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quinta-feira, 16 de junho de 2016

Atividade: Giz de cera reciclado

Oi gente,
essa semana resolvi compensar com muitos posts porque tive uns dias bem difíceis. Estou contando os dias pelo final da quadra chuvosa por aqui. Eu adoro chuva e bem que o nordeste precisa, mas é tanta doença na criançada por conta desse chove+mormaço+quentura que para esse ano, considero que já deu.

Por aqui, Bia teve uma recaída com gosto de gás. nunca vimos tanto catarro num serumaninho tão pequeno. Juro. Foi necessário até recorrer à fisioterapia. Detalhe: é uma graça ver a Bia imitando a fisioterapeuta com tapinhas nas costas, massagem nos seios da face e com direito a um "Sai catarro". Mas, devido aos afazeres sobressalentes de mãe, minha rotina ficou toda cagada e eu não tive saco para escrever no blog.

Porém, como a Bia estava em casa, acabei fazendo algumas coisas com ela por aqui. Nem tudo é experiência postável. Fiz feijão pela primeira vez, por exemplo. Na panela de pressão. Uma mocinha. Já posso até casar. Não imagino, todavia, que essa minha atividade doméstica vá interessar. Vocês devem dominar a arte do feijão mulatinho. Eu, por minha vez, precisei de um ou dois vídeos do youtube. Mas acertei, viu? Ficou ótimo. Mesmo para mim, que nem sou fã de feijão.

Hoje, vou dar uma dica dessa natureza. Do tipo que a maioria das pessoas sabem. Algumas, entretanto, nunca testam para ver se é viável. Nem percebem as vantagens em fazê-lo. Vou mostrar para vocês como eu reciclei o giz de cera da Bia. E com que objetivo.

Quem tem criança sabe que desenhar e uma atividade maravilhosa para entreter e desenvolve milhares de coisas. E sabe também que o giz de cera, pela sua maleabilidade, é uma das melhores opções de ferramenta. Tanto por apresentar formas diferenciadas, fáceis de adaptar à fase de desenvolvimento da criança, quanto por riscar mesmo quando o tônus da criança não está devidamente estabelecido. Para completar, giz de cera é barato (se você compra de marca cara, está perdendo dinheiro, eles não são muito mais do que cera de abelha e corante). 

O preço é ótimo, já que quebram sempre (Se você conhece uma marca que não quebre, avise. Aqui já usamos da Crayola à Acrilex. E é claro que eu sei que existem modelos mais finos e mais grossos de giz). A Bia está na fase do giz jumbo, um giz grossinho, mas já no tamanho e formato de lápis (se você não sabe, tem giz próprio para bebê, bem mais grosso ou com formato de ovo -
esse é bem caro).

Ainda assim, você pode facilmente reciclar o giz quebrado do seu filho. A cera é um material que resiste bem às altas temperaturas. Ela muda de estado, de sólido para líquido e depois de líquido para sólido novamente, mas não altera suas propriedades. Como acontece, por exemplo, com o papel que vira cinza. Não dá para transformar cinza em papel de volta, mas dá para moldar a cera líquida em diferentes formatos. O que pode ser bem divertido.

Aqui em casa, eu já estava cansada de juntar os cacos de giz de cera. A Bia não está exatamente na sua fase mais cautelosa e o conjunto de doze gizes tinha se reduzido a três ou quatro peças inteiras. Decidi que estava na hora da reciclagem. Comprei outro conjunto (um mal necessário, visto que ela precisa treinar no formato lápis), mas reciclei o conjunto antigo com uma forma de silicone que tinha aqui em casa.

Existem vários processos para fazer a mesma coisa, se achou esse difícil, procure mais na internet que vai acabar encontrado um que se adapte melhor ao que você tem em casa. Por exemplo, já vi gente usando formas de metal ou vidro para moldar a cera. No meu caso, coloquei água em uma travessa de cerâmica e a deixei diretamente na boca do forno. Deixei a forma de silicone dentro e pus os cacos de giz de cera. Demora um pouco, cerca de dez minutos, para começar a derreter. Na medida em que derretiam, eu colocava mais pedacinhos, na intenção de preencher as forminhas até o limite.

