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Da última vez, em particular, no mesmo espaço que a gente, havia uma daquelas mesas enormes cheias de adolescentes. Esse lugar em que vamos, tem um espaço com ar condicionado e um espaço aberto. Em geral, os adolescentes, que brotam nos rodízios de pizza, escolhem o lugar mais aberto para poderem falar alto e tentar tirar a atenção uns dos outros dos seus respectivos smartphones. Não foi o caso do grupo em questão. Eles tomaram o nosso espaço.
Você deve imaginar como foi a noite. O barulho era insuportável. Não que eles conversassem, isso é raro hoje em dia, a questão é que é difícil organizar três ou quatro pessoas e o prato de comida nas fotos que vão para o Insta. Além disso, é realmente complicado ter essa vida dupla e ser interessante pessoalmente por mais de dez minutos e na internet pela 24 horas por dia. Exige esforço. Tem que ser divertido, sexy, mas sem ser vulgar... Afinal, como a pessoa vai reagir se o crush der like? E se colocar o coração ao invés do positivo? E se o crush estiver na mesa e der like?
Gente, o negócio mudou muito nesses últimos quinze anos em que tenho tentado ser adulta. Certas coisas, obviamente, continuam as mesmas, pude verificar. Os garçons, por exemplo, continuam sem conseguir sair do campo magnético de uma mesa de adolescentes. Oito pedaços de pizza, não importa o sabor, eles topam da muçarela sem-vergonha à inexplicável pizza de cachorro-quente, é pouco ainda para quem tem um metabolismo tão acelerado. Depois dali, muitos deles vão dar conta de um pacote de Passatempo Recheado enquanto se atualizam sobre as últimas que seus youtubers favoritos aprontaram. Alguns, provavelmente, ainda vão gravar vídeos em casa, sonhando em se tornar o youtuber favorito de alguém.
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Em sala de aula, é fabuloso ver, com o passar dos anos, como uns substituem os outros. É como um jogo de cartas marcadas. Basta procurar em que carteira cada cartinha do seu deck sentou nesse ano. Tão diferentes e tão os mesmos. Em seis anos de Liceu, por exemplo, já achei que um menino tinha repetido de ano, quando na verdade era outro, bem parecido. Mas um fazia a vibe vagabundo e o outro era a versão religioso-nerd. Ainda bem que eu tenho a política de não chamar nem o diretor pelo nome em sala. Sou péssima com nomes e pretendo continuar sendo. Isso não significa que eu não me importe com meus alunos. Só acho que amizade com professor não é coisa de colégio. Na escola, eu sou a autoridade. O adulto responsável. E muitos jovens precisam mais disso do que de outro amigo.
Claro que existem pessoas incríveis nesse mundo e que ficam na sua cabeça para sempre. Mas mesmo elas são variações no espectro de clichês que é a adolescência. E isso tem seu lado positivo. Somos bem mais empáticos com experiências que já vivemos. Como eu ia reclamar daquela galera barulhenta no rodízio se eu era um deles faz tão pouco tempo? Se eu já fui expulsa de um Habib's por cantar parabéns para uma Coca-cola dezoito vezes? Verdade. E o pior é que nem era aniversário dela.
Felizmente, para o nosso jantar, a refeição do grupão já estava mais perto do fim do que do começo. Pudemos acompanhar de perto o dilema dos centavos. "Minha conta deu dezenove reais e trinta sete centavos. Você tem troco para cinquenta?". "Reais?". "Não. Centavos". Deu para sentir o friozinho na espinha daquele que faz a conferência final da conta. Preocupado se todos tinham pagado ou se ia sobrar alguma coisa de alguém para ele. Impressionante como a conta só cai com você naquele dia que você tomou Big Gym porque não tinha grana para a Coca-cola. Naquele dia que você foi a pé para economizar para o rodízio.
Não tenho menor saudade dessa parte. Prefiro o atual: "Você vai ser um filho-da-puta se ousar tirar o dinheiro da sua carteira. Deixa que eu pago essa, porra! Não quero nem ver esse dinheiro. Enfia no cu". (Somos amigos de longa data, isso permite esse tratamento carinhoso)
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Quando a gente é adolescente, a gente abraça com uma vontade, não é não? Porque os amigos são para sempre. Porque não tem problema que não consigamos resolver com a nossa certeza de quem não sabe nada da vida. Porque todos os sonhos são possíveis. Porque, no espaço de um abraço, aquele carinha vai perceber que é mais do que amizade. Porque, de certa forma, nós ainda somos crianças nessa fase.
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No entanto, meu lugar é aqui. Nos trinta. Sem saco para balada lotada. Sem estômago para comida ruim. Levando criança para o pediatra. Pagando minhas contas. E vendo meus sonhos se tornarem realidade. Os amigos ainda são os mesmos. O amor é para a vida toda. e carrego a satisfação de não desejar ter feito absolutamente nada de relevante diferente. Espero realmente chegar aos quarenta, aos sessenta, aos oitenta, da mesma maneira. Ciente de que fiz o que tinha de fazer. Cada vez mais apurada. E feliz em observar que os anos passam como fatias de pizza num rodízio e é você que escolhe se vai querer vivê-los ou não.
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