Procurando dentro do blog

sexta-feira, 31 de maio de 2013

O livro do amanhã

E eu que imaginava não dar conta dos oito livros desse mês, ontem, consegui terminar o nono. Verdade que precisei de uma mudança estratégica. Deixei um pouco de lado Os cem melhores contos brasileiros do século, caso contrário, não teria dado tempo mesmo. O livro é grande e intenso e ficou claro que preciso usar de parcimônia para enfrentá-lo e bater minhas metas. Mas, não se preocupem, eu não desisti dele não. Já está aqui do lado da minha cama novamente. Ainda hoje enfrento mais uma fase do danado.

Bem, o livro de hoje foi indicação da Bruna e se chama O livro do amanhã. A autora Cecelia Ahern é uma irlandesa que escreveu também o Best Seller P.S. Eu te amo. Na história, encontramos Tamara, uma adolescente de dezesseis anos insuportável, mas pelo menos, ela sabe que é insuportável, o que já é uma vantagem. A moça era riquíssima, porém, de repente, o pai se suicida por causa de dívidas e ela se vê jogada junto com a mãe meio maluca na casa de tios no interior.

A vida para uma menina da cidade num cafundó pode ser muito entediante. Principalmente, com uma tia com mania de limpeza. Uma mulher que está em todos os lugares, querendo saber exatamente o que acontece. Enfim, uma tia para lá de esquisita. O temperamento de Tamara vai confrontá-la direto. Mas, essa mulher não é nem de longe a coisa mais esquisita da história. Tamara encontra na biblioteca itinerante um livro com páginas todas em branco. Este livro, ela vai descobrir, é o seu diário em que, magicamente, aparece sempre escrito o dia de amanhã. Bom, esse tipo de coisa, com certeza, acaba com o tédio.

Eu pensei que o livro fosse falar sobre mudança de perspectiva. De tentar mudar o futuro e ser uma pessoa melhor. De certa forma isso acontece também, mas em menor escala. Na verdade, trata-se de um livro de mistério, um livro sobre o passado e não sobre o futuro. Realmente, há uma trama no passado de Tamara que precisa ser desvendada. Não cabe a mim dizer muito sobre ela, se interessou? Vá ler.

Para mim, foi um livro quatro estrelas. A escrita de Cecelia é agradável, a premissa é interessante, só não me interessei muito sobre o mistério. Porém, talvez mais porque eu não goste tanto desse gênero. Enfim, eu estava imaginando um chick-lit e me veio uma Agatha Christie. Nunca é muito bom quando rola uma quebra de expectativa dessa natureza.

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Sangue, ossos e manteiga

Tenho várias coisas interessantes para dizer sobre esse livro. Para começo de conversa, olha que título incrível? Na mesma hora dá vontade de ler, de entender, de pegar, de saber do que se trata.

Além disso, tenho uma coisa particular com esse livro. Juro para vocês que eu não conseguia ver esse frango desenhado aí de jeito nenhum. Minha mente, coitadinha, estava surtando tentando dar algum sentido para aquilo que eu entendia como manchas de manteiga numa frigideira. Até que minha mãe pediu para ver a capa e por um instante eu virei o livro de cabeça para baixo e percebi o bicho. Quase tomei um susto com o reconhecimento. Pois é... Coisa de gente lesada. Eu não costumo ser lesada, mas, às vezes, caio em alguma pegadinha do destino.

O livro é a autobiografia de Gabrielle Hamilton, uma chef de cozinha. Achei o livro bastante interessante, primeiro pela questão da comida, assunto pelo qual tenho razoável interesse. Mas também pela questão das escolhas pessoais da vida de Gabrielle. Pelo que entendi, ela nunca se imaginou uma chef de um dos restaurantes mais legais de Nova York. Para quem não sabe, essa cidade, como toda grande metrópole, respira comida. É muita responsabilidade trabalhar com gastronomia lá, ser reconhecida, então, é um luxo para poucos.

O relato da chef é bem escrito. Ela tem mestrado em Literatura, oras. Mas o que mais me impressionou foi a sua vida mesmo. Cheia de erros. Parece que quanto mais ela fugia da comida (vê-se a questão do mestrado em uma área nada a ver), mais a cozinha a agarrava com força. Uma família desestruturada, uma vida meio de cigana, os altos e baixos dos buffets da cidade. Entramos com tudo na vida nada glamourosa da comida em larga escala. Dessa forma, vamos conhecendo Gabrielle e entendendo as suas escolhas para o Prune (o restaurante dela). Ela não é a mulher mais correta do mundo. Tampouco é uma pária da sociedade. Sua vida está repleta de escolhas boas e ruins como a de todos nós. 

Bom, ela me fez refletir bastante sobre o amadurecimento. Entendo que até as pessoas mais rebeldes acabam encontrando um lugar no mundo se resolvem enfrentar o desafio de se tornaram elas mesmas. Gabrielle relutou o quanto pôde contra o seu talento, perdeu as esperanças, reencontrou-as, se construiu e, surgindo a oportunidade, ela a agarrou com todas as forças. E como essa mulher trabalha. Mas daí, quando ela se encontra e se transforma numa mulher adulta, nossa, ninguém pode com ela.

É um livro cheio de cheiros e sons e sensações que evocam o passado através do paladar. Tem também várias lições de vida, se você souber lê-las. Gostei, apesar de não ser grade fã de biografias. Foi uma experiência diferente, desde as festas da infância de Gabrielle até a morte prematura de trinta quilos de lagosta, eu estava lá com ela, sentindo os cheiros e as sensações. 

Indico demais, principalmente se você gosta de comida.
Aliás, descobri este livro através do canal da Mariana no youtube, olha lá: Respira, Mariana! Quem sabe você também não encontra algo que te interessa?

quarta-feira, 29 de maio de 2013

O Centésimo


Gente,
nem acredito que já chegamos ao centésimo post. O tempo passou depressa. A felicidade é imensa.

Antes de qualquer outra coisa, meu eterno muito obrigada a vocês, queridos leitores. Naquela tarde de janeiro quando resolvi voltar para o mundo virtual, não esperava encontrá-los tão depressa. Foi e é uma satisfação incontestável escrever para vocês. Essa, muitas vezes, é  atividade mais prazerosa do meu dia. E olha que a minha vida é boa pra caramba!!!

Estou muito feliz porque recebo notícias de que outros têm se aventurado nesse mundo da escrita por causa dessas mal traçadas linhas. Queridos, é sempre bom escrever, mesmo que ninguém nos leia, a sensação de libertação, de se livrar de anseios e de compartilhar ideias sempre vale a pena. Portanto, estou com vocês nesse empreitada, e se precisarem, é só chamar.

Verdade que um blog exige certa disciplina. Bem, eu nunca tive problemas com a disciplina. Até gosto dela. E o compromisso de ler para escrever é algo que mais me agrada do que aborrece. Por isso, estou mantendo a meta de oito livros por mês com afinco. E venho aprendendo bastante sobre o universo literário.

Vez ou outra, o blog traz um texto ficcional meu na categoria Relicário. Ainda continuo tentando publicar meus romances. Por enquanto, nenhuma luz no fim do túnel. Acho que levarei muitos nãos até chegar a um sim, se é que vou chegar a um sim um dia... Sei lá! O importante é não desistir de tentar.

E o blog me ajuda muito nesse sentido. O propósito inicial deste nosso cantinho era mostrar um pouco da minha ficção para vocês. E acho que o blog cumpre essa função muito bem. Porém, eu não imaginava que fosse escrever aqui também minhas opiniões sobre outras tantas coisas. Isso faz um bem danado para a alma.

Por isso, não vejo o menor motivo para interromper essa nossa ligação tão cedo. Quero, dentro do tempo possível, estar escrevendo o milésimo post com a mesma alegria e o mesmo entusiasmo. Espero que estejamos juntos ainda quando isso for acontecer. Quem sabe, até lá, eu já não fui apresentar os meus romances no Jô Soares?

terça-feira, 28 de maio de 2013

O Arcano Nove


Quando eu já estava para desistir de cumprir a meta de oito livros desse mês (peguei alguns livrinhos mais complicados de terminar), eis que O Arcano Nove chega nas minhas mãos. Dada a velocidade com a qual devorei esta belezinha, acredito que esteja tranquilo bater a meta.

Este é o segundo livro da série A Mediadora. Não faz nem 20 dias que eu li o primeiro volume e adorei. Acho a Suzannah, a protagonista, uma delícia. Adoro a forma kick Ass que ela tem de resolver os problemas sobrenaturais. É engraçadíssimo!

Não sei se tem gente que leva esse livro à sério... Bem, eu não consigo levar. Acho diversão purinha. E da boa. No primeiro volume, quase morri de rir com o exorcismo à brasileira. Neste segundo, tentar matar um vampiro com um lápis foi demais para mim. Ri, ri e ri.

