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segunda-feira, 13 de maio de 2013

Anos 60: conflitos e desenredos

Mais uma seção de contos vencida de Os cem melhores contos brasileiros do século. Dessa vez, os anos 60. Ainda conheço muita gente do período, eles fizeram parte da minha vida de leitora, da minha vida de estudante, eles figuravam meus livros didáticos e sabe-se lá quem eu teria sido sem eles.

Pelo que pude ver, a década de 60 é definitiva para o conto brasileiro. Ali estão plantadas as raízes do conto contemporâneo: a introspecção, o esvaziamento da vida urbana e a concisão. Nesta seção, estão 16 contos intensos e de uma precisão cirúrgica: na comédia, no fantástico e no crime. Foi até difícil escolher de quem falar. Escolhi O homem nu, A máquina extraviada, A caçada e Uma vela para Dario, numa opção consciente de falar sobre Clarice Lispector na seção seguinte. 

O primeiro conto que escolhi é O homem nu do Fernando Sabino. Ele é bem básico, na verdade, inclusive, o autor o classificou como crônica, mas nem convém a discussão sobre a diferenciação dos gêneros agora. Na história, um homem sai para pegar o pão na porta de casa e acaba trancado do lado de fora. Engraçadíssimo. Tanto que virou até filme. Tenho um carinho especial por essa história porque ela estava no meu livro didático da sexta série lá no Colégio Imaculada Conceição. E eu adorei, foi uma das primeiras vezes que tomei consciência de que a literatura não precisava ser tão sisuda. Praticamente me apaixonei por Fernando Sabino e li várias coisas dele depois.

A máquina extraviada de J.J. Veiga é um conto curto. Ele dá início a um processo que a minha mente (mais matemática do que deveria ser para alguém das humanas) repele no estilo contemporâneo. O leitor precisa participar. Ele precisa contribuir, porque nem tudo está no papel. O conto termina de acordo com o que você acha que é. Lombra louca? Nem tanto. Entramos no universo das sugestões. A história é essa, uma máquina enorme é abandonada no meio de uma cidade. O que é? Ela serve para quê? O que os cidadãos farão? Bem, aí você decide.

A caçada de Lygia Fagundes Telles é apenas uma amostra do imenso talento desta mulher. Sério. queria ser ela na sua inteligência, sagacidade e capacidade criativa. este conto vemos um homem fascinado por uma tapeçaria exposta numa loja de antiguidades. A tapeçaria mostra uma caçada. Aos poucos, ele vai percebendo detalhes do caçador e da caça, ele também vai sentido que conhece a cena, que sabe como ela termina, ele reconhece a sensação das figuras ali ilustradas. Cada vez mais ele sente que pertence àquele cenário, só não sabe qual é a sua posição, até que é tragado lá para dentro e descobre que é a caça, morre atravessado por uma seta. Perfeito o pezinho no fantástico de Lygia. Perfeito.

Por fim, mas não menos importante, Um vela para Dario de Dalton Trevisan. Dalton é um desses caras que eu quase nem conheço, embora já tivesse lido este conto em específico antes. Do pouco que conheço, acho-o extremamente interessante. Cada palavra no seu devido lugar sem o mínimo de exagero. Além disso, os desesperos da vida cotidiana nos grandes centros urbanos E uma ironia fina, fina mas aguda. Nesse conto, Dario morre no meio de uma rua desconhecida, ninguém sabe quem ele é, se tem família, faz-se um estardalhaço, as pessoas querem ver o morto. Há um alvoroço, todos parecem se preocupar, mas, de fato, o que acontece é que todos os pertences de Dario somem e ele fica ali abandonado no meio da rua na sua condição de cadáver, quase sem dignidade humana, como se suas coisas tivessem mais valor que ele, por isso foram levadas e ele não.

Espero que vocês continuem a me acompanhar nessa jornada, afinal, não sei se eu já falei, mas não sou uma grande fã de gente viva. Como assim? Não costumo ler literatura contemporânea por alguns motivos meus, alguns até bastante preconceituosos, se vocês querem mesmo saber. De modo que, à medida que os anos avançam no livro, minha experiência com os autores ali apresentados diminui. A partir dos anos 70, tem gente que eu nem sei quem foi na lista. Oportunidade de conhecer os autores pelo que é mais importante, seus textos.

Então, vamos lá, rumo ao desconhecido!

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