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quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Quando o sertão parece o mar...

"Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!

Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!"

Quando eu soube, na manhã desta terça-feira, que minha avó tinha partido, por incrível que pareça, foram nesses versos de Casimiro de Abreu que eu pensei. Quando eu era pequena, talvez tivesse os oito anos que o poeta mais ingênuo do Romantismo Brasileiro menciona, minha avó me ensinava incessantemente essas linhas. Eu, menina de apartamento, não poderia associar minha infância tão eletrônica da década de oitenta a bananeiras e laranjais. Tampouco sabia o que significava fagueiras.

Mais tarde, na faculdade, recebi com imenso carinho as lições sobre Casimiro. Achava-o já até meio íntimo. Como se partilhássemos um passado em comum. Uma piada interna. Eu ria, confidente dele, das suas parcas tentativas de explicar sentimentos e sensações que não conhecia. Morreu tão jovem. Aos 23. Queria falar de amor e de sexo, ossos do ofício de poeta. Mas era tão menino que seus poemas mais bonitos eram sobre suas brincadeiras infantis. 

Casimiro me parecia ingênuo e inocente, jamais alcançou a eloquência de um Álvares de Azevedo, mas arrebatou o coração de minha avó. Na medida em que eu crescia, eu entendia, que ela e ele tinham muito mais coisas em comum do que eu compreendia naquelas tardes de repetição. Primeiro, obviamente, que a infância evocada em "Meus oito anos" não era a minha, nunca poderia ser. Era a dela. E aquelas palavras tão lindas, repetidas cadentemente pela voz de uma criança, certamente a faziam retornar para a aurora da sua vida. Fico feliz de ter proporcionado esse retorno de alguma forma.

Além disso, minha avó escrevia versos, com a letra mais primorosa que conhecia, pois fora a perfeição da caligrafia aquilo que ela mais absorveu dos seus poucos anos de escola. Minha avó era tímida. Recusava-se a falar em público. Em casa, entretanto, no meio dos seus, sempre estava disponível para um bom papo. Assim como, na sua intimidade, mantinha um caderno com versos. Ela pouco nos mostrava esse objeto secretíssimo. Tinha vergonha. Quem não teria? Seus versos eram janelas de sua alma, palavras que a boca não dizia, que as obrigações não permitiam, mas que o coração palpitava até jogar no papel.

Herdei dela o gosto pelas palavras, por essa forma aqui de dizer, esse meio de comunicação em que ninguém interrompe  e as ideias fluem. Dizem que é coisa dos Fontenele. Que seja! Nomes são tão irrelevantes quanto a passagem do tempo. Na verdade, a única coisa importante e que faz algum sentido nessa vida é o amor. E, ainda assim, nós somos muito pequenos para entendê-lo em sua plenitude. Meninos que somos, assim como o poeta.

Mas cada experiência é um passo que se dá em direção ao entendimento. E eu vou guardar para sempre a longa caminhada que tive com minha avó. Sempre vou me lembrar, que eu sou uma mulher absoluta. Ela sempre me dizia isso quando eu chegava depois das dez em casa depois do estudo, do esporte ou de namoros. Que eu não dependia de ninguém. Era mais pejorativo do que empoderamento feminino, acreditem. Mas isso ficou em mim. Tive tempo para digerir essa ideia e a aceitei. 

E, lá no fundo, eu sei que a dona Luíza admirava esse meu ímpeto de descobrir o mundo e ser independente, ela só não queria que eu me machucasse ou que metesse os pés pelas mãos. Tanto que, numa de nossas conversas na hora da Malhação, ela me disse uma vez: "Priscila, se eu ligar para você e você estiver em uma situação que não queira me contar, não se incomode, pode mentir. Eu só estou ligando para saber que você está bem". Entendi a mensagem rigorosamente. Entendi também que amar é permitir e aceitar as diferenças. Nunca decepcionei minha avó nesse sentido.