Por minha vontade, coloquei na mesma forma cores de giz diferentes, mas não as misturei. Se as misturasse, faria uma cor nova. Deixando apenas derreter, gera um giz com um multicolorido como vocês podem ver. O que eu achei mais legal, pois a criança risca e o traço começa de uma cor e passa para outra. É uma outra experiência sensorial. Mas eu poderia ter juntado vários cacos amarelos de diferentes caixas e ter simplesmente reciclado o giz. Sem alteração de cor.

Depois, foi só deixar esfriar. Uma hora depois do derretimento completo, já consegui desinformar. Engraçado que nos meus gizes, uma pequena camada sem cor subiu na forma. Gerando essa camada esbranquiçada que vocês vêem na foto. Mas é só na borda e tem exatamente a mesma consistência do restante do giz. Deve ser por conta de algum tipo de verniz que é aplicado na cera. Sem problemas quanto a isso.

A forminha que usei foi do Smiley Face. Tinha comprado no e-bay para fazer de gesso. Portou-se muito bem no fogo. E fez essas carinhas lindas. O formato redondo foi totalmente diferente para a Bia. Ela não imaginava que algo com aquele formato pudesse riscar. Além disso, precisa de bem mais força para riscar do que o lápis pontudo e maleável.

Tivemos ainda um adorável efeito colateral ao giz. Bia, que está encantada com a cozinha, fez deles comida de mentirinha. coloca-os em pratos e colheres e nos oferece como almoço ou janta. Uma gracinha bem típica do estágio simbólico.



