Diga ao povo que eu me rendo.
A velhinha me pegou.
Diana Wynne Jones, vou acender uma vela pra senhora todo dia. E garanto que o 26 de março de 2011 (por um acaso, se é que existe isso no mundo, hoje é seu aniversário de morte) é um dia triste para a humanidade.
Eu já tinha lido faz algum tempo a série Crestomanci desta mulher. Num tempo imemoriável em que eu entrava numa livraria e pirangava um livro inteiro na maior cara de pau...
Também acompanhei e compreendi a paixão da minha irmã pelo estilo sem limites de fazer fantasia de Diana, mas nunca partilhei com ela esse fascínio. Minha irmã manda buscar um exemplar de livro na Rússia se for preciso. Ela busca incessantemente completar sua coleção, vai demorar: são uns 80 livros. Não estou tão viciada assim, apesar que a série Crestomanci é realmente muito boa.
Agora, entretanto, tantos anos depois, sou capaz de partilhar com a Thaís pelo menos o encantamento, porque O castelo animado é tão bom que chega a dar raiva.
Raiva de um mercado editorial que elege obras (muitas vezes sem qualidade) em detrimento de outras pelo simples prazer de ganhar dinheiro. Dinheiro fácil. Porque o pior é perceber que a fantasia de Jones pode dar muito, mas muito, mas muito dinheiro. Entretanto, os livros dela nunca estiveram entre os mais vendidos no Brasil. Nos blogs de resenha para jovens adultos, nem vejo falar. E isso dói no coração. O potencial dessa mulher é incalculável. Sua contribuição para a literatura é do porte da de C. S. Lewis e Tolkien, que aliás, foram seus professores na universidade.
Ainda bem que podemos contar com a criatividade irrefreável dos japoneses. E O castelo encantado virou uma animação japonesa do diretor Hayao Miyazaki, produzida pelos estúdios Ghibli, de 2004. A mesma galerinha de A viagem de Chihiro. Se você está pensando agora: não faço ideia do que esta mulher está falando, fica a dica, está na hora de saber. O Japão produz muita coisa em termos de fantasia, para além do preconceito e da devoção, vale a pena descobrir o que te encanta.
Um pouco da história do livro: Sophie é uma jovem que tem medo de tudo, ela foi criada para ter medo de tudo. Muito talentosa na costura, um dia, sua loja é visitada por uma bruxa que a transforma numa velha de 90 anos. Ao contrário do que possa parecer, inicialmente, ela não fica chocada. Pelo contrário, sente-se bem nessa nova forma, a forma que em verdade sempre sentiu ter por dentro. Entretanto, ela precisa quebrar o feitiço, afinal, lhe foram roubados pelo menos 60 anos de vida. Sophie parte em busca da bruxa.
No seu caminho, encontra um castelo voador que pertence a um jovem e poderoso mago. Todos os personagens do castelo são encantadores. O mago Howl e o demônio Calcifer são os meus favoritos. Quero para mim. Com certeza, ficarão no meu coração. Sophie, Howl, Calcifer, Michael e mais uma gama de outros personagens vão ter de aprender aos poucos que o que de fato importa não é a aparência, mas sim a força interior que cada pessoa tem.
Relutei muito para ler esse livro. E vou ficar devendo uma a Thaís pela insistência massiva para que eu o lesse. O motivo da relutância é que morro de medo de histórias em que as pessoas ficam velhas de repente. Esse é o meu maior medo. Não tenho medo de envelhecer. Tenho medo de não aproveitar o tempo. Então, já peguei o livro na expectativa de páginas de agonia dessa menina se lamentando e rangendo, tropeçando e estando cega. Seria um martírio se assim o fosse. Fiquei inclusive pensando se eu desistiria de lê-lo. Que nada! Li a primeira página e mergulhei de cabeça, quando percebi, já eram onze horas e 160 páginas tinham se passado na minha frente sem que eu piscasse.
Acontece que, no caso de Sophie, foi apenas ficando velha na aparência que ela percebeu que o tempo é um bem valioso e que ela já se comportava como velha antes do feitiço. A velhice, aliás, libertou-a dos seus medos. Finalmente, a moça enfrentou a sua sorte e resolveu ser responsável pelo seu destino, arrastando os outros personagens com ela. Estou fascinada!
Recomendado de corpo e alma.
Deixando um recado para o além, Dona Diana Wynne Jones, como dizia um outro mestre do porte da senhora, um tal de Guimarães Rosa, "as pessoas não morrem, ficam encantadas". Acredito muito que é o seu caso.
muito bom esse livro, saudades das aulas divertidas da fessora priscila
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