Muito obrigada pelo título, vó. E saiba que seu pouco estudo e suas inúmeras limitações sociais de ontem permitiram que uma mulher como eu pudesse se sentir orgulhosa para abrir a boca e falar. Aqui. em uma sala de aula. No meio da rua. #somostodasabsolutas

Outra coisa que pretendo levar comigo são as longas histórias sobre a infância e a adolescência dela. Minha avó foi pobre de só ter um sapato que ela usava furado na sola para ir à missa. Por conta disso, era difícil, mesmo anos depois das vacas magras terem passado, fazê-la livrar-se de vidros vazios de perfume. Para quem não sabe, perfumes na penteadeira eram sinal de status nos tempos de guerra, o Iphone da época. Mesmo assim, sempre que me falava do passado, não era nunca a pobreza que sobressaía. 

Gosto muito de uma imagem mental que ela descrevia, quando o sertão parecia o mar. Infelizmente, embora tenha conhecido as paisagens, nunca vi o fenômeno. Minha avó dizia que quando era moça, ela e as negras preparavam o almoço dos trabalhadores, se não me engana a memória, esses homens lidavam com as carnaúbas. Antes de descer a serra levando a comida, ela gostava de observar lá do alto a ilusão que a neblina da Ibiapaba causava cobrindo o sertão seco lá embaixo, como se fosse um imenso mar. Segundo ela, era mais bonito que o próprio mar.

Meu desejo sincero é que ela tenha passado por lá e tenha visto mais uma vez essa beleza que Deus criou para todos nós antes de encontrar os seus. Tanta gente que (me perdoem o bom-humor) já estava morta de saudades dela. Os seus pais, os irmãos aos quais ela era devota, sua primogênita, amigos queridos de uma existência inteira e até a negra amada que a criou a quem ela chamava Mãe Neném. Tenho certeza que teve festa. Com quindim e acordeom tocando: Quem foi, quem foi que comeu cuscuz, foi, foi, foi, foi, foi o João da Cruz! Ficou faltando somente o parceiro... Que ainda está sob os nossos cuidados por aqui. Vamos aguentar sua rabugice por mais um tempo. Se Deus permitir. 

Enquanto isso, nós continuamos na carne. Mais unidos do que ontem. Cientes do privilégio que foi a convivência. Desses anos bônus da presença dela que serviram para colocar tudo no lugar e garantir que estivéssemos bem para enfrentar essa breve despedida. É certo que um dia a gente se encontra de novo. Hoje a saudade dói um pouquinho, mas a alegria de ver todo o amor plantado florescendo é ainda maior. 

Foi o velório mais lindo em que já estive. Não que eu tenha ido a muitos. Mas a sensação era tão real de dever cumprido que dava para tocar. Ninguém ali dentro tinha outro interesse que não fosse o gostar e o querer bem. E nos permeava a certeza de que a sua hora realmente chegara. Vai com Deus, meu amor. Você não deixou para trás nem sequer um pingo de revolta. Arcou com todos os seus compromissos. E, quando eu me for, que eu tenha o prazer de seguir os passos teus. Porque amar, vó, sua última lição, é estar pronto para deixar a vida seguir seu curso.

Termino meu texto com um escritor que me arrebatou bem mais que Casimiro, Guimarães Rosa. Ele diz assim "O mundo é mágico. As pessoas não morrem, ficam encantadas". E, repito as palavras da prima Carol, agora o seu encanto está em todo o lugar, basta ter os olhos para ver, os ouvidos para ouvir e o coração infantil "que os anos não trazem mais" para compreender essa mágica.

terça-feira, 30 de agosto de 2016

Receita: Empada

Queridos amigos, desculpem-me pelo abandono, mas o retorno às aulas tirou meu chão. Ainda estou me readaptando à rotina. Tanto chego cansada demais, quanto não tenho tido lá muita inspiração para qualquer coisa.

