Certos amores são para sempre. E acho que a minha relação com esse livrinho aí vai ser assim...
Já falei sobre Histórias da Turma mais de uma vez aqui no blog. E de como ele marcou minha adolescência. Mas, engraçado, nunca tinha escrito especificamente sobre ele. Então, vamos lá.
Nesses dias de greve (sim, a educação do Ceará está em greve, escolas ocupadas, inclusive a que eu trabalho), tomei a decisão de estudar para mais uma fase acadêmica. Parti para comprar meus livros, primeiro passo para qualquer um que deseje estudar mais. E no meio das compras, eis que me deparo novamente com esse título.
Já comprei esse livro algumas vezes. Ele sempre some. Desaparece como mágica. Usado, ele é bem baratinho. Na maioria das vezes, não chega a dez reais. Mas me dá uma raiva ter de comprar de novo e de novo. Por isso, toda vez que eu comprava um livro, ficava de levar e acabava não levando. Dessa vez, comprei. Não me arrependi. Sábado passado, tive uma manhã incrível reencontrando amigos de longa data.
O livro é uma coletânea de textos publicados inicialmente na Revista Capricho, trata-se de várias histórias sobre uma mesma turma que mora em um prédio. São jovens de várias idades, desde 14 até 21. Em cada conto, vamos encontrar um ou mais deles vivendo situações típicas da faixa etária. Violência, namoro, primeira vez, intolerância, divórcio. São alguns dos temas trazidos pelo livro.
Confesso que me surpreendi com essa leitura tardia da obra. Tive de discordar de Belchior, pois nós, aparentemente, não somos os mesmos nem vivemos como os nossos pais. Ou melhor, essa nova geração não é definitivamente como foi a nossa. Os textos escritos entre 86 e 89 para adolescentes estão claramente mostrando isso.
Certo que algumas coisas ainda são iguais, beijo na boca, ciúme e a brincadeira do copo. Porém, algumas coisas são tão diferentes que é como voltar no tempo. Primeiro, para um mundo sem celular e sem internet. Tempo em que a fofoca tinha de ser feita frente a frente. Tinha que ter rosto. E as pessoas se viam muito mais pessoalmente. Mas, para além disso, o divórcio que era motivo de vergonha no final dos anos oitenta, hoje me parece tão natural. Embora ainda seja traumática, a separação dos pais não é mais motivo de constrangimento para essa geração, tampouco a possibilidade de uma mulher se sustentar sozinha e reconstruir a vida. Amém!
Outra coisa que me chamou atenção positivamente foi o cigarro. Ainda hoje, é certo que muitos jovens fumam, mas isso não é mais valorizado ou sinal de rebeldia. No livro, os personagens mais impressionantes fumam, em toda festa há cerveja e cigarro, como se fosse normal usar esses produtos nessa faixa etária. Percebo que, principalmente com relação ao cigarro, os livros atuais, simplesmente o retiraram do ambiente. Não é mais necessário fumar para ser o bam-bam-bam. O que eu acho ótimo. E vejo em sala de aula que, comparado com a minha geração, os jovens hoje têm outra relação, bem menos amistosa com o tabagismo.
Em compensação, os livros de adolescente de hoje em dia têm uma tendência ao melodrama que cansa. É câncer, é AIDS, é depressão, é bipolaridade. E é um amor eterno que não combina com a idade. Ainda que o adolescente acredite que combina. Beijo na boca, entretanto, quase não tem. Aquelas cenas de tirar o fôlego. Aquelas que você se identifica na hora. De surpresa. De beijo inesperado. De beijo roubado. De se sentir nas nuvens... Histórias da Turma tem capítulos assim. E eu adoro. E é também o que gosto de escrever.
Enfim, é bastante diferente ler um livro que te marcou como adolescente já na fase adulta. É como se um eu do passado se encontrasse com o eu do presente. O confronto é inevitável. Mas é também interessante. Principalmente, porque parece que a gente já não lembra de tudo daquele tempo, de como a gente pensava, aí, parece que o livro guarda essas memórias para você. E revivê-las é muito divertido.
No meu caso, ainda fui presenteada com um poema para completar essa viagem no tempo. Comprei o livro usado e dentro dele veio uma ficha de leitura (sim, aquelas detestáveis fichas de leitura) e um poema da Ellen, da Juliana e da Sandra da sétima C de alguma escola do país, de algum ano. Provavelmente um trabalho pedido por uma desses professoras malas de português (como eu).
Vou passá-lo para vocês. Tomara que a Ellen, a Juliana e a Sandra não se aborreçam.
História da Turma
Marta, divorciada, nada falava com ninguém
Cheia desta vida sem motivação
Com sua filha Bete abriu seu coração
Bete com sua nova paixão
Pedro, um metaleiro doidão
Carlos estudioso
Por Kátia se apaixonou
E um grande amor entre eles rolou
Newton por causa de faculdade
Quase seu amor largou
Mas Carol muito apaixonada, não deixou
Paulo tomou um tiro no coração
Por pura sorte escapou
E sua vida continuou
Rosane por um surfista gamou
Newton com ciúme reclamou
Mas depois tudo se ajeitou
Eliana não parava de comer
Essa gorda apaixonou-se por Benê
Débora foi para Salvador
E lá conquistou seu amor
Zé Paulo por Débora também se interessou
E com isso um grande amor começou
*****
Perfeito!
Mais treze anos, impossível!
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