quarta-feira, 15 de junho de 2016

Trecho do livro seis

─ Você não precisa me acompanhar, Vini. Obrigada pela carona.
─ Eu adoro o café da manhã dessa padaria. Sempre venho. – Ele fazia questão de acompanhá-la.
─ Que seja! Mas posso muito bem pegar um táxi quando sair daqui. – Vini a seguia pela porta giratória do estabelecimento.
─ Deixa de ser chata, Malu. Vamos tomar café e depois deixo você em casa. Prometo. – O sorriso de Vini a ganhava facilmente. Porém, como gata escaldada, estava com o pé atrás, não queria entender as coisas errado e levar outro passa fora. – Que mal tem nisso?
─ Quem quis distância foi você. – Soltou.
─ Já não tenho mais tanta certeza disso... – A resposta dele a desarmou. Ela ficou lá parada de frente para ele, completamente sem ação. – Preciso ser seu amigo, Malu. – Vini a conduziu até uma mesa. A palavra amigo fizera com que ela recuperasse um pouco da razão. – Quero muito conhecer a pessoa que você se tornou. Quero afastar a Maria Lúcia do meu passado. Aquela que eu amei tanto. A que não existe mais ou que nunca existiu. Sei lá! – Ele pediu duas xícaras de café. Com chocolate para ele, puro e sem açúcar para ela. Malu explicou como queria o seu café, pois ele não sabia mais como era. Eles se transformaram naquilo. Vinícios quase nunca tomava café e se tomava, misturava com um chocolate ao leite bem forte. Maria Lúcia, depois de tantos plantões, colocaria café puro na veia se pudesse. Duas pessoas completamente diferentes do que um dia foram.
─ Então, você está esperando que a minha pessoa atual destrua a ilusão da pessoa que eu um dia fui. Animador... – Tomou um gole do café amargo.
─ Não seja tão dramática, doutora. Apenas estou cansado de fingir que você não me afeta. – Vini a encarou bem no fundo dos olhos com aquele verde translúcido que a perseguia pelas noites americanas. – Já perdi tempo demais zangado por você ter voltado. Como se você tivesse culpa de alguma coisa. Como se eu também não fosse protagonista dessa história. – Ele respirou fundo. – Não é justo. Entendi que o seu retorno abalou minhas certezas. E que lá atrás, junto com você, acabei abrindo mão de muita coisa importante. Por isso, quero agir como adulto agora. Imagino que a nossa aproximação vai trazer de volta muito de mim que deixei pelo caminho. Então, estou escolhendo me abrir ao invés de me fechar. Preciso confiar nas minhas escolhas. O tempo vai me mostrar o que vai e o que permanece nessa fase da minha vida.
─ Entendi. – Outro gole de café. – Você acha que se aproximar de mim vai fazer você ter a certeza de que a Taís é a mulher certa.
─ Mais ou menos isso... Espero, pelo menos, que prove que você é a mulher errada. – Tentou parecer engraçado, mas soou mais sério do que gostaria.
─ Talvez funcione para você.
─ Como assim?
─ Não dá muito certo comigo. – Fugia dos olhos dele olhando para o fundo da xícara vazia, mas queria dizer mesmo assim. – Quando eu estou perto de você, é como se não tivesse passado nem um dia sequer. É como se nós estivéssemos ontem naquele aeroporto. Ainda me lembro de cada palavra dita pela sua voz. Lembro que você disse que as histórias só acabam quando todos estão bem. – Respirou fundo e criou coragem para encará-lo novamente. – Eu não estou bem. Por isso, presumo que essa história não acabou.
─ Você vai ficar bem. – Vini falou com a convicção de um homem comprometido, porém, as palavras dela soaram fundo na sua alma.
─ Desejo isso tanto quanto você. – Forçou um sorriso.
Maria Lúcia e Vinícios foram se servir. Ela colocou frutas, cereal e iogurte. Ele pegou um pedaço de pão recheado e outro de torta de maçã. Vini ficou encarando o prato dela com censura, esperou ela perceber para falar alguma coisa.
─ Está vendo, é disso que estou falando. Realidade. – Ele riu. – Eu te trago nessa padaria maravilhosa, cheia de coisas incríveis para comer e você escolhe frutinha, cereal e iogurte. Sério? Que tipo de pessoa você se tornou?
─ O tipo que come alguma coisa saudável quando não é obrigada a cozinhar para si mesma... – Ele riu mais ainda. – Se eu não fizesse isso, certamente, já estaria morta.
─ É tão ruim assim?
─ Meu supermercado se resume a requeijão e miojo.
─ Você sabe cozinhar. – Ele se lembrava muito bem disso.
─ Sei, mas atualmente não tenho tempo, não tenho motivo, não tenho companhia e não tenho sequer um forno no meu apartamento para cozinhar... – Ela riu da situação, na verdade, era até triste se encontrar daquele jeito.
─ Vida de solteirona. Sei como é que é. – Ele balançou a cabeça, estava se divertindo. – Você deveria começar a comprar gatos. Quem sabe vocês poderiam dividir a ração. Atum é muito saudável, dizem por aí.
─ Primeiramente, não zombe da minha solteirice, mas considero realmente comprar um gato. – Vini riu. Malu sorriu. – Em segundo lugar, que envergadura moral tem o senhor para me censurar, senhor engenheiro? Até parece que você cozinha quando chega exausto do trabalho. – Ele ficou calado para não se comprometer. – A não ser que a sua namorada tenha escondido o jogo lá na casa da Ana Maria e seja uma excelente cozinheira, o que eu duvido, pela forma como ela separou a cebola do arroz selvagem maravilhoso do Pedro. Você deve comer tão mal quanto eu.
─ Ponto para você. – Admitiu. – Minha semana é uma mistura de delivery, comida pronta e as receitas fitness da Taís...
─ Açaí? – Ela fez cara de nojo.
─ Pelo menos duas vezes na semana. – Lamentou. Detestava, mas a namorada comia com tamanho prazer que acabava topando.
─ Prefiro os gatos. Ninguém merece açaí.
─ Todo mundo tem defeitos. Ela vale a pena. – Revidou.
─ Ela é linda.
─ Você só fala isso.
─ Não conheço a moça. Parece perspicaz. Curiosa. Sei lá! – Não queria destratar a namorada dele. Entretanto, não dava para encher de elogios a mulher que está com o homem que você deseja. – Qual é, Vini? A mulher parece uma deusa. Você quer que eu diga o quê?
─ Você também é linda. Sempre foi. Agora mais ainda. Mas fala como se não fosse... – Encheu a boca com torta de maçã para não continuar a soltar aquele tipo de palavra. – Isso é irritante.
─ De que adianta ser linda se ninguém me ama, ninguém me quer... – Forçou um beicinho.
─ Porque quer. – Continuou a mastigar a torta com mais força ainda. – Meu sócio daria um braço para sair com você...
─ O Paulinho?
─ Esse mesmo, dona Maria Lúcia. O Paulo Sérgio. – Tirou onda por causa da intimidade. – Negro. Alto. Falastrão. Mas nem sei por que perder tempo descrevendo. Você parece saber exatamente quem é o Paulinho.
─ Ele é um amigo divertido. Sempre me manda vídeos engraçados pela internet.
─ Acabou com o cara. – Vini riu. – Tadinho do negão, caiu na friendzone.
─ Para com isso, Vini. – O jeito espalhafatoso de Vini a fazia rir e a essa altura ela já começara a roubar pedaços da torta de maçã. – O Paulo Sérgio é um cara bacana, admito. – Ela respirou fundo para não continuar a rir. - E vai bem mais a obra do laboratório do que o engenheiro responsável pelo maquinário...
─ Senti uma indireta no ar. – Brincou sem se incomodar em dividir a comida com ela.
─ Talvez eu considere chamá-lo pra um jantar de verdade quando meu apartamento estiver em um nível aceitável de convivência, ok?
─ Tenho certeza que ele vai adorar. E você também. É um dos caras mais legais que eu já conheci.
─ Mas não é o cara mais legal do mundo. – Ela completou.



