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quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Gravidez na adolescência

Nossa que preguiça de escrever! A semana não está fácil. Muito trabalho. Pediatra. Dentista. Meio mundo de gente com virose. Assembleia da categoria. Ameaça de greve. Preparativos para o aniversário da Beatriz. 

Mas, de alguma forma, a gente precisa vencer os desafios diários... Viver é isso mesmo. Uma coisa de cada vez e na medida do que se consegue resolver.

E tem tanta coisa para falar, para refletir, para pensar, não posso simplesmente deixar de escrever por conta do cansaço. Nesses dias, por exemplo, acompanhei de longe a polêmica da Juliana, que recusou-se a participar do desafio da maternidade, e optou por desabafar no Facebook suas frustrações. Juliana recebeu tantas críticas que chegou ao ponto de ter sua conta bloqueada. Simplesmente por falar abertamente que ser mãe não é fácil e que tem gente que não gosta. Não sabe do que estou falando, veja aqui.

Antes de mais nada, acho que falta solidariedade. Existe uma ideia imaculada circulando por aí de que a maternidade é algo natural, própria da condição feminina, que a mulher floresce como a primavera, mãe-terra, absoluta encarnação da deusa. E nem é. E quem é mãe sabe disso. Mas repete o mantra. E mais, critica quem foge da regra.

Para além do biológico, ser mãe é uma das tarefas mais difíceis que já enfrentei. É um exercício diário de abnegação, de paciência, de medo, de frustração, de amor incondicional, de expectativas, de uma porção de coisas, nem todas lindas, nem todas fáceis, a maioria, na verdade, bem complicadas de se lidar. Enfim, não é natural, no princípio, você simplesmente abre mão de ser você mesma, como a Juliana disse. Aos poucos, você vai reaprendendo. Pequenas e grandes coisas que você reconquista com o passar dos meses, conseguir fazer uma refeição quente sentada na mesa, usar salto alto, passar uma tarde absorta no trabalho, tudo isso, antes natural, vai ter de ser reaprendido. É muita renúncia.

Mas eu escolhi renunciar. E mais, eu tinha a exata noção (ou quase) do que iria perder e do que iria ganhar. Eu estava preparada. E amparada tanto por uma família quanto por um companheiro que eu escolhi muito antes de pensar na chegada da Bia, um cara que eu já sabia bacana muito antes de me meter nessa empreitada. Além disso, tem o dinheiro. Não somos ricos, mas pagamos nossas contas. E isso faz uma grande diferença, pois o dinheiro, de fato, não compra a felicidade, mas a segurança que ele proporciona é um dos pilares que sustenta a paz.

Digo isso porque continuo vendo, com tristeza no coração, minhas alunas adolescentes inchando como pãezinhos no forno. Alisando suas barrigas e postando fotos no Facebook. Reforçando essa ideia imaculada de que a maternidade é linda e perfeita. Que estão felizes e resplandecentes. Que tudo é alegria e júbilo.

Não sei se a ignorância as protege ou se é uma tentativa de se convencer.

O meu ponto de vista obviamente é diferente dos delas por questões econômicas e sociais. Por exemplo, em Maracanaú, é bem normal ser mãe jovem, o que no meu meio social não é. Existe quase um padrão familiar ali, com bisavó, avó, mãe e filha vivendo na mesma casa, e a bisavó não conta setenta anos. Isso facilita a aceitação da gravidez da adolescente. Em verdade, é como se as famílias já esperassem que isso vá acontecer. Além disso, uma menina de 19 anos, por exemplo, vai encontrar várias outras amigas na mesma situação de maternidade precoce. 

Na minha adolescência, engravidar era algo fora de questão. Não me passava pela cabeça, não era nem sonho nem vontade e as amigas que passaram por esse processo tiveram que amadurecer rapidamente, às vezes, sem apoio dos familiares que tinham outras expectativas para elas.

Imagine, então, como é difícil confrontar minha experiência de vida com a delas. Como defender o direito de ter essa fase na vida de egoísmo: o final da adolescência e o início da juventude? Tempo de flertar com o amor e com o prazer, de estudar, de se estabelecer financeiramente, de se conhecer e conhecer o mundo. 

Mas não é esse o modelo que elas conhecem. Nem sequer almejam isso. Estão presas pelo sentimento muito forte que nutrem pelo namorado (que elas pensam que é eterno). Pela ideia de que as coisas se ajeitam na vida. Por suas baixas expectativas de si próprias e do futuro.

E a gravidez acontece. A-con-te-ce. Planejamento zero para a maior decisão da sua vida. A mais importante de todas. Aquela que vai te mudar completamente. Para sempre.

E acontece pelos motivos mais esdrúxulos. "Não deu tempo", "A gente não pensa nessa hora", "Meu namorado disse que me largava se a gente usasse camisinha", "Eu perdi o primeiro e a gente planejou o segundo". Ufa! Como me dói. Essas são todas histórias que já ouvi nos corredores do colégio. Mas, como elas dizem: "o importante é que venha com saúde".

Não, meninas, não é. A saúde do seu filho é importantíssima, mas ela não é suficiente como essa máxima prega. Pois você e as suas necessidades ainda vão existir.

