Estranho estar em casa e não estar escrevendo nada. Para quem ainda não viu o post, acabei de terminar All Star e estou agora no meio do nada, navegando para o infinito que o futuro representa... Poético. Talvez para alguns. Para mim é apenas a realidade.
A realidade de vez em quando dá uma chacoalhada na gente. Ontem foi um dia de receber essas chacoalhadas. Deparo-me com o fato de que seremos todos gente grande num espaço muito curto de tempo. Que, enquanto algumas se vão, outras pessoas estão chegando do lado de lá para nos fazer companhia e que elas serão nossa responsabilidade. E que coisa mais louca: comprar presentes para alguém que você nem conhece ainda, mas que já faz parte da turma.
Personagens novos. Conhecer os filhos de velhos amigos. A sensação é tão parecida. A novidade assusta. Em todo caso, é preciso recomeçar... Até o Cazuza chegou a conclusão de que o tempo não para... E não para mesmo.
A papo tá meio filosófico, mas certas notícias deixam a gente assim. A ficha demora a cair. Pois é, a mudança começou e eu nem dei por mim. Fecho os olhos e ainda vejo a garota colocando as joelheiras para ir jogar bola. Ainda vejo as paqueras, ainda vejo as inseguranças, ainda vejo as certezas que só a juventude tem. Tá tudo muito vivo aqui dentro. Daí eu abro os olhos e eu tenho um marido e contas que vêm com o meu nome.
Falando assim, parece que isso é ruim. Não é. É ótimo. Adoro pagar contas. Adoro a presença do Raphael, adoro mais ainda não ter de me despedir dele no domingo à noite (o que era horrível!), adoro ter a minha casa, meu carro e minhas vontades atendidas. Ser adulto é muito bom em inúmeros sentidos. Mas rola um certo desconforto de vez em quando.
É meio como se a adolescente que vive em mim estivesse debaixo da minha pele usando uma roupa muito grande. Ela busca sair, vez em quando vemos seus braços torneados de jogadora de voley ou sua cabeça sonhadora. Ela me olha refletida no espelho e não se conforma, passou tudo muito rápido. Quando a gente estava entendendo as regras do jogo, fomos lançadas nesse universo adulto onde o jogo é completamente outro e nós ainda não conhecemos quase nada. Vida injusta. Ainda tínhamos tantas aventuras para viver...
Resolvemos esse problema de duas forma: ensinando e escrevendo.
Minha profissão, que é meio vampirismo mesmo, junto com meus alunos, sinto como se vivesse um pouco das histórias deles. Nem todas são bonitas, nem todas são emocionantes. A vida também não é assim, só feita de grandes histórias. Mas, à distância, adoro acompanhá-las e revivê-las como se fossem minhas. O primeiro amor, o primeiro fora, os caras tão bacanas que as meninas não conseguem ver, as meninas tão tímidas buscando romper esteriótipos e sendo mais estereotipadas ainda. Além disso, tem as gírias, as manchas de menstruação, os foras, os ficas, os mungangos, as fotos no espelho, as risadas altas, as idas ao shopping, a certeza mais errada do mundo de que se é original aos dezesseis anos... Amo muito tudo isso. E amo mais ainda poder mangar dessas situações de uma nova perspectiva.
Tudo isso é material humano. Eu e minha adolescente particular aproveitamos tudo para a nossas novas aventuras. Agora, elas começam na nossa cabeça e vão para o papel. As histórias podem começar até na realidade e ganhar o mundo. Outro dia, por exemplo, nós nos pegamos muito interessadas num casal que se formava dentro da sala de aula. Duas turmas diferentes da escola na mesma sala. Ela, menina linda, vaidosa, amigona, girl power total, estilo cabelão e atitude. Ele, músico engraçadinho, cinto Rock And Roll, muita presença, muita bossa e muita insegurança. Assisti feito novela às fofuras dele, à submissão dele abandonando os amigos de gracinha, à delicadeza dos gestos dos dois tocando-se e descobrindo-se encantados com as novas possibilidades. E, na saída, enquanto todos iam embora, ele perguntou se ela não queria ir beber água (leia-se aqui: cantinho mais escuro da escola) e ela foi. Como um olho treinado como o meu vai deixar um negócio desses passar? Como não transformar em palavras? Como?
Claro que esse lance aí foi só um fica e nos meus livros ia ser amor eterno. Entenda, o papel não transmite todas as sensações dessa fase da vida. As palavras são limitadas, elas não têm cheiro, nem gosto, nem fazem o coração bater depressa. Por isso, eu me permito exagerar. Licença poética, tá! Vários alguéns já me disseram, por exemplo, que todos os personagens das minhas histórias são lindos. São mesmo. Na adolescência, não existe meio termo. Ou é lindo ou é o ó!
Além disso, se vamos imaginar, porque não nos permitir imaginar gente linda? Detesto esse politicamente correto que faz parecer que ser bonito é errado. Não é! Acho que meus personagens têm defeitos. Vinícios é obsessivo, André é manipulador, Milena é orgulhosa, Mariana é estourada... Mas, aos olhos dos seus pares, eles são todos lindos e perfeitos. Que mal há nisso?
De alguma forma, nós sempre somos lindos para alguém.
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