Além disso, ando fascinada demais com o desempenho de Do Seu Lado no wattpad. Não faz nem um mês que cheguei por lá e a obra já tem mais de mil visualizações. Sei que o sonho completo de todo escritor é ganhar dinheiro com o que escreve, mas ser lida já é maravilhoso. Aos poucos, vou conquistando mais leitores e isso me deixa quase tão feliz quanto.

Se você tem wattpad, clica aqui e me encontra por lá. Você tanto vai poder ler Do Seu Lado quanto vai poder trocar umas figurinhas comigo. Que tal? Se você não faz ideia do que é wattpad, dá uma olhadinha nos meus posts anteriores. Eu explico mais ou menos. Tá aqui o link do post sobe o wattpad.

Por conta de tudo, essa semana os posts são curtos e objetivos. Sobre coisas que ando fazendo ou que fiz nessas últimas férias. E uma dessas coisas, foi empada.

Empada é uma comida que é tão facinha de fazer, mas que parece elaborada. Na verdade, parece que dá trabalho. Eu nem acho que dê. Mas talvez seja porque eu tenha as ferramentas certas. Sei lá! Vocês me dizem o que acham a respeito das famigeradas empadinhas.

Eu, particularmente, gosto dessas comidas em que se coloca a mão na massa para fazer. Sinto imenso prazer em amassar e moldar. Então, sempre que sinto vontade de fazer algo que leve um pouco mais de preparação para fazer, penso em receitas que envolvam essas tarefas.

A receita, devo confessar, não é minha. Apenas procurei no youtube uma que fosse extremamente simples. Vocês podem assistir ao mesmo vídeo que eu. Vou deixá-lo aqui no post em algum lugar.

Segui as orientações da fofa da Dona Lourdes, mas fiz apenas meia receita, porque não queria passar o restante das minhas férias comendo empada. Meia receita deu oito empadas dessas da foto. Bom demais para o jantar e ainda serve para congelar e levar para o trabalho.

Receita completa:
400 g de farinha de trigo
200 g de margarina
2 gemas
50 ml de água
sal

Mistura tudo isso numa tigela até dar o ponto de massa podre. Desgrudando das mãos. Aí leva para a geladeira por uns 15 minutos para a margarina endurecer um pouco e deixar moldar a massa. coloca nas formas. Recheia. Cobre com massa. E passa (pincela) uma gema com um pouco de leite por cima. Esse detalhe é que ajuda a empada a fechar, além de retirar as imperfeições. Deixa assar no forno (200 graus) por meia hora e está prontíssima!

No meu caso, não uso essas forminhas de metal. Nem tenho delas para falar a verdade. Uso minha inseparável forma de silicone, que uso do cupcake à empada.  Na foto, ela está até suja, de tanto que a requisito.

Com relação ao recheio, use o que lhe der na telha. Eu já fiz de palmito. Ficou ótimo! Mas, a tradicional é de frango, né? Não perco meu tempo preparando um frango só para isso. Geralmente, eu pego a sobra do jantar (quando é frango), passo no mixer mesmo e deixo em um pote no congelador. Quando dá vontade, só descongelo, dou uma reforçada no tempero, acrescento milho ou requeijão. E está pronto o recheio.

Espero que vocês façam em casa.

Se a sua criança for maiorzinha, ela vai adorar ajudar. Afinal, a receita não leva ingredientes perigosos e parece massinha de modelar. Experimente convidá-la para essa brincadeira.



quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Cocô no Trono

Aqui em casa estamos no delicado momento do desfralde. É muita pressão por parte da sociedade para que as crianças sejam iguais e façam tudo do mesmo jeito e ao mesmo tempo. Bem, eu sou do time que acredita que ninguém, em seu pleno estado de saúde, chegará aos vinte e dois anos usando fraldas (para exagerar). Então, podemos sim esperar pelo tempo da criança.

