Bruna Drummond arrepiou os meus cabelos.
Ela me deixou de joelhos. Superou toda e qualquer expectativa que eu tivesse
com relação a ela. Não sei como seremos nós dois naquele palco, mas começo a
pensar que talvez consigamos vencer esta competição. Ela é um furacão.
Chego à academia e logo de cara vejo que
Bruna está tendo aulas com o Serginho. Pergunto se tem alguma coisa errada e a
atendente me explica que ela decidiu por si mesma ter mais aulas. Aulas normais
de Dança de Salão. Eu me senti traído. Como se ela não acreditasse na minha
competência. Entretanto, assim que entrou na minha sala na hora do nosso
ensaio, veio logo me dizendo:
─ Carlos Eduardo, eu peço desculpas por
ontem. Nem te deixei falar. Fui uma péssima aluna e garanto que não costumo ser
assim. – Por essa eu não esperava mesmo. Não sei se era verdade o que dizia,
ela é uma atriz muito convincente. Mas seus olhos tinham tanta sinceridade que
não aguentei sustentar o olhar.
─ Tudo bem, Bruna. Eu sei que foi
difícil.
─ Não. – Ele segurou meu rosto. – Presta
atenção, garoto. Eu quero me desculpar porque sei que não agi da melhor forma
possível com você ontem. – Ela sabe ser convincente. – Mais do que
visibilidade, já entendi que você está aqui para ajudar seus amigos desta
academia. Sei que você nem precisa de fama, nem de dinheiro. Do jeito que vi
você dançando, consigo compreender completamente o motivo de terem te escolhido
para essa tarefa. Você é muito talentoso.
─ Obrigado. – Eu não esperava por essa
também. Fiquei olhando para os meus pés.
─ No entanto, - ela continuou sem ligar
a mínima para a minha timidez – eu não estou no seu mesmo barco. Preciso ganhar
esta competição. Minha carreira depende disso. E eu não brinco com minha
carreira. – Ela falava muito sério. Bruna me pareceu ter uma força incrível. –
Então, olha para mim, Carlos Eduardo. – Não ousei desobedecer. – Estou dizendo
que a partir de hoje meu compromisso é total. Vou tentar confiar em você o
máximo que conseguir e farei tudo que me for mandado fazer. – Nossa! Para
alguém que eu nem imaginava que saberia meu nome, foi uma mudança bastante
significativa de atitude.
─ Calma, Bruna. – Consegui responder. –
Confiança a gente vai adquirindo com o tempo. – Ela ouvia com atenção. Entendi
o que Eleonora havia dito, Bruna é tão determinada quanto eu. – Eu acho que
também errei com você. – Tive de admitir. – Como você sabe, não sou professor.
Faço coreografias. Participo de competições. Mas nunca trabalhei com alguém
iniciante. – Tentei não carregar a palavra iniciante com tons pejorativos,
acredito que fracassei nesse intento, pois ela fez uma cara de decepcionada. –
Eu deveria ter ido mais devagar. Acho que me empolguei. Também peço desculpas.
─ Sem problema. – Continuava atenta. Os
olhos grudados em mim.
─ Além disso, nós precisamos entender
que somos parceiros agora caso queiramos vencer esta competição. Para tanto, eu
deveria ter baixado a minha guarda e deixado você contribuir com a coreografia.
Não fiz isso por orgulho, ou talvez, por inexperiência. Peço desculpas
novamente.
Ficamos calados olhando um para o outro
sem saber o que fazer direito. Bruna meio que esperava para ver se eu tinha
mais algo a dizer. Eu não tinha, então ela falou:
─ Já que é assim, posso lhe mostrar no
que eu andei trabalhando ontem?
─ Pode. – Respondi inseguro, com medo do
que ela poderia estar aprontando. Será que trouxera uma coreografia nada a ver
e iria insistir em usá-la?
─ Vou sambar e quero que você observe o
meu rosto, minha expressão corporal, ok?
─ Você sabe sambar? – Ela me olhou com
uma cara nada amistosa. Sorri pedindo desculpas, pelo jeito, era óbvio que ela
sabia sambar.
Sem um pingo de timidez, Bruna colocou
seu Ipod conectado no som a sala. Deu play e de frente para o espelho, como se
eu nem estivesse lá, começou a sambar. Pernas esticadas, dedos delicados,
bumbum empinado e uma expressão sedutora. Uma sensualidade que em qualquer
outro ambiente teria me deixado constrangido, mas ali, naquelas quatro paredes,
eu estava seguro. Era dança. E que dança.
Bruna sambava e girava seguindo o ritmo
da música, seduzindo seu próprio reflexo na parede, piscando para ela mesma
refletida ali. Um exercício que eu tinha tanta dificuldade de fazer e para ela
vinha naturalmente.
Era o que eu buscava. Certo. Não havia
nada de técnica ainda, mas a imagem era perfeita. Que homem não desejaria Bruna
sambando daquele jeito? Um corpo escultural. Um rosto de menina travessa. Uma
sensualidade que exalava por todos os poros. Era a música certa para ela. Para
nós.
Até a versão que ela escolheu era
melhor. Diogo Nogueira e Bruna sambando para o espelho mexeram comigo. Uma
sensação de ter encontrado aquilo que procurava se apoderou de mim.
Eu a peguei pela cintura. Comecei a
dançar conduzindo-a para o quadrado. Seus olhos dobraram de tamanho grudados
nos meus. Estava apreensiva, eu quebrei o trato de somente assisti-la, mas eu
precisava aproveitar a oportunidade.
Ela não resistiu à condução Fiz os
passos mais simples. Terminamos a música girando um em torno do outro. Bruna
sorria para mim. Imagino que compartilhava o que eu também já sabia
─ E aí, o que você achou?
─ Acho que encontrei minha parceira para
o Dança das Celebridades. – Sorri e lhe estiquei a mão para o cumprimento. Ela
sorriu de volta.
─ E da música?
─ Melhor do que a versão original...
─ Então é essa. – Sorrimos como
parceiros pela primeira vez.