voltando a escrever hoje. Tivemos uns dias bem difíceis aqui em casa. Os dentes posteriores da pequena estavam nascendo. Nossa! Já tivemos episódios anteriores com dentes, mas esse, com certeza, foi o pior até agora. Era muita baba. De molhar a camiseta constantemente. Além disso, a baixinha passava o dia intolerável e acordava gritando de dor por volta de três horas da manhã para só dormir às seis quando o remédio fazia efeito e o cansaço a vencia.
Realmente me considero uma mãe para toda obra, mas uma semana sem dormir direito e uma criança sem fome, febril, inquieta e birrenta o tempo inteiro tira a energia de qualquer uma (todo o meu respeito às mães e pais que cuidam de filhos doentes). Foi um exercício de empatia grande. Um desafio para minhas convicções. Afinal, mesmo com toda a sistematização da educação, da maneira como lidar em situações de estresse, o cansaço constante (seu e da criança) faz com que você comece a duvidar do que é certo.
E o que mais me assombrava nesses dias de terror (nos quais, graças a Deus, eu estava de férias) era a falta de perspectiva de melhora. Pois, por um dia ou outro, você até pode ceder, ser mais permissivo com a criança em virtude da dor, do desconforto, da situação transitória. Mas eu calculava que se ficasse cinco dias daquele jeito para cada dente que fosse nascer, a rotina seria totalmente alterada. Ou seja, mesmo na situação passageira, alguma coisa de rotina precisaria existir.
E foi horrível! Bia, que não é de recusar comida, chorava copiosamente a cada refeição. O almoço todo dia demandava uma paciência e uma abnegação que não nos é peculiar. O esforço era para que ela experimentasse. Depois de muito choro, ela provava, para começar a chorar de dor. Mesmo lutando para manter a rotina, tem horas que é preciso jogar a toalha. Foi muita mamadeira nesses dias. Se ela estava tomando o leite, estava ótimo. Nós insistíamos nas refeições para que ela provasse, mas, se depois de provar ainda quisesse o leite, que tomasse o leite.
Descobrimos também o mix de frutas da Nestlé. Tenho total consciência que não é tão bom quanto a própria fruta. Que mesmo que eles digam que não tem conservantes, tem. E tudo mais. Porém, a consistência dessa vitamina e, principalmente, o fato dela ser vendida gelada nas farmácias facilitou um pouco a nossa vida. Sempre que precisávamos sair e Bia não aceitava comer nada, em geral, ela topou um desses pacotinhos e deu para segurar até estarmos em condições de oferecer um outro tipo de refeição.
Para lidar com o mau-humor constante. E que mau-humor! Resolvemos enchê-la de atividades. Percebemos que a dor não deveria ser intensa, mas sim constante. Chegamos a essa conclusão porque durante o dia ela tinha momentos de concentração em que não reclamava, mas na hora de dormir, quando os interesses serenavam, a inquietação aumentava, era como se ela se desse conta de que o incômodo não iria passar e que teria que dormir com aquilo. Foi muito difícil colocá-la para dormir nesses dias, exigiu paciência, certa dose de firmeza e remédio de uso tópico para aliviar a dor e a consciência.
De maneira que o segredo do sucesso foi lutar para garantir o sono a ferro e fogo se fosse necessário (pelo menos uma hora para ela não ficar insuportavelmente chata) e enchê-la de atividades. Detesto sair com a Bia sozinha. É carro. É trânsito. É bolsa. É criança. Tudo numa responsabilidade só, acho demais, pelo menos para mim. Mesmo assim, levei-a para passear no parquinho e ver os patinhos nadando numa praça aqui perto de casa. Em outro dia, coloquei as boias de braço pela primeira vez nela e partimos para a piscina. A atividade a distraía, diminuía a birra e melhorava a qualidade do sono. Acho essa dica importante, pois quando estamos cansados com as crianças, achamos que elas vão compreender e sossegar. Nada disso. Elas ficarão como abelhas zunindo e agitadas. A melhor forma de descansar, nesse momento, é propor uma atividade que os deixe concentrados. A piscina, para nós duas, foi até relaxante.
Também foi eficiente o picolé de melancia. Cortei a melancia com formas de biscoito e coloquei no congelador. Bia ficou mordendo a fruta que congelou. Tanto ela comeu quanto aliviou um pouco a dor e o incômodo. Funcionou bem. Pode tentar.
Assim, os dias foram passando e, na quarta-feira, depois de uma madrugada infernal, de uma luta intensa para dormir depois do almoço, a Bia dormiu de duas da tarde às cinco e meia. Acordou outra criança. Comeu. E a vida foi voltando ao normal aos poucos. Ela ainda está pedindo muito a chupeta. E a gente percebe que é para mastigar bem nos dentes de trás, onde deve estar coçando. Então, estamos deixando. A baba também continua, mas deu uma regredida (era muita mesmo, tadinha). E o humor mudou da água para o vinho. Nossa filha voltou. Ainda bem!!!
Se você está passando por algo semelhante, paciência. Acho que aprendemos uma importante lição com a dentição, ela é, muitas vezes, nosso primeiro contato com a dor dos nossos filhos. É desesperador não poder fazer nada. Por outro lado, é mais do que importante construir laços fortes de confiança nessas horas, para que eles saibam que estaremos ali mesmo quando não houver mais nada a ser feito.
E foi por isso que quase não escrevi na semana passada. Estava cansada demais para ler, escrever ou produzir qualquer conteúdo. Fiquei na dedicação exclusiva. Mas essa semana devo ir voltando ao normal. Beijos.
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