Bia reage medianamente bem ao processo como um todo. Embora ainda apresente dificuldades para abandonar o que está fazendo para ir ao banheiro, o que gera certa resistência. Entretanto, na escola, dizem as professoras que já se sente bem à vontade. Bom... Estamos caminhando. E, quando ela conseguir, trarei um post mais específico sobre isso.

No momento, indico um dos livros que estamos usando por aqui: Cocô no Trono de Benoit Charlat, lançada no Brasil pela Companhia das Letras. Trata-se da história de um pintinho curioso a respeito do trono. Ele tem certo medo da privada e a forma que encontra de superar esse medo é observar o cocô dos animais que já sabem ir ao banheiro sozinhos. O pintinho se diverte com as personalidades dos animais e com os diferentes tipos de cocô.

O livro tem ilustrações coloridas e um texto divertido, próprio para familiarizar a criança com o ambiente e a rotina do banheiro. Ao final, uma surpresa, o pintinho, é claro, aceita o desafio de usar o trono e a criança pode apertar um botão e ouvir o barulhinho da descarga.

Indico demais. A Bia escuta a história com atenção. É um assunto que vem interessando a ela. Acho que qualquer ferramenta que facilite a vida dos pais é válida. Cocô no Trono é uma forma de aproximar a criança da sua nova realidade. Além disso, a meninada percebe que não é o único a enfrentar o medo do trono. E é bom encontrar alguém em quem se inspirar e ter afinidade. 

Então, se você tem uma criança nesse processo de desfralde, é uma bela dica de leitura.

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Capítulo 6

Gente, quarta feira é dia de capítulo de Do Seu Lado no youtube. E também capítulo novo no Wattpad. Então, corre lá.


terça-feira, 9 de agosto de 2016

Atividade: presente do papai

Nesse domingo, é dia dos pais. A Bia tem um pai muito bacana que adora estar com ela, então, nada mais justo que nós preparássemos uma surpresa especial. No caso, o presente já foi entregue, tanto porque o papai precisava do perfume quanto para que a sugestão de atividade pudesse vir logo aqui para o blog.

Resolvi preparar uma caixa para guardar o presente do papai e para depois servir na organização de documentos e pequenezas. O presente mesmo foi um perfume. Graças a Deus, o pai da Bia é um homem muito cheiroso. Portanto, ele sempre precisa de perfumes

Acabou que, quando estive na loja de produtos de artesanato, acabei achando uns enfeites de celular. Um urso grande e uma ursinha toda enfeitada. Achei muito bonitinho. Passei cola quente nas costas da ursinha e a colei no colo do ursão. Deixei um elástico de cabelo para manter os dois juntos até a cola secar e ficou um bonito enfeite para o retrovisor do carro.

Para a caixa, nós vamos precisar de:
1 caixa de mdf - Já comprei uma lixada, só passei um paninho úmido para tirar a poeira;
Tinta acrílica para artesanato de duas cores - Escolhi azul e rosa para fazer esse lance menino e menina, pai e filha;
Pincel grosso para a caixa
Pincel fino para a mão
Canetinhas coloridas
Verniz Vitral - Também para artesanato em madeira.

Modo de fazer:

Limpei a caixinha com um pano úmido. E passei uma camada de tinta azul. Essa não é uma tinta solúvel em água, então, não é bom deixar crianças pequenas brincando livremente com ela, como se faz com a tinta guache, pois a sujeira pode se tornar definitiva. 

Deixei secar por umas duas horinhas. Na verdade, seca bem rápido, mas achei melhor esperar um pouco. Apenas uma mão de tinta foi suficiente para deixar a caixa uniforme no meu caso, mas você pode precisar de duas ou mais mãos para atingir a cor necessária.