Dizem que a série fica repetitiva porque em cada volume a moça manda uma alma para o além. Bom, por enquanto, ainda não achei repetitivo, mas acho que isso se deve mais ao fato de que gosto do estilo falastrão da protagonista e não da história de fantasmas em si. (Para quem não viu o outro post, o livro é sobre uma menina que vê alma e tenta ajudá-las a fazer a passagem)

Nesse volume, Suzannah vai ajudar uma mulher que entra no seu quarto gritando à noite e acaba se metendo numa confusão maior ainda com assassinos de verdade. 

Ah! Quase nem falei. Como trama paralela, tem também o fantasma gostosão que mora no quarto dela há 150 anos. Ele parece um tantinho enciumado com o fato de Suze, ou hermosa como ele a chama, andar trocando uns beijinhos com um garoto. Não sei como isso vai dar certo... O cara tá morto!

O fato é que ando gostando muito da série e pretendo ler o restante dela, mas só depois que eu diminuir um pouco a quantidade de livros comprados e não lidos do meu estoque. 

Então, vamos a luta!

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Promoção Submarino

Este fim de semana aconteceu um desastre: promoção no site Submarino. Cinco livros por R$10,00 cada. Lançamentos! Senti meu cartão de crédito gritar por socorro. Infelizmente, ninguém o acudiu e ele sangrou. Estou R$100, 00 mais pobre (pelo menos, parcelei em cinco vezes). O resultado foram oito livros novos (nem reclamei do frete que foi baratinho). Olha a lista aí embaixo:
1- Sentimento do mundo - Carlos Drummond de Andrade
Ler Drummond não é sacrifício para ninguém. 

2 - Eu sou o número quatro - Pittacus Lore
As resenhas que tenho lido sobre este livro não sou boas, porém, a premissa é interessante. Resolvi dar uma chance. Meus alunos também se mostraram interessados. Trata-se de alienígenas que vem se esconder aqui na Terra, mas alguém quer matá-los. Só que para matá-los é preciso seguir uma ordem. Então, vamos acompanhar o que acontece com o quatro, né? E quem sabe descobrir o que aconteceu com o um, dois e o três.

3 - Feios - Scott Westerfeld
Não sei muito sobre esta série ainda. Sei apenas que está fazendo um sucesso estrondoso e vejo os títulos em todos os lugares. Pelo que entendi, também tem algo de ficção científica. Vamos ver...

4 - Por isso a gente acabou - Daniel Handler
Outro lançamento muito comentado por aí. É um livro sobre fora. Quase ninguém escreve sobre isso, não é verdade? A sinopse diz que vamos acompanhar a protagonista pelo processo de superar um relacionamento. Pode ser bom ou pode ser Pepsi, não sei que bicho vai dar. As críticas também não são boas.

5 - Coisas Frágeis 1 - Neil Gaiman
Chegou a minha vez de conhecer o trabalho do tão falado sempre: Neil Gaiman.

6 - Clã dos Magos - Cuidado com o que você deseja, você pode se tornar um deles - Trudi Canavan
Trilogia. Mundo de fantasia. Um clã de magos. Uma criança escolhida. Deve prestar. Já ouvi tanto falar dele que vou dar uma chance, não custa nada. Quase nada. Cerca de R$12,50, pelos meus cálculos.

7 - Esperando por você - Susane Colasanti
Chick-lit, lançamento, muito vendido. Dois rapazes e uma garota indecisa, acho que conheço essa história de algum lugar...

8 - Comédias para se ler na escola - Luís Fernando Veríssimo
Veríssimo é Veríssimo. Sempre engraçado. Não espero nada menos do que isso dele. Para mim, esse senhor tão tímido é a porta de entrada mais divertida para a literatura nos dias de hoje. 

Diante deste agressivo abuso da capacidade de comprar, estou entrando de greve. Não compro mais nenhum livro até reduzir minhas leituras a seis livros não lidos. Você deve estar pensando que vai ser rápido. Ledo engano. Os livros estão chegando aqui em casa numa velocidade maior do que consigo acompanhar. Olha quem ainda está por aqui:
9 - Cinquenta tons do sr. Darcy - Uma paródia
10 - Toda Poesia - Paulo Leminski
11 - Eragon
12 - Arcano nove - sequência da série A mediadora
13 - O livro do amanhã
14 - Sangue, ossos e manteiga
15 - Os melhores contos fantásticos do século XIX
16 - Os cem melhores contos brasileiros do século
17 - O restaurante do fim do universo

É gente, vou estar ocupada por uns dias...

domingo, 26 de maio de 2013

Soul Love - À noite o céu é perfeito

Terminei de ler esse livro aí do lado nesse exato momento. Não esperava muita coisa de um título breguinha como esse, mas até que me surpreendeu...

Lynda Waterhouse tem uma narrativa clara e coesa com a realidade do jovem. Ela me lembra eu mesma. O que, sem falsa modéstia, achei uma coisa boa. Jenna, a personagem principal, é uma adolescente com toda a bagagem chata de rebeldia que só alguém dessa faixa etária poderia ter. Enfim, a personagem me convenceu e a história me convenceu.

Jenna causou problemas na escola e a mãe, cansada de enfrentar sua rebeldia, a manda passar um tempo com a tia alternativa. Na casa dessa tia, Jenna percebe que ser adulto não significa necessariamente crescer. Diante dessa tia meio irresponsável, ela se vê tendo de tomar decisões e ser a pessoa sensata da casa. Adorei essa parte. Não sei se minhas experiências pessoais interferem nesse caso (provavelmente sim já que escolhi amadurecer muito cedo), mas acho que ser adulto, muito mais do que uma questão de idade, é uma escolha. Claro que o fator tempo é preponderante, mas apenas como elemento natural do amadurecimento, não enquanto questão sine qua non.

Voltando a Jenna, na pequena cidade da tia, ela faz novos amigos e conhece Gabe, lindo e misterioso. Ao lado dele, a insuportável Cléo que não o deixa nunca. A relação deles é uma amorzinho fofo. Permeado de quase e talvez e agora não. Jenna cria coragem e revela seu segredo. Gabe também revela o seu. E é um segredo imenso. 

Bom, é bonito ver como Jenna cresce. Suas dúvidas são tão comuns e tão profundas. E aí, de repente, ela entende que o mundo é bem maior que a cabeça de uma adolescente e que contos de fada não existem. Não posso revelar muito mais do livro, seria dar spoiler. E o choque de algumas revelações é necessário para que a história tenho o clima certo. Eu recomendo.

Gostei principalmente da ponte bem-feita que a autora constrói entre o mundo adulto dos problemas intransponíveis e o universo adolescente da tempestade em copo de água. A vida não é um paraíso, mas pode ser muito boa. Acho que Jenna aprende essa lição com aqueles que estão ao seu redor. Interessante é que o livro termina sem dar várias explicações, o livro termina com um começo, um novo começo, mesmo assim, não se pode dizer que não existe uma parte da história que não tenha acabado. 

Ficou curioso?
Vai ler, oras...

sábado, 25 de maio de 2013

3000

Foi com uma imensa satisfação que vi o blog alcançar os 3000 acessos antes do final do mês de maio. Por um instante, cheguei a considerar que o número 3000 viesse acompanhado da centésima postagem, mas isso não aconteceu. Graças a vocês!

Gente, que bacana! Meus adoráveis ouvidos do universo, adoro a companhia de vocês. Pelas minhas contas, diariamente, pelo menos 31 pessoas acessam o blog. E eu que pensava falar\escrever para as paredes, percebo que tem sempre gente nova ouvindo\lendo o que eu digo.

Considero a presença de vocês aqui antes de tudo uma honra. Além disso, uma grande responsabilidade. Tenho noção de como a internet está repleta de informações interessantes. Se você está escolhendo me acompanhar, só posso considerar um privilégio.

Também sei que falar sobre livros não é o assunto favorito de muita gente. Dos meus alunos principalmente, então, que bacana saber que vocês estão por aqui e que venho os inspirando fora de sala de aula também. Aos amigos queridos e parentes, que posso dizer: Vocês caminham junto comigo desde sempre e, por mim, é assim que deve continuar a ser. Obrigada mesmo pelo apoio, pelas curtidas no face, pelos compartilhamentos... Tem valor inestimável!

Escrever é antes de tudo um sonho. Por enquanto, é um sonho difícil de alcançar. Editora, contrato, publicação, tudo soa tão distante. Porém, quando vejo o carinho com que meus textos são tratados, a aceitação, os comentários e o número de pessoas que aos poucos vou conquistando com as palavras, eu vejo que não é impossível. Que estou muito mais perto disso do que estava anteriormente.

Enfrentar um sonho deste tamanho nem sempre é fácil. A impressão é a de que tudo conspira para que permaneçamos no anonimato. Felizmente, o projeto do blog é um verdadeiro sucesso! Isso me anima a continuar a cada novo "não" que recebo. Pois, nunca imaginei que tanta gente viesse me visitar em tão pouco tempo. Estou 3000 vezes mais feliz.

Principalmente porque além de vocês, meus conhecidos, tenho tantas visitas estrangeiras que me surpreendem todos os dias. Não é possível que seja apenas uma questão do acaso, ou será... Não importa!
 Hey guys, I would like to thank you too. I really don't know what are you doing here or how did you've come. But you're welcome, ok... So... Thank you so much!