terça-feira, 14 de junho de 2016

Atividade: Circo

Sábado foi dia de circo. Primeira vez da Beatriz. Não sei vocês, mas eu sempre fico temerosa com relação a expor minha filha a coisas novas. Principalmente atividades pagas. Vocês já viram que o problema comigo não é exatamente o novo. Gosto que ela experimente o mundo e algum nível de frustração é totalmente aceitável. A questão passa bastante pelo preço. 

Esse fim de semana, por exemplo, tinha um espetáculo teatral da Turma da Mônica aqui na cidade. A bagatela de R$60,00 o ingresso promocional (cadeirinha mais fuleragem). Aí me diz, você investe R$180,00 em um espetáculo de 50 minutos que não sabe se sua filha ou filho vai gostar? No caso da Bia, corre um risco bem grande dela sequer aceitar ficar no ambiente. Estamos lidando com uma fase de medos infantis que por si só merecem posts inteiros.

Não vou questionar os valores das produções. A companhia cobra o que quiser, paga quem pode. Admito, inclusive, que se fosse uma certeza de sucesso com a pequena, pagaria até mais. Entretanto, eu e meu marido sempre levamos o valor da atividade bem à sério na hora de escolher o programa. Principalmente porque sabemos que passear na praça e pular em um pula-pula encanta nossa filha tanto ou mais que o Cirque du Soleil.

É certo que o comportamento de assistir a espetáculos precisa ser estimulado, mas, com tão pouco tempo de concentração, uma criança de dois anos não deve ser forçada a acompanhar uma peça infantil do começo ao fim. Inclusive porque elas veem e imaginam coisas enquanto as assistem que nós sequer podemos prever. É comum, por exemplo, misturar sonho e realidade, haver uma quebra de expectativa ou simplesmente uma identificação profunda com o personagem e a criança não conseguir suportar as emoções da peça. Claro que cada criança é uma criança e cada peça é uma peça. 

