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segunda-feira, 1 de abril de 2013

Nihonjin

Nihonjin quer dizer japonês em japonês. Você sabia disso? Eu não.

Confesso que fiquei meio assim diante desse livro... Por um momento, pensei que entraria num universo puramente étnico, o  tipo de microcosmo que costuma ganhar prêmios de literatura. Afinal, Nihonjin é vencedor do Primeiro Prêmio Benvirá de Literatura e Oscar Nakasato foi o ganhador do Prêmio Jabuti do ano passado (para quem não sabe, o Jabuti é o símbolo máximo de reconhecimento em literatura no país). Estava niponicamente enganada. Esse livro é lindo!

A escrita de Nakasato é sem frescura, suas figuras não são belíssimas e, com certeza, não é apenas o apuro da palavra que torna Ninhonjin um livro com mérito para ganhar um Jabuti. Em compensação, a história dessa família japonesa é de fazer arrepiar.

Aqui não se trata de heróis, de homens e mulheres sem defeitos, de exemplos, são apenas seres-humanos na difícil tarefa de encarar o outro e conviver. E como é complicado esse exercício de confronto. Nunca tinha pensado, provavelmente pelo fato de ter nascido num estado que quase não recebeu imigrantes, que tipo de desafios essas pessoas enfrentaram no seu cotidiano.

Oscar Nakasato, misturando ficção e a sua própria história familiar, conta um pouco dessas dificuldades e da História do nosso país por tabela. Uma das minhas partes favoritas é logo no começo, como colonos nas fazendas de café, o avô de Nakasato e sua primeira esposa, sem falar uma palavra em português, têm de conviver com negros, italianos, brasileiros. Que loucura! As crenças, o conceito de moral,  de fé, a comida, a música, o jeito de morar e comemorar. Tudo é drasticamente distinto!

Logo na chegada, Hideo, o marido, avisa a esposa, Kimie, que ela deve se manter afastada dos negros porque eles são um tipo de povo que não merece consideração porque se submeteu à escravidão. Longe da questão da cor, culturalmente falando, lembrando que em termos de cultura não existe certo e errado, o grande problema para Hideo é a submissão. Na cabeça dele, ante a escravidão, um japonês preferiria a morte, o suicídio.
Depois, Kimie acaba precisando da ajuda de uma negra para recuperar a saúde e Hideo aceita a ajuda, mas considera aquilo uma das piores humilhações.

Sua mente ocidental não consegue compreender essa atitude?
Imagine-se no universo de Hideo. Lutando contra o espaço físico, contra a escola, contra o modelo brasileiro de costumes e tentando ainda assim criar filhos japoneses. Porque ser japonês, para ele, era a maior herança que poderia deixar aos filhos. Quem sabe você consiga entender... 

Ainda estou fascinada elas reviravoltas da história dessa família linda. Chocada com algumas coisas, ciente de outras tantas. No geral, foi bom enxergar o Brasil pelos olhos de outros. Outros que lutaram geração a geração para continuarem japoneses, apesar do Brasil. Fica de tudo isso que a construção de uma nação e um sentimento de povo sempre tem de passar por sangue, suor e lágrimas. O tempo vai passando e não importa exatamente quem chorou, quem sangrou ou quem suou. No final, somos uma coisa só. 

Concluindo: a leitura de hoje apenas me deixou consciente de que os olhos puxados dos ninhonjin, tantos anos depois da chegada às terras tupiniquins, também têm muito a dizer sobre o significado de ser brasileiro.

Recomendo. Recomendo. Recomendo.

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