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sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Um ano de histórias

Às vezes, a gente quer dar um livro para essa galerinha de onze e doze anos e não sabe o que fazer. A fase entre a infância e a adolescência é mesmo obscura em termos de interesse. Além do Pedro Bandeira, recomendo fortemente a Marcia Kupstas. Ela também fez parte da minha história e acredito que fez parte da vida de muita gente, uma vez que seus livros são adotados como paradidáticos em inúmeras escolas pelo país.

Meu livro favorito dela se chama Histórias da Turma. Através de contos isolados, ela vai contar as histórias de uma turma que mora no mesmo prédio. O primeiro beijo de um, a garota que se apaixona pelo irmão da amiga, as brigas. Trago um pouco de Marcia no meu jeito de contar as minhas histórias. Desse mosaico que ela constrói dos pedaços individuais que formam um quadro completo.

Eu, no entanto, penso que escrevo para adolescentes mais velhos, dos quinze aos dezoito, talvez. Ela se detém a essa galera na casa dos onze aos treze, talvez um pouco mais ou menos. Sua leitura é simples e fluida e vai direto nos interesses desse público. Uma delícia de ler. Com o grau certo de descoberta e inocência. Extremamente apropriado para colégios. Não a toa é a menina dos olhos da FTD, editora queridinha dos paradidáticos escolares.

Nesses dias, eu queria comprar um livro para a Bia de pintura a dedo. Nas livrarias, estava na casa dos R$45,00. Procurei na Estante Virtual e encontrei o mesmo livro por R$19,00. E mais, comprando R$60,00  do mesmo livreiro o frete era grátis. Bom, aqui em casa existe verba para livros, fui procurar o que tinha de interessante à disposição nesse sebo. Acabei selecionando livrinhos de arte para a Bia, pintura em pedras, massinha caseira e argila. Vou experimentar aos poucos esses daí. Mas, para completar o valor, acabei levando uns livrinhos de contos adolescentes. Todos baratinhos e super bem conservados.

Um deles é esse daí da Marcia Kupstas. A proposta é ter um conto por mês do ano. Continuo preferindo o Histórias da Turma, mas gostei desse também. Os contos são divertidos e falam sobre diversas sensações dessa fase da vida. A vergonha. O ciúme. A relação com os pais. A inveja. 

No meu conto favorito, um grupo de meninas arma contra a garota recém-chegada no condomínio por inveja, pois a moça conquista alguns rapazes com sua beleza e sotaque. A novata acaba caindo em uma "brincadeira" de tirar a roupa sem saber o que iria acontecer. Na última hora, bem no meio da humilhação, o irmão mais velho das garotas do condomínio impede a concretização do plano. E,dessa situação conturbada acaba nascendo uma bela amizade.

Vale a leitura.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Atividade: Bolhas de sabão gigantes


Se você pensa que tudo que tento fazer com a minha filha dá certo, por isso que eu tenho esse blog, você está redondamente enganado. Às vezes, a atividade não funciona. Como acontece com todo mundo. E, às vezes, a Bia simplesmente não se interessa pela atividade proposta. O que gera, confesso, certo grau de frustração (em mim, é claro). Foi o que aconteceu com as bolhas gigantes.

Vivo procurando coisas novas para fazer com ela. Experimentando lugares e brincadeiras. Testando o que funciona. Nos meus passeios pela net, encontrei o canal do youtube Manual do Mundo, onde o Iberê Camargo mostra diversas experiências superlegais para fazer e explica os motivos científico por detrás delas. Adoro o canal. E como a Bia simplesmente ama bolhas de sabão, achei que as bolhas gigantes apresentadas nesse vídeo seriam um sucesso.

Além disso, a experiência envolveria os talentos do papai para a confecção dos aros grandes. De fato, o Raphael se empolgou com a ideia como um todo. Compramos a glucose de milho (ingrediente secreto da experiência) e ele fez a mistura com água e detergente. A glucose foi bem interessante e divertida de mexer. Mas só quem brincou com ela foi o Raphael. É consistente e melequenta, faria uma bagunça de proporções homéricas caso fosse dada à Bia.

O vídeo aconselha a esperar uns dias antes de usar. Fizemos a mistura durante a semana e usamos no sábado. Era um sábado sem sol, ainda assim, quente.

As bolhas funcionaram, apesar de não tão grandes quanto gostaríamos. Vocês podem ver nas fotos. Porém, muitas não aguentavam e estouravam rapidamente. O Iberê fala mesmo no vídeo que o calor interfere na resistência.

Entretanto, o principal fator para o não sucesso da atividade foi que a Bia preferiu brincar com a água e o sabão do que correr atrás das bolhas gigantes. Como a gente não deixou brincar com o sabão. Chateou-se rapidamente e não quis mais saber da atividade. : (

Um dia é da caça, o outro do caçador.

Eu gostei de fazer as bolhas. Ou, pelo menos, de tentar fazê-las. A receita é baratinha e fácil. Quem sabe com uma criança mais velha, que se envolvesse mais no processo, a atividade tivesse sido mais bem sucedida?

Tenta aí...

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Gravidez na adolescência

Nossa que preguiça de escrever! A semana não está fácil. Muito trabalho. Pediatra. Dentista. Meio mundo de gente com virose. Assembleia da categoria. Ameaça de greve. Preparativos para o aniversário da Beatriz. 

Mas, de alguma forma, a gente precisa vencer os desafios diários... Viver é isso mesmo. Uma coisa de cada vez e na medida do que se consegue resolver.

E tem tanta coisa para falar, para refletir, para pensar, não posso simplesmente deixar de escrever por conta do cansaço. Nesses dias, por exemplo, acompanhei de longe a polêmica da Juliana, que recusou-se a participar do desafio da maternidade, e optou por desabafar no Facebook suas frustrações. Juliana recebeu tantas críticas que chegou ao ponto de ter sua conta bloqueada. Simplesmente por falar abertamente que ser mãe não é fácil e que tem gente que não gosta. Não sabe do que estou falando, veja aqui.