Vejo crianças da idade da Bia acompanharem bem uma pecinha de shopping. Geralmente as que tem irmãos mais velhos ou convivem com crianças mais velhas de qualquer natureza. O exemplo é algo extremamente valioso na infância, fica a dica. Já a Bia, apesar de acompanhar de maneira bem detalhista seus desenhos animados favoritos (atualmente Dora, Daniel Tigre e Casa do Mickey),não dispensa mais do que quinze minutos de atenção às apresentações ao vivo. Depois disso, ela precisa de algum movimento. O que também é extremamente típico da fase.

Decidimos, porém, tentar o circo. Isso por vários motivos. O primeiro deles foi a identificação da Bia pelos malabarismos por conta de um desenho animado. Segundo fator motivacional, o incentivo e a formação dela enquanto público. Além disso, o circo é um ambiente aberto que possibilitou várias saídas em momentos de maior tensão como o globo da morte. E, por fim, o preço. Circo de bairro. Boa estrutura, apesar de ser de pequeno porte. R$5,00 o ingresso. A Bia não pagou.

Do ponto de vista infantil, não sugiro a vocês grandes circos. Caros. Com palhaços bem vestidos e show de luzes. A criança não tem a noção de quanto tudo isso custa ou do grau de dificuldade do espetáculo. Para quem luta para levar a colher até a boca sem derramar a comida, tanto faz equilibrar cinco, dez ou quinze malabares. Não sei se vocês me entendem.

Para nós, o circo Porto rico, instalado aqui no centro da Messejana, foi mais do que suficiente. Teve artista na corda bamba, malabares, mágico colocando espadas numa cesta com uma moça dentro e até globo da morte. A Bia pedia para entrar e pedia para sair. queria ver algumas apresentações, ficava com medo de outras. Atitude plenamente compreensível e natural. E uma experiência que vai ficar na cabeça dela por um bom tempo para ser digerida por sua mente infantil. Certamente, em outra ocasião, ela vai se permitir bem mais já que a primeira etapa foi vencida.

Somente uma coisa me incomodou na apresentação inteira: o palhaço. Que triste percebermos valores horríveis sendo passados sem que sejam questionados. Todos devem saber que a função do palhaço no circo é a de entreter a plateia enquanto a próxima atração é montada. Não foi diferente no circo Porto Rico. O palhaço fazia brincadeiras com as crianças da plateia. Começou chamando os meninos. Inicialmente, não vi a necessidade e chamar apenas meninos para uma brincadeira adaptada de "vivo ou morto", mas a intenção ficou clara depois. As crianças tinham que seguir o comando e pegar na orelha e no nariz, o que foi bem divertido, pois havia um pequeno bem descoordenado que arrancou os risos da plateia. Depois, o palhaço acrescentou a pinta dos garotos na brincadeira e os mandava pegar, depois cheirar. Como se isso tivesse graça. Mas, enfim, ostentar um pênis é uma dádiva na nossa sociedade, então, qualquer forma de louvá-lo é válida. Cheiremos. Cantemos sobre ele. Ergamos altares à masculinidade.

O pior, entretanto, estava por vir. A próxima brincadeira era com as meninas. Campeonato de dança: claro! Cinco meninas com idade entre sete e quatro anos e uma seleção de músicas que passava pelo Creu e o Quadradinho de Oito. Verdadeiro circo de horrores. Fiquei feliz em constatar que pelo menos algumas da meninas não faziam ideia de como dançar aquelas músicas e ficaram só se balançando. Duas, porém, desciam e empinavam o bumbum, ralavam e estremeciam. No golpe de misericórdia, a mais velha de todas, impelida pelo instinto de ganhar, colocou a cabeça no chão e fez o dito quadradinho de oito ovacionada pela plateia.