Depois, foi a hora de pintar as mãozinhas da Bia. Quando ela era pequena, era um sacrifício abrir as mãos, mas agora, depois de tantas atividades na escolinha, ela adora e colabora muito. Passei a tinta rosa. Carimbei a mão dela bem aberta na caixa e imediatamente limpei o restante da tinta antes que secasse. Como eu disse, essa tinta não é solúvel em água, se secasse, eu ia precisar de querosene para limpar. Por isso mesmo, já deixei os lencinhos umedecidos ali do lado para limpar imediatamente.


Mais uma rodada de secagem e chegou a hora da canetinha, enquanto eu fazia o contorno das mãos da Bia com canetinha, ela enfeitava a caixa com seus desenhos. Achei bonitinho porque ela levou a atividade muito a sério depois que eu disse que era um presente para o papai. Como diz um dos desenhos favoritos da Bia, Daniel Tigre, "fazer alguma coisa é uma forma de dizer 'Te amo'". E ela comprou a ideia mesmo.


Peguei os desenhos dela na caixa e passei o verniz. Sem o verniz, com o tempo, os desenhos sumiriam e assim como a marquinha das mãos. e nós não queremos isso, afinal, quero olhar para aquelas mãozinhas miúdas daqui a quinze anos e me lembrar dessa fofura.

Tive, entretanto, um problema para limpar o verniz do meu potinho, do pincel e das mãos, pois não tinha solventes a base de petróleo. E como eu disse, os produtos não são solúveis na água. Mas, no final, deu tudo certo.
Veja como ficou a tampa.

Espero que a sugestão seja válida. Até a próxima!

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Wattpad

Oi, pessoal,

hoje vim partilhar com vocês minha última descoberta desse mundo digital: o Wattpad. Confesso que me senti até um pouco traída pelo meu alunado que já sabia o que era e nunca me informou que existia um negócio desses. Trata-se de um aplicativo inventado por um canadense (ninguém esperava que os americanos inventassem algo que favorecesse a leitura) onde milhares de escritores do mundo inteiro partilham suas obras de maneira gratuita.

Tenho procurado, desde que resolvi me jogar nessa vida de escrever, uma plataforma que me aproximasse do público. Nesse mundo de facilidades digitais, eu achava incrível como era complicado acessar esse público leitor. E olha que eu já tinha plena consciência de que ele existia. Porque, com tanto youtuber fazendo sucesso por aí, dá na gente uma desconfiança de que essa geração não lê. Isso é uma falácia. Os inúmeros livros lançados anualmente para o público jovem desdizem essa hipótese. A questão é mais sobre onde encontrá-los do que sobre se existem ou não.

O fato é que, dentre todas as redes sociais, existe uma para escritores e leitores. Oremos. E essa rede é o wattpad (existem outras também). Lá, as pessoas podem deixar suas obras, completas ou apenas capítulos para degustação e outras pessoas leem, votam e comentam, uma interação direta com o autor.

São mais de 40 milhões de usuário em todo o planeta. Cerca de 800 mil brasileiros. Na sua grande maioria, adolescentes. Uma vez que o livro sem ser de papel ainda é tabu por aqui, é natural que sejam os mais novos a experimentar uma plataforma diferente. Então, pode-se concluir que o Wattpad já é um sucesso.

Desde semana passada, coloquei capítulos do meu primeiro livro lá. Até o momento, são 170 visualizações em sete capítulos. Muito mais gente do que consegui mostrar nesses anos que venho batalhando divulgação. Estou encantada com a possibilidade de conquistar leitores do Brasil inteiro. E quem sabe até chamar a atenção de alguma editora e conseguir publicá-lo em livro físico.

A publicação de sucesso do Wattpad, aliás, é uma constante. Obras com milhões de visualizações ganham suas versões impressas. Afinal, a publicação é um negócio e a plataforma demonstra para a editora a parte mais complicada dessa relação de consumo, um livro com grande aceitação por parte do público significa que tem gente interessada e que ele venderá nas livrarias.

