1) Permitir que eles se responsabilizem pela rotina.
2) Ceder depois de comprar a batalha.
3) Gritar.
4) Bater.
5) Aceitar birra.
6) Culpar por comportamento.
7) Evitar experiências.
8) Esquecer de brincar.
9) Negligenciar educação.
10) Fazer por eles o que podem fazer sozinhos.
Amigos, não sou especialista, sou mãe. O post de hoje é só um produto da minha experiência e leitura. Mas já começo avisando que a lista serve para mim mesma também. Muitos desses tópicos são diretrizes que tento seguir na maioria das vezes. Mas, como todos nós, a rotina e o cansaço do dia também me vencem de vez em quando.
Aos dois anos, as crianças começam a ter consciência de que elas não são conectadas a pai e mãe, que têm vontade própria. E elas vão testar os limites. O quanto podem decidir sozinhas. O quão longe podem ir. Vão mesmo. E isso é bem mais pensamento científico puro do que um complô para acabar com seu final de semana. Então, prepare-se para a birra.
A primeira coisa para aprender a lidar com a birra é não levar para o pessoal. A criança não está fazendo isso para lhe aborrecer. Ela precisa de você para aprender a lidar com uma situação típica da condição humana: a frustração. Se você grita, bate, berra, foge, é assim que ela vai reagir também, já que você é o exemplo. Respirar fundo e ter consciência do que se passa pela cabeça do pequeno são as melhores armas para lidar com a situação, além de doses frequentes de muita paciência.
Ataques de birra são inevitáveis nessa idade. Se a criança não faz birra, isso é sinal de alerta para problemas neurológicos. Entretanto, a disciplina e a técnica ajudam a diminuir a frequência dos ataques. Vamos discutir o motivo e o valor de alguns tópicos acima.
A primeira questão que eu trouxe é a rotina. Rotina é tudo. Deve ser aplicada a partir dos primeiros dias de vida do bebê. Embora, caso você não a tenha e seu filho já conte três anos, toda hora é hora para começar. E o que é uma rotina? Fazer todo dia a mesma coisa, na mesma sequência, mais ou menos na mesma hora. Haja disciplina. Vou logo avisando, nem sempre se consegue, mas deve ser a sua prioridade. Vamos ao porquê.
Crianças pequenas não têm controle sobre nada. Não conhecem o mundo. Tudo é absurdamente novo e inesperado. É uma total ausência de controle sobre si mesmo. Isso é desesperador (se coloque nessa situação, hoje você pode ser abduzido por um alien, daqui a vinte minutos podem te lançar num foguete rumo ao sol, dali a pouco te apresentam ao bicho-papão que você nem sabia que existia). A rotina dá uma certa impressão de controle, pois a criança sabe o que vem depois: toma banho, escova os dentes, lê história e dorme. Todo dia é assim. Sem surpresas.
Não existe isso de "Ele não quis dormir, então vamos brincar um pouco para cansá-lo". Totalmente ineficiente. Você está ensinando que "se eu insistir ou chorar, vou brincar mais". E tome choro da próxima vez. Isso é deixar a criança ser responsável pela rotina. Ela decide se dorme, ela decide se come, ela decide se vai para a escola. Nada disso. Você decide. A criança acompanha. "Mas ele chora". Se ele chora, você escuta. Você acalenta. Mas você não dá opções. Assuma seu papel de adulto. É o que ele espera de você. Aliás, ele precisa que você seja um adulto equilibrado para aprender a ser um e para ter a liberdade de ser a criança. Se é hora de dormir, é hora de dormir. Melhor três dias seguidos de choro e um sono tranquilo do que choro toda hora para resolver tudo. Porque aí sim a paciência acaba se esgotando.
Por isso, escolha suas batalhas. Enfrentar uma birra exige maturidade. Você precisa saber exatamente o que está enfrentando. Já disse, não é pessoal. Mantenha a calma. Acontece com todas as crianças. Coloque sua criança num lugar seguro (As crianças são espertas e sabem que nos exasperamos com sua segurança, vão se debater e jogar a cabeça, pois sabem que agiremos mais rápido se assim o fizerem). Mostre-se empática, diga que lamenta, que entende a frustração, mas que não, ele não vai poder fazer aquilo (ou terá de fazer, se for o caso). O choro vai aumentar de volume. Diga que está ali, mas que não vai ceder. E ignore, não olhe nos olhos e não barganhe. Nada de "meu amor, se acalme, você quer assim, quer assado, não chore, por favor". Em algum tempo, a criança vai diminuir o choro, afinal, não está sendo eficiente e ela não teve sua atenção. Você aproveita e explica novamente o que quer que ela faça. Ela vai aumentar o volume novamente. Repita o processo até ela ceder.
O máximo que já passei com a Bia nesse processo foi uma hora e meia. Acho válido. Vale cada segundinho de berro pela resposta que ela me dá depois. Conto três situações assim até hoje. E todas compensaram.