Eu fiquei chocada, embora soubesse ser completamente natural esperar aquela resposta daquele público, meu amigo virou o filho pequeno de costas quando essa absurdidade começou, a Bia, felizmente, estava do lado de fora com o pai. Não preciso nem dizer quem ganhou o prêmio de melhor dançarina, não é? Outra coisa, não preciso nem dizer quem incentivou e ensinou a pequenina a fazer uma coisa daquelas como se fosse bacana, não é?

Feminismo, desobjetificação da mulher, fim da sexualização precoce: luta constante e projeto distante. Adorei a experiência, mas, por conta desse episódio, não posso recomendar para vocês esse circo.

segunda-feira, 13 de junho de 2016

Massacre em Orlando


Das várias coisas que não compreendo na vida, uma sempre me chamou atenção pela sua proximidade com a violência: intolerância. Realmente não consigo entender como o fato de não gostar de uma atitude, de não achar correto, de não tolerar ou permitir que se pratique leve à condição de tornar um ser humano capaz de se levantar e sair de casa disposto a bater, a matar e a exterminar alguém por causa disso.

Veja bem, todos estamos sujeitos à intolerância. Eu, por exemplo, acho a plataforma política de Bolsonaro um retrocesso. Penso que seja baseada na ignorância, penso que se aproveita de uma pensamento de ódio que se estabelece principalmente em pessoas de alma primitiva e penso que desvalida por total a noção de cidadão para os direitos civis. Fico realmente desesperançosa com o mundo ao me deparar com jovens, nascidos neste século já, que ainda defendem ideias assim. Tenho até raiva dessa gente e perco a vontade de dialogar. O que é errado, pois penso que precisam de contato com a luz do conhecimento.

Imagino, creio eu, que seja um sentimento similar com quem desaprova diferentes formas de sexualidade. A sensação de coisa errada enerva. Dá nojo. Constrange. Sei bem disso, pois é como me sinto quando vejo um aluno meu, mesmo depois das minhas aulas e das dos meus colegas que fazem um trabalho de conscientização da necessidade do respeito à diferença, defender a plataforma de Bolsonaro. A sensação é a de que esse menino não aprendeu absolutamente nada. Ouvidos surdos e mente vazia. E tem ainda os que usam argumentos supostamente econômicos e políticos para defender esse senhor que está há anos sentado naquelas cadeiras de poder e nunca fez nada de proveitoso para a nação.

Usando um pouco de empatia, podemos imaginar que é assim que se sente alguém que vê um homossexualismo como doença. Ninguém quer que seu filho tenha tuberculose, por que vai querer que seja gay? Assim se sente a pessoa que defende especificamente certos versículos do velho testamento da bíblia. Embora não veja nada errado em comer uma travessa de camarões, essas pessoas consideram a viadagem um insulto ao seu Deus punitivo da parte mais antiga da sua religião (eu, particularmente, se vamos falar de literatura, gosto mais daquele cara que diz: perdoai os nossos pecados, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido, mas é questão de gosto). E assim se sentem também os estudiosos da natureza biológica humana, aqueles que entendem que o sexo (e por consequência o amor) são meramente ferramentas reprodutivas (deve ser chato pra caramba ser assim). Para esses, homem com homem não faz sentido, pois não gera. Certamente que gente assim não assiste a canais como National Geographic, Discovery ou Mundo Animal, ou já teria percebido que várias espécies com leões e golfinhos também fazem sexo entre iguais. O que leva o argumento da naturalidade da coisa pelo ralo. Porém, não pretendo execrar mais ainda gente com conhecimento seletivo...

A questão é que, mesmo tendo muita raiva de eleitores do Bolsonaro, mesmo dizendo entre meu círculo de amizades que os acho errados e idiotas, eu não os discrimino naquilo que me compete na função cidadã. Exemplos: escuto sua baboseira preconceituosa em sala de aula como se fosse relevante (ainda que eu contra-argumente), não corrijo a sua prova de maneira diferente, não entro nos seus perfis em redes sociais para esculhambá-los, não aponto nem grito com eles no meio da rua, não bato, não insulto, não difamo, não questiono o seu acesso ao voto e, principalmente, se eu não gosto do Bolsonaro: eu não voto no Bolsonaro. 

