do papai

Nesse domingo, é dia dos pais. A Bia tem um pai muito bacana que adora estar com ela, então, nada mais justo que nós preparássemos uma surpresa especial. No caso, o presente já foi entregue, tanto porque o papai precisava do perfume quanto para que a sugestão de atividade pudesse vir logo aqui para o blog.

Resolvi preparar uma caixa para guardar o presente do papai e para depois servir na organização de documentos e pequenezas. O presente mesmo foi um perfume. Graças a Deus, o pai da Bia é um homem muito cheiroso. Portanto, ele sempre precisa de perfumes

Acabou que, quando estive na loja de produtos de artesanato, acabei achando uns enfeites de celular. Um urso grande e uma ursinha toda enfeitada. Achei muito bonitinho. Passei cola quente nas costas da ursinha e a colei no colo do ursão. Deixei um elástico de cabelo para manter os dois juntos até a cola secar e ficou um bonito enfeite para o retrovisor do carro.

Para a caixa, nós vamos precisar de:
1 caixa de mdf - Já comprei uma lixada, só passei um paninho úmido para tirar a poeira;
Tinta acrílica para artesanato de duas cores - Escolhi azul e rosa para fazer esse lance menino e menina, pai e filha;
Pincel grosso para a caixa
Pincel fino para a mão
Canetinhas coloridas
Verniz Vitral - Também para artesanato em madeira.

Modo de fazer:

Limpei a caixinha com um pano úmido. E passei uma camada de tinta azul. Essa não é uma tinta solúvel em água, então, não é bom deixar crianças pequenas brincando livremente com ela, como se faz com a tinta guache, pois a sujeira pode se tornar definitiva. 

Deixei secar por umas duas horinhas. Na verdade, seca bem rápido, mas achei melhor esperar um pouco. Apenas uma mão de tinta foi suficiente para deixar a caixa uniforme no meu caso, mas você pode precisar de duas ou mais mãos para atingir a cor necessária.

Depois, foi a hora de pintar as mãozinhas da Bia. Quando ela era pequena, era um sacrifício abrir as mãos, mas agora, depois de tantas atividades na escolinha, ela adora e colabora muito. Passei a tinta rosa. Carimbei a mão dela bem aberta na caixa e imediatamente limpei o restante da tinta antes que secasse. Como eu disse, essa tinta não é solúvel em água, se secasse, eu ia precisar de querosene para limpar. Por isso mesmo, já deixei os lencinhos umedecidos ali do lado para limpar imediatamente.


Mais uma rodada de secagem e chegou a hora da canetinha, enquanto eu fazia o contorno das mãos da Bia com canetinha, ela enfeitava a caixa com seus desenhos. Achei bonitinho porque ela levou a atividade muito a sério depois que eu disse que era um presente para o papai. Como diz um dos desenhos favoritos da Bia, Daniel Tigre, "fazer alguma coisa é uma forma de dizer 'Te amo'". E ela comprou a ideia mesmo.


Peguei os desenhos dela na caixa e passei o verniz. Sem o verniz, com o tempo, os desenhos sumiriam e assim como a marquinha das mãos. e nós não queremos isso, afinal, quero olhar para aquelas mãozinhas miúdas daqui a quinze anos e me lembrar dessa fofura.

Tive, entretanto, um problema para limpar o verniz do meu potinho, do pincel e das mãos, pois não tinha solventes a base de petróleo. E como eu disse, os produtos não são solúveis na água. Mas, no final, deu tudo certo.
Veja como ficou a tampa.

Espero que a sugestão seja válida. Até a próxima!

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Wattpad

Oi, pessoal,

hoje vim partilhar com vocês minha última descoberta desse mundo digital: o Wattpad. Confesso que me senti até um pouco traída pelo meu alunado que já sabia o que era e nunca me informou que existia um negócio desses. Trata-se de um aplicativo inventado por um canadense (ninguém esperava que os americanos inventassem algo que favorecesse a leitura) onde milhares de escritores do mundo inteiro partilham suas obras de maneira gratuita.

Tenho procurado, desde que resolvi me jogar nessa vida de escrever, uma plataforma que me aproximasse do público. Nesse mundo de facilidades digitais, eu achava incrível como era complicado acessar esse público leitor. E olha que eu já tinha plena consciência de que ele existia. Porque, com tanto youtuber fazendo sucesso por aí, dá na gente uma desconfiança de que essa geração não lê. Isso é uma falácia. Os inúmeros livros lançados anualmente para o público jovem desdizem essa hipótese. A questão é mais sobre onde encontrá-los do que sobre se existem ou não.

O fato é que, dentre todas as redes sociais, existe uma para escritores e leitores. Oremos. E essa rede é o wattpad (existem outras também). Lá, as pessoas podem deixar suas obras, completas ou apenas capítulos para degustação e outras pessoas leem, votam e comentam, uma interação direta com o autor.

São mais de 40 milhões de usuário em todo o planeta. Cerca de 800 mil brasileiros. Na sua grande maioria, adolescentes. Uma vez que o livro sem ser de papel ainda é tabu por aqui, é natural que sejam os mais novos a experimentar uma plataforma diferente. Então, pode-se concluir que o Wattpad já é um sucesso.

Desde semana passada, coloquei capítulos do meu primeiro livro lá. Até o momento, são 170 visualizações em sete capítulos. Muito mais gente do que consegui mostrar nesses anos que venho batalhando divulgação. Estou encantada com a possibilidade de conquistar leitores do Brasil inteiro. E quem sabe até chamar a atenção de alguma editora e conseguir publicá-lo em livro físico.

A publicação de sucesso do Wattpad, aliás, é uma constante. Obras com milhões de visualizações ganham suas versões impressas. Afinal, a publicação é um negócio e a plataforma demonstra para a editora a parte mais complicada dessa relação de consumo, um livro com grande aceitação por parte do público significa que tem gente interessada e que ele venderá nas livrarias.

Estou adorando a experiência e aconselho demais. Tudo que você precisa fazer é baixar o aplicativo no seu celular, ou acessar o site do wattpad pelo computador mesmo, usando inclusive os dados do facebook. É rápido e fácil. Você logo começa a ler. Aí é só fuçar as centenas de obras dividias pelos assuntos até encontrar algo que lhe agrade. 