Antes de mais nada, acho que falta solidariedade. Existe uma ideia imaculada circulando por aí de que a maternidade é algo natural, própria da condição feminina, que a mulher floresce como a primavera, mãe-terra, absoluta encarnação da deusa. E nem é. E quem é mãe sabe disso. Mas repete o mantra. E mais, critica quem foge da regra.

Para além do biológico, ser mãe é uma das tarefas mais difíceis que já enfrentei. É um exercício diário de abnegação, de paciência, de medo, de frustração, de amor incondicional, de expectativas, de uma porção de coisas, nem todas lindas, nem todas fáceis, a maioria, na verdade, bem complicadas de se lidar. Enfim, não é natural, no princípio, você simplesmente abre mão de ser você mesma, como a Juliana disse. Aos poucos, você vai reaprendendo. Pequenas e grandes coisas que você reconquista com o passar dos meses, conseguir fazer uma refeição quente sentada na mesa, usar salto alto, passar uma tarde absorta no trabalho, tudo isso, antes natural, vai ter de ser reaprendido. É muita renúncia.

Mas eu escolhi renunciar. E mais, eu tinha a exata noção (ou quase) do que iria perder e do que iria ganhar. Eu estava preparada. E amparada tanto por uma família quanto por um companheiro que eu escolhi muito antes de pensar na chegada da Bia, um cara que eu já sabia bacana muito antes de me meter nessa empreitada. Além disso, tem o dinheiro. Não somos ricos, mas pagamos nossas contas. E isso faz uma grande diferença, pois o dinheiro, de fato, não compra a felicidade, mas a segurança que ele proporciona é um dos pilares que sustenta a paz.

Digo isso porque continuo vendo, com tristeza no coração, minhas alunas adolescentes inchando como pãezinhos no forno. Alisando suas barrigas e postando fotos no Facebook. Reforçando essa ideia imaculada de que a maternidade é linda e perfeita. Que estão felizes e resplandecentes. Que tudo é alegria e júbilo.

Não sei se a ignorância as protege ou se é uma tentativa de se convencer.

O meu ponto de vista obviamente é diferente dos delas por questões econômicas e sociais. Por exemplo, em Maracanaú, é bem normal ser mãe jovem, o que no meu meio social não é. Existe quase um padrão familiar ali, com bisavó, avó, mãe e filha vivendo na mesma casa, e a bisavó não conta setenta anos. Isso facilita a aceitação da gravidez da adolescente. Em verdade, é como se as famílias já esperassem que isso vá acontecer. Além disso, uma menina de 19 anos, por exemplo, vai encontrar várias outras amigas na mesma situação de maternidade precoce. 

Na minha adolescência, engravidar era algo fora de questão. Não me passava pela cabeça, não era nem sonho nem vontade e as amigas que passaram por esse processo tiveram que amadurecer rapidamente, às vezes, sem apoio dos familiares que tinham outras expectativas para elas.

Imagine, então, como é difícil confrontar minha experiência de vida com a delas. Como defender o direito de ter essa fase na vida de egoísmo: o final da adolescência e o início da juventude? Tempo de flertar com o amor e com o prazer, de estudar, de se estabelecer financeiramente, de se conhecer e conhecer o mundo. 

Mas não é esse o modelo que elas conhecem. Nem sequer almejam isso. Estão presas pelo sentimento muito forte que nutrem pelo namorado (que elas pensam que é eterno). Pela ideia de que as coisas se ajeitam na vida. Por suas baixas expectativas de si próprias e do futuro.

E a gravidez acontece. A-con-te-ce. Planejamento zero para a maior decisão da sua vida. A mais importante de todas. Aquela que vai te mudar completamente. Para sempre.

E acontece pelos motivos mais esdrúxulos. "Não deu tempo", "A gente não pensa nessa hora", "Meu namorado disse que me largava se a gente usasse camisinha", "Eu perdi o primeiro e a gente planejou o segundo". Ufa! Como me dói. Essas são todas histórias que já ouvi nos corredores do colégio. Mas, como elas dizem: "o importante é que venha com saúde".

Não, meninas, não é. A saúde do seu filho é importantíssima, mas ela não é suficiente como essa máxima prega. Pois você e as suas necessidades ainda vão existir.

Amor não enche barriga. Nem preenche coração. Não realiza. Não traz felicidade. Não coloque a responsabilidade da sua felicidade no outro, é injusto. Não confunda o sentimento sublime que você sente/sentirá por seu filho com plenitude. Amar é bom, mas pode ser triste e, na maioria das vezes, é bem difícil. Seu bebê pode estar maravilhoso e você estar tão frustrada e infeliz a ponto de cair em depressão. Uma coisa não tem nada a ver com a outra.

Quero dizer, embora seja complicado de perceber isso, somos seres totalmente independentes dos nossos rebentos. Quando eles nascem, enquanto eles crescem, vamos nos dar conta de que continuamos mulheres, que precisamos ser amadas, precisamos nos sentir bonitas, que precisamos ser valorizadas, que queremos ser reconhecidas profissionalmente, pela nossa capacidade, pela nossa inteligência, que também precisamos viajar e ver coisas novas que nos encantem para além da Galinha Pintadinha, que organizar festa infantil é até legal, mas que passar uma madrugada na balada também faz parte da gente.

Já imagino minhas alunas dizendo "posso fazer tudo isso e ter um filho". 

Será que pode? 
E as custas de quem?
Lembra do dinheiro? De quem é o dinheiro?

Acho isso interessante na cabeça da adolescente que engravida, elas não reparam na dependência financeira, pois parece algo natural. Quando se é criança existe uma ideia de que seus pais vão lhe sustentar, é natural. Em condições ideais, um dia você vai perceber que é extremamente prazeroso pagar suas próprias contas e decidir sua própria vida. Você começa a trabalhar, ganha uma merreca, mas compra as suas coisas, depois, vai melhorando de vida, decide morar sozinho e por aí vai. Esse processo não se dá com a adolescente grávida. Como poderia ser? Na maioria das vezes, ou o novo marido (se ainda estiver com ela), ou os avós da criança assumem a despesa. A vida prossegue. Algum dia, a nova mamãe vai arranjar um emprego e ganhar a merreca, ela acha o máximo, pois compra as próprias coisas, só não percebe (ou não quer ver) que deveria estar sustentando a criança também. E criança é caro.

