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quarta-feira, 26 de junho de 2013

O dia depois de amanhã

Meu post hoje será sobre a vida real e não sobre ficção. 

Até agora não falei sobre as manifestações que estão ocorrendo em todo o Brasil porque não sou inteiramente a favor delas. Como meu público, na sua grande maioria adolescentes, pode ser bastante passional, achei melhor não inflamar uma ferida aberta numa geração sem causa para ser rebelde. 

O futuro da nação está nas ruas. Acordaram o gigante.  Posso ouvir ecos das músicas do Legião Urbana e do Cazuza em todos os cantos. De fato, como negar o grito de: Que país é esse? Não é mesmo? É fome. É descaso. É corrupção. É ladroagem.

Eu só gostaria de lembrá-los de que não é tão fácil assim largar um berço esplêndido onde se esteve deitado eternamente. Este país é uma democracia. E democracia não é o governo do demônio. É o governo do povo. Será que nós sabemos o que isso significa? Significa que a maioria vence. E a minha reflexão está no conceito de maioria.

Os brasileiros estão nas ruas caçando bruxas e exorcizando demônios, diga-se de passagem: todos de uma vez indiscriminadamente, já que hoje se reclama da faixa de pedestre fora do padrão FIFA à Pec 37. Como se fosse uma batalha de sabres de luz entre o bem e o mal. Acontece que, nesse cenário, somos nós que colocamos o Darth Vader no poder. Parece que de uma hora para outra todo mundo se esqueceu da sua parcela de responsabilidade nisso e pode apontar o dedo para o outro com toda a segurança do mundo.

Não sou contra uma manifestação. Sou contra a alienação, seja ela sentada no sofá ou no meio da rua pintado de verde amarelo. Acho que uma manifestação precisa de uma finalidade, de uma reivindicação exequível e de começo, meio e fim. Como foram as reivindicações do Movimento Passe Livre. No Brasil, entretanto, isso parece quase impossível. Hoje tem tanta gente segurando cartaz sem saber o motivo que virou micareta. E não venha me dizer que é por causa dos gastos abusivos da Copa. Qualquer um com o mínimo de discernimento vai fazer uma reflexão coerente e admitir que se oito anos atrás tivesse havido um plebiscito pela Copa do Mundo, a maioria, aquela maioria da democracia, teria dito SIM em letras garrafais. E como imaginar que seria diferente... Onde estavam os manifestantes nesses oito anos? Será que estavam vendo Mano Menezes cair e subir o Felipão?

Só para lembrar, os brasileiros estão nas ruas, mas os estádios estão lotados também. Até nos jogos de pequeno porte. Hoje, a briga era para sair mais cedo do trabalho, para assistir à seleção, já que não era feriado. Quem trabalhou, como eu e meus colegas, recebeu de brinde uma tentativa de assalto. Em plena escola, com um monte de alunos, sem ter para onde correr. Um horror. Por que o ladrão escolheu a escola? Porque todos os outros estabelecimentos estavam fechados. Fechados por causa do jogo. Não tinha ninguém nas ruas. Mesmo sem ser feriado. O brasileiro faz seus feriados para ver a canarinho em campo.

Enquanto escrevo, escuto fogos, mas não escuto manifestantes. E a maioria, gente? É a maioria que elege os representantes, ok? E nós não somos capazes de mudar um país sem ações inteligentes. Sem convencer a maioria. Maioria que acha que ser gay é errado. Maioria que acha que é certo prender menino de 16 anos. Maioria que não sabe do que são feito os três poderes desta nação. Nesse caso, ir para as ruas e fazer parte de uma festa pobre que os homens armaram para me convencer? Uma festa partidária. Uma festa que apaga algumas políticas públicas eficientes de distribuição de renda. Uma festa que talvez, para essa maioria perigosa, crie novos heróis. Paladinos da justiça como o Ministro Joaquim Barbosa? 

Tô ficando em casa...

Não sou contra as manifestações. Só acho que a verdadeira revolução acontece nas urnas. E lá o gigante continua no sono REM. Mil perdões pelo ceticismo, mas eu não sinto a menor falta de ditadura para me afirmar como intelectual. Tampouco vejo diferença entre um político ladrão e um idiota que aproveita uma manifestação para quebrar e saquear uma loja. Na minha cabeça, é tudo Brasil.

Nesse ponto, vou fazendo a minha parte. Vou educando e transformando cabeças. Cidadãos críticos que farão a revolução nas urnas. Cidadãos que um dia irão as ruas como maioria para decidir não o futuro de uma nação, que isso é muita coisa para uma manifestação só, mas que lutarão pelos vinte centavos da passagem ou pela segurança dentro da escola do seu bairro.

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