Em algum momento, aquele beijo tinha de
acabar. Em algum momento, teriam de se encarar novamente cheios de vergonha.
Por alguns segundos, ela teria a esperança de que ele iria se declarar
completamente apaixonado para que, no instante seguinte, André começasse a
pedir desculpas. Conhecia o protocolo. Acontecera algumas vezes no ano passado.
Até o beijo, tudo bem. Levava numa boa.
O pior mesmo era o pedido de desculpas. O arrependimento a humilhava. André
sempre fora galinha. A coleção de mulheres com quem ficou durante o período
escolar faria inveja a muito metido a Don Juan. Por isso, que ele tentasse
beijá-la não era surpresa. Agora, pedir desculpas, aí era demais. Que tipo de
cara pede desculpas depois de beijar? E ainda, que motivos levam um cara como
ele a pedir desculpas depois de beijar?
Enfim, os pensamentos giravam em
turbilhão na cabeça de Mariana. Até que não pensou em mais nada. Não pensou
porque estava beijando André. E beijá-lo era bom demais para pensar em qualquer
coisa. Cada fibra do seu corpo relaxava naquele abraço.
Mas o beijo acabou, precisavam se
encarar e enfrentar as consequências. Mariana não conseguiu nem se mexer. Já
André, continuou abraçando, percorria com o nariz o pescoço da moça causando
arrepios nela. Finalmente, recuperou os sentidos e o empurrou.
─ O que é isso, André? – Estava de fato
indignada.
─ Ah, Pequena! Você não sabe? –
Continuava a falar como se não tivesse acontecido nada demais. – Você não é tão
inocente assim, é? – Brincava com a cara dela. Tratar Mariana como criança era
certeza de confusão. – “Isso” – apontava para si mesmo – é um cara bonitão
querendo ficar com você hoje.
─ Como é que é? – A maneira como ele
frisou a palavra hoje mexeu com ela. Ficou mais indignada.
─ Ora, Pequena, você não acha ruim
quando eu peço desculpas? – Deu dois passos em direção a ela, acariciou seu
pescoço, colocando a mão por debaixo da trança. – Não vou mais pedir desculpas.
Eu quero você.
─ Querer não é poder, André. – Lógico
que ela não iria concordar com aquele absurdo. Porém, não tirou a mão dele do
seu pescoço, o carinho estava gostoso. – Quem você pensa que é para vir me
beijando desse jeito? Eu tenho namorado.
─ Pequena, você é louca por mim. –
Abalou-se. As pernas enfraqueceram. Era verdade, mas não precisava jogar na
cara tanta sinceridade. – E eu tô mesmo com muita vontade de continuar a te
beijar. – Puxou o rosto dela e deu um selinho. Mariana sentiu uma descarga
elétrica descer pelo corpo. – Para que a gente precisa falar daquele monte de
músculos que é o seu namorado? Ele nem está aqui.
─ Ele não está aqui, mas continua sendo
meu namorado. – Respondeu bem zangada. André estava sendo um canalha.
─ Pequena, - encarou os olhos dela com
profundidade. – não fica zangada. – Pediu com aquele jeito dele de conseguir
absolutamente tudo que queria. – Eu estou te convidando para brincar com fogo.
Você nunca foi covarde. Quero ver se você tem coragem?
─ Isso não é questão de coragem, André.
Isso é canalhice. – Ela tirou a mão dele do seu pescoço. Virou de costas
bruscamente.
─ É questão de coragem sim, Mariana. –
Disse decidido. Até a chamou pelo nome, coisa que quase nunca fazia. – Eu
também não sei o que pode acontecer se a gente continuar a se beijar. Para ser
sincero, não faço a menor ideia. Mas tô a fim de descobrir. E você? – Desafiou.
– Quer saber aonde isso vai nos levar ou vai se agarrar ao seu namoro sem sal
com o bobão?
─ Guilherme é muito melhor do que você.
– Não gostava do tom de voz de André, por isso revidava. Só que o convite
estava mexendo demais com ela. Nem olhava para ele para não deixar que lesse
esses sinais.
─ Pode ser que seja... – Riu muito. A
risada dele irritou mais ainda. – Mas é de mim que você gosta. Então, pensa
direitinho na proposta, tá? Agora, - abraçou-se a ela por trás, ela ainda
pensou em empurrá-lo novamente, mas ele a segurou de jeito. – eu preciso que
você saiba, Pequena, que eu não sou o Vini. – Essa frase tinha muitos
significados. Impossível prever a qual deles André se referia. – Se você disser
que não vai ficar comigo, eu não vou para o meu quarto me acabar de chorar,
você está entendendo? Eu vou descer e vou procurar uma boquinha linda como a
sua que queira os meus beijos...
─ Nossa! Que romântico! Isso é uma
ameaça? – Ironizou. E mesmo com a voz de André no seu ouvido a fazendo
enlouquecer, resistiu.
─ Só estou avisando que eu não sou um
príncipe encantado. Eu sou de carne e osso, Pequena. – Beijou o rosto dela. – É
esse cara que você quer? É com esse cara que você sonha? – Sussurrava.
─ André, por que você está brincando
desse jeito comigo? – Implorava. Não estava mais aguentando. Virou-se para
olhar para ele. Estavam muito próximos. Respiravam no mesmo ritmo.
─ Eu não estou brincando, Pequena. – Ele
se afastou e fez o caminho até a porta do quarto. – Você tem vinte minutos para
decidir...
Saiu do quarto. Poucos instantes depois,
Pedro entrou carregando Tito no colo.
─ Pimentinha, nós estávamos te
procurando para te dar um abraço? – Disse o irmão sorridente. – Feliz ano novo!
– Abraçaram-se. – Você está chorando? – Limpou uma lágrima do rosto dela.
─ Não é nada, Pedro. – Sorriu. – Me dá
aqui o Tito. – Pegou o sobrinho no colo. – É só uma saudadezinha da mamãe. –
Mentiu.
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