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sexta-feira, 17 de maio de 2013

Eu acho lindo!

Para quem não sabe, eu sou professora do terceiro ano do ensino médio de uma escola pública em Maracanaú, município industrial ao redor de Fortaleza. Então, às vezes, eu me vejo meio como uma chave para uma porta muito difícil de abrir, uma porta que tem dezenas de trancas complicadas. Muitos dos meus alunos não se interessam por essa porta. Muitos, infelizmente, sequer compreendem as razões pelas quais seria bom atravessar essa porta ou o que eles podem encontrar de fato atrás dela.

Mesmo esses alunos são interessantes. Mesmo esses alunos tornam a minha vida um eterno aprendizado. Mesmo esses alunos, com tantos problemas, com tantas estórias, de tantas personalidades diversas, tantas piadas, bem, esses também ajudam no crescimento deste meu espírito em evolução. Porém, hoje não vim falar deles. Vim falar de todos os alunos que ao longo dos três anos em que trabalho naquela instituição de ensino deram sentido à minha profissão. Meninos e meninas que me entenderam como essa chave e não desistiram diante das trancas, pelo contrário, enfrentaram cada uma delas como leões e abriram a porta. Para eles está reservado um lugar que não à toa se chama UNIVERSIDADE, pois é todo um universo que se abre para quem vem de microcosmos tão pequenos como o interior do Ceará.

Para vocês, meus queridos, meu eterno agradecimento, pois, como no gif animado do Iron Man aí em cima, pode até parecer que é o Robert Downey Jr que está sendo bacana com o menininho, mas na verdade, o grande presente quem recebeu foi o ator. Afinal, a confiança de alguém não é algo fácil de se conquistar. E saber que, de alguma forma, nós, professores, contribuímos para conquistas tão grandes, fazem da gente meio isso, pessoas com superpoderes. 

Eu AMO o que faço. Provavelmente, dada a minha paixão pelo estudo da linguagem, eu estaria fazendo isso com ou sem vocês, num amor platônico, individual e solitário. Mas vocês tornam o processo muito mais bonito, posso garantir. Quando vejo meu facebook lotado de piadas de faculdade, de ônibus, de preço de xerox, de manifestações de amor aos cursos escolhidos, nossa, é quase tão bom quanto passar eu mesma no vestibular (já mencionei anteriormente que minha profissão é um tipo de vampirismo, é mesmo). A lembrança dos seus olhinhos brilhantes diante da explicação iluminam meu caminho diário e me fazem acordar com disposição para uma rotina de trabalho pesada que muita vezes termina sem voz. Vale a pena!

Não acho bacana citar nomes aqui. Porém, é necessário dizer que vários de vocês me marcaram e deixam saudade. Saudade da boa. Saudade edificante. Vocês são o alicerce da minha escolha. Vocês são o motivo. E quanto orgulho vocês nos dão. Essa semana, foram tantas manifestações de carinho que  nem sei como não expressar esse sentimento. Nossa escola foi a escola que mais aprovou no ENEM 2012 na Crede 01. Nós ajudamos a colocar uns 60 de vocês em contato com o universo de possibilidades que é a vida de estudante lá fora. Além disso, tivemos um aluno que tirou 1000 em redação, um menino guerreiro e iluminado que vai conquistar tudo que quiser se continuar com essa força para lutar. Falando de Macunaíma na sala de aula, eu nem penso muito nisso, pois a minha paixão pela literatura me consome demais para que eu preste atenção em outras coisas, mas esses dados jogam na minha cara que eu faço parte dessa história de vocês, que essa história é nossa. E que história linda , gente.

Mas, a história em particular que me fez escrever esse post, sequer aconteceu comigo. Porém, emocionou-me demais. Esse menino, protagonista desse relato a seguir, é um cara fora de série. Ser humano de uma humildade incrível e que ensinou muito mais do que aprendeu quando nos presenteou com sua presença na escola. Tenho um amigo, professor de matemática, que também ensina numa universidade. Algumas vezes, ele tem dúvidas sobre resoluções de questões. É prática comum entre professores de matemática compartilhar estas questões para encontrar melhores soluções. Como o ex-aluno em questão está fazendo matemática, meu colega mandou o problema para ele, que o resolveu brilhantemente. Meu colega, emocionado, pois é assim que nos sentimos quando vocês nos superam, escreveu um e-mail agradecido, enaltecendo as habilidades do rapaz. Eis o que ele respondeu, grande como sempre foi: professor, parafraseando Newton, se hoje enxergo mais longe foi porque eu estava de pé sobre ombros de gigantes.

Ah! Bruno (desculpe-me citar seu nome), o que é que a gente faz com você, garoto? Precisa ser tão fofo assim? Você é um dos meus motivos para continuar. É para dar aulas para caras como você que eu acordo todo dia. Enfim, acho linda a sua história e de tantos outros Brunos, Alessandras, Lindas, Danielas, Anas, Lucas, Marílias e Ítalos  que já passaram na minha vida e que vão continuar a passar.

Enfim, ontem, no trajeto de volta para casa, eu vinha pensando justamente nisso. Sabe  que é que eu acho lindo? Lindo mesmo. Aquilo que dá vontade de ver e ver e ver repetidamente, é uma cena que não canso de assistir. Acho lindo aluno de escola pública passando no vestibular para as universidades públicas.

5 comentários:

  1. Obrigada...mudou um pouco minha visão de Escola Pública.Mas ainda assim, não é o que eu quero pra mim. o estágio já foi traumático o suficiente e acho que não sou forte o bastante para a tarefa.

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    1. Olha, Débora, a pintura não é tão feia quanto apresentam. Em determinadas escolas da rede pública o trabalho de educar acontece de fato, de forma bonita, mas, mesmo nesses casos, muitos fatores ainda o atrasam. Posso enumerá-los por anos. O ensino de idiomas, por exemplo, vem perdendo força todos os dias, o que é uma pena. Isso talvez justifique seu medo.

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    2. Débora, eu estudei em escola particular, municipal e estadual. Os três ensinos foram bons, mas me apeguei bem mais as escolas públicas. Senti que elas dão uma maior responsabilidade ao aluno, na particular tudo era nos dado de mão beijada, na pública tínhamos que correr atrás. Sem contar que a pública dá uma maior liberdade de ensino, os professores da particular não tratavam determinados assuntos que os da pública relatavam com mais naturalidade.

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  2. Adorei o texto, o que me deixa mais feliz é saber que há professores que pensam nos alunos, ainda fico triste quando lembro que um professor disse a mim e a meu amigo, após a prova do vestibular:
    - Vocês só passaram pela porta, néah?! kkkk

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    1. eu lembro bem disso! nao foi muito agradável de ouvir hehehe

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