E elas continuam a repetir o mantra de que o dinheiro não traz a felicidade, que o amor tudo vence e que ser mãe foi a melhor coisa que já lhes aconteceu (talvez até seja, mas como você vai saber se viveu tão pouco do que existe no mundo?)... Fazendo crer que levar um filho doente, nem precisa ser grave, basta uma dor de ouvido, para uma emergência pública é algo simples de se lidar ante a felicidade abundante que vivem.

Minha intenção não é humilhar minhas alunas mães. Realmente desejo que sejam felizes. Posso até citar outro ditado: Deus escreve certo por linhas tortas. Aproveitem da melhor forma e encarem a vida com coragem, pois eu enxergo além das fotos nas redes sociais e sei pelo que vocês estão passando. Não é nada fácil e você tem todo o direito de ficar zangada e frustrada às vezes. Não caia nesse mito da maternidade perfeita, ela não existe para ninguém. Imagina para você que teve de enfrentar tudo tão cedo. Toda a minha admiração para quem encontra em si a abnegação para vencer as adversidades.

A minha questão é alertar minhas alunas adolescentes de que existe um mundo bem maior lá fora. Está nas suas mãos alcançar esse mundo e esses sonhos de maneira bem mais simples do que com um filho no colo. Agora é tempo de beijar na boca. De entrar na universidade. De amar-se. De ser egoísta mesmo. Descubra quem você é, seus limites e ambições. Tudo tem seu tempo. Um dia, você vai escolher ser mãe. Escolher é bem melhor do que simplesmente acontecer, minha gente.

Por tudo isso...

Sexo, minha querida, só se você estiver preparada (fisicamente e psicologicamente). É preciso maturidade para encarar a sexualidade.
Sexo, só se você quiser. Seu namorado tem duas opções: entender ou cair fora. Ame mais você do que ele. Ele faz isso.
Sexo, só se for com camisinha. Existe mais coisa no mundo além de gravidez.
Sexo, só se for com visita ao ginecologista e com anticoncepcional. De novo, ame você mesma, cuide-se.

E mais, se você reparou, eu só me referi a gravidez do ponto de vista feminino. Outro dado alarmante, salvo raras exceções, que me orgulham e a quem muito admiro por cumprirem com seu papel dignamente, poucos são os pais adolescentes que sequer se incomodam com a gravidez de suas namoradas. A maioria vai viver a vida como se nada tivesse acontecido, jogam bola e reclamam das broncas dos pais que pagarão a pensão ou do corte que farão no dinheirinho da cerva com os amigos por conta das fraldas. A nossa sociedade admite que se comportem assim, sem experienciar o amor de um filho e sem colaborar com a dedicação que uma criança precisa, ou seja, continuam egoístas. Isso precisa mudar e está mudando, mas é um traço cultural que vai demorar para ser vencido. Nesse contexto, muitas das minhas alunas que engravidam hoje vão entrar sozinhas nessa empreitada, contando apenas com os próprios pais e com alguns amigos, os poucos que permanecerem. Por isso preciso pedir a elas que se amem mais, que se cuidem mais, pois muitos vão dizer que o farão, mas poucos cumprirão a promessa.




terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Tentativa

Hoje mandei o material de Do Seu Lado para uma grande editora. Eles recebem material novo nesse período do ano. Estou ansiosa. Mas sei que é bem difícil chamar atenção. Bom, é uma tentativa. Vamos ver no que é que dá. Dizem que receberei a resposta em 60 dias. Torce aí por mim. 

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Vejo uma porta abrir

Em algum momento da semana eu teria que escrever sobre como anda o quinto livro, o momento chegou, mas as notícias não são animadoras. Não escrevi absolutamente nada. Nem sequer uma linha. Ai! Sinto os olhares de indignação na minha nuca.

Andei relaxada esses dias. Criança doente. Carnaval. Quebra-cabeça. Criança em casa. Início de semestre. É sempre bem complicado mesmo. Mas, para dar um alento aos corações que esperam pelo quinto livro, ele continua em produção sim. Está em uma fase mais criativa, mais mental, mas está...

No meu processo criativo, às vezes a cena vem inteira. Às vezes fico maturando ela por um tempão na cabeça. Estou exatamente em uma cena assim. Preciso fazer com que o leitor se apaixone por Joaquim. E ele é um cara na dele. Não é tímido. Porém, não é nada expansivo como Vini ou André. Os dois com habilidades sociais incríveis. Então, está bem difícil fazer com que ele fale.

Tenho colocado cenas de estudo entre ele e a Taís. Nelas, ele vai mostrar um pouco mais do seu humor ácido, da sua sensibilidade artística e, principalmente, da sua inteligência. Ele vai se esforçar para mostrar para a menina que gosta a importância da leitura, a porta que abre o mundo. Aos poucos, acho que a Taís vai se tocar disso, do quanto ele é especial, do quanto se esforça para que ela entenda. Percebo que ela já vem mudando...

Na cena que eu deveria estar escrevendo agora, Joaquim usará uma cena do filme Frozen para explicar o clássico de Machado de Assis: Memórias Póstumas de Brás Cubas. Como assim?

Receio que vocês vão ter de ler no livro.

Fica aí pelo menos a cena de Frozen.


quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Bailinho de Carnaval do Shopping Riomar

Fase nova da vida, gente, carnaval infantil.

