Minhas alunas me perguntam de onde tiro personagens tão perfeitos (principalmente os rapazes). Essa observação, obviamente, vale mais do que um post. Vale uma análise do que significa ser perfeito. Do que nós estamos habituados a entender por perfeição. Afinal, acho-os, sem exceção, meninos cheios de defeitos, são ciumentos, machistas, inseguros. Entretanto, maravilhosos em suas imperfeições como todos os seres humanos são. Mas, hoje, não vou discutir isso.
A afirmativa de que meus personagens são perfeitos me trouxe à memória uma entrevista que li há muito tempo do meu autor favorito de infanto-juvenil: Pedro Bandeira.
Pedro Bandeira está intrinsecamente ligado à pessoa que me tornei. Ele é também o alicerce da escritora que quero ser. Meu modelo a ser seguido (não o único, mas o mais forte deles). Amo intensamente seus personagens como se fossem amigos de infância. A Isabel e o Fernando de A Marca de uma lágrima, Magri, Chumbinho, Crânio, Calu e Miguel, os Karas, são íntimos da menina Priscila que mora em algum lugar aqui dentro. São parte do meu imaginário. Cada um no seu estilo. Cada um da sua forma, completa uma lacuna de como os meus personagens devem ser.
Certa vez, disseram exatamente a mesma coisa a Pedro. Que seus adolescentes eram irreais. Que eles têm qualidades demais. Que, portanto, são inverossímeis. Uma tolice, na minha opinião. Conheci e continuo a conhecer adolescentes reais capazes de coisas muito mais incríveis do que as apresentadas por Pedro em seus livros, como organizar um balé ou tocar dezenas de instrumentos de ouvido, escrever poemas e compor um rap, animar crianças em hospitais e se declarar para namorada no serviço de som da escola. A realidade, nesse caso, é muito mais surpreendente que a ficção e é um dos motivos pelos quais adoro minha profissão, é como estar vivendo dentro de um dos livros de que tanto gosto.
A resposta que Bandeira deu até hoje me comove até os ossos, ele disse que seus adolescentes não são como a maioria dos adolescentes é, eles são como a maioria dos adolescentes deveriam ser. São inteligentes, perspicazes, determinados a fazerem aquilo que acreditam. Gente, essa entrevista guiou o meu pensamento adolescente, guia meus personagens até hoje. Na minha cabeça, e foi esta a forma que entendi as palavras de Pedro, eu não deveria me espelhar na maioria, a maioria tem inúmeros motivos para ser mais do mesmo. Não. Eu poderia ser eu mesma. Era isso que eu precisava buscar. Ser inteligente e irônica como a Isabel. Atleta como a Magri. O que me desse na telha. Eu deveria ser especial. Como os Karas são.
Meus personagens seguem a mesma linha. Milena organiza festas com dezesseis anos. Malu ganha uma bolsa para estudar medicina nos Estados Unidos. Felipe é medalhista olímpico. Vinícios dança e entende de motores. Ou seja, eles lutam pelos seus interesses, vão atrás das suas peculiaridades, antes de tudo são eles mesmos. E, talvez, suas conquistas sejam parte daquilo que as meninas entendem como perfeição.
A outra parte, a descrição física e a maneira como meus personagens falam e se comportam, bem, isso fica para outro post...
Por hoje, fica o meu agradecimento a Pedro Bandeira, por tudo que ele representa para mim e para tantos outros. Que ele continue a escrever por muito tempo e que eu possa, um dia, dar um abraço bem gostoso nessa pessoa tão incrível.
Se você nunca leu nada de Pedro, fica a dica. Funciona melhor com jovens de onze, doze anos, mas o encanto não se perde nunca.
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