Entretanto, sinto-me no dever de avisar que o wattpad é uma plataforma democrática. Nessa palavra democrática, encaixamos escritores iniciantes. Muitos deles tão adolescentes quanto os seus leitores. Em historinhas muitas vezes sem nexo ou que são apenas cópias de livros que eles gostaram com outros nomes. Não imagine que vai encontrar um Jorge Amado ou um Graciliano. Estou falando de livro adolescente de livraria. 

E mesmo nesse gênero, é difícil encontrar algo interessante, tanto do ponto de vista estrutural, ou seja, histórias com coerência do início ao fim (coisa bem complicada para a mente imediatista adolescente) quanto da parte gramatical. Vai por mim, minha alma de linguista compreende completamente as confusões entre fala e escrita, mas meu cérebro de leitora já gera um preconceito logo de cara quando a historinha começa, bem na sinopse, com um "concerteza você vai se emocionar".

Desde que comecei na semana passada, já li uns três livros e iniciei muitos outros os quais não tive estômago para continuar. Procuro indicações no google e, às vezes, arrisco uma recomendação que o próprio programa faz, baseado no que você já leu. O número de porcaria é grande. Mas encontrei pessoas que realmente escrevem bem. Criativas e lúcidas. 

Minha primeira indicação do wattpad para vocês é Eu, Cupido de uma menina chamada JuliaBT. Uma historinha sem pretensões, como ela mesma define, mas muito divertida. É sobre uma garota que por um acaso do destino acaba quebrando a mão de um cupido e, por conta disso, precisa tomar o lugar dele por um mês. Envolvente e bem escrito. Experimenta.

Além disso, caso você escolha adentrar nesse universo do Wattpad, por favor, me encontra por lá. E vai ler Do Seu Lado. Vou deixar o link aqui.

Até!

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Férias em casa

Pintar
Esse ano o dinheiro não deu para viajar. Não teve reajuste de salário. Os carros quebraram. O ar-condicionado também. E, para completar, greve. Resultado, férias em casa. Passei dias inteiros com a pequena dentro de casa, eu e ela. Nem por isso foi uma experiência menos agradável. Cansativa talvez.

Sempre que estou com a minha filha, eu penso que aquele momento é único e que ele vai passar (os bons e os ruins). Outro dia em pensava em como seria quando ela não mamasse mais, hoje, estamos trabalhando o desfralde e daqui a pouco ela já vai estar lendo por conta própria. Temos que aproveitar esse instante da vida em que ela faz tanta questão da nossa presença. Em que nós somos as pessoas mais especiais do mundo. Atitude que ela traduz todas as vezes em que nos vê após uma curta separação.

Dizem por aí que os dois anos são uma fase difícil. A adolescência da infância. Vai por mim. Sei o quanto pode ser complicado. Mas, ao mesmo tempo, com bastante paciência e um pouco de compreensão da fase como um todo, suas atitudes como pai vão ficando mais coerentes e consistentes. Eu, pelo menos, estou apostando nisso.

Banho de piscina
Aos dois anos, a criança se dá conta de que não é uma parte de você. Ela se percebe como um indivíduo, com gostos e vontades próprias. Por conta disso, comer vira uma luta, pois as preferências são várias e daqui que você descubra... Bia, por exemplo, criou uma aversão ao tom vermelho dos molhos que ninguém sabe dizer de onde veio. 

Além disso, eles começam a pensar que podem escolher o horário, modificando a rotina ao seu bel prazer. Então, é brincar para sempre, comer somente se necessário, tomar banho nem pensar e dormir nunca. E, para cada intervenção paterna, um escândalo de proporções catastróficas.

Primeira dica super difícil de cumprir: não se abale com choro. Dê colo. Console. Diga que está com ele e que entende. Mas seja firme. Menino precisa de disciplina. Menino não pode fazer o que quer na hora que quer. Se você não ensinar, a vida ensina. Já dizia minha avó. Para falar a verdade, menino nem sabe o que quer... Quem nunca ficou balançando uma criança exausta que lutava com todas as forças para não dormir que atire a primeira pedra. 

É normal testar limites. Saber onde ele termina e onde você começa. Mas, não se iluda, a criança precisa que você delimite o seu mundo, que lhe imponha fronteiras. Pois, como você mesmo vai perceber (talvez perto dos quarenta), um mundo em que você mesmo é o próprio limite pode ser assustador. E pode gerar inseguranças mil.

Chá de mentirinha em frente de casa
Tenho entendido que, com relação a crianças, mais vale se antecipar e planejar. Os dias em que eu simplesmente estava cansada e decidia deixar rolar eram os piores em termos de comportamento. Crianças da idade da minha filha precisam ser instigadas a fazer coisas diferentes. A palavra certa é orientação. Sem orientação, elas vão fazer o que sempre fazem e, em pouco tempo, ficarão entediadas com a repetição constante. O tédio é a oficina do diabo, gente. Aí, eles começam a traquinar. E não sobra um bibelô sequer sobre a mesa. O que eu estou querendo dizer é: planeje atividades para as suas crianças e, principalmente, brinque com elas. 

Não precisa ser nada elaborado. Às vezes, passo um tempão pensando em uma coisa, imaginando como a Beatriz vai se divertir com isso e com aquilo e tudo mais. No final, tudo que ela quer é que sentemos com ela e comamos comida imaginária que ela faz nos seus brinquedos. Que estejamos presentes. Sem celulares, sem televisão, sem almoço para fazer. E, nessas férias, foi isso que eu fiz. Planejei duas atividades por dia. Uma pela manhã e outra pela tarde. Um momentinho em que eu me sentava com ela e brincava, exclusivamente com ela. Por cerca de uma hora.

Banho de bacia com balões de água
Eu dava a proposta da brincadeira. Banho de piscina. Piquenique em frente de casa. Pintura. Mas era ela quem conduzia o percurso da alegria. Repetíamos o que ela gostava e criávamos coisas novas a partir dali. Era um tempo incrivelmente bem gasto. Depois dessa dose exclusiva de atenção, a rotina ficava bem mais fácil. A energia baixava e ela se entregava ao cansaço para dali a poucas horas recomeçar novamente.

Fizemos vários programas nessas férias. Dentro de casa e fora dela. Vocês vão acompanhar algumas das nossas atividades aqui no blog. Por enquanto, quero deixar apenas um recado para você que está passando por uma fase difícil com seus filhos, achando que fazem certas coisas de propósito para lhe tirar do sério e que a sua vida está mais complicada que a dos outros pais de alguma maneira. Você não está sozinho. Ser pai e mãe é cansativo mesmo. Dá trabalho mesmo. E você chora às vezes sim, com pena de si mesmo e de tudo que você perdeu escolhendo esse caminho. 

