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sexta-feira, 25 de março de 2016

Dois anos

Há dois anos atrás, no meio de uma correria danada, pressão descontrolada, avós em São Paulo, a Tia Maida (obstetra e tia) resolveu que seria melhor para nós duas que a Beatriz chegasse logo. 

Difícil dizer o que é ser mãe. Quando tá aqui dentro, é uma experiencial corpórea, visceral. Eles chegam depois, mas parece que a visita somos nós. Determinam se temos fome, se estamos bem, se podemos ou não dirigir...

Daí, nascem... Cesárea. Sensação esquisita. Nervosismo. Medo. Achava que não ia sentir nada, mas é quase como ser um saco de gatos. As coisas (criança e médico) mexem dentro de você sem sua autorização.

E o choro. No caso da Bia, demorou. A gente prende a respiração. O coração dá um pulo. Vem aquela trouxinha para perto de você. Um pacotinho que você nem conhece ainda, mas vai amar para sempre. No meu caso, um bebezinho cumprido de pernas e mãos enormes.

Fui costurada. Não senti absolutamente nada. Se dependesse apenas do parto, teria cinco meninos. Enquanto isso, a Bia foi conhecer o pai dela. Não vi a cena. Mas teve choro, é de praxe. 

E foi então que eu me vi mãe.
A primeira coisa que chega é o amor. Medonho. Irreversível. Sem igual.

Logo depois, o medo. Que medo! Medo de falhar, medo de perder, medo de não dar conta, medo de não entender. Medo. Medo. E mais medo. A lista só aumenta. De sequestro. De afogamento. De obesidade. De que sofra. De que não aprenda. De que se torne patricinha ou mimada.

Então, você começa a aprender...
Primeira lição: filho não deve nada a pai e mãe. Lindo esse lance do respeito e tudo mais, tá na Bíblia, eu sei... Mas a verdade é que somo nós que saímos ganhando. Ter um filho é o maior aprendizado de todos. É experimentar o amor incondicional de Deus na figura de uma pessoa.

Não há nada. Absolutamente nada. Que a Beatriz possa fazer que diminua o meu amor por ela. Nem que ela escolha o #teamcaptain....

E as lições vêm aos montes, de variados campos do saber: vacinas e efeitos, shoppings com fraldário digno, amigos que tem paciência/jeito com criança, alimentos que dão cólica, marca de mamadeira com BPA free, restaurante com parquinho...

Mas o maior crescimento é de fato o moral. Vou partilhar com vocês algumas das lições que aprendi com minha filha nesses dois anos.

Aprendi que a felicidade é ter todos com saúde. E que a dor no outro pode ser maior que a minha.

Aprendi que sorrir é muito fácil, a gente é que complica.

Aprendi que ser feliz tem muito a ver com a maneira que nós encaramos as nossas limitações. Se encaramos cada desafio como algo a aprender, ser feliz é parte do processo de aceitar que somos ainda crianças diante do Pai.

Aprendi que bagunça faz parte da maternidade e que o caos é uma forma de organização bastante eficiente.

Aprendi que tenho uma família ótima. Que se propôs a ensinar e aprender com a Bia.
Aprendi que a paciência é uma virtude que deve ser aprimorada em todo ser humano. E que ela é recompensada com sorrisos, desenvolvimento e equilíbrio emocional.

Aprendi que a brincadeira é o melhor remédio. Que ela pode e deve ser livre, mas que também é ferramenta de aprendizado, portanto, deve ser priorizada no mesmo nível da saúde, porque de certa forma, são a mesma coisa.

Aprendi que amar é sentir culpa. Que errar faz parte. E que tem muita, mas muita gente desocupada nesse mundo para vir mostrar o que está certo e o que está errado. Porém, poucas são as pessoas que lhe estendem a mão ou pelo menos oferecem o ouvido, quando você precisa desabafar que ser mãe não é fácil. E você aprende a lidar com tudo isso.

Aprendi que filho tem vontade própria. Que tem seu próprio tempo. Seus gostos. E que o tempo que você pode estar com ele é mais do que valioso, pois vai chegar o dia que você não será mais a pessoa favorita dele no mundo. 

Aprendi que filho tem história própria. Herança não partilhada. Ele é seu, mas é também de outro. Vai ser criado de forma diferente da sua criação. Vai ter outras experiências. Outras bagagens. Oportunidade de entender outras maneiras de amar.

Aprendi que tenho muito a ensinar. Valores e princípios. Aprendi que sou exemplo. E o exemplo é a melhor forma de ensinar. Tenho consciência hoje de que preciso ser melhor, por ela.
Aprendi que tenho um homem incrível a meu lado. Muito melhor do que o cara que eu conheci tantos anos atrás. Um homem que sabe ser pai. Sem heroísmo. Sem vitimismo. Sem mimimi. Apenas (e isso quer dizer tanto) a referência que nossa filha precisa para se relacionar com o sexo oposto.

Aprendi que o amor é uma estância sem limites. Pode aumentar sempre. 

Há dois anos, conheci uma pessoa que já me ensinou tudo isso. Imagino daqui a dois anos, o tanto que eu ainda vou aprender.

Obrigada, filha.

Feliz aniversário!

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