Amor não enche barriga. Nem preenche coração. Não realiza. Não traz felicidade. Não coloque a responsabilidade da sua felicidade no outro, é injusto. Não confunda o sentimento sublime que você sente/sentirá por seu filho com plenitude. Amar é bom, mas pode ser triste e, na maioria das vezes, é bem difícil. Seu bebê pode estar maravilhoso e você estar tão frustrada e infeliz a ponto de cair em depressão. Uma coisa não tem nada a ver com a outra.

Quero dizer, embora seja complicado de perceber isso, somos seres totalmente independentes dos nossos rebentos. Quando eles nascem, enquanto eles crescem, vamos nos dar conta de que continuamos mulheres, que precisamos ser amadas, precisamos nos sentir bonitas, que precisamos ser valorizadas, que queremos ser reconhecidas profissionalmente, pela nossa capacidade, pela nossa inteligência, que também precisamos viajar e ver coisas novas que nos encantem para além da Galinha Pintadinha, que organizar festa infantil é até legal, mas que passar uma madrugada na balada também faz parte da gente.

Já imagino minhas alunas dizendo "posso fazer tudo isso e ter um filho". 

Será que pode? 
E as custas de quem?
Lembra do dinheiro? De quem é o dinheiro?

Acho isso interessante na cabeça da adolescente que engravida, elas não reparam na dependência financeira, pois parece algo natural. Quando se é criança existe uma ideia de que seus pais vão lhe sustentar, é natural. Em condições ideais, um dia você vai perceber que é extremamente prazeroso pagar suas próprias contas e decidir sua própria vida. Você começa a trabalhar, ganha uma merreca, mas compra as suas coisas, depois, vai melhorando de vida, decide morar sozinho e por aí vai. Esse processo não se dá com a adolescente grávida. Como poderia ser? Na maioria das vezes, ou o novo marido (se ainda estiver com ela), ou os avós da criança assumem a despesa. A vida prossegue. Algum dia, a nova mamãe vai arranjar um emprego e ganhar a merreca, ela acha o máximo, pois compra as próprias coisas, só não percebe (ou não quer ver) que deveria estar sustentando a criança também. E criança é caro.

E elas continuam a repetir o mantra de que o dinheiro não traz a felicidade, que o amor tudo vence e que ser mãe foi a melhor coisa que já lhes aconteceu (talvez até seja, mas como você vai saber se viveu tão pouco do que existe no mundo?)... Fazendo crer que levar um filho doente, nem precisa ser grave, basta uma dor de ouvido, para uma emergência pública é algo simples de se lidar ante a felicidade abundante que vivem.

Minha intenção não é humilhar minhas alunas mães. Realmente desejo que sejam felizes. Posso até citar outro ditado: Deus escreve certo por linhas tortas. Aproveitem da melhor forma e encarem a vida com coragem, pois eu enxergo além das fotos nas redes sociais e sei pelo que vocês estão passando. Não é nada fácil e você tem todo o direito de ficar zangada e frustrada às vezes. Não caia nesse mito da maternidade perfeita, ela não existe para ninguém. Imagina para você que teve de enfrentar tudo tão cedo. Toda a minha admiração para quem encontra em si a abnegação para vencer as adversidades.

A minha questão é alertar minhas alunas adolescentes de que existe um mundo bem maior lá fora. Está nas suas mãos alcançar esse mundo e esses sonhos de maneira bem mais simples do que com um filho no colo. Agora é tempo de beijar na boca. De entrar na universidade. De amar-se. De ser egoísta mesmo. Descubra quem você é, seus limites e ambições. Tudo tem seu tempo. Um dia, você vai escolher ser mãe. Escolher é bem melhor do que simplesmente acontecer, minha gente.

Por tudo isso...

Sexo, minha querida, só se você estiver preparada (fisicamente e psicologicamente). É preciso maturidade para encarar a sexualidade.
Sexo, só se você quiser. Seu namorado tem duas opções: entender ou cair fora. Ame mais você do que ele. Ele faz isso.
Sexo, só se for com camisinha. Existe mais coisa no mundo além de gravidez.
Sexo, só se for com visita ao ginecologista e com anticoncepcional. De novo, ame você mesma, cuide-se.

E mais, se você reparou, eu só me referi a gravidez do ponto de vista feminino. Outro dado alarmante, salvo raras exceções, que me orgulham e a quem muito admiro por cumprirem com seu papel dignamente, poucos são os pais adolescentes que sequer se incomodam com a gravidez de suas namoradas. A maioria vai viver a vida como se nada tivesse acontecido, jogam bola e reclamam das broncas dos pais que pagarão a pensão ou do corte que farão no dinheirinho da cerva com os amigos por conta das fraldas. A nossa sociedade admite que se comportem assim, sem experienciar o amor de um filho e sem colaborar com a dedicação que uma criança precisa, ou seja, continuam egoístas. Isso precisa mudar e está mudando, mas é um traço cultural que vai demorar para ser vencido. Nesse contexto, muitas das minhas alunas que engravidam hoje vão entrar sozinhas nessa empreitada, contando apenas com os próprios pais e com alguns amigos, os poucos que permanecerem. Por isso preciso pedir a elas que se amem mais, que se cuidem mais, pois muitos vão dizer que o farão, mas poucos cumprirão a promessa.




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