Mas aí você se lembra daquele sorriso pela manhã. E de como é ruim quando eles estão quietinhos porque estão doentes. E que eles são a oportunidade de voltar a ser criança um pouco. Percebe nessa hora que a brincadeira é o melhor remédio.  Então, brinque. Um pouquinho que seja, mas brinque. Coma comida imaginária. Pinte borboletas no seu rosto. Tome banho de piscina como se não houvesse amanhã, como se a piscina fosse deixar de existir. Porque um dia, o que eles estão descobrindo hoje realmente vai se tornar realidade e eles serão pessoas totalmente separadas de você. Nesse dia, o que restará de melhor entre vocês, serão esses momentos de felicidade explícita que vocês construíram e que não sairão da cabeça nunca mais.

terça-feira, 2 de agosto de 2016

Pipoca de micro-ondas caseira

Hoje a preguiça tá grande e a vontade de escrever tá pouca. Resultado, vamos de receita.

Apesar de ser uma coisa relativamente comum, percebi que muita gente ainda não sabe que dá para fazer pipoca no micro-ondas sem comprar aqueles saquinhos com o cheiro (e com o gosto também) péssimo. Ninguém merece aquele ranço de gordura que fica no final. E o cheiro de chulé que impregna em tudo. Na escola em que trabalho, por exemplo, existe uma campanha contra a pipoca fedorenta de micro-ondas desde que a sala dos professores foi aterrorizada por pipocas sabor queijo, mas deixa essa história para outro dia...

Por isso, o menu de hoje conta com uma receita dificílima. Essa, até o mais incapaz entre os incapazes consegue fazer. 

Vamos precisar de:

água

sal

milho de pipoca

recipiente de vidro alto (resistente ao calor do micro-ondas. Os vagabundos vão trincar ou explodir. Tô só avisando...)

plástico filme - (Tem quem use só aquelas tampinhas plásticas próprias para micro-ondas, feitas para não deixar respingos de molho escapar)

Aí é o seguinte, coloca o milho no recipiente de vidro já pensando que a pipoca, quando estourar, vai precisar de espaço, por isso o recipiente precisa ser alto. Costumo colocar milho o suficiente para esconder o fundo, mas faço em potes pequenos, só o bastante para um lanche da tarde.

Então, coloque a água. Uma colher de sopa resolve, mas se for muita pipoca, uma tigela grande, por exemplo, melhor colocar um pouco mais, duas colheres talvez (receita bem precisa, não é não?).

Adicione o sal. Aconselham uma colher de café. Mas eu nem gosto muito de sal. Boto só umas pitadinhas mesmo. E misture tudo para umidificar os grãos.

Agora é só cobrir o recipiente com plástico filme. Não se esqueça de fazer um pequeno furo para o ar quente passar ou então é capaz de o plástico derreter com tanta quentura.

Suuuper difícil e gourmet, depois disso, é colocar o potinho no micro-ondas e apertar o botãozinho da pipoca. Caso o seu aparelho seja miserável e nem tenha botão de pipoca, coloca na potência mais alta e põe uns cinco minutos. Fica de olho, quando o espaço entre um estouro e outro de pipoca for superior a três segundos, é hora de parar ou a pipoca queima.

Não coloque seu vidrinho em contato direto com uma superfície molhada ou fria. Ele pode trincar (Vai por mim, já fiz isso um par de vezes). E tire o plástico com cuidado. O vapor da pipoca queima.

Está pronto. Aproveite. Além de fácil. É rápido. Suja pouca coisa. E muito saudável. pipoca por sis ó já é um excelente alimento, sem gordura, então, é um sucesso!!!

Deixo para vocês também um vídeo sobre as quinze vantagens  de se comer pipoca.

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Vida e Morte

Acredito que nascemos e morremos várias vezes, sempre com a finalidade de aprender, sempre na intenção de melhorar. Para além do que é fé e do que é religião, é fácil perceber, observando a vida seguir seu curso, que tudo é cíclico. Algo tem que terminar para uma coisa nova começar. Ou seja, cada dia é uma oportunidade nova de nascer e cada noite que chega é também um pouco de morte.

Carpe Diem. É uma mensagem antiga. Aproveite o tempo. Você que acredita na imortalidade da alma e você que acredita na finitude do corpo. No final, a ideia vale para os dois. Aproveite. Cresça e apareça. Faça da sua vida uma experiência incrível. Pois é impossível vivê-la novamente da mesma forma. Escolha adequadamente todas as pessoas que vão permanecer na sua jornada, já que você não pode determinar quem surgirá no seu caminho... 

O acaso é sim uma ferramenta do destino, mas é o livre arbítrio quem estabelece essa permanência. Esse querer bem que distância alguma afasta. Essa necessidade de estar junto mesmo quando não compartilhamos os mesmos ideais. O que estou tentando dizer é que a máxima de que "os amigos são a família que você escolhe" é verdadeira, na mesma proporção que a família são amigos que você não escolhe. Mas que o coração acolhe...

Quando essa pessoa de lancheira aí entrou na minha vida, tinham me dito que eu ia ficar no canto. E de fato, por causa dela, eu precisei dividir meu quarto, por causa dela, minhas bonecas foram riscadas e, por causa dela, eu não podia mais ser criancinha, já que era a vez dela de ser. Admito que eu preferia outro irmão. Os meninos são tão mais fáceis de lidar, tão mais simples emocionalmente... Mas quando eu a vi naquela maternidade, eu entendi que não podia ser diferente. E foi um amor tão grande que só fui entender muitos anos depois, quando eu fui mãe de verdade.

Minha irmã é tanta coisa minha que a palavra amiga não define. Somos pessoas completamente diferentes, eu sou de Áries e ela é de Aquário, isso já diz tanta coisa. Temos muito em comum também e até enxergo o quanto de mim ela absorveu pela convivência, mas a verdade é que a probabilidade de nós sequer nos conhecermos se não fôssemos irmãs é imensa. Eu sou do dia, ela é da noite. Eu jogava bola e ela caça Pokémon. Eu dançava gafieira e ela apresenta painel de cultura geek no SANA. 

E eu fico cá comigo pensando o quanto eu não teria perdido....