Minha relação com o carnaval variou ao longo da minha vida. Não gostava quando era criança. Gostei muito na adolescência. Fui ficando mais velha e passei a curtir mais o feriado do que a folia. Hoje, já não tenho coragem de enfrentar o trânsito das longas viagens (fora os loucos no meio da rua portando um carro). E, pela primeira vez, encaramos um bailinho infantil com uma criança e não mais um bebê.

Fazendo um parêntesis sobre essa história, tenho perguntado com frequência à Bia se ela é bebê ou criança, ela tem me respondido "criança" na maioria das vezes. Só não negociamos ainda a chupeta e o colo (coisas de bebê), mas ela não se admite mais um bebê. E agora? :( 

Pois bem, carnaval infantil de shopping. Fortaleza alternou chuvas com calor infernal. Esse foi um dos motivos da escolha. Lugar para estacionar, segurança e fraldário completam a lista que elegeu o Riomar. E foi bem legal.

Teve bailinho no sábado e no domingo de carnaval. Nós fomos nos dois dias. A festinha começava por volta das quatro horas, com bandinha tocando músicas infantis (passei incólume pela metralhadora). Entrada gratuita. 

Tinha bastante gente, mas o local era grande e dava para se mexer e brincar. O ar-condicionado estava funcionando e ainda colocaram uns ventiladores, mesmo assim fazia calor. Porém, nada incapacitante. Som em volume aceitável.

 Além disso, no folheto de divulgação, proibiram as malditas espuminhas que enchem o saco de qualquer cristão (pagão também), o que evitou o chororô e as alergias. Muito bem, Riomar.

Por volta das seis horas, a banda para e entra som mecânico, as pessoas se dispersam aos poucos e sem confusão, pois muitas crianças continuam a brincar com os confetes e as serpentinas que ficam no chão.

Achei mais do que proveitoso e ano que vem vou novamente. Mesmo a Bia tendo certa dificuldade para aproveitar. Nossa pequena tem horror a multidões. Estamos trabalhando com ela também a relação com outras crianças. Ela ainda prefere brincar sozinha. Sei que é uma fase, mesmo assim, é importante certo grau de confrontamento e de desconforto. 

Aos pouquinhos, com incentivo, ela foi se soltando. E, no final, acho que foi mais divertido do que desafiador  para ela e para nós.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Bloquinho da Maré

Oi, gente,
hoje a dica é rápida e rasteira. E é mais do senhor meu marido do que minha. Bom, acontece que nossa pequena está mais do que encantada com desenhos. E não desenhos animados. Desenhos no papel. Estamos adorando a fase. Tem giz de cera na bolsa. Lousa mágica (Sabe aquelas bem antigas? Pois é. Aqui em casa é um sucesso. a nossa é chinesona. Custou menos de cinco reais e vai com a gente para todo lugar). Caderninho. Livrinho de pintura. 

Tem sido uma mão na roda nos restaurantes. Sempre levo algo para desenhar ou pintar e a espera pela comida ficou bem mais amena. Sem ter de recorrer à tecnologia sempre.

Por conta de tamanha demanda, eu e o Raphael nos vimos na insólita tarefa de recordar tudo que sabíamos desenhar que fosse capaz de entreter a Bia. Logo, porém, os cachorrinhos, ovelhinhas, pipas, bolas e maçãs não eram suficiente. E a exigência foi aumentando. Raphael foi pego primeiro, tanto por ser mais vezes solicitado para a tarefa do desenho quanto por ter um repertório mais reduzido (Eu até que desenho bem. Consigo reproduzir coisas olhando para elas. O minion tem sido meu atual carro-chefe).


Sem tanto talento para as artes, Raphael, como pai moderno que é, partiu em busca de informações e acabou achando o maravilhoso "Bloquinho da Maré", sessão do canal Beach Park Studios. Nessas animações, a simpática marreca mascote do Beach Park ensina as crianças a desenhar. Ela divide o desenho principal em desenhos menores e fáceis de fazer. As crianças de quatro ou cinco anos vão se sentir o máximo desenhando gatos, porcos, dinossauros e girafas. E o adulto também, como é o caso aqui de casa.

Se você está na nossa mesma situação, experimenta. Você vai arrasar! Deixo um vídeo aí para você ver como é que é.

A Bia está adorando. Os favoritos dela são o parquinho/porquinho, o pinguim e a caposa/raposa. Já eu, aderi ao gatinho. Mas todos são maravilhosos.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

10000 visualizações e um quebra-cabeças


E, num dia desses de carnaval, não é que o blog atingiu as 10000 visualizações?

Não dá ainda para viver disso. Nem é como se eu fosse a Kéfera ou a Flavia Calina. Mas estou muito contente. Porque um número desses significa alguma coisa. Significa gente (bastante gente) lendo o que eu escrevo. E é bem isso que eu quero.

Certa vez eu escrevi aqui que me expor era uma das tarefas mais difíceis. Ainda é. Sempre que alguém comenta alguma coisa do blog ou dos meus livros, minha reação inicial é morrer de vergonha por dentro. Vai por mim, não é nada fácil. Eu tenho consciência de que as pessoas leem o que está aqui, mas nem penso muito nisso quando estou escrevendo. Escrevo por mim, para um leitor imaginário, é mais como um bate-papo comigo mesma. Aí, quando alguém comenta, é mais ou menos como ser pega falando sozinha, sabe? 

Mas, ao mesmo tempo, é muito gratificante. Agradeço demais a cada um de vocês que (comentando comigo ou não) gastam uma parte do seu dia para ver o que andei aprontando. Esse blog é um projeto de longo prazo. Um passo para o sonho de escrever profissionalmente. O único que consigo dar sozinha. E que eu penso que vai funcionar uma hora dessas. Contanto que eu persevere...

Cruzes! Perseverar é tão difícil. Nesse carnaval, por exemplo, produzi conteúdo que foi uma beleza. Tenho uma porção de atividades registradas para passar para vocês. Mas passei a semana em brancas nuvens. Sem um tempinho para colocar no ar tudo que aconteceu por aqui nos dias de folia. E, devo admitir, nem todos os meus motivos foram nobres.