Estou adorando a experiência e aconselho demais. Tudo que você precisa fazer é baixar o aplicativo no seu celular, ou acessar o site do wattpad pelo computador mesmo, usando inclusive os dados do facebook. É rápido e fácil. Você logo começa a ler. Aí é só fuçar as centenas de obras dividias pelos assuntos até encontrar algo que lhe agrade. 

Entretanto, sinto-me no dever de avisar que o wattpad é uma plataforma democrática. Nessa palavra democrática, encaixamos escritores iniciantes. Muitos deles tão adolescentes quanto os seus leitores. Em historinhas muitas vezes sem nexo ou que são apenas cópias de livros que eles gostaram com outros nomes. Não imagine que vai encontrar um Jorge Amado ou um Graciliano. Estou falando de livro adolescente de livraria. 

E mesmo nesse gênero, é difícil encontrar algo interessante, tanto do ponto de vista estrutural, ou seja, histórias com coerência do início ao fim (coisa bem complicada para a mente imediatista adolescente) quanto da parte gramatical. Vai por mim, minha alma de linguista compreende completamente as confusões entre fala e escrita, mas meu cérebro de leitora já gera um preconceito logo de cara quando a historinha começa, bem na sinopse, com um "concerteza você vai se emocionar".

Desde que comecei na semana passada, já li uns três livros e iniciei muitos outros os quais não tive estômago para continuar. Procuro indicações no google e, às vezes, arrisco uma recomendação que o próprio programa faz, baseado no que você já leu. O número de porcaria é grande. Mas encontrei pessoas que realmente escrevem bem. Criativas e lúcidas. 

Minha primeira indicação do wattpad para vocês é Eu, Cupido de uma menina chamada JuliaBT. Uma historinha sem pretensões, como ela mesma define, mas muito divertida. É sobre uma garota que por um acaso do destino acaba quebrando a mão de um cupido e, por conta disso, precisa tomar o lugar dele por um mês. Envolvente e bem escrito. Experimenta.

Além disso, caso você escolha adentrar nesse universo do Wattpad, por favor, me encontra por lá. E vai ler Do Seu Lado. Vou deixar o link aqui.

Até!

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Férias em casa

Pintar
Esse ano o dinheiro não deu para viajar. Não teve reajuste de salário. Os carros quebraram. O ar-condicionado também. E, para completar, greve. Resultado, férias em casa. Passei dias inteiros com a pequena dentro de casa, eu e ela. Nem por isso foi uma experiência menos agradável. Cansativa talvez.

Sempre que estou com a minha filha, eu penso que aquele momento é único e que ele vai passar (os bons e os ruins). Outro dia em pensava em como seria quando ela não mamasse mais, hoje, estamos trabalhando o desfralde e daqui a pouco ela já vai estar lendo por conta própria. Temos que aproveitar esse instante da vida em que ela faz tanta questão da nossa presença. Em que nós somos as pessoas mais especiais do mundo. Atitude que ela traduz todas as vezes em que nos vê após uma curta separação.

Dizem por aí que os dois anos são uma fase difícil. A adolescência da infância. Vai por mim. Sei o quanto pode ser complicado. Mas, ao mesmo tempo, com bastante paciência e um pouco de compreensão da fase como um todo, suas atitudes como pai vão ficando mais coerentes e consistentes. Eu, pelo menos, estou apostando nisso.

Banho de piscina
Aos dois anos, a criança se dá conta de que não é uma parte de você. Ela se percebe como um indivíduo, com gostos e vontades próprias. Por conta disso, comer vira uma luta, pois as preferências são várias e daqui que você descubra... Bia, por exemplo, criou uma aversão ao tom vermelho dos molhos que ninguém sabe dizer de onde veio. 

Além disso, eles começam a pensar que podem escolher o horário, modificando a rotina ao seu bel prazer. Então, é brincar para sempre, comer somente se necessário, tomar banho nem pensar e dormir nunca. E, para cada intervenção paterna, um escândalo de proporções catastróficas.