Essa é a criadora do menino-peixe, a pessoa que mandava cartão-postal pelo videocassete, a garota que organizava as suas Barbies para visitarem o Ken na penitenciária. Definitivamente, essa pessoa aí nunca foi uma qualquer. E eu fico feliz de ser uma das personagens principais da história dela e não mais uma das pessoas que ficam babando quando a escutam falar. Não sou mais um like nas fotos que ela posta. E sou, muitas vezes a chata que passa sermão e que a lembra que o mundo é maior do que o espaço cozinha-cama-computador e que tem um universo de possibilidades lá fora esperando por ela.

Até as pessoas incríveis, como todos vão concordar que ela é, acreditam às vezes que não são capazes. E isso não é defeito. Falhar, aliás, não é defeito, embora ninguém fale sobre as próprias falhas e os próprios erros, eles estão lá para fazer de nós o que somos da mesma maneira que fazem as conquistas. Sentir não é defeito. Admitir-se imperfeito é válido e muito corajoso. Rir de si mesmo é bom (até certo ponto). E seguir caminhos diferentes dos que lhe foram traçados é uma prova de coragem... Estou esperando ansiosamente pelo que está por vir, já que ela escolheu um caminho tão diferente do meu. E, com toda certeza, está morrendo de medo do próximo passo, já que esse ciclo se fecha. E todo ciclo que termina é uma morte.

Hoje morre a Thaís universitária. A Thaís que achava que não ia conseguir. A Thaís que se escondia detrás de uma porção de coisas, principalmente do próprio corpo. Você conseguiu. Cumpriu essa etapa. Pagou a última moeda do que todos esperavam de você. Está formada. Nasce hoje uma adulta, mesmo a contragosto. Nasce a Thaís profissional. A garota que já começa a mostrar seu talento nos figurinos por aí, que pensa em seguir a academia e mostrar suas ideias empoderadas para mais gente. 

Quero que saiba que continuo aqui para os cagaços e para os conselhos, para fazer churros e ler  (bem de vez em quando) aqueles livros tristes que você me aconselha. Quero que saiba que agora é a sua vez de ser referência para a Bia e que essa é uma responsabilidade que você vai tirar de letra sendo apenas você mesma. Sucesso! Lembre-se que sempre que conseguir um objetivo implica em falhar algumas vezes e que do chão ninguém passa. E é com os pés no chão que todos nós enfrentamos essa longa caminhada que é viver...

sábado, 30 de julho de 2016

Do Seu Lado - Capítulo 3

Oi, gente,
hoje estou comunicando a postagem do terceiro capítulo de Do Seu Lado no Youtube. Para quem não sabe, resolvi publicar meu primeiro livro no youtube. Está em formato de slides. Estou publicando os capítulo às quartas e aos sábados. Deem uma passadinha por lá.

Olhaí:

Nesse capítulo, a vida de Malu começa realmente a mudar. Pois o filho do seu padrasto, um rapaz chamado Antonio, vem passar as férias de final de ano com eles. Antonio é incrível. De tão divertido, vai ganhar a amizade de Malu e despertar o interesse de suas colegas de escola. E talvez esse interesse dê início às mudanças que a moça tanto espera que aconteçam...

quinta-feira, 28 de julho de 2016

Cachorros Não Dançam Balé

Bia finalmente está entrando no clima das historinhas. Ela já consegue acompanhar um enredo com começo, meio e fim. Por isso, está na hora de dar o gás na leitura dessa biblioteca infantil que venho construindo desde que descobri que estava grávida.

Essa semana, experimentamos o delicioso Cachorros Não Dançam Balé, de Anna Kemp. Com ilustrações de Sara Olgivie. Editora Paz e Terra. Lembro-me que comprei esse livro em uma das minhas buscas em livrarias. Geralmente, compro os meus livros pela internet, o preço é bem mais em conta, mas, em se tratando de infantis, adoro lê-los e folhear. Sempre acabo comprando alguma coisa ou pelo preço ou pelo encantamento. Foi o caso de Cachorros Não Dançam Balé. As ilustrações são muito fofas e a história inusitada traz uma mensagem importante.

O livro é a história de um cachorro chamado Filé (se você acompanha o blog, já percebeu que a utilização de animais é comum nos livros infantis. O animal diminui o impacto das emoções mais fortes). Filé é o bichinho de estimação de uma esperta menininha. Ela logo percebe que seu cachorro é diferente dos outros, ele não gosta de apanhar a bola, mas fica fascinado por pessoas dançando na televisão. 

A menininha aceita de cara a paixão do cachorrinho pelo balé e até a vontade que ele sente de usar tutu. Já o pai da garota não aceita que o bichinho a acompanhe nas aulas de dança, nem aceita que cachorros queiram dançar balé. Filé faz todas essas coisas escondido. Sem se importar muito com o que os outros vão dizer. E como tem censura nesse livro. As pessoas na parada de ônibus, a família, a ´professora de balé, ninguém aceita que um cachorro queira dançar balé.

Minha filha, que anda muito empática com os personagens, pedia para acabar com a leitura todas as vezes que alguém desacreditava o cachorrinho. Tanto orgulho dela que já percebe o que é certo e errado. Precisei dizer para ela que no final ia ficar tudo bem. E fica mesmo. Filé se apresenta num grande balé e as pessoas estranham no começo, mas ele é tão talentoso que o livro acaba com muitos aplausos.

Achei o livro ótimo. É sobre vencer desafios e sobre aceitar diferenças. Não podemos deixar de perceber que, facilmente, poderíamos trocar o cachorro Filé por um menininho. Um menino diferente. Que não somente gosta de dançar. O que por si só já seria audacioso, mas um menino que faz questão de usar tutu. Um menino diferente de outros meninos. Entendeu do que o livro trata?

Note que a menininha aceitou facilmente os gostos do cachorrinho e quem foi o primeiro que implicou? O pai. A figura masculina. Além disso, a autora faz questão de mostrar que o cachorrinho não gosta apenas da dança. Gosta de balé. O estilo mais associado ao feminino. E gosta de usar tutu. Não é preciso usar tutu para dançar, não é mesmo?