No mais, gente, vamos para frente! Continuo lendo e escrevendo e vocês vão me dizendo o que acham... Rumo aos 4000 acessos. Um dia desses, eu chego no Jô com meu livro na mão. Até lá, a gente vai se vendo.


sexta-feira, 24 de maio de 2013

A Elite

Tem horas que eu acho que esse papo de adulto não me convence. Certas narrativas me levam de volta aos dezesseis anos com uma velocidade impressionante. Quase me convenço de que não saí dessa faixa etária. Gente, o que posso fazer? Eu estou completamente apaixonada pela trilogia de Kiera Cass. Terminei de ler A Elite e estou ainda arrebatada pela capacidade dessa criatura de me manter grudada no príncipe Maxon.

A situação, aliás, já está beirando o ridículo. Gente, eu tenho mestrado! Vá lá que não é em Literatura, mas quem me vê assim de longe pensa que eu tenho algo de intelectual, de erudito. Que nada! sou do povo. E tô aqui toda abestadinha torcendo que esse menino case logo com essa moça e que sejam felizes para sempre como em todo conto de fada. Mas, vou te dizer, isso é constrangedor. De viciada que sou, estava lendo lá no trabalho, inocente total. Os outros professores, ávidos de beber nessa minha fonte (falsa) de erudição, sempre ficam olhando para as capas das minhas leituras, todos prestimosos de discutir Foucault ou Machado de Assis. A cara de decepção quando encaram essa capa aí do lado chega a ser embaraçoso. Tô nem aí! Problema deles se acham que só tenho que ler coisa cult! 

Quanto a história do livro, continua aquela coisa fantástica entre O diário da princesa e Jogos vorazes. Agora, o bicho tá pegando mais porque está evidente que o príncipe não concorda com as atitudes pouco diplomáticas do pai. Pelo jeito, uma guerra se aproxima e o coitado do rapaz tem muita coisa para resolver dentro e fora do palácio. 

As ceninhas de romance são fofas e tensas. É difícil uma protagonista heroica como a América estar submetida a uma situação de ver o seu "amado" com outras e ter de concordar com isso. Além da situação caótica do país, é claro. A mina pira e faz cagada. E as cagadas dela também são pouco diplomáticas, nossa, ela não cede nunca. Sobra para o Maxon limpar tudo. Estou solidária a ele nesse momento. Até porque a América é ciumenta, mas não larga a mão do seu guarda particular, o ex dela. Barraco geral e atmosfera de mistério. Tá massa!

E minha defesa, continuo achando essa história inverossímil e bizarra. Mas simplesmente adoro. Isso porque a encaro como pura fantasia e diversão. Vestidos, tiaras e fome mundial nem combinam e eu sei de tudo isso. Porém, o que é que custa embarcar numa fantasia improvável de vez em quando? Eu tô nessa e já quero o último volume. Pode ser?


quarta-feira, 22 de maio de 2013

mais um dia na caminhada...

Hoje estou tristinha, tristinha, tristinha...

Recebi mais uma proposta de editora. Nossa! Como o coração bate mais forte nessa hora.

Infelizmente, a proposta incluía R$14.950,00 de investimento meu. E eu não tenho esse dinheiro. Se tivesse eu dava...Mas eu não tenho.

É muito ruim olhar para um sonho e não conseguir realizá-lo, mas eu não vou desistir. Acredito que tenho talento. Acredito que vou conseguir. Acredito que o meu livro vai vender pra caramba um dia. 

Mas que bate uma insegurança bate...

Tristinha, tristinha tristinha...

Fica para outro dia, sonho!

terça-feira, 21 de maio de 2013

mundo YA

Primeira vez que eu vou seguir uma tag... E o que é uma tag? Recorramos a wikipédia:

Uma tag, ou em português etiqueta, é uma palavra-chave (relevante) ou termo associado com uma informação (ex: uma imagem, um artigo, um vídeo) que o descreve e permite uma classificação da informação baseada em palavras-chave.

Tags ou etiquetas são, usualmente, escolhidas informalmente e como escolha pessoal do autor ou criador do item de conteúdo - isto é, não é parte de um esquema formal de classificação. É um recurso encontrado em muitos sites de conteúdo colaborativo recentes e por essa razão, "tagging" associa-se com a onda Web 2.0.

Normalmente, um item tem uma ou mais tags ou etiquetas associadas a ele.


Bom, então, uma tag é um texto colaborativo. No caso, um assunto a ser discutido por vários autores em diferentes pontos do globo como um único texto sem fim. Ah essa tecnologia maravilhosa!

Hoje, estou seguindo novamente Tati Feltrin do Tiny Little Things. A tag se chama Mundo YA. E vamos nós responder as 10 perguntas.

Antes disso, porém, acho que talvez seja necessário explicar o que cargas d'água vem a ser um YA. YA vem de Young Adults. Em português, timidamente, vem surgindo o Jovens Adultos. Em poucas palavras, trata-se de um gênero de livros especificamente para jovens entre o colegial e o período da faculdade. Enquanto no exterior esse mote atinge cifras meteóricas de lançamentos praticamente semanais, aqui no Brasil ainda é um mercado tímido, muita vezes confundido com o gênero que conhecemos bem, o infanto-juvenil. Quanto mais entro nesse universo, percebo que são coisas distintas, assuntos distintos, interesses distintos, porém, nas terras tupiniquins, diferenciá-los não é tarefa fácil. De modo que algumas das minhas escolhas talvez sejam consideradas por vocês, leitores, com classificação diversas.

1) YA: Contemporâneo, sobrenatural ou fantasia?
Vixi! Gosto de todos. Foi bom: tô lendo e tô gostando. Minha quedinha pela fantasia é mais evidente entretanto. E acho que não me dou muito bem com os romances ya atuais que estão praticante alicerceados em doenças terminais ou distúrbios psicológicos.

2) Qual seu autor ya favorito?
Essa resposta é meio controversa porque não sei se ele se encaixa em ya, talvez muita gente o veja como infanto-juvenil, mas eu não estou nem aí, para mim, Pedro Bandeira é o senhor de todos os adolescentes brasileiros sempre. AMO! Foi pelas mãos dele que cheguei até aqui. Carinho eterno.
3) Qual a melhor capa?
Adoro a capa de A culpa é das estrelas de John Green. Não tem nada de extraordinário, mas acho que esse azul lindo me seduz de uma maneira incontrolável. Além disso, é positivo e adolescente como a própria história, que apesar de trágica é linda.

4) Qual a melhor série?
Perguntinha capciosa... Acho que não devemos contar com Harry Potter. Se for assim, vai todo mundo, ou quase todo mundo, responder a mesma coisa. Afinal, quem é que não adora essa série? 
Então, claro que amo Harry Potter, mas vou escolher outra série. Gosto demais da pegada mitológica do Rick Riordan com Percy Jackson. Além disso, cresci com Os Karas do Pedro Bandeira, eles têm lugar cativo no meu coração. Mas posso facilmente citar mais umas três séries pelas quais sou apaixonadinha. 

5) Qual o melhor livro avulso?
Vou dizer que é A Moreninha para defender a classe dos professores de literatura. Adoro esse livro, mesmo ele não sendo nada contemporâneo (foi lançado em 1844, Romantismo Brasileiro). O livro é a cara da breguice de tão fofo. Amo mesmo. Não acho que YA precise ser recente. Augusto e Carolina vão para sempre fazer parte da minha adolescência. Você não leu? Pois leia. Seu Joaquim Manuel de Macêdo sabia falar de amor. A linguagem atrapalha um pouquinho sim, mas o que um mancebo diante de uma amor que vence tudo?

6) Você conhece e gosta de algum YA brasileiro?
Acho que a resposta já está meio óbvia, não é? Claro que conheço. Já que é para falar de algum, vou citar um do meu tempo Depois daquela viagem da Valéria Polizzi. O livro completou quinze anos, mas a história continua atual. É auto-biográfico, sincero e bem escrito. Conta a história de como Valéria adquiriu tão jovem e convive com o vírus da AIDS e o preconceito das pessoas. Indico demais.

7) Qual é o ya mais engraçado que você já leu?
Não sei se é YA, mas acho A diário de Bridget Jones engraçadíssimo. O volume dois mais ainda. Matutado essa pergunta, fiquei pensando em colocar como resposta Os delírios de consumo de Becky Bloom, série que eu só faltei morrer de rir, mas daí me lembrei das cenas de Bridget na Tailândia e meu coração balançou. Fico com ela então.

8) Qual foi a maior surpresa ya?
Surpresas são várias... Vou citar a mais recente. Estou gostando demais da distopia da Kiera Cass. Meninas lutando pela coroa do príncipe Maxon. Não esperava muita coisa de A seleção, agora, conto os dias por A Elite que está chegando.

