Bruna
Eu tinha prometido a mim mesma que não
iria mais pensar sobre o assunto Carlos Eduardo. Mas quando eu o vi ali no
vidro, isso tudo que eu tinha programado foi por água abaixo e eu simplesmente
sorri. Sorri com a alma. Meu Deus, eu amo esse garoto idiota.
Mesmo assim, eu não precisava a essa
altura do campeonato, implorar pelo amor de ninguém. Não ia fraquejar diante
dessa atração. Eu ia resistir com todas as minhas forças. Ele era tão ocupado
que nem notaria. E esse aperto no peito ia virar amizade. Deu certo com Felipe,
daria certo com Kadu também. Eu queria muito acreditar nisso.
A cena que presenciei na sala ao lado
reforçou meu pensamento. A parceira de Kadu, aos prantos, tentava beijá-lo e
ele não se movia. Frio como o Alasca. Ele tirou os braços dela de cima dele.
Encararam-se por um instante e ele recolheu suas coisas e saiu da sala.
Entrei no banheiro antes que ele me
visse. Nem saberia o que dizer. A moça estava muito apaixonada, dava para ver.
Só o fato de me abordar no banheiro naquele dia já demonstrava coragem. Mas ele
não deu a mínima. Ela estava destruída.
Confesso que fiquei satisfeita por ele a
ter recusado. Era uma moça bem bonita. Mas, ao mesmo tempo, senti medo. Medo da
frieza no coração do meu parceiro.
─ Brunilda, temos um problema. – Foi
assim, como se nada tivesse acontecido, que ele me recebeu na sala. – Não sei o
que fazer com esse funk.
─ Como assim? – Esse era o ritmo mais
fácil de todos.
─ Ainda nem consegui escolher a música da
coreografia. Só tem porcaria.
─ Deixa eu ouvir... – Peguei o pendrive
onde ele guardava as músicas selecionadas e saí passando uma por uma. – Também,
né, Kadu, só tem chatice.
─ Chatice? – Ele começou a rir. – Foram
as melhores que eu encontrei. Não quero nada vulgar para não estragar a sua
imagem, primeira-dama do futebol brasileiro. – Gostei de imaginar que ali
poderia haver uma pontadinha de ciúmes.
─ Certo. Quanta elegância! Não podia
esperar menos do garoto certinho da sociedade. Não tinha uma versão funk do
Bolero de Ravel, não?
─ A gente pode tentar...
─ Quero ver como o senhor espera que nós
passemos para a próxima fase da competição sem rebolar.
─ Você acha realmente necessário?
─ Acho. – Fiz que sim com a cabeça. –
Agora tente relaxar. Deixa eu ver um pouco do seu rebolado.
─ Meu rebolado? Nunca rebolei na vida.
─ Vamos, Kadu. Que tal um pouco de
Channing Tatum para mim?
─ Quem?
Tirei meu celular da bolsa e mostrei um
vídeo de Se ela dança, eu danço para
o meu parceiro incrédulo. Depois, mais uma ou duas performances de Channing,
mas ele continuava a me olhar admirado.
─ Você realmente nunca tinha visto
ninguém dançar assim?
─ Não. – Foi a resposta mais óbvia.
─ Bom, então, eu sugiro que o senhor passe
uma tarde de pesquisas e me encontre às oito da noite no meu prédio. Nós vamos
ter de ver a coisa acontecendo in loco.
─ Você vai me levar num baile funk?
─ Você tem ideia melhor?- Adoro a cara
dele quando perde o controle.
─ Como é que eu vou desse jeito para um
baile funk de verdade? – Apontava para si mesmo e suas roupas de marca.
─ Ah é! Eu tinha me esquecido. Na favela
só tem preto, pobre e ladrão. Um menininho loirinho que nem você vai ser
molestado logo na entrada. – Detesto preconceito.
─ Eu não quis dizer isso... – Ele baixou
o rosto com vergonha.
─ Quis sim, riquinho. Mesmo assim, você
vai estar de calça jeans e camiseta branca na porta do meu prédio, ok?
─ Bruna, desculpa se eu pareci
prepotente...
─ Ah! Aí está! Ainda bem. Já estava
sentindo falta das desculpas...
***
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