Essa daí é a minha avó, Dona Luíza, uma das pessoas responsáveis pela minha educação. Vovó hoje está acamada. Uma tristeza e um presente de Deus que nos permite dizer adeus aos poucos. Uma lição diária de perseverança e ao mesmo tempo de que tudo nessa vida passa. Só permanecem mesmo as relações de carinho, respeito e amor que construímos ao longo da vida.
Vovó Luíza sempre foi dessas avós disciplinadoras, menos para os netos de fora a quem ela só via uma vez por ano. Conosco, os de casa, era "na lei do Chico de Brito" e no "sou como a Rita e atrás de mim ninguém grita". Mas isso nunca fez dela uma mulher rabugenta. Na verdade, vovó é uma das pessoas mais de bem com a vida que conheci. Para quem lidou com oito filhos e tantos sobrinhos, três ou quatro netos era fichinha. Dentro da nossa rotina e disciplina, tínhamos muito espaço para o lúdico. Sempre disposta, ela era capaz de tudo, contanto que se dispusesse a aprender (herdei isso dela). Lembro da caprichosa lapinha de natal com água de verdade no laguinho. E de um livro de feltro cheio de atividades infantis que fez para mim muito antes de virar moda essa paternidade participativa. Das minhas bonecas de pano com as unhas pintadas. Do bolo em formato de trem para o aniversário do primo que exigiram treino. E, no meu próprio aniversário, o cuidado de encher um ovo de galinha com chocolate sem quebrar a fina casca. Dos meus vestidos ricamente costurados e depois passados para as primas mais novas.
E, no meu tempo de criança, eu gostava de ver o que essa mulher fazia. Minha única lamentação foi não ter aprendido com ela a costurar. Mas, na cozinha, eu gostava de ver os cadernos de receita, tantos escritos com a letra cuidadosa de um outro tempo, de uma outra concepção de escola. Gostava de observar em segurança do lado de cá do balcão a farinha de trigo ser jogada, a massa ser sovada, a xícara branca usada de medidor, as receitas típicas de cada época: a rosca de natal, o mousse de chocolate do meu aniversário, a carne do tio Urano. São lembranças vívidas que estabeleceram a minha relação com a cozinha. Aprendi que cozinhar é também um ato de amor. De demonstrar carinho.
E, dentre as receitas, uma sempre me remete à infância de maneira muito simples, churros. O qual a minha avó sempre chamava de sonho. O que realmente gerou certa confusão quando fui apresentada ao pãozinho com creme dentro das padarias, aquilo nunca me pareceu certo. Mas, enfim, o cheiro da fritura, do açúcar e da canela tem o poder de me levar imediatamente para um tempo em que a preocupação era terminar a tarefa e ir brincar.
É uma receita fácil. Deixo aqui o link da receita que fiz recentemente retirada do site Tudo Gostoso. E as fotos tiradas no dia da preparação. Era um dia chuvoso e ficou uma delícia. Não exatamente do jeito do da minha avó. Ela os fritava em quadradinhos de massa, não em tirinhas, mas a receita é praticamente a mesma (o da minha avó não levava leite, era apenas água).
Foi como ter sete anos novamente e lembrar disso de uma maneira boa. Sinto que mesmo quando minha avó não estiver mais aqui, sempre terei momentos assim para estar em sintonia com ela.
E é essa a sugestão que fica. Que atividades você tem feito hoje que construirão as memórias do amanhã? Que comida? Que brincadeira? Que conexão você está fazendo com seus pequeninos? O tempo passa rápido, amigos. E o melhor tempo que passamos é o tempo que passamos com eles.
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