Sábado de mais poeira aqui em casa... Colocamos mais umas tomadas e um lustre na sala. Eu, gripada que os olhos ficam caídos, recebo de presente uma faxina. Graças a Deus, meu macho estava disposto e fez a maior parte.
Em todo caso, quando finalmente me deitei, criei coragem e encarei de frente os Olhos de Cão Azul. Para começo de conversa, quero dizer que o que eu já li nessa vida do Gabriel García Márquez foi surpreendente, apesar de Amor nos Tempos do Cólera não ter me marcado muito, os Cem Anos de Solidão foi meu livro adulto favorito por muito tempo, até que eu li Grande Sertão:Veredas do Guimarães Rosa. Ainda guardo os Cem Anos com carinho na memória porque foi este livro a minha primeira experiência adulta com a leitura.
Posso dizer que esse colombiano sabe mexer com a condição humana como ninguém. E o interessante é que ele faz isso trabalhando com aquilo que nós não compreendemos, o inumano, aquilo que não está no cotidiano, ou está, sei lá... Nós apenas não conseguimos perceber com nossos olhos mundanos.
Olhos de Cão Azul é um livro de contos que não foge a regra em se tratando de García Márquez. Entramos nos seus universos fantásticos e humanos ao mesmo tempo, as barreiras não estão exatamente claras entre os mundos, tudo se confunde dentro destes universos, realidade e ficção. Difícil é sair deles. Literatura adulta é assim: difícil de digerir. Você lê um conto e se sente desconfortável. Principalmente quando a temática que os une é a morte.
Ando meio sensível com relação à morte. Talvez, porque ela anda nos rondando nos último dias. Sei que ela é uma amiga, mas mesmo assim, ela sempre vem acompanhada da saudade. E dessa segunda eu não sei ainda se gosto tanto. Por isso, encarar essa capa aí não foi tarefa nada fácil. Mas, quer saber, estou até me sentindo melhor.
O realismo fantástico de García Márquez é algo que só quem já leu é capaz de compreender. Inútil tentar descrever a delicadeza da escolha de palavras, o quão real o impossível está descrito ali. A sensação que tenho é a de descer uma escada em espiral, a cada volta, o mundo real parece fazer menos sentido e o mundo imaginário se faz realidade. É uma EXPERIÊNCIA com todas as letras maiúsculas no mundo da linguagem literária. Portanto, isso é para os fortes.
Em palavras mais claras, se o Chorão foi um poeta para você, nem se atreva a abrir um livro desse homem. Pode ser que ele lhe ensine algo mais do mundo do que você consiga apreender...
Sobre alguns contos, temos um fantasma que pensa em encarnar uma gata para chupar uma laranja, temos um homem cujo reflexo no espelho parece se mexer numa velocidade menor do que a dele, temos um irmão gêmeo sentindo a morte através do corpo do outro gêmeo, entre outros. E o meu favorito, o conto que dá nome ao livro, onde um casal se encontra apenas em sonhos por anos. Ambos esquecem-se do outro ao acordar. Procuram-se pelo mundo real através dessa expressão: Olhos de Cão Azul. Dá para não admirar uma criatividade dessa?
Ah! Quem dera ser Dali para retratar a mente de García Márquez!
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