9) Qual a maior decepção?
Vou cometer um pecado mortal dizendo isso. Já vejo fãs enlouquecidos me caçando pelas ruas. Acontece que não acho o sétimo livro da série Harry Potter (Relíquias da morte) esses balaio todo não. Para mim, ela (JK Rowling) deixou coisa demais para o fim e se embananou com alguns finais. Não me incomodei com a mortes, mas sim com alguns desfechos. Acho a cena da Sala Precisa, por exemplo, podre. Como duas portas daquelas aprenderiam a conjurar um feitiço daquela natureza se nem conseguiam amarrar os próprios sapatos? Enfim, melhor calar que dar spoiler, mas que é mais fraco que os outros livros, isso o sétimo é.

10) Qual a melhor adaptação para o cinema?
Para mim, A princesinha. Acho aquele livro lindo. Aquela menina linda. O figurino lindo. A fotografia linda. Irretocável!

segunda-feira, 20 de maio de 2013

A última princesa

Na minha caminhada pelos vlogs literários da vida, acabei me deparando com este canal A Vi viu. A moça é bem simpática e temos alguns gostos parecidos. Gosto de vlogs que não falam sempre sobre os mesmos livros que estão nas paradas de sucesso. Sabe como é, todo mundo fala sobre A culpa é das estrelas do John Green, que é ótimo, mas será que não tem milhares de outras coisas ótimas por aí? Eu acho que tem. E os vlogs têm um papel importante em apresentar essas novidades para a gente.

Particularmente, fiquei muito satisfeita com esse canal, porque a Vi fala sobre outros livros também, não somente os mais carimbados e os lançamentos do mês. Foi lá que descobri A última princesa do Fábio Yabu.


Somente o nome do autor já me chamou atenção. Esse cara é bastante talentoso e vem abrindo portas num mercado incomum para brasileiros. Para vocês terem uma ideia, ele é o criador da série Princesas do mar, que além de livros, virou desenho exibido em várias partes do mundo pela Discovery Kids. Disso eu já sabia. Queria muito conhecer um pouco mais sobre o trabalho dele, mas nunca encontrei oportunidade já que é um trabalho voltado mais para o público infantil. Por isso, encantei-me com a proposta de A última princesa.

Neste livro, Yabu escreve em forma de fábula um fato específico da História do Brasil, a amizade entre a Princesa Isabel e Santos Dumont. Esse fato eu desconhecia, portanto, apesar de o enredo ser extremamente fantasioso, adorei a premissa real. Tão real que, além das ilustrações lindinhas, temos muitas fotos históricas, o que torna o livro um instrumento mágico para instigar jovens leitores a conhecer a História do Brasil. 

Temos um enredo cheio de elementos fantásticos como maldiçoes, feiticeiros e mágica, mas, ainda assim, o cheiro da História com H maiúsculo está lá. O autor deixa claro, por exemplo, o amor do povo brasileiro por Dom Pedro II, que ainda é considerado por muitos um dos melhores governantes que o Brasil já teve. Eu, leitora mais velha, mais experiente, fiquei me perguntando se já estamos prontos enquanto brasileiros para encarar o fato de que o Império não foi de todo ruim como defendiam Machado e Lima. Que fomos muito precipitados em querer uma República se não sabemos o que fazer com ela, como administrá-la. Mas esse é um outro papo...

O livro é notadamente infanto-juvenil. Talvez encante alguém na faixa dos doze, treze anos. São poucas  páginas e a história flui entre o passado da princesa vivendo no seu reino, do qual ela acaba banida, e o presente no exílio tendo como companhia o jovem Alberto, inventor que pretende construir uma máquina voadora capaz de levar a princesa de volta para casa.

O que mais gostei nesse livro é a parte gráfica. Está lindo. Da escolha das cores e texturas às ilustrações, um cuidado que um livro infantil merece. Algo feito para ficar na memória e enfeitar estantes. Fico imaginando as meninas fantasiando com princesas em seus reinos distantes e que acabam descobrindo uma princesa brasileira. Mais uma mulher para a sua coleção de exemplos positivos. 

Enfim, fiquei muito feliz com essa leitura e recomendo demais para dar de presente para jovens leitores.

sábado, 18 de maio de 2013

RELICÁRIO


─ Por que é que você está chorando?

Aquele menino de olhos verdes imensos se aproximou dela sem pedir licença. Vinha segurando um saco enorme de Cheetos e comia sem dar a mínima para a quantidade de calorias no pacote. Ele era magro, esquelético, um saco de ossos, na verdade. Mas aqueles olhos, nossa, que olhos! Eles tinham uma fúria. Uma coisa meio diabólica. Sei lá. Era como se aqueles olhos guardassem todo o ódio do mundo.
Por um instante, pensou em ter medo dele.
─ É muda, menina? Eu perguntei por que é que você está chorando? – O tom de voz era grosseiro, só que algo ali naquele quadro não parecia real. E ela era boa em observar pessoas. Tinha só oito anos de idade, mas era boa em reconhecer mentiras. E o menino na sua frente era uma farsa. Podia apostar sua coleção de revistinhas da Turma da Mônica que era.
Para começo de conversa, dos meninos idiotas da sala dela que estavam jogando futebol, parecia que somente ele percebera que ela estava chorando. E olha que ela disfarçava muito bem. Sabia chorar por dentro com um sorriso nos lábios e convencer até o seu avô de que não ficara magoada com as brincadeiras sobre o seu peso.
Há quem diga que a infância é o melhor tempo da vida. Ana Maria sabia que isso não era a verdade. Por conta de uns quilinhos a mais, ela descobriu muito cedo que a maldade humana se esconde nos rostinhos angelicais de menininhas de bochechas rosadas e rabos de cavalo. Descobriu que o diabo deve ter por volta de oitos anos, porque ninguém é tão ruim quanto às crianças dessa faixa etária.
─ Não estou chorando. – A menina se levantou zangada. Limpou as lágrimas com as costas das mãos. Era maior do que ele.
─ Está sim. – Ele balançou a cabeça muito ciente de que estava falando a verdade como fazem todos os garotos de oito anos que estão falado a verdade. – Você está com a cara toda vermelha. Está fungando. E isso aí na sua mão são lágrimas. Você está chorando sim. – Empurrou um punhado de Cheetos na boca.
─ Estou doente. Estou com dor de cabeça. – Usou a justificativa da mãe para fugir de todo os problemas. Ninguém pergunta mais nada quando a outra pessoa está doente.
─ Mentira! – Os olhos verdes do menino, muito escuros, estavam olhando direto para ela. Para dentro dela. A maneira como ele disse que era mentira também a assustara. Havia raiva demais naquela palavra. Não era comum ver crianças com raiva. A maldade delas era por prazer, não por raiva. O menino tinha raiva. Mais uma vez o medo veio na garganta. Mais uma vez ele não chegou na cabeça. Precisava se lembrar que sua primeira impressão foi a de uma farsa.
─ Não sou mentirosa. – Ana Maria o encarou. Devolveu o olhar com a mesma raiva. Não era comum ver crianças com raiva, mas ela conhecia esse sentimento. Era muito fácil deixar ele vir. Ela tinha tantos motivos para ter raiva que se aquele menino queria brigar, que brigassem. Descontaria naquele saco de ossos todos os insultos, todas as brincadeirinhas das menininhas das bochechas rosadas sobre o seu peso.
─ É sim. – Ele continuava com toda a razão do mundo. – Você estava chorando porque aquelas meninas te chamaram de rolha de poço, de baleia, de balofa...
─ E você? – Ela interrompeu a lista de xingamentos que já conhecia de cor. – Veio aqui me aborrecer também? – Gritou com ele.
Ela desabou no chão. Não segurou mais as lágrimas. Estava tão cansada daquilo tudo. Por que ela não podia ser magra como as outras meninas? Por que ela tinha de ser a fofinha da mamãe? A gordinha da vovó? A pesadinha do papai? Ela só queria que por um instante ela pudesse ser somente a Ana Maria. Não compreendia, na sua meninice, por que o seu peso incomodava tanto as pessoas. Ia descobrir depois que o que tanto incomoda é a diferença.
O menino sentou-se do lado dela. Ficou ali calado. Não a tocou. Não tirou brincadeira. Ficou comendo o Cheetos tubinho por tubinho. Os alunos estavam indo embora. Nem os pais dele nem os pais dela apareceram. Os pais dela estavam trabalhando feito loucos para comprar um apartamento, a escola nova toda chique levara boa parte do orçamento deles, mas era prioridade. Já tinham conversado com ela sobre um transporte escolar, mas não haviam tomado providências, portanto, vinha esperando bastante por eles. Os motivos da espera do menino ela não conhecia.
Ficaram os dois ali por um bom tempo. Ela chorando. Ele comendo Cheetos. Até que ela se acalmou e ele ofereceu o salgadinho inclinando o pacote na sua direção. Ana pegou um punhado de tubinhos. Estava com fome. Agradeceu com um sorriso e tomou um susto, os olhos do menino não estavam mais escuros. Continuavam verdes, mas agora eram claros, translúcidos.
─ Meu pai morreu. – Ele disse. Disse com a mesma simplicidade que se diz que se comprou um pacote de bolachas no supermercado. Ela não sabia o que dizer nessa hora. Não sabia ao certo o que era a morte. Nunca perdera ninguém. Mas vira em um filme que se dizia “sinto muito”.
─ Sinto muito... – Hesitou. Não se lembrava do nome dele.
─ Vinícios. Meu nome é Vinícios. E o seu? – Continuavam comendo o pacote de Cheetos, cúmplices, velhos amigos, como só as crianças sabem ser em tão pouco tempo.
─ Ana Maria.
─ Eu não achei legal o que aquelas meninas fizeram com você.
─ Também não achei.
Mais tempo. Mais Cheetos.
─ Você vai falar com a diretora? – Ele retomou o assunto. – Elas empurraram você do escorregador. Você poderia ter caído.
─ Mas eu não caí. E nem vou cair, Vinícios. Não é qualquer magricela que vai me dizer o que eu posso ou não posso fazer nessa escola. O escorregador não é delas. O meu pai também paga essa escola. Eu também tenho o direito de usar. Sendo gorda ou sendo magra. Não é verdade?
─ Não sei. Meu pai não paga essa escola.
─ Desculpa. Eu me esqueci.
─ Tudo bem. É meu avô que paga...
─ Ah! Eu gosto do meu avô.
─ Eu detesto o meu.
Mais Cheetos. Mais tempo.
Os tubinhos finalmente acabaram, mas aquela amizade estava apenas começando.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Eu acho lindo!

