O restante das
férias no sítio fora mais tranquilo. Apesar de o pai ter também aproveitado a
onda de novidades para apresentar a Maura, sua namorada nova. Malu perguntou se
a avó também não tinha nada secretíssimo para contar, mas Dona Lúcia apenas lhe
deu um beijo e a mandou buscar na despensa quantas compotas de doce conseguisse
carregar para levar para casa como fazia todos os anos.
Os dias passaram
voando. E, faltando dois para o Natal, Malu despediu-se de todos e seguiu de
volta para a capital.
Em casa, Otávio
já estava instalado, mas de modo geral, as mudanças foram mínimas, outro
computador fora trazido para o escritório, agora tinham na sala um super home
theater e a mãe abrira um espaço no closet para o novo marido. As demais coisas
de Otávio foram mandadas para um depósito. Ele esperava que tivessem mais espaço
para elas na nova casa que ele andava a procura.
Com tudo isso,
Malu contava. Malu não contava era com Antonio. Não contava com os olhos azuis
de Antonio. Com o metro e noventa de Antonio. Com o cabelo queimado de sol
cortado rente aos olhos de Antonio. Com o sotaque encantador de Antonio
esbanjando simpatia desde o primeiro sorriso na rodoviária quando foram todos
buscá-la.
Não que ela
fosse se apaixonar por ele ou coisa assim, mas não dava para negar que Antonio
era lindo com todas as letras maiúsculas. E falava pelos cotovelos. E, é claro,
balançava as mãos enquanto falava como todo bom italiano. Era tão comunicativo
que não o intimidava a barreira do idioma, misturava os que conhecia: inglês,
italiano e português.
Logo requisitou
Malu para suas aventuras turísticas, ela servia perfeitamente: falava metade
dos idiomas que ele conhecia e não estava trabalhando. Iam a todos os lugares
juntos, supermercado, praia, museus. E que loucura foi entrar com um homem
daqueles no shopping lotado de véspera de Natal. As vendedoras, mesmo com a
loja vindo abaixo, disputavam a atenção del ragazzo como se Papai Noel tivesse
lhes dado o presente antecipado.
Antonio estava
com 19 anos e fazia Administração nos Estados Unidos. Ele é filho de uma
ex-namorada de Otávio, os pais conheceram-se na América nos tempos de
faculdade, mas como ela era italiana, o rapaz crescera na região da Toscana.
Porém, viera ao Brasil com frequência para visitar o pai.
Malu ficava sem
jeito com as atitudes do rapaz, obviamente não estava nem um pouco acostumada a
ser o centro das atenções no meio da rua. Mas tudo era tão natural para Antonio
que ficava mais difícil ainda se sentir desconfortável perto dele. E foi desse
jeito extremamente natural que na noite de Natal, com toda a família reunida, ao
pararem os dois debaixo de um enfeite de azevinho, ele abaixou assim
displicentemente e deu um selinho nela.
Dona Helena
quase se engasga com um pedaço de panetone. Foi um sacrifício explicar que este
era um costume natalino americano e não um caso de amor entre irmãos.
A moça perdeu
tanto tempo tentando deixar a mãe tranquila que somente mais tarde se dera
conta que havia ganhado seu primeiro beijo.
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