Prometi falar nessa semana dos preparativos do aniversário da Beatriz ( e vou falar), mas ontem tive um momento de indignação, uma epifania, na verdade, que precisava partilhar com vocês.
Eu adoro passear pelo e-bay (um site internacional de vendas), gosto de ver de tudo, mas tenho um especial interesse pelos brinquedos, aqueles com apelo educacional, então, ganham meu coração. O brasileiro ainda pensa que brinquedo educacional é aquele de madeira, nem é. Aí por fora, tem muito jogo legal, muito kit de montar, muita experiência para ser partilhada com os pequenos.
Pois bem, como tudo na internet, o segredo é a forma como se procura. Nesses cinco anos de e-bay, já tracei diversas estratégias de procura, já sei como refazer as buscas e o que esperar de cada procura. Realmente gosto de passear pelos produtos, vendo o que será útil, anotando ideias legais de brinquedos e brincadeiras. Enfim, é algo que faço antes de dormir e me relaxa.
Quando a Bia nem tinha nascido, eu procurava por "baby educational toys" e encontrei vários achados maravilhosos com os quais a pequena brincou por um bom tempo. Agora procuro por "toddler educational toys" e várias vezes procurei por "girl educational toys". Afinal, eu tenho uma menina. Mas ontem, analisando a lista de brinquedos que aparecia para meninas, cheia de referência a trabalhos domésticos e família, resolvi explorar "boys educational toys" e me surpreendi.
Claro que eu imaginava mais veículos de transporte de todas as naturezas. O que eu não esperava era uma diferença tão massiva de quebra-cabeças e jogos de montar. Enquanto a lista feminina, verdade seja dita, tinha vários brinquedos musicais, os brinquedos masculinos tinham inúmeras variantes de jogos de encaixe. Aí eu me pergunto: para que essa diferença? Meninos não gostam de música? Meninas não gostam de montar? É isso?
E isso para os brinquedos educacionais.
Se tirarmos a palavra educacional da procura, essa diferença vai ficar ainda mais evidente, reduzindo-se a Polly versus Vingadores.
O brinquedo é muito importante. Ele ajuda a criança a entender e se preparar para a vida adulta. Muitas vezes, é através do brincar que a criança se expressa, que coloca para fora os seus medos e ansiedades, que compreende o mundo. Parece que continuamos ensinando as mesmas coisas sempre, mesmo tendo aprendido que a vida é bem mais que isso.
Meninos e meninas: brinquedo não tem sexo. É tudo experiência.
Já escuto os "dar boneca para um menino? Que absurdo! Coisa de hippie." Bem, não tenho o menor interesse de mudar sua cabeça, mas digo que seu filho vai ser pai, vai ser tio, vai ser irmão. Cuidado com o outro é uma lição importante para todos. Inclusive para meninos. Além disso, seu filho pode querer explorar anatomia. E os modelos humanos servem para isso também.
As meninas, por sua vez, são atoladas de brinquedos de casinha (sem falar nos brinquedos associados à estética e à vaidade). Eu adorava brincar de casinha, mas até hoje amo quebra-cabeças. Visão espacial e raciocínio lógico também são importantes para as mulheres. Montar e desmontar coisas. saber como elas funcionam não traz malefícios nem faz mudar opção sexual (se é que isso é mesmo uma opção).
Aí eu fico me perguntando, como, em pleno século XXI, dirigir ainda é coisa de homem e cozinhar ainda é coisa de mulher? Entra em uma loja de brinquedo, vê como é difícil encontrar um modelo de cozinha que não seja cor-de-rosa. Vê como é difícil encontrar um volante que seja estilizado com cores femininas. E nisso, as meninas estão melhores que os meninos, pois meninas podem usar brinquedos amarelos, azuis e vermelhos, mas meninos não podem ganhar coisas cor-de-rosa. Afinal, para quem nasce menino, o rosa pode ser PERIGOSO!
A gente que é pai, que tenta ser consciente diante de questões de gênero, deveria levantar as mãos para o céu porque hoje já existem opções (ainda que raras) de brinquedos unissex. Mas, ao mesmo tempo, quando percebemos que o mercado ainda não está preparado para vender para a gente (vide o pai que quis levar uma cozinha para o filho, só encontrou uma cor-de rosa, foi levar mesmo assim e a vendedora do caixa perguntou: o senhor sabe que esse brinquedo é para menina, não sabe? Acho que ele sabia.) e que a propaganda ainda potencializa as diferenças e os preconceitos, nossa dá um desespero. Porque, no fundo, a gente sabe o quanto a geração que estamos criando ainda vai sofrer com o choque entre o que ensinamos e o que verão no meio da rua.
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