Para quem não sabe, eu sou professora do terceiro ano do ensino médio de uma escola pública em Maracanaú, município industrial ao redor de Fortaleza. Então, às vezes, eu me vejo meio como uma chave para uma porta muito difícil de abrir, uma porta que tem dezenas de trancas complicadas. Muitos dos meus alunos não se interessam por essa porta. Muitos, infelizmente, sequer compreendem as razões pelas quais seria bom atravessar essa porta ou o que eles podem encontrar de fato atrás dela.

Mesmo esses alunos são interessantes. Mesmo esses alunos tornam a minha vida um eterno aprendizado. Mesmo esses alunos, com tantos problemas, com tantas estórias, de tantas personalidades diversas, tantas piadas, bem, esses também ajudam no crescimento deste meu espírito em evolução. Porém, hoje não vim falar deles. Vim falar de todos os alunos que ao longo dos três anos em que trabalho naquela instituição de ensino deram sentido à minha profissão. Meninos e meninas que me entenderam como essa chave e não desistiram diante das trancas, pelo contrário, enfrentaram cada uma delas como leões e abriram a porta. Para eles está reservado um lugar que não à toa se chama UNIVERSIDADE, pois é todo um universo que se abre para quem vem de microcosmos tão pequenos como o interior do Ceará.

Para vocês, meus queridos, meu eterno agradecimento, pois, como no gif animado do Iron Man aí em cima, pode até parecer que é o Robert Downey Jr que está sendo bacana com o menininho, mas na verdade, o grande presente quem recebeu foi o ator. Afinal, a confiança de alguém não é algo fácil de se conquistar. E saber que, de alguma forma, nós, professores, contribuímos para conquistas tão grandes, fazem da gente meio isso, pessoas com superpoderes. 

Eu AMO o que faço. Provavelmente, dada a minha paixão pelo estudo da linguagem, eu estaria fazendo isso com ou sem vocês, num amor platônico, individual e solitário. Mas vocês tornam o processo muito mais bonito, posso garantir. Quando vejo meu facebook lotado de piadas de faculdade, de ônibus, de preço de xerox, de manifestações de amor aos cursos escolhidos, nossa, é quase tão bom quanto passar eu mesma no vestibular (já mencionei anteriormente que minha profissão é um tipo de vampirismo, é mesmo). A lembrança dos seus olhinhos brilhantes diante da explicação iluminam meu caminho diário e me fazem acordar com disposição para uma rotina de trabalho pesada que muita vezes termina sem voz. Vale a pena!

Não acho bacana citar nomes aqui. Porém, é necessário dizer que vários de vocês me marcaram e deixam saudade. Saudade da boa. Saudade edificante. Vocês são o alicerce da minha escolha. Vocês são o motivo. E quanto orgulho vocês nos dão. Essa semana, foram tantas manifestações de carinho que  nem sei como não expressar esse sentimento. Nossa escola foi a escola que mais aprovou no ENEM 2012 na Crede 01. Nós ajudamos a colocar uns 60 de vocês em contato com o universo de possibilidades que é a vida de estudante lá fora. Além disso, tivemos um aluno que tirou 1000 em redação, um menino guerreiro e iluminado que vai conquistar tudo que quiser se continuar com essa força para lutar. Falando de Macunaíma na sala de aula, eu nem penso muito nisso, pois a minha paixão pela literatura me consome demais para que eu preste atenção em outras coisas, mas esses dados jogam na minha cara que eu faço parte dessa história de vocês, que essa história é nossa. E que história linda , gente.

Mas, a história em particular que me fez escrever esse post, sequer aconteceu comigo. Porém, emocionou-me demais. Esse menino, protagonista desse relato a seguir, é um cara fora de série. Ser humano de uma humildade incrível e que ensinou muito mais do que aprendeu quando nos presenteou com sua presença na escola. Tenho um amigo, professor de matemática, que também ensina numa universidade. Algumas vezes, ele tem dúvidas sobre resoluções de questões. É prática comum entre professores de matemática compartilhar estas questões para encontrar melhores soluções. Como o ex-aluno em questão está fazendo matemática, meu colega mandou o problema para ele, que o resolveu brilhantemente. Meu colega, emocionado, pois é assim que nos sentimos quando vocês nos superam, escreveu um e-mail agradecido, enaltecendo as habilidades do rapaz. Eis o que ele respondeu, grande como sempre foi: professor, parafraseando Newton, se hoje enxergo mais longe foi porque eu estava de pé sobre ombros de gigantes.

Ah! Bruno (desculpe-me citar seu nome), o que é que a gente faz com você, garoto? Precisa ser tão fofo assim? Você é um dos meus motivos para continuar. É para dar aulas para caras como você que eu acordo todo dia. Enfim, acho linda a sua história e de tantos outros Brunos, Alessandras, Lindas, Danielas, Anas, Lucas, Marílias e Ítalos  que já passaram na minha vida e que vão continuar a passar.

Enfim, ontem, no trajeto de volta para casa, eu vinha pensando justamente nisso. Sabe  que é que eu acho lindo? Lindo mesmo. Aquilo que dá vontade de ver e ver e ver repetidamente, é uma cena que não canso de assistir. Acho lindo aluno de escola pública passando no vestibular para as universidades públicas.

terça-feira, 14 de maio de 2013

O 14 e o 30


Hoje, dia 14, é o aniversário o de uma das pessoas mais chatas que eu já conheci. O Raphael.

O Raphael detesta multidão. Detesta mulher que anda de salto sem saber. Detesta o Rio de Janeiro porque tem muito carioca. Detesta a Bahia porque tem muito baiano. Detesta o Rio Grande do Sul porque tem muito gaúcho. Além disso, ele detesta quem explica as coisas usando Freud. Detesta religião. Detesta trânsito. Detesta gente burra  e gente enrolada. Detesta comida guardada na geladeira. Detesta político que faz lei estúpida. Enfim, não gosto, detesto e não suporto estão entre as palavras que ele mais usa.

Em vários aspectos, não é uma tarefa fácil ser casada com ele. Ele é metódico. Planeja tudo até o último detalhe, até a hora certa de cair os cílios. Nas viagens, calcula se o valor do chiclete tá no orçamento. E guardar as compras do supermercado era uma arte que eu não fazia ideia de que existia antes de conhecê-lo, o porta-malas do carro parece um jogo de Tetris (nem sempre a partida termina rápido). Além disso, ele é rabugento. Já me acostumei, ele jamais vai dizer sim para um programa da primeira vez. Nem mesmo para o Paul McCartney por R$85,00 ele disse sim de primeira. Sem falar que sabe ser teimoso como uma mula manca empacada ( é sério, quando ele está nessa vibe de teimar, ele não concorda com você nem diante do teste de DNA da verdade esfregado na cara dele). Também não posso deixar de citar a memória dele que é uma merda. Sabe-se lá quantas vezes eu tive que dizer que a minha prima estava grávida, ou quantas vezes ele me contou a mesma história com um tom de novidade. Além, é claro, da capacidade de soar grosseiro com quando ele me deu oito e meio, ou quando sugeriu anos atrás me levar para casa na noite de núpcias e voltar para tomar uma vodca com os amigos no bufê ou disse que minha roupa parecia a cortina da casa da avó dele, romantismo tendendo a zero. 

Mas acontece que eu o amo.