É um tema forte. Disfarçado por personificações e ilustrações fofinhas. Claro que é uma metáfora para todo os tipos de diferenças. Mas talvez seja uma excelente porta para abrir o diálogo entre um pai que não aceita que cachorros dancem balé e um filho que não gosta de fazer as mesmas coisas dos outros menininhos.


quarta-feira, 27 de julho de 2016

Do Seu Lado - Capítulo 2


Oi, gente,
hoje estou deixando no meu canal mais um capítulo do meu primeiro livro. Ainda estou caminhando nesse negócio de vídeo e de canal. Se tiver um tempinho, vai lá, lê, se inscreve, compartilha. Aquele negócio todo de youtuber...

Esse é um capítulo que mostra mais a personagem principal através da sua convivência familiar. Nos meus livros, pais e filhos compartilham características. E vocês vão perceber, com a passagem dos capítulos, como a personalidade de Malu vai sendo moldada a partir dos seus pais: Helena e Fernando.

Mil beijos e espero que gostem...

terça-feira, 26 de julho de 2016

Hipocrisia, eu quero uma para viver...

Hoje vou escrever um post em um molde que não gosto muito, principalmente porque não verifiquei as fontes (não por falta de tentativa), mas é incrível como num mundo com tantas informações, algumas coisas, aquelas que "não interessam ser mostradas", simplesmente somem. Neste sábado, na minha timeline, apareceu um depoimento de um jovem, depoimento provavelmente curtido por algum dos meus alunos. Eu estava meio ocupada, meio fazendo mil tarefas ao mesmo tempo no computador e não reparei direito no post, li por cima.

Tratava-se de um relato de violência. O jovem relatava ter sido agredido, por estar beijando seu parceiro, em plena Praça da Gentilândia no Benfica. Para quem é de fora, que fique claro, que o bairro (e essa praça em específico) é um conhecido reduto LGBTS. Assim como a Pracinha em frente ao shopping Aldeota era um conhecido reduto de pessoas que gostam de animes e cultura geek. Assim como o Condomínio Uirapuru é conhecido por promover eventos religiosos. E, na minha cabeça, se você não gosta do que acontece nesses lugares, simplesmente não vá. Porém...

Mas o melhor (se é que dá para usar essa palavra nesse contexto) está por vir. Os agressores. Nada mais nada menos que vendedores de drogas. Isso mesmo. Os traficantes locais bateram no casal. Diz-se, aliás, que isso está virando prática comum do lugar. Não é lindo? Traficantes preocupados com a moral e os bons costumes? Provavelmente, tementes a Deus. 

Antes que as cabeças toscas comecem a raciocinar, vamos esclarecer alguns fatores. Você, preconceituoso de carteirinha, vai dizer: mas a culpa é dos viados que usam drogas. Perdidos. Merecem mesmo. E blá, blá, blá... Vomitando imbecilidades sem fim. Gays e héteros usam drogas. Aliás, para e pensa, que tipo de atendimento ao cliente é esse por parte do tráfico: eu vendo para você e eu te bato. Não acho que seja um marketing eficiente. Acho que é melhor o pague um leve dois ou até o chiclete com a figurinha, mas vou deixar você tentar encontrar desculpas para isso...

Na minha cabeça, o que une droga e homossexualismo é uma coisa só: a lixeira social. O lugar onde jogamos tudo aquilo que o "cidadão de bem" não quer ver. Pois, cerceados de sua liberdade de ir e vir, os homossexuais precisam de espaços que os aceitem. Infelizmente, hoje em dia, esses lugares são guetos escuros, na calada da noite, escondidos por n subterfúgios, lugares onde nem a polícia faz questão de chegar. E a droga, como tudo mais que não presta, também circula por lugares assim.

Falta um pouco de raciocínio dedutivo aí, gente, estamos misturando causas e efeitos. Gay não é igual a droga. Gay não é igual a promiscuidade. Embora existam gays que usem drogas e existam gays promíscuos. Mas, na verdade, o que é que eu tenho a ver com isso? Nada. A questão desse post, por sinal, passa mais por essa inversão de valores. É o traficante ensinando moral. É a violência reprimindo o amor. E tudo isso regado por um egoísmo imenso. Afinal, jogamos essas pessoas nos guetos. E até nos guetos, eles apanham. Até nos guetos eles morrem. E parece que isso é o certo a se fazer pelo bem comum.

Mesmo que o relato não seja verdade. Os números da violência contra a comunidade LBTS são alarmantes. E a sociedade tem lutas muito mais importantes a vencer do que ir contra os direitos básicos dos homossexuais e outras definições. Direitos que qualquer cidadão tem. Enquanto houver houver lacicismo, pelo menos. E Deus permita que isso continue a existir, porque da última vez que religião e justiça se misturaram foram mil anos de trevas e escuridão. 

A luta contra o consumo de drogas. A legalização. A conscientização da juventude. O acesso aos centros de apoio. A violência gerada por esse câncer social que é a droga. Tudo isso é tão mais relevante do que dois rapazes se beijando em uma praça. E, ainda assim, essas bandeiras de ódio explícito continuam a ser erguidas e heróis fascistas surgem com cada vez mais força, amparados apenas pela raiva e pelo egoísmo.

A idiotia é o mal do século, sem sombra de dúvida. Enquanto escrevo, penso naqueles que colocarão o homossexualismo e o vício no mesmo patamar. Acusando-me de hipócrita. Afinal, "duvido que ela queira que a filha veja dois homens se beijando". Em primeiro lugar, não me incomodo um milímetro com dois homens se beijando na frente da minha filha, contanto que se mantenha o decoro, isso vale para casais de qualquer natureza, inclusive para héteros como eu e o pai dela e cachorros grudados no meio da rua. E, ainda assim, caso ela veja algo "inapropriado para a idade", tudo é oportunidade para diálogo e conversa. 

Em segundo lugar, de certa forma, o pensamento preconceituoso tem alguma lógica, pois existe mesmo uma relação entre vício e homossexualismo. Tanto o viciado como o gay não tem saúde. Saúde, se tomamos por base a OMS (organização sanitária vinculada à Organização das Nações Unidas), seria  “estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não somente a ausência de enfermidade ou invalidez”. Por esse ponto de vista, viciados e homossexuais estão no mesmo barco, pois dependem do poder público para alcançar essa saúde de bem-estar físico, mental e social. E, definitivamente, nenhum desses dois grupos e suas interseções merecem a lixeira social em prol de um "cidadão de bem", categoria, aliás, que eu nem acredito que exista de fato.

segunda-feira, 25 de julho de 2016

Micaretinha do Shopping RioMar

Ontem, por coincidência, a pequena acordou mais cedo do soninho da tarde. Provavelmente por conta da quebra do nosso ar-condicionado. Aqui em casa, estamos todos morrendo de saudades dele. Quase entendo a raiva que a nossa classe média alta tem de pobre em avião, afinal, luxo é uma droga mesmo, depois que você se acostuma com ele...

