Quero que vocês assistam a esse vídeo do canal: Bel para meninas para que a gente possa conversar. Antes de mais nada, não tenho a menor intenção de censurar a menininha. Gosto do canal dela, acho que se trata de uma criança sendo criança, o que é ótimo e adoro o fato da mãe dela dar suporte para esse sonho de ser youtuber. a questão não passa por aí, viu?
O que eu gostaria de chamar a atenção para o vídeo da Bel, que por sinal, é bastante articulada e escolheu um tema interessante para o seu vídeo, seguindo seus gostos, é o fato de que todos os livros que ela mostra são, na verdade, brinquedos. Todos os livros vêm com acessórios. Mexem. Fazem coisas. Encaixam. Vestem. Abrem, Enfim, fazem de tudo.
Acho os livros-brinquedo maravilhosos, gente. Aqui no Brasil, infelizmente, temos uma cultura em que não é elegante se dar livros de presente de aniversário para as crianças. Verdade verdadeiríssima. Tem pai que vai achar que se você está dando livro é porque não quis gastar com nada melhor. Vergonha! Nesse caso, muito provavelmente, a criança não aprendeu a valorizar a leitura. Portanto, um livro brinquedo é um estímulo. Uma forma de aproximação e pode ser muito positiva.
Minha filha tem vários livros que são um brinquedo. Desde bebê. Livro que vai no banho e que tem o personagem da história de apertar. Livro de pano com estímulos sensoriais. Livros de abre e fecha. Livros que precisam levantar e puxar abinhas. Os livros para bebês realmente são para brincar. E, hoje em dia, nossos favoritos são Urso Bob em um dia agitado da Ciranda Cultural (nesse livro tem um relógio para a criança marcar as horas do dia que o ursinho faz suas atividades. Além disso, tem abas escondidas. Bia gosta muito, mas ainda não sabe colocar as horas, tá?) e o outro (quem gosta mais desse sou eu, admito) é o Eu sei pilotar submarino da editora Libris (Nesse livro, esse submarino tem um ímã e você o manipula pelas páginas com essa alavanca vermelha no final da capa. Cada página tem um buraco para o submarino passar. Exige bastante coordenação motora e paciência para vencer o desafio).
O que me preocupa sobre os livros-brinquedo é a sua escolha exclusiva. Perceba que no vídeo da Bel, por exemplo, em nem sequer um momento ela conta a história dos seus livros favoritos. Eles são meramente objetos que fazem algo divertido e não uma porta para um mundo de fantasia. Mesmo sendo muito articulada, ela não fala dos seus personagens favoritos nem do que mais gostou das histórias. Mais uma vez, não estou aqui perdendo o meu tempo criticando uma menininha agradável, muito menos uma mãe zelosa como a dela.
Esse post é apenas uma observação relevante sobre as nossas relações de consumo. As crianças têm muitos brinquedos. Desde que a China entrou no mercado de exportações, o brinquedo foi um dos produtos que barateou bastante. Andamos em casas entulhadas de peças coloridas. Ganhar brinquedos ficou tão comum que as crianças nem se interessam muito por eles. Portanto, não precisamos transformar livros em mais brinquedos. As crianças precisam de livros que são livros. Precisam conhecer a leitura e participar dela. Reconhecer a vantagem de imaginar seus personagens e universos fantásticos, admirar as ilustrações dos artistas e, um dia, deixar de precisar dessas ilustrações e ler livros sem figuras.
Filho leitor é uma dádiva. Mas, antes de tudo, é um legado. Transformar a leitura em uma atividade corriqueira e prazerosa é algo que demanda tempo e dedicação por parte dos pais. Em algum momento, na transição entre bebê e criança, eles precisam compreender que o livro não é um objeto como outro qualquer. Tem um mundinho todo particular dentro do livro. E quem vai ensinar isso para a criança é o adulto. Então, não dá para deixar a criança interagir sozinha com o livro sempre, como muitas vezes, muitas crianças fazem com seus brinquedos. O adulto é parte sine qua non do lúdico na leitura nos primeiros anos de vida.
Então, gente, vamos ler para essa criançada!
Nenhum comentário:
Postar um comentário