Amo porque não tem pessoinha mais feliz do que ele quando tem purê de batata para o jantar. Amo porque ele tem umas baixadas de Caboclo Faxineiro vez em quando que ele só exorciza quando lava a louça, a roupa e arruma as estantes. Amo porque ele vai no quarto e fala boa noite para mim mesmo se eu já estiver dormindo (durmo cedo). Amo porque ele é muito prestativo com a minha família, mesmo quando eu não sou. Amo porque ele resolve problemas, todos os que ele consegue, para que os problemas não cheguem em mim. Amo porque ele chorou feito um menininho no nosso casamento, o que deixou toda as minhas amigas com inveja e deixou as fotos lindas.

Amo porque ele me escolheu. E amo porque ele é a minha escolha para a vida inteira. Amo porque ele já é chato, e como ele mesmo diz: a tendência é que nós acompanhemos a chatice dele com a chegada da idade (cada vez mais comprovo que esta talvez seja uma verdade).

Raphael, enfim, os 30 chegaram para nós dois e somos adultos. Essa década promete: filhos, dores de cabeça, prestação de carro, casa, escola de menino e talvez calvície. Não tô nem aí. Se for para estar com você, vai ser ótimo...

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Anos 60: conflitos e desenredos

Mais uma seção de contos vencida de Os cem melhores contos brasileiros do século. Dessa vez, os anos 60. Ainda conheço muita gente do período, eles fizeram parte da minha vida de leitora, da minha vida de estudante, eles figuravam meus livros didáticos e sabe-se lá quem eu teria sido sem eles.

Pelo que pude ver, a década de 60 é definitiva para o conto brasileiro. Ali estão plantadas as raízes do conto contemporâneo: a introspecção, o esvaziamento da vida urbana e a concisão. Nesta seção, estão 16 contos intensos e de uma precisão cirúrgica: na comédia, no fantástico e no crime. Foi até difícil escolher de quem falar. Escolhi O homem nu, A máquina extraviada, A caçada e Uma vela para Dario, numa opção consciente de falar sobre Clarice Lispector na seção seguinte. 

O primeiro conto que escolhi é O homem nu do Fernando Sabino. Ele é bem básico, na verdade, inclusive, o autor o classificou como crônica, mas nem convém a discussão sobre a diferenciação dos gêneros agora. Na história, um homem sai para pegar o pão na porta de casa e acaba trancado do lado de fora. Engraçadíssimo. Tanto que virou até filme. Tenho um carinho especial por essa história porque ela estava no meu livro didático da sexta série lá no Colégio Imaculada Conceição. E eu adorei, foi uma das primeiras vezes que tomei consciência de que a literatura não precisava ser tão sisuda. Praticamente me apaixonei por Fernando Sabino e li várias coisas dele depois.

A máquina extraviada de J.J. Veiga é um conto curto. Ele dá início a um processo que a minha mente (mais matemática do que deveria ser para alguém das humanas) repele no estilo contemporâneo. O leitor precisa participar. Ele precisa contribuir, porque nem tudo está no papel. O conto termina de acordo com o que você acha que é. Lombra louca? Nem tanto. Entramos no universo das sugestões. A história é essa, uma máquina enorme é abandonada no meio de uma cidade. O que é? Ela serve para quê? O que os cidadãos farão? Bem, aí você decide.

A caçada de Lygia Fagundes Telles é apenas uma amostra do imenso talento desta mulher. Sério. queria ser ela na sua inteligência, sagacidade e capacidade criativa. este conto vemos um homem fascinado por uma tapeçaria exposta numa loja de antiguidades. A tapeçaria mostra uma caçada. Aos poucos, ele vai percebendo detalhes do caçador e da caça, ele também vai sentido que conhece a cena, que sabe como ela termina, ele reconhece a sensação das figuras ali ilustradas. Cada vez mais ele sente que pertence àquele cenário, só não sabe qual é a sua posição, até que é tragado lá para dentro e descobre que é a caça, morre atravessado por uma seta. Perfeito o pezinho no fantástico de Lygia. Perfeito.

Por fim, mas não menos importante, Um vela para Dario de Dalton Trevisan. Dalton é um desses caras que eu quase nem conheço, embora já tivesse lido este conto em específico antes. Do pouco que conheço, acho-o extremamente interessante. Cada palavra no seu devido lugar sem o mínimo de exagero. Além disso, os desesperos da vida cotidiana nos grandes centros urbanos E uma ironia fina, fina mas aguda. Nesse conto, Dario morre no meio de uma rua desconhecida, ninguém sabe quem ele é, se tem família, faz-se um estardalhaço, as pessoas querem ver o morto. Há um alvoroço, todos parecem se preocupar, mas, de fato, o que acontece é que todos os pertences de Dario somem e ele fica ali abandonado no meio da rua na sua condição de cadáver, quase sem dignidade humana, como se suas coisas tivessem mais valor que ele, por isso foram levadas e ele não.

Espero que vocês continuem a me acompanhar nessa jornada, afinal, não sei se eu já falei, mas não sou uma grande fã de gente viva. Como assim? Não costumo ler literatura contemporânea por alguns motivos meus, alguns até bastante preconceituosos, se vocês querem mesmo saber. De modo que, à medida que os anos avançam no livro, minha experiência com os autores ali apresentados diminui. A partir dos anos 70, tem gente que eu nem sei quem foi na lista. Oportunidade de conhecer os autores pelo que é mais importante, seus textos.

Então, vamos lá, rumo ao desconhecido!

domingo, 12 de maio de 2013

A terra das sombras

Desde que terminei de ler o Como quase namorei Robert Pattinson ontem de tarde, peguei logo esse livrinho aí e não consegui soltar mais. É muito gostosinho!

Esse é o primeiro livro da série A Mediadora da Meg Cabot, a mesma autora de O Diário da Princesa. Confesso que a Meg Cabot, em geral, consegue me agradar com sua escrita leve e contemporânea, mas no caso de O Diário da Princesa, ela me deu uma canseira. Na minha opinião, a série ficou grande demais, portanto, repetitiva. Espero que não aconteça a mesma coisa com A Mediadora.

O livro conta a história de Suzannah, uma menina bem durona, mas que está longe de ser gótica/emo/dark side. Suzannah vê fantasmas o tempo todo e deve conduzi-los ao Além, embora ela não saiba exatamente o que isso signifique. A mãe da garota (que é viúva: mais uma alma por aí, a do pai) se casa novamente, o que acaba ocasionando uma mudança para o sul da Califórnia com seus casarões centenários e pessoas mortas na corrida do ouro. Suzannah vai ter muito o que fazer por lá, pelo jeito.

Pelo que entendi, cada livro da série traz uma alma penada diferente. Claro que eu vou ler todos! O primeiro livro acaba sendo bastante introdutório. Vamos conhecer o temperamento de Suzannah (que geralmente sai na porrada com as aparições), seus novos meio-irmãos, o Padre Dominic que também é mediador e Jesse. Jesse é um fantasma que mora no quarto de Suzannah. Ele é um cocoto latino, um pão, um gatinho, um tudo, só tem esse detalhe de estar morto há uns 150 anos, fora isso...

Achei o livro superdivertido! Diálogos engraçados, personagens espirituosos (com todos os trocadilhos do mundo) e um ritmo bacana que te faz querer mais e mais. Apesar do clima de assombração, não tem uma pegada de medo, nem poderia se, afinal, medo de alma no sol da Califórnia é difícil.

Gostei de tudo. Recomendo demais. Parte favorita, o crucifixo do colégio chorar lágrimas de sangue quando uma menina se forma virgem (é só uma piadinha, mas eu ri) e o exorcismo à brasileira procurado na internet, achei bem prático: vou copiar para caso de necessidade.

sábado, 11 de maio de 2013

Como quase namorei Robert Pattinson

Fica sempre um clima de satisfação no ar quando a gente termina de ler um livro, não é? Principalmente, quando nós acreditávamos que não conseguiríamos chegar ao fim... Caramba! Terminei de ler Como quase namorei Robert Pattinson.

Eu não gostei, vou logo avisando, mas o livro não é de todo ruim. Para começar, a ideia é boa: explorar o fanatismo das garotas fãs de Crepúsculo me pareceu uma premissa divertida. Eu não gosto da saga (li o primeiro e parei aí), acho que a Stephenie Meyer é mais brega do que eu consigo suportar, mas vá lá, entendo quem veja algum encanto. A mitologia é legal apesar de acabar com a verossimilhança dos vampiros. Acho a versão dos lobisomens dela interessante também. O mais é pieguice e baboseira. A moça, Bella, é um pastel. Pastel de vento. E, definitivamente, não entendo como alguém pode querer ter um relacionamento como o deles dois, é doentio. Por isso mesmo, o fanatismo crepuscólico me pareceu divertido.

Maria Eduarda, a personagem principal, é desastrada e imaginativa. É mais divertida do que a Bella, isso é uma certeza. Ela tem 19 anos e apesar de ser bem de vida (os pais são correspondentes da Rede Globo na China, ela vive só no Rio com a irmã) e bonita, não vive, prefere se esconder atrás das suas fantasias com Edward Cullen. Ela tem vergonha de já ter lido os livros milhares de vezes e ter um perfil falso nas redes sociais para falar da saga. Isso demonstra que em algum lugar ela tem um pouco de sensatez. 

