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quinta-feira, 29 de outubro de 2015

O Povo das Sardinhas


Como prometido, estou aqui para comentar um livro infantil. Parte do projeto novo do blog pós-maternidade..

Engraçado isso, com tantos blogs, sites, canais de youtube que falem de maternidade e tantos outros que falem de livros, ainda não encontrei um espaço que tratasse dos livros infantis, mesmo sendo um lugar comum. Então, resolvi fazer eu mesma esse trabalho. Tomara que eu possa contribuir com alguma coisa.

Antes de falar sobre o livro em si, é preciso tratar na minha relação com a Literatura Infantil. Desde a faculdade, tenho profunda admiração por esse tipo de leitura, não somente por conta do fator óbvio da formação de leitores e de cidadãos, mas também porque a literatura infantil me parece ainda muito mais sem limites do que a literatura voltada para adultos. Exemplo, enquanto nos universos fantásticos adultos é necessária uma vasta descrição de como os elfos existem para que o leitor creia na verossimilhança da história, na literatura infantil, eles apenas estão lá e convivem com centenas de outras criaturas sem que haja um momento de hesitação do leitor sobre sua existência. A meu ver, isso é maravilhoso, para muito além de Todorov.

As crianças, ao contrário de nós, não foram ensinadas a duvidar. Estão certas. Se, do ponto de vista delas, milhares de coisas inexplicáveis acontecem todos os dias, como uma gata que tem gatinhos dentro dela ou uma lagarta que vira borboleta, por que duvidar da existência dos elfos?

Nem por isso, entretanto, as crianças deixam de questionar. A pergunta, aliás, é a válvula central da condição infantil. Se conseguirmos preservar essa natureza argumentativa ao longo da vida, certamente teremos um adulto crítico. Por isso, é de fundamental importância que a criança questione, gere hipóteses, explique a leitura sobre o seu ponto de vista. Portanto, adulto, você que é leitor, tem que respeitar o momento, respeitar a história e viajar com a sua criança pelo universo das perguntas que ela vai fazer. Pois a história pode ser maluca, mas as conclusões da criança são sérias. Ou seja, não deboche das histórias infantis, da sua falta de senso, pelo contrário, aproveite-se delas para construir a criticidade. Entendeu?

O Povo das Sardinhas  de  Delphine Perret é uma dessas histórias aparentemente sem noção, com uma mão bem cheia  de alegoria, que vai virar a cabeça da meninada de sete/oito anos. Pode ser contada antes, sem problema, mas talvez não desperte o viés questionador do pequeno leitor.

Começando pela sinopse em si, trata-se da história das sardinhas. Remetendo a um tempo em que elas nasciam em árvores, já dentro das latinhas. As latas eram colhidas antes de estarem maturadas. E o governo tinha o monopólio das sardinheiras (árvore de sardinhas). Mas, um dia, um menino de nome Maurício resolveu ter a sua própria sardinheira e roubou uma muda. Regou. Cuidou. E, na sua viagem de férias, um fenômeno diferente aconteceu. As sardinhas fugiram e libertaram sua companheiras. Ironicamente, os homens não sabiam navegar à época, mas as sardinhas sabiam, elas partiram para o mar e se divertiam com as tentativas dos homens de recapturá-las.

Muito diferente! Encantador! Divertido!

Além do texto, vamos nos deparar com a maravilha que é a edição da Cosac Naify. A-M-O essa editora pelo investimento no inusitado. Nada que consumi dessa editora é lugar comum. Sem falar na qualidade do material gráfico. De certo que é mais cara que a maioria, mas o preço sempre se justifica. No caso de O Povo das Sardinhas, eles fizeram uma pré-capa, então, pegar o livro é como tirá-lo de uma lata de sardinha. Tem várias paródias com a lata de sardinha como os ingredientes: ideia fresca da melhor qualidade. "Enlatado à mão no ateliê da Cosac Naify". E até um "consumir de preferência em uma poltrona".

Para completar a teia de elogios, o trabalho sucinto e marcante de Delphine Perret, artista plástica francesa, tano no texto quanto na ilustração faz valer cada centavo.

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