Sábado difícil aqui em casa. Eu trabalhei que só: dez aulas. A garganta queimando. E o Raphael, coitado, só resolvendo pepino de obra, mas, finalmente, apesar de ele ter adquirido um senhor galo na cabeça, pelo menos a instalação elétrica necessária para colocar o ar condicionado foi feita.
Então, estamos eu e ele mortos com farofa nesse fim de sábado e o domingo promete ser de merecida morgação. Pensei em deixar o blog para lá e ir dormir, afinal, poderia muito bem escrever o post de hoje só amanhã, mas achei melhor fazer logo isso. Faz dois dias que eu não escrevo e até me dá certa paz colocar vocês em dia com as minhas leituras.
Terminei de ler Histórias Maravilhosas de Truman Capote. Mais um livro para a minha coleção de livros adultos deste ano. Achei a proposta interessante, trata-se de um livro de contos. Três contos, para falar a verdade: Uma recordação de natal, O visitante do dia de ação de graças e Bonequinha de luxo. No caso, todos os três contos giram em torno do mesmo personagem em diferentes fases de sua vida e da importância que algumas pessoas tiveram nessa trajetória.
Nos dois primeiros contos, encontraremos o personagem principal, que também é o narrador, ainda na sua infância. Não sabemos ao certo como ele chega a esta situação, mas veremos como ele é especial desde cedo, sendo criado por primos distantes com idade de serem seus avós. É emocionante acompanhar a amizade do menino com uma de suas primas, que apesar da velhice, parece ser mais infantil do que ele em alguns aspectos. São personagens muito humanas e me levaram a refletir sobre alguns aspectos particulares da minha própria infância, não de um jeito triste, apenas de um jeito melancólico.
O terceiro conto dá nome a um filme famoso estrelado pela elegantíssima Audrey Hepburn. Lá acompanharemos o mesmo personagem masculino, agora já maduro, morando em seu apartamento e retratando seu convívio com a inusitada Holly Golightly, sua vizinha. A moça, bem mais jovem que ele, tem uma vida totalmente diferente de todas as outras que ele conheceu. Apreende-se do enredo que ela é uma prostituta de luxo, mas esse não é o foco da narrativa.
Capote, de maneira definitivamente maravilhosa, faz-nos adentrar no universo próprio de Holly, onde, mesmo diante de todas as feiuras do mundo, existe também a felicidade. Ainda que para isso seja necessário construir um mundo completamente diferente do real. Um mundo de café da manhã em lojas caríssimas de jóias. Afinal, nada de ruim pode acontecer dentro da Tiffany's.
Nada mais humano do que fugir para um outro mundo. Fazemos isso desde pequenos e continuamos a fazer quando adultos imaginando férias em Jeri em pleno expediente.
Livro e filme, quanto a conto número três, são bastante fiéis um ao outro. Pelo menos, o tanto que eu me lembro. A não ser talvez pelo tipo de amor que existe entre Holly e o personagem principal do qual nós não temos certeza do nome, ele só é chamado por apelidos o livro inteiro. No filme, trata-se de um par romântico. Um homem maduro fascinado por uma moça meio desmiolada. No livro, também é amor, mas é outro tipo de relação, é mais uma amizade forte. O personagem masculino chega a declarar-se apaixonado, mas, em momento nenhum, percebe-se amor carnal, é algo meio fraterno. Ele a admira demais.E a recíproca é verdadeira.
Em algum lugar, vi que o homem é homossexual. Talvez seja. Isso explicaria muita coisa. Embora essa referência não fique explícita, de fato, pode-se chegar a essa conclusão de forma sutil. Se pensarmos dessa forma, os sentimentos trocados por Holly e o protagonista são ainda mais puros ao meu ver.
Enfim, gostei muito da leitura de Capote. Personagens extremamente humanos. Tipos diferentes do comum e uma sutileza cativante.
Eu indico. Livro e filme.
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