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quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Trecho de All Star

André apertava a campainha com mais paciência do que estava. Não queria parecer mal-educado, apesar de achar que Mariana estava bem merecendo umas palmadas. Mário veio atender com Tito no colo.
─ Bom dia, Tio Mário. A Mariana está? – Disse já entrando no apartamento e tomando o caminho do quarto.
─ Bom dia, André. – Não se deu ao trabalho de se incomodar com ele. Aqueles meninos eram amigos desde sempre. – Está assistindo a um filme. Acho que está meio gripada. Passou a noite fungando.
André mal bateu na porta já foi entrando no quarto de Mariana. Ela parecia estar vendo um fantasma, ficou branca feito papel. Ele não se incomodou com a surpresa, se jogou do lado dela na cama de casal e começou a assistir ao filme que ela via: As dez coisas que odeio em você. E ficou lá, sem dizer palavra, sem dar explicação, sem nem olhar para ela.
─ O que é que você está fazendo aqui, Deco? – Perguntou incrédula olhando para ele.
─ Posso te perguntar a mesma coisa, Pequena. – Continuava com os olhos grudados na tela.
─ Estou doente, Deco. Não posso ir com vocês... – Queria muito que ele acreditasse na desculpa esfarrapada. Ao menos sua cara estava horrível. Passara a noite chorando.
─ Se você não for, eu também não vou.
─ Você é louco? Tem pelo menos oito pessoas esperando por você na sua casa. Vocês já deveriam ter ido...
─ Que se dane. Não vou passar meu aniversário longe de você, Pequena. – Seus olhares se cruzaram por um instante e foi mais do que elétrico. – Além disso, esse filme é excelente.
─ André...
─ Não adianta insistir, Pequena. Eu vou ficar aqui. – Cruzou os braços como uma criança birrenta.
─ Pois então fique. – Cansou da brincadeira e fechou a cara.
Os dois ficaram olhando para a tela da televisão do quarto de Mariana. O filme estava em uma das cenas finais, a cena do poema. Cena em que a personagem de Julie Stiles lê o poema que escreveu baseado em Shakespeare para o personagem de Heath Ledger. No silêncio do quarto, as falas soavam alto. Mariana conhecia a sequência decorada. Assistira àquele filme centenas de vezes.

Eu odeio o jeito que você fala comigo,
E eu odeio o jeito que você corta seu cabelo
Eu odeio o jeito que você dirige meu carro
Eu odeio quando você encara.
Eu odeio suas grandes e idiotas botas de combate,
E o jeito que você lê minha mente.
Eu te odeio tanto, que me faz ficar doente,
E até me faz rimar.

Julie Stiles falava na tela e Mari acompanhava com os lábios. Aquela era a melhor cena. Tinha aquele poema copiado em seu caderno. De repente, André pegou o controle remoto e apertou a tecla mute. Ele se levantou e ficou de frente para ela encarando muito sério, André impedia que ela acompanhasse a imagem na tela com seu corpo. Não tinha como fugir daquele olhar. A boca de Mariana caiu. Ele recitou o restante do poema de cor.
Eu odeio que você está sempre certa. Eu odeio quando você mente. Eu odeio quando você me faz rir, até mais quando você me faz chorar. Eu odeio quando você não está por perto, e o fato que você não me ligou... Mas odeio principalmente não conseguir te odiar. Nem um pouco, nem mesmo por um segundo, nem mesmo só por te odiar. – Fez uma pausa e respirou fundo. – Porque, quer saber, Pequena, tem horas que eu queria mesmo te odiar. Mas eu simplesmente não consigo.
O rosto de André era um misto de raiva e aflição. Mariana nem piscava. O que fora aquilo? Provavelmente a coisa mais linda que já disseram para ela.
─ Você vai comigo ou eu vou ter de me jogar aos pés da sua cama e implorar? – Ele falava sério. – Porque se for necessário, eu juro que eu imploro.
─ Por quê? – Mariana era fogo. Ainda conseguiu dizer com tom desafiador, mesmo com o coração todo na mão dele.
─ Porque eu estou morrendo de saudades de você, Pequena. – Ele sorriu. O sorriso que conseguia tudo que queria. Mariana já estava resolvida a ir só por causa daquele sorriso. Ele ainda continuou a falar. Elevando os níveis de fofura a graus que as escalas dela não saberiam mais nem reconhecer de tão altos. – Porque não vai ter a menor graça essa viagem sem você. Porque essa viagem só existe por sua causa. Em suma, eu preciso que você vá? Você vai?
─ Vou. – Nem saberia como estruturar outra resposta.


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