Ela, a irmã, a prima e uma amiga vão para Nova York para estudar inglês por seis meses. E, que coincidência, o vizinho do lado é a cara do Robert Pattinson. O que esperar de algo assim? Claro que é chick lit na certa. Encontros, desencontros, amor roxo, problemas e solução com beijo na boca. Só não é dos melhores chick lits que já li.

O problema principal é que o texto é longo demais. Essa história não precisava de 461 páginas nem aqui, nem na China onde os pais da Duda estão. Acaba que tem coisa demais e fica impossível de comprar a ideia em alguns momentos. Gente, tem golpe da barriga, comportamento maluco e obsessivo, gay se assumindo, viciado em sexo, visita ao Late Show, jantar com celebridade do cinema americano... Eu diminuiria umas 150 páginas para ficar melhor.

Na história principal, pasmem, um triângulo amoroso: Duda, fake Pattinson (que é rico e órfão e carente e fofo e misterioso e e e, todos os e necessários para um galã) e o amigo malhado, espanhol e moreno chamado Pablo que não tem nada a ver com o Jacob (Até parece!). O amigo é muito melhor e menos problemático do que  Fake Pattinson (o nome dele é Miguel), mas, assim como Bella, é claro que ela prefere o Team Edward. O livro parece uma fanfic de Crepúsculo (Quem sou eu para criticar fanfics de Crepúsculo depois das milhares de cópias vendidas de 50 tons de cinza). Se você gostou da saga, talvez vai gostar... Tire apenas os vampiros, lobisomens e a eternidade.

O que eu gostei então? Gostei das meninas que moram com Duda, elas são normais e namoram caras com defeitos. Gostei também porque a autora parece conhecer Nova York de fato, ela, aqui e ali fala desse cotidiano da cidade que nunca descansa, das suas praças, museus, metrô e cafés. Fiquei com vontade de ter essa idade e esse dinheiro para fazer a mesma coisa que Duda e suas amigas. Quem sabe em outra vida?


sexta-feira, 10 de maio de 2013

Paul McCartney

Faltou post para esses dias, né?
Na verdade, gente, não faltou assunto, faltou tempo. Paul McCartney aconteceu na minha vida. 
No domingo, eu e o Raphael fomos surpreendidos pela promoção do Peixe Urbano. Nós já tínhamos decidido não ir por causa do valor. Quase R$400,00 para vermos o show estava fora de cogitação. Mas aí, quando saiu a promoção (R$85,00 por pessoa na cadeira superior), não teve jeito. O cara é um Beatle, ora bolas. Valia alguma fila e chateação.

Olha, não foi fácil enfrentar o que veio a partir daí. Buscar esse ingresso o dia oito tornou-se uma missão impossível. O entorno do Castelão está inabitável. Lembra uma situação de guerra. Estacionar é impossível. Aliás, chegar no Castelão não é tarefa das melhores, vias de acesso em obra, uma delícia. Sair de lá, então? Não sei ainda como cheguei em casa. Imagina esse quadro com sete mil pessoas tentando pegar o ingresso do Peixe Urbano? Foi pura felicidade.

O Raphael era o responsável por buscar os ingressos, mas, acabou vítima da burrice e da falta de organização do pessoal do evento. Vocês acreditam que pela manhã o site disponibilizou apenas três guichês para essa gente toda? E que, ainda por cima, o resgate era feito manual? Ou seja, o funcionário estava verificando numa lista de papel de sete mil ingressos, documento por documento. A velocidade dessa fila deve ter sido catastrófica. Há relatos de gente que passou quatro horas debaixo de sol quente e poeira. Fotos de queimados no Facebook não faltam também. E aí eu pergunto: precisava ser assim?

Em todo caso, Raphael me liga na hora da aula, soltando os cachorros, perguntando se eu poderia ir buscar os ingressos. Não vou nem comentar o quanto fiquei puta com essa história. Fui. 

Ainda bem que um professor faltou lá no meu trabalho e eu pude adiantar aulas. Saí do Maracanaú, fui até o trabalho do Raphael, peguei os documentos que precisava para resgatar os ingressos e dirigi até o Caostelão. Estacionei numa biboca, rezando para não roubarem meu carro e não me trancarem. Caminha, caminha, caminha por canteiros de obra, poeira e sol.

Pelo menos, lá chegando, a fila andou mais rápido. Ainda estava imensa, porém, já tinham informatizado o processo. Cheguei às cinco e vinte, saí de lá às quinze para sete. Tempo aceitável de fila andando, e sol se pondo. Muito mais agradável.

Em casa, despenquei de sono. Ou seja, nada de post, nada de leitura.

Dia seguinte: trabalho até cinco e quarenta e cinco. Tinha gente no Caostelão acampado. Sabe-se lá Deus fazendo o quê... Síndrome de fã. Eu saí do trabalho e fui para casa, na televisão, notícias nada favoráveis sobre o trânsito. Cheguei, tomei banho e troquei de roupa. O Raphael trouxe o jantar e pediu desculpas pelo piti do dia anterior. E chegou a hora da decisão: como chegar lá?

Nós não queríamos ir de táxi, até porque não tinha táxi para ir, eles não queriam fazer a corrida. Ligamos para o pai do Raphael para pedir carona. Coitado, estava preso no engarrafamento da Br116. Ligamos para um amigo que mora perto, ele estava na casa da mãe jantando, mesmo assim se propôs a ir nos deixar. Amizade antiga. Nem bem terminamos a ligação, o pai do Raphael chegou e nos deu uma carona. Agradecemos ao amigo pela prestatividade.

Fomos pela Perimetral. Tranquilíssimo. Pegamos a Av. Padaria Espiritual e o trânsito fluiu normalmente para o horário. O bafafá, pelo jeito, ficou pelo lado da Br116 mesmo.

Lá chegando, caminha, caminha, caminha. Tentando descobrir como atravessar os fossos que impediam o acesso ao Castelão. A polícia ajudou com o caminho. Aliás, polícia tinha e muita. Os arredores davam uma sensação de segurança. Ponto positivo. 

Já a fila era caótica. Não funcionou e pronto. Tarefa muito evoluída para cearense.

Enfim, entramos. Da casa a sentar nas cadeiras do estádio foram quarenta minutos. Agradeço a todos os que acamparam no Castelão e permitiram o fácil acesso daqueles que só puderam chegar mais tarde. Foi mais fácil do que eu imaginava.

Também encontramos cadeiras facilmente. Sentamos bem de frente para o palco na cadeira mais baixa das superiores. Apesar de longe, vista ótima. E, por incrível que pareça, ninguém ficou em pé na nossa frente. Vista perfeita, sentadinhos. Milagre. Outro ponto positivo.

E o show? O show foi ótimo! Estrutura internacional e um Beatle. O que mais eu podia querer? Paul é um monstro sagrado. Senhor de todas as baladas. Lindo! Show do tempo em que o cantor cantava e tocava. Coisa linda ver gente que sabe o que faz. Deve ser por isso que tantas gerações se encontram ali...

Apesar de não ser uma grande fã, dessas que acompanha cada movimento, adorei. Conhecia várias músicas, mas nem de longe todas. Claro, sou povão, amei Hey Jude. Na na na na na na na na... Interessante é ver que as pessoas hoje em dia, ao invés de curtirem o show, o gravam no celular para ver depois. Uma multidão de luzes de celular acesas nessa hora. Irônico, não?

Vai ficar na memória para sempre. Valeu demais cada centavo. Eu vi um Beatle. Nem acredito ainda. Saímos antes do show acabar para não sofrer com o trânsito. Foi bem tranquilo. Que bom!

E ainda teve: Let It be e Live and let die ( essa com direito a explosões no palco e fogos de artifício).

Tudo de bom! A-DO-REI! Valeu mais que a pena o ingresso, o sol e a chateação. 


terça-feira, 7 de maio de 2013

Anos 40/50 : modernos, maduros, líricos

Mais uma batalha vencida contra Os cem melhores contos brasileiros do século. Olha não tá fácil. A letra é pequena e o livro é pesado. Além disso, é literatura adulta, então, em alguns momentos, eu simplesmente preciso parar e digerir um conto.

Tive de desenvolver estratégias para vencer os capítulos. Estou sempre lendo duas coisas ao mesmo tempo. Dizem que faz um bem danado para o cérebro essa prática (fica a dica!). Pois bem, leio um pouco de Os cem e depois uma coisinha mais leve. Assim não me estressa. Já estava com medo de passar o mês inteiro com esse amarelão e não dar conta. 

Não que a leitura esteja ruim. De forma nenhuma. Mas está longe de ser fácil. Você entra em contato com vários novos estilos. Autores dos quais eu só tinha ouvido falar. Nem sempre eu tenho uma imagem pré-concebida de como será a leitura e a ausência de informação prévia demanda esforços do meu cérebro que, em um domingo à noite, ele nem sempre está disposto a fazer.

