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segunda-feira, 9 de maio de 2016

RuPaul's Drag Race

Oi, gente,
a semana passada foi complicada. Bia com quadro viral. Primeira vez com disenteria. Febre alta. Muita preocupação com a absorção de líquidos. Acabei não escrevendo.

Não posso mentir, entretanto, que o único motivo da falta de posts da semana passada tenha sido minha filha doente. Seria injusto com ela. Acontece que o glamour drag finalmente me alcançou. RuPaul's Drag Race. Eu simplesmente não conseguia mais parar de assistir.

Minha irmã já tinha me alertado sobre o programa e eu ainda não tinha dado uma chance. Veja bem, sempre fico receosa com relação às indicações da minha irmã. Ela já me indicou Crepúsculo (imperdoável). E vive me sugerindo uma longa lista de livros e filmes tristes que doem. Tipo garota de doze anos estuprada pelo vizinho que fala do além sobre como seus familiares reagiram a morte dela. Minha irmã diz que é lindo, eu penso que vou me acabar com um negócio desses. O drama simplesmente não me faz bem.

Outra coisa que não me cai bem são as séries. Detesto ficar viciada. Detesto mesmo. Aquela sensação de esperar desesperadamente pelo próximo episódio me angustia ao ponto de me fazer detestar o processo inteiro. Por outro lado, aquele amontoado de episódios a serem vistos no Netflix simplesmente me dá uma preguiça danada. Em resumo, em se tratando do universo da imagem, sou de filmes. E olhe lá!
Mas Drag Race me ganhou no primeiro Lip Sync For Your Life (dublar pela sua vida). Não resisti. Passei tardes vendo episódio após episódio, apegada a várias daquelas drags, rindo até não poder mais da gírias, incapaz de fazer qualquer outra coisa. Dependente. E agora, depois de terminadas as cinco temporadas que estão no Netflix, enquanto procuro os episódios das duas temporadas que não vi, consigo falar a respeito.

Para você que não conhece o programa, trata-se de um reality show em que Drags tentam ser a melhor Drag Queen da América. Para tanto, toda semana surgem novas provas em que seus talentos de artista são testados. Provas de imitação, de costura, de comédia, de improvisação, tudo isso com uma dose extra de moda, glamour e maquiagem em grau avançado. Além de muita fofoca e bafão (imagina colocar treze drag escândalo trancadas no confinamento? Jogos Vorazes da peruca, minha filha). No fim de cada semana, durante o desfile de um look, uma drag é eleita a vencedora do desafio e outras duas têm de dublar por sua vida. Dublar por sua vida, gente. Tem que ver. Então, depois da performance, RuPaul decide quem fica e quem vai. Sashay Away.

RuPaul, o apresentador do programa, é um ícone da cultura pop. Um cara que elevou a profissão de Drag Queen a outros patamares no meio artístico por ser um excelente performista tanto vestido de homem quanto de mulher. Ele tem o respeito dos participantes e recebe deles a alcunha de mãe. Através do programa, podemos tomar conhecimento de todo um universo e cultura drag que não aparece nas apresentações. Ou seja, o que leva uma pessoa a se montar e como um homem aprende tanta coisa sobre o universo feminino. Pois, vamos combinar, eles se maquiam, vestem-se e arrumam os cabelos bem melhor do que muitas de nós. 
RuPaul e o pessoal do Nirvana na década de noventa

Percebe-se, portanto, a pessoa por detrás da drag. Tantas histórias de abandono, agressão, sofrimento, solidão. Tentativas de encontrar um lugar numa sociedade que odeia tanto. De buscar a aceitação de si mesmo e da compreensão da família. Histórias que chocam e entristecem por serem tão comuns. Por serem a regra. Fico impressionada como essas pessoas encontraram forças para enfrentar tantos olhares de julgamento.

Entendi também muita coisa vendo o programa. Entendi, por exemplo, que para ser drag, não necessariamente se precisa ser gay, muitas são, mas não é regra. Drag Queen é uma profissão, um tipo de performance, de arte. Uma caricatura do feminino, mas sem os pudores que são impostos a esse sexo. Uma drag pode ser tudo. Entendi que existe uma união por detrás da disputa. Uma solicitude que vem do sofrimento. As mais velhas ajudam as mais novas. Ensinam. Acolhem. É uma arte passada através de mentor, ou seja, alguém que um dia foi acolhido, um dia vai acolher uma novata. São as mães drag. Reflexo desse abandono tão comum para com aqueles que se mostram diferentes.

Aprendi também que existem vários tipos de drag, as muito bonitas cujo o esforço é mostrar uma figura feminina a mais perfeita possível, as drags dançarinas, as drags engraçadas, as drags animadoras, as drags cantoras, as drags costureiras, as drags maquiadoras. Tem talentos em todas as áreas. Entendi também que Drag é diferente de travesti, diferente de transsexual, diferente de mulher. E lidar com os pontos que se assemelham e se diferenciam nessas categorias é uma tentativa de aprender. Já a ignorância, por sua vez, é a principal fonte do preconceito. Quando buscamos saber do que se trata, quando buscamos entender, estamos a um passo de aceitar. Chegamos bem perto do respeito. E respeito é a pedra fundamental de qualquer relação humana.


Talvez, para as pessoas que sofrem com esse tipo de preconceito (e eu gosto de deixar bem claro que minha empatia só vai até certo ponto, uma vez que não sei mesmo o que é estar na pele delas), o programa seja uma forma ofensiva de tratar a condição do homossexual por reforçar esteriótipos. Não sei. Eu, entretanto, acredito que fica quase impossível não se conectar com essas histórias tão humanas, com tanto talento absurdo, com tanta perseverança, com tanta vontade de viver e ser feliz, com tanto companheirismo. Acho, inclusive, que nós mulheres temos muito a aprender com as drag, pois, enquanto o sofrimento as une, a nós, separa.

Quando se fala de sonhos e de tentar ser você mesmo, as imposições sociais vão bem além da questão da orientação sexual. Sem querer diminuir o sofrimento do processo, pelo contrário, para valorizar a mensagem de que: se é isso que você é, mostre para o mundo, acho que o programa gera uma identificação com qualquer um que passe por uma situação assim, alguém que escolhe mostrar um talento que seja diferente. Seja gay ou hétero, homem ou mulher, trans ou cis.

E acho que, além de divertido, RuPaul's Drag Race é uma lição de respeito à vida dos outros. E vale demais ser assistido.

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