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terça-feira, 7 de maio de 2013

Anos 40/50 : modernos, maduros, líricos

Mais uma batalha vencida contra Os cem melhores contos brasileiros do século. Olha não tá fácil. A letra é pequena e o livro é pesado. Além disso, é literatura adulta, então, em alguns momentos, eu simplesmente preciso parar e digerir um conto.

Tive de desenvolver estratégias para vencer os capítulos. Estou sempre lendo duas coisas ao mesmo tempo. Dizem que faz um bem danado para o cérebro essa prática (fica a dica!). Pois bem, leio um pouco de Os cem e depois uma coisinha mais leve. Assim não me estressa. Já estava com medo de passar o mês inteiro com esse amarelão e não dar conta. 

Não que a leitura esteja ruim. De forma nenhuma. Mas está longe de ser fácil. Você entra em contato com vários novos estilos. Autores dos quais eu só tinha ouvido falar. Nem sempre eu tenho uma imagem pré-concebida de como será a leitura e a ausência de informação prévia demanda esforços do meu cérebro que, em um domingo à noite, ele nem sempre está disposto a fazer.

Essa geração de 40/50 foi também mais difícil que a anterior. Da seleção de dezesseis contos para esse período, eu só tinha lido dois. Vou comentá-los com vocês. São O peru de natal e o Pirotécnico Zacarias. Vou falar também de outros dois contos que me chamaram atenção: Tangerine-girl e As mãos do meu filho. Vamos lá!

O peru de natal é um conto de Mário de Andrade. Mário figura entre meus autores brasileiros por causa de Macunaíma. Para mim, ele não precisava ter escrito mais nada para ser considerado genial. Macunaíma é a epítome do brasileiro cagado e cuspido. Acho que não dá para ficar melhor do que aquilo, é engraçadíssimo, muito irônico e criativo. Por isso, muito me surpreendi com a sutileza desse conto. Nessa narrativa, não encontramos mais o Mário ativista do começo do modernismo brasileiro. Aqui, ele já é um escritor. Não precisa provar mais nada a ninguém. A história fala de uma família que ousa ser feliz na noite de natal depois da morte do patriarca. Um homem de quem ninguém gostava, mas que todos deviam respeito. Um drama humano e tão classe média que nos envolve. É muito bom.

Já o Pirotécnico Zacarias é uma justa homenagem ao mestre do fantástico no Brasil: Murilo Rubião. Acho que já deu para notar que eu adoro o gênero fantástico. Então, não deu outra, sou apaixonada por esse cara e suas viagens. Esse conto, nem de longe é o melhor dele. Nessa história, o Zacarias do título é morto, mas continua a andar e a fazer coisas como as outras pessoas, ele simplesmente não descansa. E ainda critica porque as pessoas fogem ao vê-lo no meio da rua. Não sei por quê fugiriam, não é mesmo? É legal, mas meu conto favorito dele ainda é Teleco, o coelho sobre uma criatura extraordinário capaz de se transformar  em qualquer bicho que fica amiga de um cara e vai morar com ele. O "coelho", ou seja lá o que for aquilo, acaba roubando a namorada desse cara. Muito inusitado. Adoro!

Tangerine-girl é da Rachel de Queiroz, minha conterrânea. Sempre achei que Rachel tinha um jeito todo especial de tocar na alma dura da mulher nordestina. Tantos medos, tantos truques. Sei lá, por incrível que pareça gosto mais da Rachel urbana do que da Rachel regionalista, da seca e da fome. Opinião minha. Nesse conto, por exemplo, vamos saber mais sobre o coração das moças no tempo da guerra e da chegada dos americanos à base fortalezense. Tantas ilusões devem ter sido construídas nesses dias e com esses rapazes de olhos azuis. Gostei muito do seu olhar sobre essa situação. Sensível e pudico. Achei bonito.

Outo que me surpreendeu para além do regional foi Érico Veríssimo e As mãos do meu filho. Esse conto me pegou de jeito porque tem demais da minha história nele. Trata-se de um pai de um pianista famoso que assiste a um concerto do filho. Centenas de pessoas ali para assistir ao filho. O pai se sente diminuído porque o rapaz só agradece a presença da mãe. Depois, refletindo, ele entende que o rapaz está certo. Que ele não foi um bom pai por vários motivos. Eu que dói.

Bom, confesso que não gostei tanto destes contos quanto gostei dos anteriores. Acho que essa é uma geração de romances. Mas já estou ansiando pelo que vem por aí, Lispector, Drummond, Cony, Trevisan e Sabino. Há de ter muita coisa boa!


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