Não sou a favor de deixar a criança sozinha durante o processo, acho que dá uma sensação terrível de abandono. Eu fico lá. Eventualmente dou um abraço para ela saber que estou com ela, que estou ajudando a lidar com a frustração, mas não cedo. Vai ser do jeito que eu disse que seria. Entretanto, não dá para fazer isso em qualquer lugar, vocês concordam comigo? Imagine o escarcéu de usar essa técnica no meio do supermercado. Quantos olhares te julgando. Por isso, escolha suas batalhas. Se vai entrar, é para ganhar. Nada de uma hora de técnica para deixar a criança fazer o que quiser depois. Se acha que vai ceder, deixe logo. Fica parecendo que você permitiu e não que ela venceu a disputa. Ou seja, se você está com enxaqueca e a criança quer ver televisão em uma hora que você não permite, é melhor mandar um "hoje pode" do que entrar numa batalha que claramente você vai perder.
Ou mais, se você está em um lugar inóspito e a criança começa um ataque de birra, às vezes é melhor tirar a criança do ambiente sem muitas explicações do que perder a disputa por vergonha sua e seu filho entender que as regras variam de lugar para lugar.
Tive um momento assim nesse fim de semana, por isso estou escrevendo o post. Bia teve um ataque de birra na hora de jantar na casa de praia onde eu estava sozinha com ela e mais dois casais de amigos sem filhos. Levei ela para o quarto e foi uma hora de choro. Eles devem ter ficado chocados, tadinhos. Mas a eficiência da disciplina convenceu a todos no restante dos dias, pois depois dali, a menina foi um doce. Até me perguntaram o que eu tinha feito. Expliquei.
Obviamente, eles só ouviram o choro dela, nem ouviram minha voz. Falei baixo e pacientemente. Foi difícil como um todo. Pensei em desistir várias vezes. Geralmente eu conto com o Raphael para revezar essa tarefa, mas eu estava só. Cantei um pouco. A música tem esse poder. Em toda escolinha infantil vão te ensinar a cantar o tempo todo. Quando eu trabalhava numa escolinha, pensava que era para as crianças. E é também. Mas ajuda a manter o foco em outra coisa. Quando o clima está tenso, você canta e as crianças (e você) acompanham a canção e perdem um pouquinho o foco da discussão, abrindo a possibilidade do diálogo.
Se você gritar, a criança grita (Não vamos nem entrar no mérito do bater). Somos exemplos o tempo inteiro. Michael Tomasello, que estuda Antropologia Evolutiva, chegou à conclusão, estudando a semelhança entre homens e chipanzés, que o que nos diferencia evolutivamente é que os chipanzés aprendem prioritariamente por tentativa e erro, enquanto os humanos aprendem prioritariamente por imitação. Isso explica que o um chipanzé de dois anos se vira sozinho na mata, já um bebê de dois anos é totalmente dependente, esse é o custo da nossa inteligência.
Olha o tamanho da nossa responsabilidade! Aos dois anos, o cérebro humano do bebê está adaptado evolutivamente para imitar tudo que nós (adultos) fazemos. Se grito de alegria, ele grita. Se mostro raiva diante da frustração, ele também mostra. Se como verduras com prazer, ele também come. Se eu leio, ele quer ler. Então, queridos, ao lidar com a birra, simule uma reação, mesmo que não seja a sua. Aja com calma, respire fundo, controle o tom de voz e diga como está se sentindo e que compreende a frustração dele. Vale até pedir para sair por uns minutos, caso a paciência tenha se esgotado. Essas são as estratégias que você está ensinando seu filho a ter ao lidar com a frustração. Talvez, em algum momento, você precise de outra pessoa para ajudar. Dois adultos é sempre melhor do que um, se um cansa o outro assume, contanto que o discurso seja uníssono.
Portanto, colegas, ouso dizer que seu filho não é especial. Ele não é mais ativo do que o dos outros, mais esperto, mais malandro, mais mal-educado, mais traquina, mais inteligente. Essa é a desculpa mais usada pelos pais que entregam a rotina aos filhos pequenos, que não compram as batalhas corretas e que se eximem da responsabilidade de criar seus filhos mais com exemplos do que com palavras. Eles aceitam a birra como uma condição natural da sua criança, que é diferente das crianças dos outros desde nascença, sem ter absolutamente nada a ver com isso, nem um pingo de responsabilidade no processo. E lidam com cada birra como se fosse isolada uma da outra: é sono, é fome, é vontade de brincar com o brinquedo do colega que não empresta, é porque está em um lugar estranho, é porque não acordou bem. Aí fazem logo o que a criança quer para evitar o choro, aí gritam, aí batem, aí imploram misericórdia a criança, aí barganham e chantageiam... Zero consistência na ação.
A criança, enquanto mente pensante, não percebe o limite. O raciocínio normal é: "vou ver até 'onde dá. Opa! Não consegui. Tento de novo. Tento de outra forma. Não deu. Desisto." Nesses casos é: "vou ver até onde dá. Opa! Não consegui. Tento de novo. Consegui. Tento outra vez. Não deu. Choro mais. Consegui. Entendi, se eu chorar, se eu bater, se eu gritar, cedo ou tarde, eu consigo".
Amigos, a criança de dois anos é um produto do que fazemos com ela. A birra é natural da idade. A persistência da birra é consequência das nossas ações. Dói demais ouvir isso, mas não podemos responsabilizar totalmente uma criança dessa idade pelo seu comportamento, pois ou é repetição de algo que nós ensinamos ou é típico da idade.
Estou adorando escrever esse post, mas ele já ficou grande demais. Amanhã continuo minhas explanações sobre os outros tópicos. Beijos de luz!