
Tratava-se de um relato de violência. O jovem relatava ter sido agredido, por estar beijando seu parceiro, em plena Praça da Gentilândia no Benfica. Para quem é de fora, que fique claro, que o bairro (e essa praça em específico) é um conhecido reduto LGBTS. Assim como a Pracinha em frente ao shopping Aldeota era um conhecido reduto de pessoas que gostam de animes e cultura geek. Assim como o Condomínio Uirapuru é conhecido por promover eventos religiosos. E, na minha cabeça, se você não gosta do que acontece nesses lugares, simplesmente não vá. Porém...
Mas o melhor (se é que dá para usar essa palavra nesse contexto) está por vir. Os agressores. Nada mais nada menos que vendedores de drogas. Isso mesmo. Os traficantes locais bateram no casal. Diz-se, aliás, que isso está virando prática comum do lugar. Não é lindo? Traficantes preocupados com a moral e os bons costumes? Provavelmente, tementes a Deus.
Antes que as cabeças toscas comecem a raciocinar, vamos esclarecer alguns fatores. Você, preconceituoso de carteirinha, vai dizer: mas a culpa é dos viados que usam drogas. Perdidos. Merecem mesmo. E blá, blá, blá... Vomitando imbecilidades sem fim. Gays e héteros usam drogas. Aliás, para e pensa, que tipo de atendimento ao cliente é esse por parte do tráfico: eu vendo para você e eu te bato. Não acho que seja um marketing eficiente. Acho que é melhor o pague um leve dois ou até o chiclete com a figurinha, mas vou deixar você tentar encontrar desculpas para isso...

Falta um pouco de raciocínio dedutivo aí, gente, estamos misturando causas e efeitos. Gay não é igual a droga. Gay não é igual a promiscuidade. Embora existam gays que usem drogas e existam gays promíscuos. Mas, na verdade, o que é que eu tenho a ver com isso? Nada. A questão desse post, por sinal, passa mais por essa inversão de valores. É o traficante ensinando moral. É a violência reprimindo o amor. E tudo isso regado por um egoísmo imenso. Afinal, jogamos essas pessoas nos guetos. E até nos guetos, eles apanham. Até nos guetos eles morrem. E parece que isso é o certo a se fazer pelo bem comum.
Mesmo que o relato não seja verdade. Os números da violência contra a comunidade LBTS são alarmantes. E a sociedade tem lutas muito mais importantes a vencer do que ir contra os direitos básicos dos homossexuais e outras definições. Direitos que qualquer cidadão tem. Enquanto houver houver lacicismo, pelo menos. E Deus permita que isso continue a existir, porque da última vez que religião e justiça se misturaram foram mil anos de trevas e escuridão.
A luta contra o consumo de drogas. A legalização. A conscientização da juventude. O acesso aos centros de apoio. A violência gerada por esse câncer social que é a droga. Tudo isso é tão mais relevante do que dois rapazes se beijando em uma praça. E, ainda assim, essas bandeiras de ódio explícito continuam a ser erguidas e heróis fascistas surgem com cada vez mais força, amparados apenas pela raiva e pelo egoísmo.
A idiotia é o mal do século, sem sombra de dúvida. Enquanto escrevo, penso naqueles que colocarão o homossexualismo e o vício no mesmo patamar. Acusando-me de hipócrita. Afinal, "duvido que ela queira que a filha veja dois homens se beijando". Em primeiro lugar, não me incomodo um milímetro com dois homens se beijando na frente da minha filha, contanto que se mantenha o decoro, isso vale para casais de qualquer natureza, inclusive para héteros como eu e o pai dela e cachorros grudados no meio da rua. E, ainda assim, caso ela veja algo "inapropriado para a idade", tudo é oportunidade para diálogo e conversa.
Em segundo lugar, de certa forma, o pensamento preconceituoso tem alguma lógica, pois existe mesmo uma relação entre vício e homossexualismo. Tanto o viciado como o gay não tem saúde. Saúde, se tomamos por base a OMS (organização sanitária vinculada à Organização das Nações Unidas), seria “estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não somente a ausência de enfermidade ou invalidez”. Por esse ponto de vista, viciados e homossexuais estão no mesmo barco, pois dependem do poder público para alcançar essa saúde de bem-estar físico, mental e social. E, definitivamente, nenhum desses dois grupos e suas interseções merecem a lixeira social em prol de um "cidadão de bem", categoria, aliás, que eu nem acredito que exista de fato.
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