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terça-feira, 25 de junho de 2013

Trecho de Por onde andei

Eu podia ficar muito fula de raiva com a vida. Ah! Taí uma coisa que eu podia mesmo... Nem fico.
Quem me vê na capa da revista não sabe quem eu sou, nem da onde eu vim. Nasci Bruna Gabrielly de Oliveira Drummond. O Gabrielly eu excluí total. Nome composto já não está na moda. Mas, dois eles e um ípsilon é demais, a cara da favela. E eu já dei um chega pra lá na pobreza há muito tempo.
Mas nem sempre foi assim. Peguei muito ônibus lotado. Gente suada. Mulheres carregando sacolas e sacolas cheias de potes plásticos. Eu, tão pequena no meio daquilo tudo, agarrada na perna da minha mãe, ela mesma, mais uma das mulheres cheias de sacolas. Saí daqui passado que não me pertence! Nem eu acredito mais nisso. Quem me vê pensa que nasci de frente para o mar.
Hoje, nas entrevistas, digo que fui classe média. Que cresci num bairro descente da minha cidade. Que estudei em escola particular. Que nada! Minha mãe vendia confecção popular num quiosque no centro. E o meu pai? Meu pai era um playboyzinho de periferia. Desses que a mãe sustentou no sacrifício a vida inteira para que no final ele não valesse nada.
Meu pai até hoje está querendo abrir um negócio próprio. Não tolera patrão, diz ele. Mentira! O que ele não tolera é trabalho. Agora, verdade seja dita, nunca foi machista ou orgulhoso. Sempre teve uma mulher para sustentá-lo e isso nunca o ofendeu. Primeiro minha avó, depois minha mãe, tentou comigo também. Ah! Mas aí ele caiu do cavalo! Eu não sou mulher de bancar marmanjo. Acho que nunca serei...
Quer dizer, talvez eu seja! Não me incomodaria de bancar um moreno saradinho, ou um loiraço de olhos azuis penetrantes. Tê-los aqui, na palma da minha mão. Aí, quem sabe, seja uma vantagem. Porque esse lance de amor também... Já vi que isso é tão mentira quanto eu mesma. E é furada da grossa! Nessa brincadeira a gente só se ferra.
As pessoas acreditam em amor de novela. Não sei como. Pura bobagem. Eu faço a novela. Posso garantir, na vida real aquilo lá é impossível. Amor? Amor não move montanhas, o dinheiro sim. No fundo, tudo tem a ver com fama, dinheiro e grana.
Eu também não sou idiota. Quero muito tudo isso. Quero agora. Quero já. Amor eu compro depois. Por isso, quando a minha agente falou que eu deveria participar desse programa, nem pensei duas vezes. Ela precisou de poucas palavras para me convencer: vai subir o cachê.
Eu e a Daniela, isso sim é que é amor de verdade. O que nos une é a grana. Bufunfa. Troco. E a ideia é brilhante. A Dança dos Famosos! Como é que eu não pensei nisso antes? Milhares de brasileiros me vendo arrasar na pista de dança com minha pose de boa moça. Vai chover comercial e vou conseguir o papel adulto que eu tanto quero. Vou acabar esse negócio como protagonista da nova novela das nove.
Mas nada poderia ser fácil para mim. Não. Não seria a minha vida se fosse fácil. Se fosse tudo em paz, não seria Bruna Drummond. Já até me acostumei.
Enfim, tô lá bem sentadinha. Sorriso glamoroso. Carão. Cabelo lindo. Esperando delicadamente o sorteio dos parceiros para o programa. E aí, de todas as pessoas desse mundo inteiro para dançar comigo, eis que surge Carlos Eduardo Meireles Dávila. O idiota da minha sala do Colégio Santa Inês.
Como, meu Deus? Como? Será que eu não paguei o suficiente de penitência nesse mundo? Será que o divórcio conturbado dos meus progenitores (pai e mãe deve ser outro tipo de coisa que eu mesma nunca conheci) não foi suficiente? Será que as audiências pela minha guarda e pelo meu dinheiro não limparam os pecados da outra encarnação ainda?
Agora, eu vou ter que encostar nesse idiota. Nesse metidinho. Nesse filhinho de papai. Nesse intelectualzinho de merda. E pior, vou ter de fazer isso sorrindo para centenas de pessoas na televisão.
Ah! Mas esse cara não vai conseguir me derrubar do salto. A vida já me deu muita rasteira para que eu caia por qualquer coisa.

Eu nasci atriz. Na maternidade, o meu choro era o mais dramático. Minha avó diz que eu aprendi a fingir manha antes mesmo de aprender a sentar. Eu supero. E supero com sorriso nos lábios. Supero acenando para os fãs. Vou transformar essa dupla em campeã, nem que me custe sangue, suor e lágrimas.

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