Enfim, a gama de possibilidades para o domingo à tarde se abriu, pois, em geral, não conseguimos fazer programas antes das cinco pela logística do cochilo da tarde da Bia. Como em todos os finais de semana, olhei a programação infantil no grupo do Facebook - Programação Infantil de Fortaleza (peça para se inscrever aqui). E vi a proposta da Micaretinha do Shopping RioMar.

Esse evento, pelo que entendi, tinha relação com o Fortal (carnaval fora de hora que já comemora 25 anos na cidade). Acho que a ideia era incluir as crianças e os pais foliões nesse clima de carnaval fora de época, férias e celebração da alegria.

Bom, nós estamos sempre dispostos a topar coisas novas, embora eu e meu marido sejamos bem pouco chegados a axé, mas, como era uma coisa infantil, resolvemos experimentar.

O evento estava fofo. Trio elétrico em som possível de conviver. O local foi o estacionamento do shopping que fica na parte da sombra. Tinha pouca gente e havia segurança e barraquinhas para suprir a s necessidades básicas como líquidos e comidinhas. a brisa estava batendo e o ambiente estava gostoso. Certamente, o shopping teve uma bela iniciativa.

Infelizmente, entretanto, apesar da seleção de axés ter sido escolhida para as crianças, ou seja, o que ouvi era axé das antigas (tipo: "vou dar a volta no mundo, eu vou, vou ver o mundo girar" e "Alô paixão, alô doçura"), nada de duplo sentido, o que definitivamente exige esforço da escolha da playlist, ainda assim, era axé. E só axé. 
Eu esperava uma musiquinha infantil, mas também não fiquei tempo suficiente no evento para saber se rolou ou não. Até deve ter rolado em algum momento. O caso é que a minha pequena não curtiu muito. Tampouco o pai dela. E eu, que geralmente sou a que insiste para tentarmos um pouco mais a atividade nova, também não ia ficar lutando para ouvir axé.

Preferimos o tradicional passeio no shopping. Taí a nossa foto fingindo que estamos adorando o programa e que curtimos todas as músicas. Mas a verdade é que a gente demorou mais para chegar no local, já que o estacionamento em que deixamos nosso carro era do outro lado do shopping do que ouvindo o trio elétrico. Nada contra, viu, gente. Só não é mesmo o nosso estilo.

Falando nisso, teve um tempo na minha vida que eu fui no Fortal. Nem gostava muito. Achava sempre puro a xixi. Depois, passei a detestar o Fortal. Porque eu não ia, mas minha vida era cerceada pela mobilidade urbana da área em que eu morava, perto da Avenida Beira-mar, onde o evento acontecia. Hoje, que o Fortal se mudou para a Cidade Fortal, eu quase que o adoro. Nas mesmas proporções que gosto do Halleluya. Deus conserve esses dois eventos. E, para completar, nesse fim de semana, ainda teve o Encontro de Mulheres Pague Menos. Resultado: cidade vazia, lugar para estacionar, serviço bom. Afinal, Fortaleza inteira estava nesses eventos. E foi ótimo não estar em nenhum deles. Adoro a cidade assim, cada um na sua, fazendo o que quer, sem falar mal das escolhas e das opções de lazer dos outros.

sábado, 23 de julho de 2016

Projeto Novo

Tem coisas na vida que é preciso ter coragem para fazer. Começar um livro, por exemplo. Mostrá-lo para alguém. Deixar que alguém veja o que você escreveu. Que compartilhe das suas ideias. Ou pior, que discorde delas. Quem lê acha que, de maneira inocente, estamos em todas as palavras, em todas as atitudes dos personagens. Particularmente, não concordo. Acho que escrever é também um exercício de empatia, uma forma de se enxergar pelos olhos de outros. Mas isso não vem ao caso hoje.

Estou escrevendo para falar dessa sensação de covardia quando estamos diante de algo novo. Quando nos propomos a tentar. Enfim, quando colocamos a cara a tapa. A primeira coisa que vem à mente é o medo do vazio e da solidão. Enquanto escrevo no meu quarto, não vejo os rostos de ninguém. E penso nas palavras jogadas no universo, como se não houvesse resposta. Como se eu falasse sozinha. Todos os dias, eu crio coragem para compartilhar meus links no facebook, sempre pensando se estou incomodando alguém com essa propaganda de mim mesma. Daí eu penso que é difícil que eu incomode mais do que as notícias nacionais e clico em "compartilhar".

Ainda espero os comentários no post. Ainda espero ansiosamente pelas pessoas que se inscrevem no blog. É um exercício muito bom de paciência para o ego. Tenho que me conformar que sou apenas um grãozinho de areia nessa imensa praia chamada internet. O sucesso não chega fácil. O sucesso não é para qualquer um. Atinjo poucas pessoas. E a consciência disso me faz pensar em desistir às vezes. Por outro lado, quando comecei, o blog tinha tão poucas visualizações diárias. Não passava de dez, na verdade. Quase todas minhas. E hoje, todo dia as visitas giram em torno de sessenta (bem mais que isso de vez em quando). Sessenta pessoas que gastam o seu precioso tempo para saber o que eu estou dizendo. Quase duas salas de aula. Para ler. Coisa que não é comum.

Sei que muitos são meus alunos. E que gostam de ver uma outra faceta da minha vida exposta. Afinal, aceitar uma licenciatura é o mesmo que assinar um contrato para participar de um Big Brother eterno, em que só a morte é capaz de te eliminar. Aluno adora e sempre vai adorar saber da vida de professor. Como se a gente tivesse um tipo diferente de vida. Nem vou entrar nesse mérito...

Acontece que, nesse processo, venho arrebatando gente amiga. Que me lê. Que me entente. E que, de alguma forma, se identifica com o que escrevo. E isso é um incentivo grande. Ainda que as proporções sejam pequenas.