A chave é a palavra tolerância. Eu os tolero. Ponto.

É difícil. Incomoda. Chega a me dar náuseas, mas tolero. E não me vem jamais essa vontade de sair por aí distribuindo violência. Consertando o mundo com palavras ofensivas. Com punhos. Com balas. E eu penso que isso deveria ser natural à condição humana, uma vez que é um instinto bestial que não tenho e eu nem sou uma pessoa das mais evoluídas...

Infelizmente, não é o que acontece. A boate Pulse em Orlando é só mais um caso dentre milhares que ocorrem todos os dias. O pai que mata o menino porque ele gosta de lavar louça, a travesti encontrada no matagal, as pessoas com barras de ferro na mão atingindo homossexuais em plena Avenida Paulista, a violência doméstica, as sombras à espreita nos corredores paralelos da parada gay, uma arma automática em um ambiente fechado.

Vão colocar a culpa na religião islâmica, vão dizer que o problema é promiscuidade atribuída aos relacionamentos homossexuais, afinal, não aconteceria se não estivessem na balada, não aconteceria se o cara não fosse um fundamentalista muçulmano. Besteira. Acontece em todo canto. Toda hora. Por todo e qualquer motivo. Morre a mona espalhafatosa montada na boate. E morre o bofe discreto que nem dá pinta. Morrem porque alguém acha que eles têm de morrer. Morrem porque alguém acha que é certo matar. Morrem porque alguém é incapaz de tolerar, incapaz de perdoar no outro o que ele acha que é errado.

Vou terminar meu texto com outra imagem religiosa, já que é esse o argumento mais forte para condenar meus irmãos gay, e também porque não conheço religião no mundo que pregue o ódio e a violência como forma de chegar ao divino. Portanto, eu gostaria de lembrar a todos que Maria recebeu seu filho morto nos braços, da mesma maneira como as mães de vários rapazes que estavam naquela boate, tenho certeza que essas mães achavam que seus filhos, a quem amaram desde o berço totalmente indiferentes às escolhas que fariam ou aos caminhos que tomariam na vida, não mereciam o destino que tiveram.

Assim sendo, respeito sua crença e sua forma de pensar. Acho que você tem todo direito de achar errado. De condenar. De achar feio. De pensar que aquela pessoa vai para o inferno. Só não aceito, e nunca vou aceitar, que pensamentos assim se transformem em atitudes de ódio. Ou que a dor seja a nossa única forma de diálogo.

quinta-feira, 9 de junho de 2016

Trecho de romance autoral

Minha Garotinha Ruiva,
Você é minha rosa vermelha. A última chance de transformar a fera em algo que valha a pena. A primeira a cativar o árido planeta do príncipe menino. Você é minha entrada para Nárnia. É meu País das Maravilhas. É minha Terra Nunca.
Com você, conheci o amor que vence a morte: capa, varinha e anel. Um sentimento que é a verdadeira lenda jedi para destruir o Império e atingir o equilíbrio da Força. E, nesse equilíbrio, eu não existo mais sem você. Fundidos que estamos nas minas de Mordor.
Minha Pequena, sigamos o coelho do tempo. A nossa rotina é o chá do chapeleiro louco, deliciosa, peculiar e, ainda assim, a meu ver, a maneira mais sensata de partilhar a vida.
Se é sonho, não quero acordar. Não tornarei a atravessar o espelho. Jamais tomarei o caminho de volta pelo armário. Por isso, minha Rainha de Copas, bebe-me, devora-me, casa-te comigo.
Ou manda de uma vez cortar a minha cabeça. Pois há muito que a razão não me domina mesmo. Desde que é teu o meu coração.
Com todo o meu amor,

DSG.