E para quem achava que eu não lia poemas, taí: Mário Quintana. Outro livro adulto na minha lista. Tô que é uma professora de literatura!
Ops! Eu sou uma professora de literatura! :)
Depois de Tequila Vermelha, eu precisava acreditar que existem pessoas por aí que sabem o que estão fazendo quando se propõem a escrever. Escolhi Quintana por puro deleite, porque ele é um gostoso escrevendo.
Adoro como ele encara as muitas faces do cotidiano. Ele é mais um a observar no meio das coisas, ele se mistura a elas com uma facilidade impressionante. Ler Quintana é como estar no quintal da casa da sua avó numa tarde quente e vagarosa. Em suma, eu me sinto em casa.
Nem por isso, é uma poesia banal. Aliás, não tem nada de banal. Compreender temas universais como o amor, a morte, a solidão e a velhice nunca será banal. Temos de parar de entender simplicidade como banalidade. Sei lá, mas a simplicidade é leve e a banalidade pesa como uma feijoada no estômago. Mário Quintana é um poeta do simples. O simples, na poesia, nem sempre é o caminho mais fácil.
Confesso que me surpreendi. Eu li exatamente esse livro aí em cima, a edição da L&PM. Ou seja, uma antologia. Para você que não sabe o que é antologia, lá vai:
Significado de Antologia
Botânica. Parte da botânica que estuda as flores.
s.f. Coleção de trechos escolhidos, literários ou musicais; florilégio, coletânea. - fonte: http://www.dicio.com.br/antologia/
Numa antologia, é feita uma seleção. Aqui nesse livro encontramos poemas de várias obras do Quintana. Acho sempre legal isso porque, quando um poeta vive muito e escreve muito, podemos acompanhar as suas fases. O modo como as ideias mudam. No caso, gostei demais da maneira de Quintana tratar a velhice, às vezes com bom-humor, outras vezes com saudade e outras ainda com um estranhamento. Dá para sentir mesmo na sua personalidade a sensação que ele descreve de ainda ser um menino, um menino num corpo de velho, mas um menino.
Percebi também um lado obscuro do Quintana que eu não conhecia. Não sabia que ele falava tanto de morte. Quase Byron. Quase emo. Vou deixar para lá essa parte... Não achei tão significativa.
Minha parte favorita foram os poemas dessa obra: Espelho Mágico, 1951. São poemas curtinhos de um grande poder de síntese, quase um hai kai. Simpáticos que doem. Exemplo:
Do sabor das coisas
Por mais raro que seja, ou mais antigo,
Só um vinho é deveras excelente:
Aquele que tu bebes calmamente
Com o teu mais velho e silencioso amigo...
Ai Quintana! Velhinho danado! Poucas palavras que dizem tudo.
Já que estamos aqui batendo um papo, deixa eu abrir meu coração. Não sou muito de poesia. Já falei que sou prolixa, sou dos romances e dos vários núcleos narrativos. Mas, vez ou outra, eu me aventuro nas múltiplas possibilidades de um poema. Admito, entretanto, que não sei ler um livro de poemas. Você lê ele inteiro de cabo a rabo? Foi a primeira vez que fiz isso por causa do desafio dos cem livros. Em geral, eu faço assim, deixo o livro ali perto de mim e leio um poema aleatoriamente na hora que me dá vontade. Se gosto de um em particular, leio o mesmo várias vezes.
Fiquei pensando nisso. Será que existe jeito certo de ler um livro de poemas? Acho que não.
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