Bom, um dos motivos foi a volta às aulas. Como professora, é uma semana bem puxada para mim. Turmas novas, apresentações, regras, meninos testando as regras, sem livro, sem horário certo e conteúdo passado na cara e na coragem e sem apoio do livro didático. É preciso jogo de cintura e gogó. Cansativo pacas. Isso sem falar na rotina de acordar cedíssimo que acaba cobrando um preço no turno da noite. Preço esse que a Beatriz nem sempre está disposta a colaborar em pagar. 

Mas, além disso, preciso confessar que um dos culpados do atraso dessa semana foi um quebra-cabeças de 1000 peças. Eu simplesmente amo esse jogo. De paixão. Adoro analisar pecinha por pecinha, separar por cor, montar o entorno e depois ir traçando estratégias para montar os pedaços. Antes de engravidar, eu comprava vários. Todos de quinhentas peças, pois esse é o tamanho do quebra-cabeças que dá para montar em um dia. Eu me sentava tranquilamente em uma mesa e passava uma tarde na brincadeira. Feliz, alegre e contente. Coisa impossível de ser feita depois que se é mãe.

Em 2014, dias depois que a Bia nasceu, meu marido me deu esse quebra-cabeças de mil peças de presente de aniversário. Eu adorei, é claro. Mas nem tirei o plástico. Eu tinha total consciência do quanto ia demorar para encarar o desafio. 1000 peças era mais do que eu costumava fazer. E com um bebê então... Meu marido, na maior das boas intenções, acabou me dando também essa ferramenta que vocês estão vendo na foto (o rolinho com o pano preto). Ele serve para guardar o quebra-cabeças sem desfazê-lo durante o processo de montagem. Você enrola o quebra-cabeças no rolo e amarra. Se você ficou curioso, funciona até bem, mas não é cem por cento. Porém, sem ele a empreitada teria sido impossível de ser completada.

Só agora, no carnaval de 2016, comprei a briga com o brinquedo e mandei bala. Na minha casa cheia de artefatos de criança, até arranjar lugar para montar esse medonho foi difícil. Eu me sentei no chão da sala. Aproveitei cada cochilo que a Bia tirou (sem condições de fazer com ela acordada) e fui montando o bichão. Engraçado como velhas paixões batem forte no nosso peito. Eu me senti criança de novo. Tão eu de novo. Esse é um processo que ainda estou aprendendo aos poucos, ser a mãe da Bia, função que quero exercer enquanto eu viver, e voltar aos poucos a ser eu mesma sem mais ninguém que também é uma sensação muito boa.

Comecei a montar no sábado de carnaval e terminei no sábado seguinte. Parando todas as vezes que ela acordava. Aproveitando (literalmente) as tardes e o fim da noite. Parece uma bobeira, uma conquista vã, mas quem é mãe sabe que não é. Quando você volta a fazer uma coisa que te dava prazer antes da maternidade, mesmo que aos poucos, mesmo que em horários difíceis, você toma consciência que tudo nessa vida é fase. Que os filhos crescem rápido. Que é muito bom estar com eles. Mas que também é preciso alimentar a pessoa que você é sem as crianças. Afinal, elas não serão crianças para sempre...


quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Trecho de RESPOSTA

─ Jota, você me ajuda com o dever de Português?
─ Claro. – Ele estava desenhando uns arabescos no último espaço em branco que havia no seu tênis da escola. – Manda?
─ Romantismo...
Estavam esperando o pai de Taís passar para buscá-la. Faziam isso todos os dias. O pai só chegava perto de uma da tarde. Joaquim até dispensava a carona da mãe e ia de ônibus para casa só para passar esse tempo sozinho com ela. Taís aproveitava a companhia para agilizar os deveres.
─ Minha terra tem palmeiras,/ onde canta o sabiá... – Começou a declamar a Canção do Exílio de Gonçalves Dias, ela o interrompeu.
─ Não. Nada disso. A segunda fase. –Balançava a cabeça em negação. A fase indianista da poesia romântica ela já tinha entendido, não tinha mesmo muito que entender. Mas essa segunda fase a deixava intrigada.
─ Amor e morte? Ultrarromantismo? Minha favorita. – Ele sorriu.
─ Como você pode gostar disso. Não consigo entender esse negócio... É uma verdadeira bobagem sem fim.
─ Taís, nada mais romântico do que morrer de amor. – Joaquim se levantou e seus olhos brilharam. Gostava mesmo dos poetas boêmios que morriam tão jovens. Ele se identificava com a intensidade com que viveram suas paixões. Começou a recitar com o entusiasmo típico dos românticos o poema de Álvares de Azevedo. – Amemos! Quero de amor /Viver no teu coração!/ Sofrer e amar essa dor/ Que desmaia de paixão! – Ele se levantou de supetão a levantando também, tomou a mão de Taís entre as suas. Beijou-a – Na tu'alma, em teus encantos /E na tua palidez/ E nos teus ardentes prantos / Suspirar de languidez! /Quero em teus lábios beber / Os teus amores do céu,/ Quero em teu seio morrer /No enlevo do seio teu! – A maneira como ele olhava para ela enquanto falava a deixou vermelha. Nunca tinha visto Jota tão envolvido com um poema assim. E já o vira recitar várias vezes. – Quero viver d'esperança,/Quero tremer e sentir!/ Na tua cheirosa trança / Quero sonhar e dormir! / - Ele puxou delicadamente a trança enorme de cabelo de Taís. – Vem, anjo, minha donzela, / Minha'alma, meu coração! / Que noite, que noite bela!/ Como é doce a viração! / E entre os suspiros do vento/ Da noite ao mole frescor, / Quero viver um momento, /Morrer contigo de amor!
─ Como é que tem espaço nessa sua cabeça para tanto verso decorado? – Perguntou enquanto aplaudia a interpretação entusiasmada.
─ Não é na cabeça que guardo os versos, Taís. É no coração. – Respondeu sem titubear.
─ Bom. – Ela sorriu e o tocou bem do lado esquerdo do peito. – Isso explica muita coisa. Eu sei que você é uma das pessoas mais inteligentes que conheço, mas, sem sombra de dúvida, seu coração é de uma imensidão ainda maior do que a sua capacidade de pensar...
Joaquim ficou bem desconfortável com as palavras dela. Eram palavras carinhosas de amigo. Um gesto gentil. Mesmo assim, elas o atingiam profundamente. Bem no altar que erguera dentro de si para aquela garota. Suas palavras gentis eram como bênçãos para ele.
Mudou de assunto. Fingindo que não estava abalado. Perguntou sobre o dever.
─ Como se pode falar de amor e desejar a morte? Não faz sentido. Amor é vida. É luz. É sol. Não é escuridão. Nem sombra. Nem morte. – Ela continuou a agir naturalmente. Taís mostrou-lhe as questões no seu caderno. – Amar é querer viver, não é não?
─ Ah! – Ele levantou os ombros compreendendo a dúvida. – Mas você não acha há algo de sombrio no amor? Que amar é matar um pouco de si em prol de dois? Que é a escuridão que acoberta os romances insensatos e proibidos? Que morrer de amor é válido? – Defendia a escuridão romântica.
─ Não acho que morrer deva entrar na conta. É a probabilidade mais ineficaz de conquistar a garota. – Foi prática como sempre. Joaquim até riu. Taís era parnasiana como as deusas deveriam ser.
─ Contas, probabilidade... Que papo mais científico! Amar não é ciência. Não é razão. Para os românticos, não há possibilidades a serem avaliadas. É tudo ou nada. Pois o amor tudo vence. – Caminhavam lado a lado pelos corredores do colégio. – E o que ele não vence, a morte acolhe. Por isso, morrer de amor é uma honra. É a glória.
─ Você fala de um jeito... Concorda com isso? – Olhava para ele como se visse um E.T. Simplesmente não conseguia compreender tantas camadas de “eu”. De singular. De imprevisível. De indeterminado.
─ Tremer e sentir, sonhar e dormir? – Citou novamente alguns dos verbos do poema que acabara de recitar. – Acho que não é uma questão de concordar ou não. Como diria Shakespeare, é mais uma questão de ser ou não ser assim.
─ Muita subjetividade pro meu gosto. – Desdenhou. – E você não me respondeu. – Prática mais uma vez.
─ Sou um romântico inveterado, Taís. – Fez uma mesura para ela e beijou sua mão mais uma vez. – Tenho que admitir.
Taís achou divertido o gesto do amigo. Adorava esse tempo que passava com Joaquim. Chegava a gostar quando o pai se atrasava um pouco mais do que o de costume.
Álvares de Azevedo
─ Não adianta, Jota. Nunca vou conseguir te entender.  – Ela o abraçou e fez estalar um beijo no rosto do amigo. – Somos opostos da mesma moeda. Eu sou o sol e você é a lua.
─ Não diga isso, Tati. – Ele passou a mão carinhosamente pelo rosto dela. – Você é apenas uma lua nova que ainda não percebeu que a vida tem fases demais. – Os olhos de Joaquim estavam fixos nos dela. Taís estremeceu. – E que não entendeu ainda que a escuridão também faz parte de nós. Enfrentar o escuro é sinal de autoconhecimento. – O olhar do rapaz a atingia como uma flecha. – Vencer a escuridão nos torna mais forte, minha menina amada. E eu percebo toda essa força em você. Prestes a explodir. Quero realmente estar por perto quando você florescer, Tati. Quando sua lua particular estiver cheia.
─ Jota... – Ele conseguia deixá-la sem palavras e sem ações. – Você tem tanta expectativa sobre mim. Tanta confiança. – Ela o abraçou.
─ Tanta certeza.
─ E que razões você tem para isso, meu amigo?

─ Estávamos falando exatamente sobre isso, não era? – Ele riu. – Razão nenhuma. Apenas é o meu coração quem me diz. – Apontou para si mesmo. – Romântico inveterado.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Churros

Essa daí é a minha avó, Dona Luíza, uma das pessoas responsáveis pela minha educação. Vovó hoje está acamada. Uma tristeza e um presente de Deus que nos permite dizer adeus aos poucos. Uma lição diária de perseverança e ao mesmo tempo de que tudo nessa vida passa. Só permanecem mesmo as relações de carinho, respeito e amor que construímos ao longo da vida.

Vovó Luíza sempre foi dessas avós disciplinadoras, menos para os netos de fora a quem ela só via uma vez por ano. Conosco, os de casa, era "na lei do Chico de Brito" e no "sou como a Rita e atrás de mim ninguém grita". Mas isso nunca fez dela uma mulher rabugenta. Na verdade, vovó é uma das pessoas mais de bem com a vida que conheci. Para quem lidou com oito filhos e tantos sobrinhos, três ou quatro netos era fichinha. Dentro da nossa rotina e disciplina, tínhamos muito espaço para o lúdico. Sempre disposta, ela era capaz de tudo, contanto que se dispusesse a aprender (herdei isso dela). Lembro da caprichosa lapinha de natal com água de verdade no laguinho. E de um livro de feltro cheio de atividades infantis que fez para mim muito antes de virar moda essa paternidade participativa. Das minhas bonecas de pano com as unhas pintadas. Do bolo em formato de trem para o aniversário do primo que exigiram treino. E, no meu próprio aniversário, o cuidado de encher um ovo de galinha com chocolate sem quebrar a fina casca. Dos meus vestidos ricamente costurados e depois passados para as primas mais novas.

E, no meu tempo de criança, eu gostava de ver o que essa mulher fazia. Minha única lamentação foi não ter aprendido com ela a costurar. Mas, na cozinha, eu gostava de ver os cadernos de receita, tantos escritos com a letra cuidadosa de um outro tempo, de uma outra concepção de escola. Gostava de observar em segurança do lado de cá do balcão a farinha de trigo ser jogada, a massa ser sovada, a xícara branca usada de medidor, as receitas típicas de cada época: a rosca de natal, o mousse de chocolate do meu aniversário, a carne do tio Urano. São lembranças vívidas que estabeleceram a minha relação com a cozinha. Aprendi que cozinhar é também um ato de amor. De demonstrar carinho.

