Sábado foi dia de circo. Primeira vez da Beatriz. Não sei vocês, mas eu sempre fico temerosa com relação a expor minha filha a coisas novas. Principalmente atividades pagas. Vocês já viram que o problema comigo não é exatamente o novo. Gosto que ela experimente o mundo e algum nível de frustração é totalmente aceitável. A questão passa bastante pelo preço.
Esse fim de semana, por exemplo, tinha um espetáculo teatral da Turma da Mônica aqui na cidade. A bagatela de R$60,00 o ingresso promocional (cadeirinha mais fuleragem). Aí me diz, você investe R$180,00 em um espetáculo de 50 minutos que não sabe se sua filha ou filho vai gostar? No caso da Bia, corre um risco bem grande dela sequer aceitar ficar no ambiente. Estamos lidando com uma fase de medos infantis que por si só merecem posts inteiros.
Não vou questionar os valores das produções. A companhia cobra o que quiser, paga quem pode. Admito, inclusive, que se fosse uma certeza de sucesso com a pequena, pagaria até mais. Entretanto, eu e meu marido sempre levamos o valor da atividade bem à sério na hora de escolher o programa. Principalmente porque sabemos que passear na praça e pular em um pula-pula encanta nossa filha tanto ou mais que o Cirque du Soleil.
É certo que o comportamento de assistir a espetáculos precisa ser estimulado, mas, com tão pouco tempo de concentração, uma criança de dois anos não deve ser forçada a acompanhar uma peça infantil do começo ao fim. Inclusive porque elas veem e imaginam coisas enquanto as assistem que nós sequer podemos prever. É comum, por exemplo, misturar sonho e realidade, haver uma quebra de expectativa ou simplesmente uma identificação profunda com o personagem e a criança não conseguir suportar as emoções da peça. Claro que cada criança é uma criança e cada peça é uma peça.
Vejo crianças da idade da Bia acompanharem bem uma pecinha de shopping. Geralmente as que tem irmãos mais velhos ou convivem com crianças mais velhas de qualquer natureza. O exemplo é algo extremamente valioso na infância, fica a dica. Já a Bia, apesar de acompanhar de maneira bem detalhista seus desenhos animados favoritos (atualmente Dora, Daniel Tigre e Casa do Mickey),não dispensa mais do que quinze minutos de atenção às apresentações ao vivo. Depois disso, ela precisa de algum movimento. O que também é extremamente típico da fase.
Decidimos, porém, tentar o circo. Isso por vários motivos. O primeiro deles foi a identificação da Bia pelos malabarismos por conta de um desenho animado. Segundo fator motivacional, o incentivo e a formação dela enquanto público. Além disso, o circo é um ambiente aberto que possibilitou várias saídas em momentos de maior tensão como o globo da morte. E, por fim, o preço. Circo de bairro. Boa estrutura, apesar de ser de pequeno porte. R$5,00 o ingresso. A Bia não pagou.
Do ponto de vista infantil, não sugiro a vocês grandes circos. Caros. Com palhaços bem vestidos e show de luzes. A criança não tem a noção de quanto tudo isso custa ou do grau de dificuldade do espetáculo. Para quem luta para levar a colher até a boca sem derramar a comida, tanto faz equilibrar cinco, dez ou quinze malabares. Não sei se vocês me entendem.
Para nós, o circo Porto rico, instalado aqui no centro da Messejana, foi mais do que suficiente. Teve artista na corda bamba, malabares, mágico colocando espadas numa cesta com uma moça dentro e até globo da morte. A Bia pedia para entrar e pedia para sair. queria ver algumas apresentações, ficava com medo de outras. Atitude plenamente compreensível e natural. E uma experiência que vai ficar na cabeça dela por um bom tempo para ser digerida por sua mente infantil. Certamente, em outra ocasião, ela vai se permitir bem mais já que a primeira etapa foi vencida.
Somente uma coisa me incomodou na apresentação inteira: o palhaço. Que triste percebermos valores horríveis sendo passados sem que sejam questionados. Todos devem saber que a função do palhaço no circo é a de entreter a plateia enquanto a próxima atração é montada. Não foi diferente no circo Porto Rico. O palhaço fazia brincadeiras com as crianças da plateia. Começou chamando os meninos. Inicialmente, não vi a necessidade e chamar apenas meninos para uma brincadeira adaptada de "vivo ou morto", mas a intenção ficou clara depois. As crianças tinham que seguir o comando e pegar na orelha e no nariz, o que foi bem divertido, pois havia um pequeno bem descoordenado que arrancou os risos da plateia. Depois, o palhaço acrescentou a pinta dos garotos na brincadeira e os mandava pegar, depois cheirar. Como se isso tivesse graça. Mas, enfim, ostentar um pênis é uma dádiva na nossa sociedade, então, qualquer forma de louvá-lo é válida. Cheiremos. Cantemos sobre ele. Ergamos altares à masculinidade.
O pior, entretanto, estava por vir. A próxima brincadeira era com as meninas. Campeonato de dança: claro! Cinco meninas com idade entre sete e quatro anos e uma seleção de músicas que passava pelo Creu e o Quadradinho de Oito. Verdadeiro circo de horrores. Fiquei feliz em constatar que pelo menos algumas da meninas não faziam ideia de como dançar aquelas músicas e ficaram só se balançando. Duas, porém, desciam e empinavam o bumbum, ralavam e estremeciam. No golpe de misericórdia, a mais velha de todas, impelida pelo instinto de ganhar, colocou a cabeça no chão e fez o dito quadradinho de oito ovacionada pela plateia.
Eu fiquei chocada, embora soubesse ser completamente natural esperar aquela resposta daquele público, meu amigo virou o filho pequeno de costas quando essa absurdidade começou, a Bia, felizmente, estava do lado de fora com o pai. Não preciso nem dizer quem ganhou o prêmio de melhor dançarina, não é? Outra coisa, não preciso nem dizer quem incentivou e ensinou a pequenina a fazer uma coisa daquelas como se fosse bacana, não é?
Feminismo, desobjetificação da mulher, fim da sexualização precoce: luta constante e projeto distante. Adorei a experiência, mas, por conta desse episódio, não posso recomendar para vocês esse circo.
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