Li esse livro por indicação da minha irmã. Aliás, foi meu presente de aniversário para ela, mas quem acabou lendo fui eu. Isso porque ela já tinha lido quando era criança e amou. E ficou com esse livro na cabeça como uma lembrança boa, ela precisava possuí-lo, precisava tê-lo em sua estante. Entendo completamente dessas coisas. Afinal, tem certos livros que a gente tem mesmo que possuir como se tocá-los e vê-los todos os dias garantisse de alguma forma que a experiência de leitura foi real.
Luna Clara & Apolo Onze provavelmente é um desses livros. É Literatura Infantil de qualidade, daquelas que dá orgulho de ter nascido nas mesmas terras de Monteiro Lobato. Adriana Falcão e a Editora Salamandra estão de parabéns por cada ínfimo detalhe desta obra, do texto às ilustrações. Gostei demais. Pena não ter mais uma cabecinha de criança para engolir com os olhos essas mesmas páginas e ver coisas nelas totalmente diferentes. Enfim, ser gente grande é bom, mas cobra seu preço.
Antes de falar sobre o livro, gostaria de tratar um pouco sobre Literatura Infantil. Bem, em algum momento durante o meu curso de Letras, eu realmente me vi inclinada a estudar Literatura ao invés de Linguística. Eu queria falar de Literatura Infantil. Infelizmente, encontrei na universidade certa repulsa ao assunto, como se eu estivesse tratando de algo menor, algo imperfeito, incompleto, sei lá. De alguns professores, ouvi inclusive absurdos, como se estudar Literatura Infantil fosse coisa de gente formada em Biblioteconomia (diga-se de passagem, curso desprezado injustamente nos campi de Letras deste país). Minha escolha profissional não foi baseada nessas recusas, mas não nego que me causou tremenda decepção.
Hoje, tenho a mais absoluta certeza que se estudar Literatura Infantil é coisa de bibliotecônomo, eles é que estão certos, oras. Literatura Infantil não tem nada de incompleto ou imperfeito. Aliás, há muito tempo que estão no auge das tendências. Primeiro, na questão da semiótica, quando se introduz ilustrações nos livros, quando se faz uma capa em três dimensões, ou até quando um livrinho infantil do mais pereba vem com um cd, estamos introduzindo aí uma gama de novos significados, explorado sentidos, instigando a mente humana , ainda que infantil, a correlacionar o mundo que vive com novas descobertas. A literatura infantil já faz isso há muito tempo.
Além do mais, a literatura para crianças é concisa na quantidade de palavras e vaga na imensa possibilidade de ideias. Ela tem que ser assim porque é a mente infantil que deve completar certas lacunas. A criança necessita da interação com o texto, o texto precisa ser dela, ela precisa fazer parte desse texto. Então, para além do texto, a criança vai criar um estória própria, só dela. Foram preciso muitas vanguardas europeias para os adultos se aventurarem por esse universo de possibilidades que é uma obra com lacunas e, ainda assim, alguns destes adultos jamais conseguirão aceitá-las.
Acho que Literatura Infantil não é algo menor, na minha cabeça, o começo de qualquer coisa maravilhosa é grandioso, mesmo que mentes acadêmicas não consigam compreender. É isso que eu acho. Espero que a universidade acorde para isso um dia.
Luna Clara & Apolo Onze é exemplo dessa grandiosidade. A estória é um emaranhando de fatos, alguns simultâneos, alguns perdidos no tempo que resultam nos encontros e desencontros de amor de Aventura e Doravante, os pais de Luna Clara. Minha irmã me contou que a Adriana Falcão inventou a estória do livro para contar para a sua filha antes de dormir. O clima é bem esse de narrativa oral. Uma aventura dentro de outra aventura para manter sua atenção.
A linguagem é simples e provocativa. Provocativa no sentido de provocar a curiosidade, de atiçar as possibilidades. Os personagens são incríveis, com nomes maravilhosos. As ilustrações são lindas. O livro é uma gostosura só. Enfim, como disse Ziraldo na orelha, é desses livros que dá inveja de não ter tido a ideia de escrever.
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