Escolher se expor, em qualquer situação, é uma escolha difícil. Do outro lado da tela, é possível julgar sem identificação. É possível zombar e não sofrer maiores consequências (na maioria das vezes). Então, alguma coisa muito forte tem que motivar essa escolha de se colocar diante do mundo. No meu caso, é o desejo de partilhar meu trabalho e de ser reconhecida por isso um dia. Quero tanto que mais gente leia meus livros, que eu arrisco. Morrendo de medo. E morrendo de vergonha. Que fique claro.

E é assim com esse novo projeto. Depois de mais um desprezo, resolvi tentar algo diferente. Vou colocar meu primeiro livro no youtube. Em forma de slides. Um capítulo por semana.

Está tosco. Não sou boa de edições. Não sei mexer em programas de vídeo adequadamente. E meu gosto é duvidoso na questão da imagem. Mas estou fazendo o possível.

Além disso, o trabalho é enorme. As ferramentas são complexas. Existem inúmeras questões que envolvem direitos autorais. E transformar uma obra de uma plataforma para outra é sem sombra de dúvidas um trabalho complicadíssimo. Mas eu vou tentar.

Gostaria muito que vocês vissem. Que me dissessem o que acham da ideia. E que me acompanhassem nessa nova empreitada. Então, lá vai. Porque nenhum caminho, por mais longo que seja, começa sem um primeiro passo...


