Sempre que alguma amiga ou aluna lê algo que escrevi, a ideia de que aquilo que está ali sou eu surge. Como se cada casal fosse a representação de um namorado do passado. Cada situação fosse algo que vivi. Mas não é. Não da forma que se imagina.
Tem sim um pouco de mim. Porém, muito mais de observação do que de vivências. Coisas que aconteceram com amigos. Características que admiro nas pessoas. Nas relações, não somente amorosas como as diversas maneiras que as famílias têm de se relacionar. Mostro alguns valores que são meus que acho bacana passar. Mostro também outros valores que não acho bacana, mas que meus leitores devem descobrir sozinhos. Ou seja, é mais um trabalho de observação da condição humana do que de vida prática.
Por exemplo, em Do Seu Lado, as meninas adoram o Vini. A representação física dele, realmente, foi inspirada em um colega de sala do passado, assim como seu gosto pelo futebol. Porém, os olhos verdes que mudam de cor com o humor, que muita gente acha que é uma mentira, roubei do meu sogro. A diferença é que os dele são azuis e não verdes como os de Vini.
Já a personalidade de Vini é uma mistura de todos os exageros de colegas na adolescência. Vá por mim, eu não concordo com a maneira obsessiva com que ele se comporta. Embora muitas leitoras entendam a relação dele com Malu como um amor lindo. Eu, particularmente, entendo como imaturidade. Típica da idade. Típica das relações dessa faixa etária.
Gosto da relação dele com a mãe. Gosto de sua lealdade com os amigos (tudo isso observei de diferentes pessoas.). Mas, no quesito amoroso, ele mesmo admite em algum momento, que sua relação com Malu beira o doentio. É uma idealização sem fim. E vejo isso com frequência nas relações adolescentes. Por isso está no livro.
Por isso também não entendo quando as meninas ficam com raiva de Malu quando ela o deixa para estudar fora. Você acha certo abrir mão de um sonho dessa magnitude por causa de um namoro de escola (por maior que seja)? Você faria isso? Tadinha da Malu. Falar sobre ela daria um outro post, mas não consigo sentir raiva da bichinha por causa dessa escolha em específico não.
Voltando ao tópico, o meu processo criativo é constante. Estou sempre colhendo características para os personagens. Da minha vida, da vida dos outros. Tento não extrapolar a barreira daquilo que conheço, pois acho que fica mais fácil de errar quando não conhecemos a perspectiva do outro. Mas, dentro do universo humano que pertenço, vou misturando vida particular, observação e criatividade na composição das histórias.
E os personagens, que nascem mais com propósitos (função naquela determinada história) do que com personalidade, vão ganhando essas características e ficando com um jeitinho só deles.
Pensando bem, deve ser assim que Deus faz também.
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