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quarta-feira, 18 de maio de 2016

Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual Infantil

O agressor desenhado por Toni, 6 anos
Hoje não estava nem um pouco disposta a escrever, mas uma notícia, mais uma dentre o circo de horrores a que estamos nos habituando a viver, acabou por me chamar a atenção e eu precisava falar sobre isso.

Abuso e exploração sexual. Esse é um tema asqueroso até para adultos, mas falar sobre o que acontece com as crianças é doloroso e indigesto. Porém, é algo que precisa ser dito e escancarado. Discutido, conversado, esclarecido. As pessoas têm que trocar experiências a esse respeito, para que a informação circule, para que os sinais sejam reconhecidos, para identificar agressores, para punir, para acabar com esse pesadelo de porta fechadas.

Acreditamos, inocentes em nós mesmos, que coisas assim não nos atingem, que não chegam nas nossas famílias "normais" e esse ledo engano é o que faz o sofrimento ser prolongado. As evidências serem disfarçadas. E a página da vida ser virada como se um abuso sexual infantil fosse um tipo de mancha na história pessoal de alguém que pode ser esquecido.

Preferimos fazer isso porque geralmente os agressores são conhecidos. O amigo, o padrinho, o vizinho, o pai, o avô. E não excluamos as mulheres disso, pois embora em menor número, elas fazem parte dessa triste realidade também: a babá, a tia, a amiga, a vizinha. Sendo agressoras ou coniventes.

Victor, 7 anos, Ele era obrigado, aos 4 anos de idade, a fazer sexo oral no seu pai. A linha que sai da boca dele e vai até o pênis do pai representa a sua língua.
Conivência, inclusive, é o cerne da questão. Somos todos. Protegidos pelo bom e velho "não meter a colher". Mas será que devemos agir assim quando as vítimas são crianças? É uma discussão bem séria essa, afinal, ao proteger do abuso, muitas vezes estamos jogando a criança nas mãos do governo, nos abrigos, longe da família. E é difícil prever o que causa um maior impacto emocional. Realmente não sei. Queria saber...

Enquanto mãe, exaspera-me a possibilidade de não agir diante desses casos. Sou do bem, tranquila demais, enquanto cidadã, sou contra a pena de morte, mas enquanto indivíduo, asseguro que se acontecesse algo assim na minha casa, eu seria capaz de ferir e matar. Porém, na minha função de educadora, já vi casos bem cabulosos. Difíceis demais de decidir. E a decisão coletiva nem sempre foi a de procurar ajuda. Acreditem. E essas não foram decisões das quais me orgulho. Porém, o bom senso, ou talvez a falta de senso, leva-nos a agir de uma maneira que nos acalme o coração naquele instante. E eu garanto para você que o desespero de um menor diante da possibilidade de se ver sem a sua família é algo bastante angustiante

Apresento-lhes alguns exemplos com os quais já me deparei. Lembrando que sou professora de adolescentes. Amém. Porque se fosse com crianças pequenas, eu nem teria estômago.

1) Aula normal. Professor fala de um assunto qualquer, aluna entra em crise de choro. A aula acaba, ele pergunta o que está acontecendo. A menina mora com a avó e o tio aproveita as tardes para assediá-la brutalmente. A menina chora porque não quer que a avó perca a sua guarda.

2) A escola é vigiada por policiais. A adolescente de 14/15 anos aparece grávida. O pai é o policial. Os pais são chamados para serem orientados a prestar queixas. Os pais acham ótimo que a filha tenha se envolvido com alguém que seja concursado.

3) A aluna menor de idade está se prostituindo, a mãe é chamada na escola. a mãe justifica o comportamento da adolescente dizendo que o "namorado" de cinquenta anos dá a jovem coisas que enquanto mãe ela não consegue oferecer: calça de marca, maquiagem e celular.

4) Garoto violentado por vários colegas no banheiro, está machucado e visivelmente abalado psicologicamente, mas ninguém pode falar nada, nem denunciar, porque ele já tem fama de afeminado e vai ser considerado homossexual.

É isso, pessoal. É o que temos de enfrentar. Nem todas essas histórias são minhas, nem aconteceram nas escolas em que trabalhei, algumas são partilhadas entre amigos. Uma tentativa de buscar a solução no outro. Na palavra do outro, no seu discernimento.
Isabel, 8 anos. O pai colocou ela em uma cadeira pra penetrá-la por trás. Ela também retrata o irmão mais novo que ficou vendo tudo acontecer pela porta.

A quem diga que isso não é abuso ou exploração. É sim. Não é porque são adolescentes que eles estão de acordo com isso. E mesmo que estejam, provavelmente, foram induzidos a acreditar que essa é a forma correta de se relacionar com o sexo. Mas, nessa idade, é mais fácil dizer que é safadeza. Que eles sabem muito bem o que querem. Só digo uma coisa: e se fosse o seu filho?

Em se tratando de idade, entretanto, é verdade, com relação a crianças pequenas, a coisa é pior ainda. Não somente porque são menores e incapazes de verbalizar, mas porque nem sequer sabem que o que está acontecendo com eles é ruim ou errado.

Do ponto de vista infantil, adultos fazem o bem. Alimentam, protegem, divertem, cuidam. E, por sua curta experiência de vida, é normal experimentar coisas novas. Então, quando o adulto de confiança o ensina "algo novo", um toque nas partes íntimas, um pedido de silêncio, a penetração, e diz que um dia a criança vai aprender a gostar, ela vai se forçar a acreditar nisso. Ela vai confiar. Mesmo quando algo dentro de si a alertar sobre um desconforto.

O comportamento infantil vai mudar com o assédio, pois, no fundo, a criança acha que é ela a errada. Sente-se nervosa e acuada, foge da convivência, pois acha que o assédio pode vir de qualquer um. Ou seja, ela perde sua relação de confiança com o mundo. Tem medo do agressor. E não sabe se pode dizer o que está acontecendo, nem para quem. É um horror.

Por isso, queridos, vigiar sempre. Conversar com a criança. Querer saber a origem dos mínimos detalhes da mudança de comportamento do seu filho. Se ele não vê ninguém batendo, por que bate? Se ele não gosta de alguém, qual o motivo? Se usa palavras que não são do seu vocabulário, quem ensinou? Atitudes assim devem ser do cotidiano de qualquer pai presente, mas se não é, deve ser, não só por uma questão de proximidade emocional, mas de segurança.

Os desenhos são da exposição espanhola de 2010: Monstros na minha casa. Mais sobre aqui.

E deixo vocês com um vídeo para ser passado para as crianças a fim de ensiná-las a se defender.

No caso de denúncias, disque 100. Disque Direitos Humanos.

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