Essa geração de 40/50 foi também mais difícil que a anterior. Da seleção de dezesseis contos para esse período, eu só tinha lido dois. Vou comentá-los com vocês. São O peru de natal e o Pirotécnico Zacarias. Vou falar também de outros dois contos que me chamaram atenção: Tangerine-girl e As mãos do meu filho. Vamos lá!

O peru de natal é um conto de Mário de Andrade. Mário figura entre meus autores brasileiros por causa de Macunaíma. Para mim, ele não precisava ter escrito mais nada para ser considerado genial. Macunaíma é a epítome do brasileiro cagado e cuspido. Acho que não dá para ficar melhor do que aquilo, é engraçadíssimo, muito irônico e criativo. Por isso, muito me surpreendi com a sutileza desse conto. Nessa narrativa, não encontramos mais o Mário ativista do começo do modernismo brasileiro. Aqui, ele já é um escritor. Não precisa provar mais nada a ninguém. A história fala de uma família que ousa ser feliz na noite de natal depois da morte do patriarca. Um homem de quem ninguém gostava, mas que todos deviam respeito. Um drama humano e tão classe média que nos envolve. É muito bom.

Já o Pirotécnico Zacarias é uma justa homenagem ao mestre do fantástico no Brasil: Murilo Rubião. Acho que já deu para notar que eu adoro o gênero fantástico. Então, não deu outra, sou apaixonada por esse cara e suas viagens. Esse conto, nem de longe é o melhor dele. Nessa história, o Zacarias do título é morto, mas continua a andar e a fazer coisas como as outras pessoas, ele simplesmente não descansa. E ainda critica porque as pessoas fogem ao vê-lo no meio da rua. Não sei por quê fugiriam, não é mesmo? É legal, mas meu conto favorito dele ainda é Teleco, o coelho sobre uma criatura extraordinário capaz de se transformar  em qualquer bicho que fica amiga de um cara e vai morar com ele. O "coelho", ou seja lá o que for aquilo, acaba roubando a namorada desse cara. Muito inusitado. Adoro!

Tangerine-girl é da Rachel de Queiroz, minha conterrânea. Sempre achei que Rachel tinha um jeito todo especial de tocar na alma dura da mulher nordestina. Tantos medos, tantos truques. Sei lá, por incrível que pareça gosto mais da Rachel urbana do que da Rachel regionalista, da seca e da fome. Opinião minha. Nesse conto, por exemplo, vamos saber mais sobre o coração das moças no tempo da guerra e da chegada dos americanos à base fortalezense. Tantas ilusões devem ter sido construídas nesses dias e com esses rapazes de olhos azuis. Gostei muito do seu olhar sobre essa situação. Sensível e pudico. Achei bonito.

Outo que me surpreendeu para além do regional foi Érico Veríssimo e As mãos do meu filho. Esse conto me pegou de jeito porque tem demais da minha história nele. Trata-se de um pai de um pianista famoso que assiste a um concerto do filho. Centenas de pessoas ali para assistir ao filho. O pai se sente diminuído porque o rapaz só agradece a presença da mãe. Depois, refletindo, ele entende que o rapaz está certo. Que ele não foi um bom pai por vários motivos. Eu que dói.

Bom, confesso que não gostei tanto destes contos quanto gostei dos anteriores. Acho que essa é uma geração de romances. Mas já estou ansiando pelo que vem por aí, Lispector, Drummond, Cony, Trevisan e Sabino. Há de ter muita coisa boa!


segunda-feira, 6 de maio de 2013

O príncipe

Nada de Maquiavel, quem está de volta é a distopia saladona "Jogos Vorazes x O Diário da Princesa" da Kiera Cass...

Bem, eu tô muito a fim de ler A Elite que é a continuação de A Seleção. Estou ansiosa para acompanhar essa distopia bizarra de meninas lutando pelo coração do príncipe de Illéa, Príncipe Maxon. Vestidos e maquiagem para salvar nossas famílias da fome. Vou com gosto de gás para saber se a América vai escolher o príncipe ou o ex-namorado. Gente, é divertido demais.

Por enquanto, estou achando A Elite um livro um pouco caro, vou esperar um pouquinho mais. Por isso, fiquei morta de feliz de saber que a Editora Seguinte disponibilizou esse conto DE GRAÇA para baixar da net. Não resisti e baixei. Já li. Taí o link pra vocês caso interesse.

São 88 páginas em pdf. Nós vamos acompanhar os momentos que antecedem a dita seleção do primeiro livro sob a perspectiva do Príncipe Maxon. Acabamos sabendo também qual o posicionamento da família real sobre isso tudo. E que o pai do Maxon é um mala...

Dá para sentir o gostinho do que vem por aí, conjecturar muita coisa. Aliás, no arquivo, vem também o comecinho do segundo livro. 

Espero que Kiera Cass continue despretensiosa nessa ditopia para meninas. Ou que eu continue a ler esse negócio sem maiores pretensões. O importante é continuar a me entreter. Por enquanto, está entretendo.

domingo, 5 de maio de 2013

Para cima e não para o norte

Sabe aquele livro que você precisa comentar com alguém para saber se não está ficando doida? Pois é... Preciso demais que alguém também leia esta lombra louca para verificar se a minha sanidade está em dia. É bem capaz que não esteja mesmo.

Antes de qualquer coisa, um adendo, não desisti de ler Os cem melhores contos brasileiros do século. Continuo na batalha, estou quase terminando a segunda parte dele para fazer a próxima resenha. Mas, esse livrinho aí do lado chegou pelo correio e eu caí na besteira de folheá-lo: perda total. Apaixonei-me. Então, fiz uma pausa para lê-lo. Só que já estou de volta à labuta com Os cem. Don't worry, be happy!

Para cima e não para o norte é incrível em todos os sentidos. Começando pela capa e pelo título. Toda essa coleção Novíssimos da editora Leya está de parabéns. A simplicidade da escolha das cores e imagens aliada à criatividade dos títulos é extremamente atrativo ao leitor. Acho lindo e quero todos, pronto, falei. Sim, eu julgo livros pelas capas. E essas estão maravilhosas.

A história também é sensacional. Talvez, o leitor comum não ache tão incrível. Não estou te chamando de burro, apenas é um livro que mexe um pouco com filosofia e noções de matemática. Como assim? Bem, trata-se de um homem com duas dimensões, um homem plano, que vive dentro dos livros numa vida semelhante a nossa, deslizando entre as letras. Meio como em Matrix, depois de tomar consciência de que existe um mundo com três dimensões, ele se dedica a entender esse mundo, a fazer parte desse mundo. Filosófico o suficiente para você: tentar compreender um mundo para além do que os sentidos conseguem perceber? 

Sim, porque é aí que a matemática entra ou, pelo menos, uma certa noção dimensional. Lembro-me de uma aula na faculdade de engenharia (fiz engenharia em algum tempo do meu passado longínquo, mas não terminei) em que o professor desenhou um retângulo na lousa e um chapéu de mexicano e usou essa mesma metáfora do homem plano. Da perspectiva do mexicano, um apagador que vem do espaço, do mundo 3D, e é colocado na sua frente dentro do retângulo onde ele está inserido é uma linha que veio do nada, porque ele é incapaz de perceber o processo. Entendeu? Não? Eu entendi. O professor explicou ali que assim são a maior parte dos fenômenos que a ciência não consegue explicar. E daí também a importância da matemática, pois a matemática independe dos sentidos para explicar fenômenos. Nossa! Tem que ter respeito por um cara desses. Tem que ter respeito por essa ciência, a mais exata de todas.

Voltando ao homem plano, em algum momento ele percebe que a vida dele está atrelada ao mundo 3D. Que ele precisa que os homens de 3D o percebam para que ele exista. Ele descobre uma maneira de escapar do seu mundo e sequestra leitores para o mundo plano. Isso atiça os governos e a mídia do mundo inteiro. Passamos então para uma vertente mais social da história. Vertente que também é excelente com todos os vícios da sociedade atual expostos. A política do medo. A interferência da mídia na opinião pública. Governos tentando mascarar os fatos. Muito bom!

Além disso tudo, a diagramação do livro é fora de série. Tem várias referências a esse mundo plano. Brincadeiras com as letras já que o personagens mora entre elas. Não dá nem para explicar. Tem que ver. Ironicamente, é um deleite para os sentidos, os mesmos sentidos que estão sendo questionados.

A Editora Leya acertou em cheio om essa coleção. Recomendo demais e vou dar um jeito de ter o restante dos livros. Fiquei curiosa. Mais um fato sobre ela, são todos os livros de autores portugueses da nova geração. Meu queixo caiu. Literatura Portuguesa, tirando os grandes mestres (Saramago, Pessoa e Camões) nunca me atraiu. Sem bairrismo, acho que a nossa dá de pau na deles, opinião pessoal mesmo. Por isso, tanta surpresa. Gente viva (não sou muito fã de literatura adulta atual, o esvaziamento da pós-modernidade não me desce fácil, mas falo sobre isso qualquer dia desses) escrevendo coisas desse complexidade com esse nível de inteligência e bom-humor me surpreendeu. Adorei!