Primeira dica super difícil de cumprir: não se abale com choro. Dê colo. Console. Diga que está com ele e que entende. Mas seja firme. Menino precisa de disciplina. Menino não pode fazer o que quer na hora que quer. Se você não ensinar, a vida ensina. Já dizia minha avó. Para falar a verdade, menino nem sabe o que quer... Quem nunca ficou balançando uma criança exausta que lutava com todas as forças para não dormir que atire a primeira pedra. 

É normal testar limites. Saber onde ele termina e onde você começa. Mas, não se iluda, a criança precisa que você delimite o seu mundo, que lhe imponha fronteiras. Pois, como você mesmo vai perceber (talvez perto dos quarenta), um mundo em que você mesmo é o próprio limite pode ser assustador. E pode gerar inseguranças mil.

Chá de mentirinha em frente de casa
Tenho entendido que, com relação a crianças, mais vale se antecipar e planejar. Os dias em que eu simplesmente estava cansada e decidia deixar rolar eram os piores em termos de comportamento. Crianças da idade da minha filha precisam ser instigadas a fazer coisas diferentes. A palavra certa é orientação. Sem orientação, elas vão fazer o que sempre fazem e, em pouco tempo, ficarão entediadas com a repetição constante. O tédio é a oficina do diabo, gente. Aí, eles começam a traquinar. E não sobra um bibelô sequer sobre a mesa. O que eu estou querendo dizer é: planeje atividades para as suas crianças e, principalmente, brinque com elas. 

Não precisa ser nada elaborado. Às vezes, passo um tempão pensando em uma coisa, imaginando como a Beatriz vai se divertir com isso e com aquilo e tudo mais. No final, tudo que ela quer é que sentemos com ela e comamos comida imaginária que ela faz nos seus brinquedos. Que estejamos presentes. Sem celulares, sem televisão, sem almoço para fazer. E, nessas férias, foi isso que eu fiz. Planejei duas atividades por dia. Uma pela manhã e outra pela tarde. Um momentinho em que eu me sentava com ela e brincava, exclusivamente com ela. Por cerca de uma hora.

Banho de bacia com balões de água
Eu dava a proposta da brincadeira. Banho de piscina. Piquenique em frente de casa. Pintura. Mas era ela quem conduzia o percurso da alegria. Repetíamos o que ela gostava e criávamos coisas novas a partir dali. Era um tempo incrivelmente bem gasto. Depois dessa dose exclusiva de atenção, a rotina ficava bem mais fácil. A energia baixava e ela se entregava ao cansaço para dali a poucas horas recomeçar novamente.

Fizemos vários programas nessas férias. Dentro de casa e fora dela. Vocês vão acompanhar algumas das nossas atividades aqui no blog. Por enquanto, quero deixar apenas um recado para você que está passando por uma fase difícil com seus filhos, achando que fazem certas coisas de propósito para lhe tirar do sério e que a sua vida está mais complicada que a dos outros pais de alguma maneira. Você não está sozinho. Ser pai e mãe é cansativo mesmo. Dá trabalho mesmo. E você chora às vezes sim, com pena de si mesmo e de tudo que você perdeu escolhendo esse caminho. 

Mas aí você se lembra daquele sorriso pela manhã. E de como é ruim quando eles estão quietinhos porque estão doentes. E que eles são a oportunidade de voltar a ser criança um pouco. Percebe nessa hora que a brincadeira é o melhor remédio.  Então, brinque. Um pouquinho que seja, mas brinque. Coma comida imaginária. Pinte borboletas no seu rosto. Tome banho de piscina como se não houvesse amanhã, como se a piscina fosse deixar de existir. Porque um dia, o que eles estão descobrindo hoje realmente vai se tornar realidade e eles serão pessoas totalmente separadas de você. Nesse dia, o que restará de melhor entre vocês, serão esses momentos de felicidade explícita que vocês construíram e que não sairão da cabeça nunca mais.