sexta-feira, 22 de julho de 2016

RELICÁRIO


Ele tentava manter o foco, enquanto ela fazia as perguntas. Eram perguntas interessantes sobre empoderamento feminino, o esporte como ferramenta de desenvolvimento social, preconceito. Joaquim estava impressionado com a forma elegante e natural com a qual Taís abraçara o jornalismo. Seu pensamento de profissional estava ali, com ela, interessado em tudo que dizia. Já seu coração de menino...
Esse batia acelerado. Fugindo desesperado numa correria louca. Tentando escapar do que aqueles olhos azuis, aqueles cílios longos, aquela boca perfeita faziam com ele. Joaquim segurava o cabelo para que a mão não fugisse ao controle. E sorria. Até porque não conseguiria fazer outra coisa. Taís estava na sua frente. A pessoa que não lhe saiu da mente por nem um dia sequer. A mulher que ele via refletida na lua.
Não conseguia conter o desespero que a esperança lhe causava. Taís o procurara. Ela buscara a sua presença. Talvez sua chance de ser o alvo chegara. Esse pensamento lhe dava tremores e fazia seu coração disparar. Estava sem ar. Sentia calafrios. E ela perguntava sobre trabalho, sobre cinema, sobre futebol e carreira. Os olhos de caçadora sempre dentro dos dele.
Estava tímido. Incapaz. Respondia quase que mecanicamente. Perguntas tantas vezes feitas. Não era difícil buscar na memória a resposta padrão. Joaquim era a presa. Sempre fora. Estava acuado pela presença dela.
Taís aproveitara cada segundo do tempo. Profissional ao extremo. Sorrindo. Perguntando. E, ao mesmo tempo, reagindo aos sinais que o corpo dele dava. Jota sabia que não eram sinais bons. Ele estava com medo. E ela farejava o medo em cada hesitação. Quando alguém da produção gritou “two minutes”, quis morrer. Era pouco tempo para convencê-la a ficar.
Taís sorriu mais uma vez. Ela parecia tranquila, prática e inabalável como sempre. A deusa Ártemis dos seus inúmeros desenhos. A personagem que marcou a sua vida. Ela respirou fundo e fez sua última pergunta:
─ Joaquim, sou uma grande fã dos seus quadrinhos e essa é mais uma pergunta pessoal do que jornalística... – De repente, era essa a pergunta que mais o interessava responder. Ele sentou de forma mais atenta na cadeira. – Seus quadrinhos notadamente colocam as mulheres em primeiro plano e pouco tratam de relacionamentos amorosos. Eu acho isso incrível.
─ Acha? – Ele sorriu. – Nem todos os fãs pensam da mesma forma. Se quer mesmo saber...
─ Mas, por outro lado, sempre imaginei que existisse algo mais entre Levi e Diana. E, no entanto, depois que ela sai do ensino médio, eles simplesmente não se encontram mais. É só isso? – Ele se divertiu com a expressão do rosto dela. Era uma pergunta de fã. Estava orgulhoso de tê-la como admiradora. – Eles são perfeitos um para o outro e não percebem. Nunca vai acontecer? Ou será que o próximo longa será sobre um reencontro? Você pode me adiantar esse detalhe? – Colocou as mãos juntas como se estivesse em oração. – Por favor...
─ Eu adoraria te falar como essa história termina, Tati. – Criou coragem para tomar uma das suas mãos e entrelaçar seus dedos nos dela. Apertou forte. Naquele aperto, queria passar um milhão de sensações. – Mas nem eu sei essa resposta. – Encarou aqueles olhos azuis com coragem. Desejando que eles se perdessem na escuridão dos seus. Que entendessem o que estava bem ali, estampado em cada contração dos seus músculos. – Estou esperando que esses dois me digam o que vai acontecer faz bastante tempo. E a verdade é que está tudo nas mãos dela, porque ele é idiota e covarde demais para tentar...
Taís soltou a mão dele e se afastou. Algo no seu olhar de admiração quebrou. Não era mais a jornalista. Não era mais a fã. Era ela mesma. Um vislumbre da adolescente determinada faiscou pelo seu semblante. Jota teve medo de que ela saísse sem sequer se despedir. Ainda sabia reconhecer que estava zangada.
─ Levi inventa mil desculpas para não se declarar para Diana. Deve estar dando aula em uma universidade, olhando para lua e pensando nela. Jamais vai esquecê-la. – Continuou a falar. A coragem vinha de um lugar que ele mesmo não sabia de onde. – A verdade é que não se sente capaz de merecer alguém como ela. Nunca achou.
Ele esperava tudo, menos que ela se levantasse friamente, agradecesse a entrevista com um aperto de mão formal e mais nada. Tomou a direção da porta indicada pela produção. Taís nem olhou para trás. A ponta do salto dela marcava as pontadas de dor no coração de Joaquim. Ela desprezara a caça.
Jota se levantou. Não podia deixar que ela fosse. Que saísse de sua vida. Não novamente. Aí alguém lhe perguntou se queria alguma coisa. Se precisava parar e fazer um lanche. Despertou para a realidade. Tornou a sentar. Colocou a cabeça entre as mãos. Tonto. Covarde. Nunca fora um garoto covarde.
Mas agora deixava que ela fosse embora, porque não tinha coragem para ouvir mais um não. Não tinha mais estômago para que ela destruísse suas esperanças. Ia viver para sempre preso nessa ilusão de que um dia o quisesse. Estava inerte na sua frente. A presa perfeita. E a deusa o desprezara. Mais uma vez.
Os minutos foram passando e Joaquim se deu conta de que não conseguiria continuar o que estava fazendo. Não podia mais ficar sequer um segundo ali. Não tinha condições de responder nada. Pelo contrário, precisava era ouvir respostas. Nem deu muitas explicações, pegou sua carteira e desceu pelas escadas.
Ligou para Lorena como se a amiga pudesse resolver tudo em um passe de mágica. Como se ela tivesse todas as respostas. Ou, pelo menos, o número certo do telefone que ele precisava. Caminhava pelas ruas sem rumo. A cidade não era a mesma de tantos anos antes. Estava, sem sombra de dúvidas, perdido.
─ “A morte é para os que morrem”, Joaquim. – A voz dela o chamou de volta à realidade e ele se despediu da amiga imediatamente.
Taís estava em pé, do lado de uma barraquinha de cachorro-quente, com um sanduíche na mão. Tirara a camisa do uniforme e usava uma blusa num tom forte de rosa com as costas completamente nuas. Era tão linda e, ao mesmo tempo, uma imagem tão insólita com aquele cachorro–quente nas mãos, que arrancava olhares de admiração de quem passava na calçada e a percebia.
─ Não sou uma deusa. – Brigou com ele. – Nunca serei. – Deu uma mordida no sanduíche fazendo a mostarda espirrar no seu rosto. – Sou uma mulher normal e cheia de defeitos. Aprendi a lidar com isso a duras penas. – Explicou sem se incomodar de limpar o que estava sujo. – E não vou abrir mão de uma conquista dessas nem por sua causa...
─ Nem por minha causa? – Estava tão feliz que podia ficar ali o dia inteiro. Para ele, Taís e o cachorro-quente eram mais bonitos que a mais linda obra do Louvre. Sentou em uma banquetinha. Tati sentou de frente para ele. Ainda zangada.
─ Você tem essa capacidade de arrancar das minhas entranhas o melhor de mim. – Disse sem tirar os olhos dos dele. Certeira como uma flecha. – Adoro a pessoa que vejo refletida nos seus olhos e adoraria descobrir mais sobre ela e sobre nós dois. – O coração de Jota deu um salto com a expressão “nós dois”. – Mas já estou velha para mais uma furada, Jota.  – Balançou a cabeça com naturalidade. Deu outra mordida no sanduíche. – Quero parceria. Quero de igual para igual. Ou então não me interessa... – Taís o encarava com uma verdade que doía na alma. A sinceridade em estado pleno.
Jota a encarou enquanto ela mastigava a mordida. Esperou que ela tomasse um gole do refresco sem-vergonha que acompanhava o lanche. Pensava na perfeição de cada traço daquele rosto. A arte era impressionante, a arte o mantivera vivo, ele era feito de arte. Mas a realidade sabia ser bem mais surpreendente. Amava a Taís real ainda mais do que a que conseguira criar na sua cabeça.
─ Eu estava para ter um troço antes de te ver. – Ela confessou. – Te admiro do fio de cabelo desarrumado ao dedão do pé dentro desse tênis imundo, sabia? – As palavras jorravam dela impulsionadas pela raiva. – Queria poder dizer o quanto você significa para mim, o quanto me ajudou sem nem saber, falar o quanto estudei para fazer essa entrevista para que você não achasse que eu ainda sou aquela menina burra do ensino médio, queria agradecer por cada livro da sua lista maravilhosa que eu li, por cada palavra de incentivo escondida nos seus quadrinhos. Tanta coisa que nem sei... – Estava realmente zangada. Jota escutava com atenção encostado com os braços em uma mesa de plástico. – E você me vem com a deusa de novo. Com esses olhos que só enxergam o melhor em mim. Como se você não pudesse com os meus sentimentos... Como se eu fosse demais. Você sabe como eu me sinto, Jota? – Mordeu os lábios. Ele não fazia ideia. – Como se nada que eu tivesse feito e aprendido nesses anos todos fosse suficiente. – Despejou em cima dele. – Eu nunca serei essa pessoa que você enxerga. Nunca conseguirei alcançá-la. Ela é inatingível. – Taís o encarava nervosa. – E você prefere venerar essa deusa a ter coragem para me enfrentar de verdade. E isso me deixa puta pra caralho! – Jota riu. Ela se zangou mais ainda. – Tanto. Mais tanto. Que eu tenho vontade de esfregar esse cachorro-quente na sua cara.
─ Eu amo você, Taís. – Não precisava mais de coragem para dizer isso. – Amo de uma forma inconsciente, sem-razão, fora da lógica. Você se misturou em mim de um jeito que nunca consegui explicar. Entrou no meu peito e não saiu mais. – Olhava nos olhos dela. – Eu tenho muito medo do que sinto. Acho que sou capaz de deixar de ser meu tão idolatrado eu para ser quem você quer que eu seja... Isso me assusta.
─ Por outro lado, não faço questão desse sentimento se for para ser a única protagonista dessa história. – Pagou o lanche e se levantou. Joaquim viu a flecha incrível tatuada nas costas dela, no sentido da espinha. – Quero mais é que o Levi se foda se ele está por aí sentado numa banquinha de cachorro-quente esperando a Diana tomar a decisão de voltar e se tornar o grande amor da vida dele... – Taís começou a andar. – Para mim, Jota, quem não escolhe viver, já está morto.
─ Garanto que Levi está disposto a pegar um avião agora mesmo e se jogar aos pés dela quantas vezes for necessário até que Diana o aceite. – Segurou o braço dela.
─ Joelhos são totalmente dispensáveis. – Ela o encarou e os olhos deles se entenderam pela primeira vez. – Basta um beijo. Inesquecível como aquele que trocaram na despedida dele do ensino médio.
Joaquim deslizou as mãos pela cintura dela e as colocou dentro dos bolsos de trás das calças de Taís. Tati o enlaçou pelo pescoço. Queria beijá-lo, mas fez questão que ele tomasse a iniciativa. Jota a abraçou por completo, milhares de emoções explodindo em cada toque e quando as bocas finalmente se encontraram, ambos já sabiam que aquilo ali era amor. De verdade. E para sempre.


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