E, dentre as receitas, uma sempre me remete à infância de maneira muito simples, churros. O qual a minha avó sempre chamava de sonho. O que realmente gerou certa confusão quando fui apresentada ao pãozinho com creme dentro das padarias, aquilo nunca me pareceu certo. Mas, enfim, o cheiro da fritura, do açúcar e da canela tem o poder de me levar imediatamente para um tempo em que a preocupação era terminar a tarefa e ir brincar.

É uma receita fácil. Deixo aqui o link da receita que fiz recentemente retirada do site Tudo Gostoso. E as fotos tiradas no dia da preparação. Era um dia chuvoso e ficou uma delícia. Não exatamente do jeito do da minha avó. Ela os fritava em quadradinhos de massa, não em tirinhas, mas a receita é praticamente a mesma (o da minha avó não levava leite, era apenas água). 

Foi como ter sete anos novamente e lembrar disso de uma maneira boa. Sinto que mesmo quando minha avó não estiver mais aqui, sempre terei momentos assim para estar em sintonia com ela.
E é essa a sugestão que fica. Que atividades você tem feito hoje que construirão as memórias do amanhã? Que comida? Que brincadeira? Que conexão você está fazendo com seus pequeninos? O tempo passa rápido, amigos. E o melhor tempo que passamos é o tempo que passamos com eles.




terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

As aulas começaram

Passei boa parte do tempo de escrita desse post procurando uma charge para ilustrá-lo. Queria uma imagem positiva ou ao menos neutra sobre a relação escolar, mas não foi nada fácil encontrar. Que instituição desvalorizada, não é mesmo? Por isso mesmo a quantidade de charges ironizando a situação do professor, o preço exorbitante do material escolar, a violência dentro dos muros dos colégios. Enfim, uma quantidade absurda de motivos para fugir desse ambiente. Para criticá-lo. Para denegri-lo.

Eu gosto muito do ambiente escolar. Adoro o primeiro dia de aula. E trabalho numa escola pública. Então, posso desmitificar algumas generalizações que se fazem usando essa palavra "maioria". Acho que meu trabalho é um dos mais gostosos que existem. Nunca é igual, mesmo que eu faça a mesma coisa ano após ano. O aluno é uma variável simplesmente impossível de ser isolada. E o contexto sempre muda e sempre é surpreendente, até quando age da forma mais esperada. Exemplo, um aluno nerd, ele sempre existe, sempre gosta de estudar, mas, às vezes, ele sofre bullying, às vezes é o líder da sala, às vezes te desafia, às vezes é submisso a tudo que você diz. Os papéis são assumidos por diferentes indivíduos a cada ano. E é tudo diferente por causa disso. Nós, professores, temos que descobrir a dinâmica de cada sala, de cada um.

Por isso, o primeiro dia de aula é sempre um recomeço. Seja no berçário, com os pais mais nervosos do que as crianças. Trabalhei em escola infantil. Sei como é ter que praticamente enxotar os pais mais ansiosos. Não precisa disso, gente. Escolha a escola com confiança e deixe a coisa toda acontecer de coração aberto. As crianças se adaptam rápido. Basta acompanhar de perto (não tão perto assim, deixa a professora trabalhar) e vai dar tudo certo. Seja na educação infantil, Bia está nesse momento, todo dia tem chorinho. Afinal, depois de dois meses de grude, enfrentar o desconhecido sem papai e mamãe é tão difícil, não é mesmo? Seja no ensino médio, com as matérias novas, com os compromissos que assumimos sozinhos pela primeira vez, com o desespero de não estar na mesma sala do best. Seja na faculdade, onde o futuro começa...

Esse ano, não escrevi nada para os meus alunos que terminaram o terceiro ano. Nunca é tarde. Acho que é um privilégio colaborar com o desenvolvimento de vocês. Adoro "vampirizar" a juventude e a inocência desses jovens. Tantos deles tão carentes de direcionamento. As pessoas gostam de falar de dinheiro quando se trata de escola pública, isso é de fato uma verdade. Mas, vejo ali, no meu colégio periférico, coisas que muitas vezes não encontro nas particulares, vejo pais presentes. Pessoas que investem mais do que dinheiro na educação dos seus filhos. É uma das coisas mais comuns na instituição que trabalho, o pai que não sabe o que fazer para tornar o sonho do filho real, que não sabe como guiá-lo pelo universo do Enem, do sisu, do fies, mas que vai fazer o que for preciso para que o filho tenha o direito de alcançá-lo. Nesse sentido, acho que meus alunos são privilegiados. Muitos deles serão o primeiro da família a concluir o ensino superior. Espero que vocês tenham consciência do quanto isso é importante, tanto para seus pais que partilham das suas conquistas, quanto para as próximas gerações para quem vocês servirão de espelho.

Eu e meus colegas somos a ponte entre a vontade e a informação. Gosto de me ver como esse espelho que reflete o seu futuro. Minha pontualidade. Meu compromisso. Minha retidão de caráter. Meu conteúdo. Minha vontade de fazer o que gosto. É o que reflito de melhor em mim para vocês copiarem. Meus inúmeros defeitos vocês podem ignorar. Fiquem com os de vocês mesmos. E desejo tudo de bom nesse novo recomeço. Na universidade. No cursinho. Ou simplesmente na vida. Que vocês sejam sementes de um mundo novo: mais tolerante, mais empático, mais cidadão. Saiba que deixaram um pouco de vocês em mim e espero ter deixado algo de mim em vocês, mais coisas boas do que ruins...

