Faz dias que não falo sobre o processo de escrever, mas tenho escrito bastante. O quinto livro da série Nando empacou por um tempo. É sempre assim. É como uma montanha-russa. Tem aquele momento que vai subindo e é bem devagar: tec, tec, tec, tec. Daí, a gente chega lá em cima e o negócio começar a ganhar velocidade e dar aquelas reviravoltas loucas.
Tem sido difícil escrever esse livro. Quando tive a ideia de como ele seria, pensei em escrever um livro sobre foras, sobre coisas que dão errado, sobre escolhas não tão boas. Penso que eu esteja sendo fiel a esse tema. Porém, acabei me deparando com um problema: as pessoas fazem escolhas erradas porque elas lhes parecem escolhas certas. E isso é bem difícil de escrever. Difícil de passar.
Conheço meus personagens. eles, aos poucos, vão me mostrando suas motivações. Sua maneira peculiar de enxergar o mundo. E claro que, mesmo sendo outros, ao mesmo tempo, sou eu. Não adianta tentar fugir de mim, por mais que eu entenda Pessoa e seus heterônimos, sou apenas Priscila e não consigo ir tão longe. Nem sempre concordo com suas escolhas, mas as entendo. Será, entretanto, que conseguirei passar para o papel essas conversas que nós temos dentro da minha cabeça?
Tem sido muito difícil, por exemplo, entender o Pedro. Um cara que não teve o amor do pai. Que cresceu superprotegido pelo amor da mãe. Que perdeu a mãe. Que precisa aprender a viver em equilíbrio consigo mesmo. Que não se conhece. Que tem pressa. Que tenta ser racional, mas age por impulso. Que tem um filho para criar. Que já cometeu muitos erros. Que é incapaz de desistir. Pedro é como qualquer adulto...
Tem sido difícil entender Taís. A menina linda que quer ser diferente. Taís que é feminista. Taís que é determinada. Taís que começa menina e se descobre mulher. Taís que descobre que tem um corpo. E que corpos são ativados pelo toque, pelo cheiro, pelo gosto. Taís que tem o amor a seus pés e que escolhe o desejo. Será que seremos feministas a ponto de entendê-la? Ou será que todas estamos condenadas a entender o amor na sua plenitude aos dezesseis anos?
Tem sido difícil explorar os recantos da alma de Ana Maria. A gordinha engraçada. A companhia favorita dos meninos. A melhor das amigas na balada. Não faço ideia de como é crescer estando fora dos padrões de beleza, por isso, falar de Ana Maria tem sido um trabalho minucioso de empatia. Ainda corro o risco de errar. O medo de se envolver. As estratégias para se sabotar. A dificuldade para não acreditar no que os outros dizem sobre você. Ana Maria é uma tarefa muito emocional para mim enquanto escritora.
Vou logo avisando que acho difícil esse livro ser o favorito de alguém. Os personagens estão bem mais complexos e intrigantes (até eu me assusto de como eles cresceram). Suas decisões estão mais cruas e reais. Romantismo e razão se misturam. É bem menos fofo, admito. E o fofo me vem muito mais fácil. Porém, é justamente quando a gente vê que nem sempre as coisas dão certo, que nem sempre as coisas funcionam, que a gente valoriza um encontro que é perfeito.
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