Mariana se demorou diante do computador
de Milena. Estava quase na hora da virada. Não tinha vontade de descer. Não
estava no clima para luau. Talvez, sentisse falta de Guilherme. Talvez, a
tristeza fosse justamente por não sentir a menor falta de Guilherme. Andava
pensando, sentia agonia maior se não conversasse com DarkSideGeek do que se não
falasse com Gui. Quanto mais ela iria aguentar viver daquela mentira?
Mexeu nas coisas da amiga, passou um
pouco mais de rímel. Viu-se de vestidinho delicado amarelo, cabelo comprido em
trança, flores naturais adornavam o penteado. Estava bonita, é verdade, mas
aquela ali não era ela. Olhou para o seu anel de compromisso. A pedrinha verde.
Kryptonita.
─ Pequena, você não vai descer? – André, sempre André, que
passava pelo quarto da irmã em direção à escada, deve ter visto a luz acesa e
entrou. Encontrou Mariana pensativa.
─ Não sei, Deco. Estou sem clima...
─ Está triste? – Ele entrou no quarto e
encostou a porta. – É por causa daquela montanha aparvalhada que você chama de
namorado?
─ Não trata o Guiga assim, ele não
merece. – Brigou com ele que, para não irritá-la mais, mudou de assunto. André
foi até a janela. Ficou olhando para irmã, extremamente feliz, dançando com o
namorado.
─ Eles são tão lindos juntos, não é?
─ São sim. – Mariana concordou com um
sorriso.
─ Pensei que não iam mais conseguir se
acertar...
─ Não tenho muita experiência nesse
assunto, André, mas acho que quando um sentimento tão forte assim toma conta da
gente. Deve ser difícil tentar se ajustar...
─ Concordo com você, Pequena. –
Continuava olhando o casal pela janela. – Às vezes, a gente guarda um
sentimento desde criança dentro da gente, ele cresce com a gente, molda-se ao
nosso corpo, à nossa cabeça, à nossa idade e ainda assim é muito difícil se
ajustar a ele... Parece que ele vai sair a qualquer segundo. Que vai tomar
posse da gente por inteiro. Chega até a dar medo.
Mariana, mesmo sem olhar para ele,
sentia novamente aquele calor. Mais uma vez iam entrar no território proibido
da sua paixãozinha de infância. Ela lutava tanto contra isso, cada vez estava
mais presa. Podia esquecer por segundos que era completamente alucinada por
André, para que ele, imediatamente depois, com duas ou três palavrinhas, um
beijo, ou um olhar, fizesse com que ela se lembrasse de todos os suspiros que
dera nesses anos todos.
─ Acho, Pequena, que quando se tratar de
amor, o único jeito é ter coragem para se entregar e aprender a amar... – Ele
continuava olhando pela janela.
De repente, a contagem da virada começou
lá fora. Dez. Nove. Oito. André virou e Mariana percebeu algo de diferente.
Aquele não era o sorriso solícito de sempre. Ali havia certa dose de malícia,
uma malícia encantadora. O olhar também era novo. Estava assustada. Sete. Seis.
Cinco. Meu Deus! Eram os olhos que adivinham por dentro. Os olhos que viravam
você do avesso. Que a faziam perder um pouco de si. Quatro. Três. Dois. André
se aproximou dela e a abraçou com muito cuidado. Se ela fizesse qualquer sinal
de impedi-lo, ele pararia, mas ela não fez. Um!
Os fogos começaram a estourar fora da
casa e dentro de Mariana também. André fez um carinho no rosto dela, chegou
perto do seu ouvido. O coração de Mari batia apressado.
─ Calma, Pequena. Calma. É só mais um
ano que chega. Toda novidade faz barulho. – André sussurrou antes de beijá-la.
Uma lágrima desceu pelo rosto de
Mariana, uma lágrima de felicidade. Ele sempre sabia exatamente o que dizer.
***