Foi com uma imensa satisfação que Seu
Fernando cumprimentou Vini, pareciam amigos de longa data. Tão logo Malu e o
rapaz cruzaram a porteira da fazenda, ele nem os deixou entrarem na casa, puxou
Vini para a garupa do seu cavalo e seguiram em direção aos estábulos onde
ficava estacionado o velho trator.
Malu não se deu ao trabalho de ficar
indignada pelo fato do pai nem ter lhe dado atenção, achava muito legal essa
amizade que crescia entre eles. Chegou até a considerar o quão seria útil toda
essa empatia entre os dois quando fosse revelar que estava namorando Vini, se é
que faria isso um dia.
Deitou-se numa rede na varanda disposta
a tirar um cochilo, mas seus pensamentos voaram para esse futuro com Vini,
podia vê-lo tirando as coisas deles do carro, prontos para passar o fim de
semana com a família, a avó faria a comida favorita dele e o pai se derreteria
em atenções ao rapaz como fazia agora, depois Isaura viria de tarde trazendo
Laura para brincar e Malu podia prever que a criança seria louquinha por Vini
também, já que todos pareciam cair de amores por ele rapidamente. Ela se
perguntou com um sorriso no rosto desde quando Vini era tão encantador.
Enquanto isso, Vini e Seu Fernando
desmontavam e limpavam as peças do motor do velho trator. Vini tirara a camisa
para não sujar de graxa e Seu Fernando lhe emprestara um chapéu para proteção
por conta do sol forte na cabeça. Assim de jeans, chapéu, sem camisa, barriga
dividida, pele bronzeada e olhos muito verdes concentrados no trabalho,
Vinícios estava bonito demais para manter as jovens lavadeiras trabalhando do
outro lado da cerca. A toda hora uma moça vinha puxar assunto com Seu Fernando,
vinham cheias de risadas e sorrisos, ajeitavam o cabelo e rebolavam mais do que
o costume. O rapaz nem reparava nelas, mas Seu Fernando começava a se divertir
com aquele desfile.
– Vem cá, filho, é sempre assim por onde
você anda? - finalmente falou quando a quinta moça, a filha da Dona Mercedes,
desistiu de tentar chamar a atenção deles.
– Como assim, Seu Fernando? - Vini
levantou o olhar do serviço que fazia. Só então percebeu os acenos e risadinhas
de um grupo de moças que lavava roupa num riacho mais a frente - Ah! Isso! -
Vini sorriu, baixando a cabeça.
– Como assim? Você nem liga? Hiii! Sei
não, moleque, eu na sua idade... - aproveitou para tirar onda.
– Se eu fosse deixar de fazer o que
estou fazendo cada vez que isso acontecesse... - já que Seu Fernando queria se
divertir, resolver bancar o boçal - Eu não faria mais nada da vida! - sorriu.
– Arre! Mas olha a petulância do
moleque! Duvido. Você é mesmo um frouxo, quer saber? - divertia-se com o rapaz.
– Seu Fernando, eu sou um homem de
paixões, aprendi isso com meu pai. Tem horas que eu prefiro a certeza e a
previsibilidade dos motores do que mexer com os inconstantes corações
femininos. Então, me deixe trabalhar, sim. - disse com a sabedoria de um bêbado
de botequim barato. E Seu Fernando, diante da declaração, controlou-se para não
desatar a rir. Mas o moleque continuava a se fingir de sério e aquilo tornava
tudo ainda mais divertido.
– Pois bem, seu atrevido. Mas foi você
mesmo quem me disse que a maior paixão do seu pai não eram os motores...
– Nem a minha. - Vini parou de polir a
peça e o encarou sério. - Eu nunca disse que era. Na minha cabeça e o no meu
coração, antes de qualquer outra coisa, só tem uma paixão.
– Ah! - Seu Fernando não percebeu que de
repente o clima não era mais apenas de brincadeira. - E eu posso saber qual é
essa paixão avassaladora que consome esse seu jovem coração, moleque?
– Sua filha.
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