E, para meus novos alunos, aos quais nem conheço ainda, temos um ano inteiro pela frente. O ano mais importante. Espero empolgação. Saibam de antemão que ganho pouco, mas me divirto. Então, vá logo se preparando para um ano de diferentes emoções. Lembre-se que o sofrimento une as pessoas e que amizade verdadeira é aquela que supera os micos. No mais, estou ansiosa por recebê-los, explorá-los, conhecê-los e para ensinar-lhes o pouco que sei.

Bom recomeço para todos nós!

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Dentes posteriores

Oi pessoal,
voltando a escrever hoje. Tivemos uns dias bem difíceis aqui em casa. Os dentes posteriores da pequena estavam nascendo. Nossa! Já tivemos episódios anteriores com dentes, mas esse, com certeza, foi o pior até agora. Era muita baba. De molhar a camiseta constantemente. Além disso, a baixinha passava o dia intolerável e acordava gritando de dor por volta de três horas da manhã para só dormir às seis quando o remédio fazia efeito e o cansaço a vencia. 

Realmente me considero uma mãe para toda obra, mas uma semana sem dormir direito e uma criança sem fome, febril, inquieta e birrenta o tempo inteiro tira a energia de qualquer uma (todo o meu respeito às mães e pais que cuidam de filhos doentes). Foi um exercício de empatia grande. Um desafio para minhas convicções. Afinal, mesmo com toda a sistematização da educação, da maneira como lidar em situações de estresse, o cansaço constante (seu e da criança) faz com que você comece a duvidar do que é certo.

E o que mais me assombrava nesses dias de terror (nos quais, graças a Deus, eu estava de férias) era a falta de perspectiva de melhora. Pois, por um dia ou outro, você até pode ceder, ser mais permissivo com a criança em virtude da dor, do desconforto, da situação transitória. Mas eu calculava que se ficasse cinco dias daquele jeito para cada dente que fosse nascer, a rotina seria totalmente alterada. Ou seja, mesmo na situação passageira, alguma coisa de rotina precisaria existir.

E foi horrível! Bia, que não é de recusar comida, chorava copiosamente a cada refeição. O almoço todo dia demandava uma paciência e uma abnegação que não nos é peculiar. O esforço era para que ela experimentasse. Depois de muito choro, ela provava, para começar a chorar de dor. Mesmo lutando para manter a rotina, tem horas que é preciso jogar a toalha. Foi muita mamadeira nesses dias. Se ela estava tomando o leite, estava ótimo. Nós insistíamos nas refeições para que ela provasse, mas, se depois de provar ainda quisesse o leite, que tomasse o leite.

Descobrimos também o mix de frutas da Nestlé. Tenho total consciência que não é tão bom quanto a própria fruta. Que mesmo que eles digam que não tem conservantes, tem. E tudo mais. Porém, a consistência dessa vitamina e, principalmente, o fato dela ser vendida gelada nas farmácias facilitou um pouco a nossa vida. Sempre que precisávamos sair e Bia não aceitava comer nada, em geral, ela topou um desses pacotinhos e deu para segurar até estarmos em condições de oferecer um outro tipo de refeição.

Para lidar com o mau-humor constante. E que mau-humor! Resolvemos enchê-la de atividades. Percebemos que a dor não deveria ser intensa, mas sim constante. Chegamos a essa conclusão porque durante o dia ela tinha momentos de concentração em que não reclamava, mas na hora de dormir, quando os interesses serenavam, a inquietação aumentava, era como se ela se desse conta de que o incômodo não iria passar e que teria que dormir com aquilo. Foi muito difícil colocá-la para dormir nesses dias, exigiu paciência, certa dose de firmeza e remédio de uso tópico para aliviar a dor e a consciência.

De maneira que o segredo do sucesso foi lutar para garantir o sono a ferro e fogo se fosse necessário (pelo menos uma hora para ela não ficar insuportavelmente chata) e enchê-la de atividades. Detesto sair com a Bia sozinha. É carro. É trânsito. É bolsa. É criança. Tudo numa responsabilidade só, acho demais, pelo menos para mim. Mesmo assim, levei-a para passear no parquinho e ver os patinhos nadando numa praça aqui perto de casa. Em outro dia, coloquei as boias de braço pela primeira vez nela e partimos para a piscina. A atividade a distraía, diminuía a birra e melhorava a qualidade do sono. Acho essa dica importante, pois quando estamos cansados com as crianças, achamos que elas vão compreender e sossegar. Nada disso. Elas ficarão como abelhas zunindo e agitadas. A melhor forma de descansar, nesse momento, é propor uma atividade que os deixe concentrados. A piscina, para nós duas, foi até relaxante.

Também foi eficiente o picolé de melancia. Cortei a melancia com formas de biscoito e coloquei no congelador. Bia ficou mordendo a fruta que congelou. Tanto ela comeu quanto aliviou um pouco a dor e o incômodo. Funcionou bem. Pode tentar.

Assim, os dias foram passando e, na quarta-feira, depois de uma madrugada infernal, de uma luta intensa para dormir depois do almoço, a Bia dormiu de duas da tarde às cinco e meia. Acordou outra criança. Comeu. E a vida foi voltando ao normal aos poucos. Ela ainda está pedindo muito a chupeta. E a gente percebe que é para mastigar bem nos dentes de trás, onde deve estar coçando. Então, estamos deixando. A baba também continua, mas deu uma regredida (era muita mesmo, tadinha). E o humor mudou da água para o vinho. Nossa filha voltou. Ainda bem!!!

Se você está passando por algo semelhante, paciência. Acho que aprendemos uma importante lição com a dentição, ela é, muitas vezes, nosso primeiro contato com a dor dos nossos filhos. É desesperador não poder fazer nada. Por outro lado, é mais do que importante construir laços fortes de confiança nessas horas, para que eles saibam que estaremos ali mesmo quando não houver mais nada a ser feito.

E foi por isso que quase não escrevi na semana passada. Estava cansada demais para ler, escrever ou produzir qualquer conteúdo. Fiquei na dedicação exclusiva. Mas essa semana devo ir voltando ao normal. Beijos.