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domingo, 5 de maio de 2013

Para cima e não para o norte

Sabe aquele livro que você precisa comentar com alguém para saber se não está ficando doida? Pois é... Preciso demais que alguém também leia esta lombra louca para verificar se a minha sanidade está em dia. É bem capaz que não esteja mesmo.

Antes de qualquer coisa, um adendo, não desisti de ler Os cem melhores contos brasileiros do século. Continuo na batalha, estou quase terminando a segunda parte dele para fazer a próxima resenha. Mas, esse livrinho aí do lado chegou pelo correio e eu caí na besteira de folheá-lo: perda total. Apaixonei-me. Então, fiz uma pausa para lê-lo. Só que já estou de volta à labuta com Os cem. Don't worry, be happy!

Para cima e não para o norte é incrível em todos os sentidos. Começando pela capa e pelo título. Toda essa coleção Novíssimos da editora Leya está de parabéns. A simplicidade da escolha das cores e imagens aliada à criatividade dos títulos é extremamente atrativo ao leitor. Acho lindo e quero todos, pronto, falei. Sim, eu julgo livros pelas capas. E essas estão maravilhosas.

A história também é sensacional. Talvez, o leitor comum não ache tão incrível. Não estou te chamando de burro, apenas é um livro que mexe um pouco com filosofia e noções de matemática. Como assim? Bem, trata-se de um homem com duas dimensões, um homem plano, que vive dentro dos livros numa vida semelhante a nossa, deslizando entre as letras. Meio como em Matrix, depois de tomar consciência de que existe um mundo com três dimensões, ele se dedica a entender esse mundo, a fazer parte desse mundo. Filosófico o suficiente para você: tentar compreender um mundo para além do que os sentidos conseguem perceber? 

Sim, porque é aí que a matemática entra ou, pelo menos, uma certa noção dimensional. Lembro-me de uma aula na faculdade de engenharia (fiz engenharia em algum tempo do meu passado longínquo, mas não terminei) em que o professor desenhou um retângulo na lousa e um chapéu de mexicano e usou essa mesma metáfora do homem plano. Da perspectiva do mexicano, um apagador que vem do espaço, do mundo 3D, e é colocado na sua frente dentro do retângulo onde ele está inserido é uma linha que veio do nada, porque ele é incapaz de perceber o processo. Entendeu? Não? Eu entendi. O professor explicou ali que assim são a maior parte dos fenômenos que a ciência não consegue explicar. E daí também a importância da matemática, pois a matemática independe dos sentidos para explicar fenômenos. Nossa! Tem que ter respeito por um cara desses. Tem que ter respeito por essa ciência, a mais exata de todas.

Voltando ao homem plano, em algum momento ele percebe que a vida dele está atrelada ao mundo 3D. Que ele precisa que os homens de 3D o percebam para que ele exista. Ele descobre uma maneira de escapar do seu mundo e sequestra leitores para o mundo plano. Isso atiça os governos e a mídia do mundo inteiro. Passamos então para uma vertente mais social da história. Vertente que também é excelente com todos os vícios da sociedade atual expostos. A política do medo. A interferência da mídia na opinião pública. Governos tentando mascarar os fatos. Muito bom!

Além disso tudo, a diagramação do livro é fora de série. Tem várias referências a esse mundo plano. Brincadeiras com as letras já que o personagens mora entre elas. Não dá nem para explicar. Tem que ver. Ironicamente, é um deleite para os sentidos, os mesmos sentidos que estão sendo questionados.

A Editora Leya acertou em cheio om essa coleção. Recomendo demais e vou dar um jeito de ter o restante dos livros. Fiquei curiosa. Mais um fato sobre ela, são todos os livros de autores portugueses da nova geração. Meu queixo caiu. Literatura Portuguesa, tirando os grandes mestres (Saramago, Pessoa e Camões) nunca me atraiu. Sem bairrismo, acho que a nossa dá de pau na deles, opinião pessoal mesmo. Por isso, tanta surpresa. Gente viva (não sou muito fã de literatura adulta atual, o esvaziamento da pós-modernidade não me desce fácil, mas falo sobre isso qualquer dia desses) escrevendo coisas desse complexidade com esse nível de inteligência e bom-humor me surpreendeu. Adorei!


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